Resumo das Comunicações Orais
Resumo das Comunicações Orais
Filhos de mãe aghbs positivo ' estaremos a fazer a imunoprofilaxia adequada?
Ana Freitas¹, Cristina Godinho²
¹ S. Pediatria, CH Porto
² S. Neonatologia, CH Porto
Introdução:A transmissão vertical da infecção por vírus da hepatite B (HBV)
está associada a um risco elevado de infecção crónica e consequente doença
hepática crónica e hepatocarcinoma. A imunoprofilaxia adequada realizada aos
recém-nascidos filhos de mães com antigénio HBs positivo (AgHBs+) é a melhor
arma no combate a esta infecção. As recomendações nacionais atuais advogam a
realização de imunoglobulina até às 12 horas de vida e esquema vacinal
acelerado (0, 1 e 6 meses; ou 0, 1, 2 e 6 meses se peso ao nascer inferior a
2000g), associado a pesquisa de serologias entre os 9 e 15 meses para
determinar a eficácia da imunoprofilaxia.
Objectivo:Estudo descritivo para determinar se a imunoprofilaxia para a
transmissão vertical da infecção por VHB foi realizada segundo as recomendações
nacionais, numa amostra de crianças nascidas no Centro Hospitalar do Porto -
unidade Maternidade Júlio Dinis (MJD).
Material e Métodos:Foram selecionados os recém-nascidos filhos de mãe AgHBs+
nascidos na MJD entre Outubro/2009 e Março/2012. As variáveis analisadas foram
obtidas pela consulta do processo hospitalar, contacto electrónico com as
unidades de cuidados de saúde primários e contacto telefónico com as mães.
Resultados:A amostra foi constituída por 28 crianças com idades compreendidas
entre os 3 e 31 meses (mediana de 19,5 meses). A 1ª dose da vacina e
imunoglobulina foi administrada nas primeiras 12 horas de vida em 27 crianças,
a 2ª dose de vacina foi administrada ao mês de idade em 7 crianças (29%, N=24)
e a 3ª dose foi administrada aos 6 meses de idade em 17 crianças (89%, N=19).
Uma das crianças tinha peso ao nascimento inferior a 2000g tendo realizado
vacina aos 0, 1.5 e 6 meses de idade. Todas as crianças que mantinham
seguimento clínico na MJD aos 9 meses de idade realizaram serologias (N=6,
todas com título elevado de anticorpo anti-HBs); das crianças seguidas em
unidades de cuidados de saúde primários e com mais de 15 meses de idade
(N=10), apenas uma tinha realizado serologias.
As restantes 9 crianças (90%, N=10) serão convocadas para pesquisa de
serologias na MJD.
Comentários:A amostra selecionada neste estudo é de reduzidas dimensões, o que
dificulta a extrapolação destes resultados para a comunidade. No entanto,
salienta-se que nesta amostra a imunoprofilaxia da transmissão vertical da
infecção por VHB não foi adequada na grande maioria das crianças. Os autores
sugerem a necessidade de reforçar a divulgação das recomendações nacionais
nesta área.
Aleitamento materno nos recém-nascidos de muito baixo peso
Ana Cristina Barros1, Vanda Van-Dúnen1, Mariana Martins1, Cláudia Ferraz1,
Alexandrina Portela1, Rute Vaz1, Maria José Costa1
1S. Neonatologia, Dep. da Mulher, da Criança e do Jovem, H Pedro Hispano, ULS
Matosinhos
Introdução: A alimentação dos recém-nascidos (RN) com peso inferior a 1500
gramas é essencial para garantir o atingimento do seu potencial máximo de
crescimento e neurodesenvolvimento.
Material e métodos: Análise retrospetiva dos processos clínicos das crianças,
com peso ao nascimento inferior a 1500 gramas, internadas no Serviço de
Neonatologia do Hospital Pedro Hispano entre Janeiro de 2010 e Dezembro de
2011. Dados complementados por entrevista telefónica.
Resultados: Durante o período de estudo estiveram internadas no Serviço de
Neonatologia 59 RN. A idade média da mãe na altura do parto era de 31,2 anos e
54% das mães tinha como habilitações literárias o ensino superior. A idade
gestacional média foi de 30 semanas e 3 dias, a média do peso ao nascimento
foi 1198g e havia restrição de crescimento intra-uterino em 39% dos casos. A
maioria dos RN iniciou alimentação entérica aos 3 dias de vida (82% fizeram
leite materno, dos quais 50% em exclusivo). A duração média do internamento
foi 43 dias e a idade corrigida na alta de 35 semanas e 3 dias. No momento da
alta 68% dos RN fazia leite materno, dos quais 50% em exclusivo. Cerca de 60%
das crianças era alimentada com leite materno extraído. A duração média do
aleitamento materno exclusivo foi de 2,5 meses e do aleitamento materno,
suplementado com leite de fórmula, de 7,5 meses. A retoma da atividade
profissional da mãe ocorreu, em média, 5,7 meses após o parto. O peso aos 6, 12
e 18 meses era superior ao percentil 5 em 36%, 49% e 65%, respetivamente. As
crianças que não fizeram leite materno ou cuja duração foi inferior a 2 meses
apresentaram percentis de peso e comprimento, aos 6, 12 e 18 meses, superiores
em relação às que fizeram leite materno durante mais do que 2 meses.
Discussão: O leite materno é o melhor alimento para o RN, independentemente do
peso e da idade gestacional. A necessidade de adicionar ao leite materno
fortificantes ou suplementos explica a percentagem significativa de RN
alimentados com leite materno extraído. Apesar de, nesta amostra, a evolução
ponderal ter sido melhor nas crianças alimentadas com leite de fórmula, a
literatura mostra que os RN prematuros, a que se associa baixo peso,
alimentados com leite materno, apresentam um neurodesenvolvimento melhor,
relativamente aos alimentados com leite de fórmula (efeito paradoxal aparente
do leite materno). Este conceito reforça a necessidade de seguimento a longo
prazo destes recém-nascidos.
Hidronefrose: a propósito de 2 casos clínicos
Raquel Azevedo Alves¹, Liane Costa¹, Mariana Martins¹, Vânia Gonçalves¹, Carlos
Ferreira², Maria Eduarda Cruz¹
¹ S. Pediatria, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos
² S. Urologia, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos
Introdução:A obstrução do tracto urinário pode ocorrer durante o
desenvolvimento fetal, infância e idade adulta. A etiologia pode ser congénita
ou adquirida. Em pediatria a maioria das lesões obstrutivas são de origem
congénita. A manifestação clínica mais comum é a cólica renal em contexto de
hidronefrose.
Casos clínicos:Os autores apresentam duas adolescentes, 17 anos, com
manifestações clínicas semelhantes mas etiologias diferentes. Caso 1:
Internada a 01.05.2012 por dor lombar e Murphy renal à dta, febre com 3 dias de
evolução. Analiticamente leucocitose com neutroflia, PCR positiva, leucocitúria
e hematúria. Ecografia:moderada dilatação pielocalicial à dta, aparentemente
causada por um cálculo com 10mm no uréter proximal, após a junção pielo-
ureteral; litíase renal à dta; inúmeros focos litiásicos em todos os grupos
caliciais/medulas do rim esq, podendo representar uma nefrocalcinose medular;
sem ectasia das cavidades excretoras. Internada 7 dias realizando
antibioterapia por PNA a Proteus Mirabilis. Submetida em D3 a ureteropielografia
retrógrada que revelou 2 imagens de subtração e realizada remoção
transureteral dos cálculos com derivação urinária retrógrada cateter ureteral
duplo J.
Caso 2: Seguida consulta de Pediatria em 2011 após episódio de abdominalgias,
sem outros sintomas ou sinais. Ecografia e TAC abdominal rim esq com dilatação
pielocalicial de 25mm, compatível com provável síndrome de junção. Cintigrafia
renal MAG-3 rim esq com redução ligeira da função renal diferencial (38%)
marcado compromisso da drenagem (estase pielo-calicial), sugerindo padrão
obstrutivo.
Internada a 02.05.2012 por dor lombar irradiando FIE e febre com 2 dias de
evolução. Analiticamente leucocitose com neutrofilia, PCR positiva e
leucocitúria. A ecografia marcada hidronefrose à esq em relação com síndrome
de junção; dilatação piélica atingindo 26mm no sentido antero-posterior; sem
sinais ecográficos associados de hidronefrose ou de pielonefrite. Internada 6
dias, realizando antibioterapia por PNA E. coli. D2 submetida a
ureteropielografia retrograda revelando ureter fi no sem tortuosidades, com
aperto na junção pieloureteral e hidronefrose volumosa com dilatação
infundibulo-calicial. Derivação urinária com cateter ureteral duplo J.
Discussão:Dois casos de síndrome de junção de etiologia diferente, focando a
importância da forma de apresentação clínica, assim como da necessidade de um
diagnóstico e intervenção terapêutica precoce.
Meningite por enterovírus ' a importância da identificação rápida
Joana Magalhães¹, Maria João Vieira², Paula Mota³. Armandina Silva², Ana Luísa
Lobo²
¹ S. Pediatria, DCA, CH Porto
² S. Pediatria, CH Alto Ave ³ S. Microbiologia, CH Alto Ave
Introdução:Os enterovirus são a principal causa de meningite assética na
criança, sendo importante diferencia-la dos agentes que exigem terapêutica
adequada e precoce. No Centro Hospitalar do Alto Ave (CHAA) é feita
identificação deste agente no líquor por RT-PCR desde 2010 sempre que estudo
citoquímico compatível, com resultado em 24h, sendo anteriormente realizado
fora do hospital, com resultado demorado.
Material e Métodos: Estudo retrospetivo, com consulta dos processos clínicos
das crianças internadas em 2008 e entre Julho de 2010 e Junho de 2011 às quais
foi pedida pesquisa de enterovirus no liquor, com o objetivo de comparar a
conduta perante estes doentes antes e após a realização do teste no CHAA e as
suas implicações.
Resultados:Foram realizados 61 testes em 2008, 30 positivos e 10 (16%)
desconhecidos. No período 2010/2011, foram realizados 57 testes, 32 positivos.
Verificou-se um predomínio de meningite a enterovirus no sexo masculino, com
média de idades de 5 anos e maior prevalência no verão.
O estudo analítico revelou leucócitos no líquor e proteína c reativa similares
(p=0,687 e 0,436) mas menos leucócitos séricos e maior relação glicorráquia/
glicemia nas meningites por enterovirus relativamente aos outros casos de
meningite (26, sem identificação de agente em 24).
Tiveram diagnóstico de meningite 48 crianças em 2008 (30 enterovírus), e
iniciaram antibiótico (ATB) 12 (25%), 7 com resultado positivo. Em 2010/2011
foi diagnosticada meningite a 41 crianças (32 enterovírus) tendo iniciado ATB
17 (41.4%), 11 positivos.
Não houve diferença entre os anos na percentagem em que foi instituído ATB quer
nas crianças com meningite quer nas crianças com resultado positivo (23% vs
34%, p=0,408). Porém, em 2008 as 7 crianças completaram o tratamento, e em 2011
a identificação do agente permitiu suspensão em 24h em 9 de 11.
A duração média do internamento foi respetivamente de 3,23 e 2,88 dias
(p=0,69). Todos os doentes tiveram boa evolução clínica.
Conclusões:A disponibilidade rápida do resultado de PCR para enterovirus no
liquor não diminuiu o número de crianças que iniciaram ATB, provavelmente pela
valorização da clínica, rastreio sético e estudo citoquímico do líquor.
Permitiu porém suspensão precoce nos positivos, reduzindo custos inerentes á
terapêutica.
A ausência de diferença significativa na duração do internamento pode dever-se
à possibilidade de completar antibioticoterapia em hospital de dia ou ao
tamanho da amostra.
Conhecimentos e atitudes dos cuidadores acerca da exposição solar em idade
pediátrica
Joana Leite¹, Sara Domingues², Joana Sampaio³, Raquel Braga3
1 S. Pediatria, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos
2 S. Pediatria, CH Tâmega e Sousa
3USF Lagoa
Introdução:A exposição solar excessiva em crianças pode contribuir para o
aparecimento de cancro de pele na vida adulta, sendo este grupo etário
particularmente vulnerável aos efeitos nocivos da radiação ultravioleta. Este
estudo pretendeu caracterizar os conhecimentos e atitudes dos cuidadores de
crianças acerca da exposição solar.
Materiais e Métodos:Realizou-se um estudo observacional analítico entre Julho
e Outubro de 2012, na Unidade de Saúde Familiar Lagoa, com a realização de um
questionário dirigido aos cuidadores das crianças frequentadoras da Consulta
de Saúde Infantil, dos 0 aos 18 anos, tendo-lhes sido entregue um folheto
informativo posteriormente. Os dados foram registados e analisados com o
programa SPSS®.
Resultados:Obtiveram-se 104 questionários, apresentando os cuidadores uma
idade média de 36 anos e as crianças de 14 anos. A maioria dos cuidadores
(89.4% e 95.2%, respetivamente) tem conhecimento de que a exposição solar não
é nociva apenas no Verão e na praia. Cerca de 30% acredita que o sol só tem
efeitos nocivos na pele, 35% reconhece a exposição solar mais nociva das 11 às
16 horas e 5.7% definem esse período igual ou inferior a três horas. A maioria
usa protetor, chapéu, sombras ou guarda-sol e evicção do sol nas horas de maior
pico; 76% usa camisola de manga curta e 65.4% óculos de sol. Na praia, 95.2%
dos cuidadores aplica sempre protetor solar, enquanto noutras atividades ao ar
livre apenas 28%. Quanto ao Fator de Proteção solar usado nas crianças, 89.4%
usa fator 50, 2.9% igual ou inferior a 20 e 1.9% não usa. Constatou-se que
11.2% dos cuidadores que responderam não ser suficiente aplicar protetor uma
vez por dia não repetem a aplicação; 33.7% dos que apontaram que o sol tem
atingimento ocular não usam óculos; 47.5% dos que sabem que se deve usar
protetor nas atividades ao ar livre não o aplicam sistematicamente.
Discussão:A maioria dos cuidadores demonstra conhecimentos teóricos sobre os
efeitos nocivos da radiação ultravioleta, mas nem sempre os aplicam à prática.
Salienta-se que só cerca de 35% saibam o horário de exposição solar mais nociva
e cerca de 6% assinalem um período igual ou inferior a três horas, o que pode
levar ao aumento do risco de queimaduras solares em idades precoces e
subsequentemente de melanoma. Assim, é fundamental fomentar hábitos de
fotoproteção adequados na infância e optimizar os conhecimentos dos pais, tendo
sido essa a principal finalidade do estudo traduzida na entrega do folheto
informativo.
Tuberculose em idade pediátrica: experiência de um hospital terciário de 2000-
2012
Joana Correia1, Catarina Mendes1, Lurdes Morais1, Margarida Guedes1, Laura
Marques1, Virgílio Senra1
1S. Pediatria, CH Porto
Introdução:A tuberculose (TB) mantém-se um importante problema de saúde
pública. Na idade pediátrica está associada a um maior risco de progressão para
doença e manifestação de formas graves.
Objetivos: Caracterização clínica e epidemiológica dos casos de tuberculose
doença internados no serviço de Pediatria do Centro Hospitalar do Porto, entre
janeiro de 2000 e setembro de 2012.
Métodos: Estudo observacional retrospetivo, baseado na análise dos processos
clínicos dos doentes internados com o diagnóstico de tuberculose.
Resultados: No período estudado foram admitidos no internamento de pediatria
43 crianças com infeção por Mycobacterium tuberculosis, das quais 35
apresentavam tuberculose doença. A idade de diagnóstico variou entre os 6 meses
e os 18 anos, com uma mediana de 3 anos e média de 5,79. Todos os casos tinham
sido vacinados com BCG. Duas crianças (5,7%) tinham infecção VIH. O diagnóstico
baseou-se na história de contacto (83%), prova tuberculínica positiva (80%) ou
teste IGRA positivo (positivo em 7 de 8 doentes) e alterações imagiológicas. A
radiografia do tórax foi realizada em 97% dos casos (sensibilidade de 88%) e a
TAC torácica foi feita em 57% dos doentes, apresentando-se alterada em todos. O
M. tuberculosis foi isolado no suco gástrico (positivo em 8 de 29 doentes) e na
expetoração (2 de 4 doentes); identificou-se por técnica de PCR em 3 casos
adicionais (2 no LBA e 1 no LCR). Foram diagnosticados 29 casos de TB pulmonar
(um complicado com TB endobrônquica), 3 casos de TB osteoarticular, 1 caso de
TB miliar, 1 caso de TB cutânea e 1 caso de TB meningea. Instituiu-se
terapêutica tripla em 57% dos doentes e quadrupla em 34%; um dos doentes
iniciou tratamento de TB multirresistente de acordo com antibiograma do caso
index. Nos casos de TB meníngea, miliar e endobrônquica foi realizado
tratamento adjuvante com corticoide.
Comentários: Os resultados encontrados estão de acordo com a literatura, sendo
o atingimento pulmonar a forma mais frequente da doença (82,9%). O diagnóstico
da TB em idade pediátrica é essencialmente clínico, não sendo possível o
isolamento do agente na maioria dos casos. É de salientar a história de
contacto com um doente bacilífero em 83% dos doentes, pelo que a progressão
para doença poderia ter sido evitada por um correto rastreio dos conviventes e
instituição de quimioprofilaxia ou tratamento de acordo com a situação clínica.
Traumatismo craniano em idade pediátrica ' casuística de 1 ano do hospital de
aveiro ' CHBV
Ana Ratola1, Estefânia Maia1, Ângela Almeida1, Raquel Zenha1, Ana Nordeste1,
Sílvia Almeida1
1 S. Pediatria, H Aveiro, CH Baixo Vouga
Introdução: Os traumatismos crânio-encefálicos (TCE) são um motivo frequente de
recurso ao Serviço de Urgência Pediátrica (SUP) e exigem a avaliação do risco
de lesão intra-craniana (LIC). Os TCE classifi cam-se em ligeiros, moderados ou
graves de acordo com a alteração do estado de consciência, avaliado pela Escala
de Coma de Glasgow (ECG). A maioria das crianças sofre TCE ligeiros que
corresponde a valores entre 13 e 15 na ECG.
Objectivos: Caracterizar as admissões por TCE num período de 12 meses para
posterior elaboração de um protocolo de actuação no SUP.
Material e métodos:Análise retrospectiva dos episódios de urgência/
internamentos por TCE do Serviço de Pediatria do CHBV, entre Janeiro e Dezembro
de 2011. Analisaram-se as seguintes variáveis: idade, sexo, antecedentes
pessoais, manifestações clínicas, exames complementares e orientação.
Resultados: No período em estudo ocorreram 561 episódios de TCE no SUP (1,5%
do total de admissões). A idade mediana foi de 3,99 anos (28,9% <2 anos) e
62,7% eram do sexo masculino. Os principais mecanismos de traumatismo referidos
foram queda da própria altura ou até 1 metro. As áreas cranianas de impacto
mais frequentes foram frontal (51,7%), occipital (25,5%) e parietal (14,4%). Os
sintomas maioritariamente referidos foram vómitos (14,3%), sonolência (9,4%),
cefaleias (6,4%) e perda de consciência (2,8%), permanecendo 66,3% dos casos
assintomáticos. Todos apresentaram TCE ligeiro (ECG≥14). As principais lesões
observadas ao exame objectivo foram hematomas epicranianos, feridas e
escoriações.
Relativamente aos exames auxiliares de diagnóstico, 38,5% das crianças
realizaram radiografia de crânio, suspeitando-se de fractura em 6 casos (2 não
confirmados) e 5,8% foram submetidas a tomografia computorizada crânio-
encefálica (TC-CE), que revelou hematoma extra-dural num caso e fractura óssea
em 5. Houve necessidade de vigilância/internamento em 57 crianças (tempo médio
de 16,8 horas) e 3 foram transferidas para Hospital Nível 3.
Conclusão: Neste estudo todos os TCE foram ligeiros, 5 crianças apresentaram
fractura de crânio e apenas 1 LIC (valor mais baixo do que obtido noutros
estudos). Elevado número de crianças realizaram radiografia de crânio, exame
pouco sensível e que necessita de treino na interpretação, sendo a TC-CE o
exame de referência. Realça-se a necessidade da valorização clínica através da
realização de protocolos de actuação, vigilância e realização ponderada de
exames de neuro imagem.
Uso das redes sociais online em adolescentes do ensino secundário
Inês Ferreira¹, Cláudia Aguiar², Vasco Lavrador¹, Juliana Oliveira², Rita
Santos Silva², Fátima Pinto³
¹ S. Pediatria, CH Porto
² S. Pediatria, CH São João
³ URAP, ACeS Porto Ocidental
Introdução: Entre os adolescentes tem-se verificado um progressivo aumento do
uso da internet como meio de comunicação e socialização. Pela menor capacidade
de auto-regulação e maior susceptibilidade pelos pares levantam-se preocupações
relativas a comportamentos impróprios online que possam pôr em causa a
segurança e perda de privacidade. O presente trabalho tem como objectivo
caracterizar o comportamento dos adolescentes nas redes sociais online.
Material e Métodos: Estudo transversal desenvolvido numa Escola Secundária
Pública do Porto, através da aplicação de um questionário a 94 adolescentes do
ensino secundário. Resultados: Excluídos 7 questionários por não usarem redes
sociais online. Dos restantes 87, 52,9% (N=46) eram do sexo feminino, com idade
média de 16,56 B1 1,20 anos e 66,7% (N=58) frequentavam o 10B: ano. A
totalidade tem computador com acesso à internet em casa, sendo que 56,3% (N=49)
têm computador no quarto. A quase totalidade dos adolescentes (96,6%; N=84)
utiliza as redes sociais sozinho e 29,9% (N=26) usam mais do que uma rede
social. A idade média de início das redes sociais foi de 11,95 B1 2,12 anos.
Cerca de metade (N=46; 52,9%) dedica pelo menos uma hora diária às redes
sociais e 70,1% (N=61) mais de cinco dias por semana. A quase totalidade
(97,7%; N=85) já recebeu pedidos de amizade de desconhecidos, 57,5% (N=50)
incluem desconhecidos nas suas delistas de amigos, 29,9% (N=26) entraram em
contacto online com o desconhecido, tendo um deles estabelecido um encontro
presencial. Os adolescentes partilham informação pessoal como fotografia (88,5%,
N=77), data de aniversário (86,2%, n=75) e escola que frequenta (86,2%, N=75).
Verificou-se que as raparigas privam mais a informação no seu mural (P=0,004).
Os adolescentes que aceitam pedidos de amizade de desconhecidos passam mais
horas por dia nas redes sociais (p=0,014) e privam menos informação (p=0,014).
A maioria (58,6%; N=51) considera não correr risco ao divulgar informações
pessoais online.
Conclusões:Apesar das dificuldades inerentes a este estudo, foi possível
identificar um uso generalizado das redes sociais online entre os adolescentes
do ensino secundário, com adopção de comportamentos de risco. Desta forma, é de
salientar o papel do Pediatra no processo de consciencialização dos
adolescentes e famílias acerca dos riscos e complexidades do mundo digital.
Muito baixo peso e leve para a idade gestacional ' uma associação de mau
prognóstico?
Joana Magalhães1, Catarina Resende1, Ana Cristina Braga1, Ana Margarida
Alexandrino1
1S. Neonatologia, DCA, CH Porto
Introdução: A restrição de crescimento intra-uterino (RCIU) é descrita como
fator de maior morbilidade nos recém-nascidos (RN) pretermo, no período
neonatal e a longo prazo. Frequentemente não há diagnóstico pré-natal,
utilizando-se o conceito de leve para idade gestacional (LIG).
Material e Métodos: Pretende-se analisar morbilidade precoce, crescimento e
desenvolvimento dos RN de muito baixo peso (MBP) LIG nascidos na Maternidade
Júlio Dinis de 2004 a 2009, e comparar com RN nascidos no mesmo período, com a
mesma idade gestacional e peso adequado (AIG),por consulta do processo clínico.
Resultados:Nasceram naquele período 95 RN MBP LIG, com mediana de 31 semanas de
gestação e 1000g de peso, sendo a mediana de 1416g nos AIG. Houve 5 óbitos em
LIG. Não houve diferença entre os grupos na prevalência de hipertensão e doença
auto-imune materna, nas variáveis sociodemográficas, índice de Apgar e
necessidade de reanimação.
Nos LIG houve maior incidência de enterocolite necrotizante, persistência do
canal arterial e retinopatia com necessidade de cirurgia, assim como hemorragia
cerebral e leucomalácia de maior gravidade. Não houve diferença na necessidade
de ventilação invasiva, que teve maior duração nos LIG, que tiveram também
maior incidência de trombocitopenia e anemia e internamentos mais longos.
A avaliação do crescimento e desenvolvimento após os dois anos foi possível em
75 RN LIG, sendo a duração do seguimento semelhante nos controlos.
1/3 dos LIG mantêm peso inferior ao percentil 10.
As alterações do neurodesenvolvimento sem paralisia cerebral (PC) são mais
prevalentes nos LIG, mas a PC é mais prevalente nos AIG (6 para 1).
A avaliação de desenvolvimento segundo escala de Mary-Sheridan está mais
frequentemente alterada nos LIG, sobretudo áreas de linguagem e social, havendo
mais LIG sob intervenção. Um nível socio-cultural mais baixo correlaciona-se
com maior probabilidade do rastreio ter alterações.
Na avaliação com teste de Ruth Griffiths (40 LIG, 32 AIG), os LIG obtiveram
resultados inferiores no quociente geral (p=0,053) e todos os subquocientes,
com significância no raciocínio prático.
Comentários:A morbilidade neonatal foi maior nos LIG, comparativamente com AIG
com a mesma idade gestacional. Apesar da maior prevalência de PC nos AIG,
globalmente o desenvolvimento psicomotor é pior nos LIG.
A RCIU agrava a morbilidade inerente à prematuridade. É essencial que estas
crianças tenham seguimento regular que permita detetar alterações e orientar
intervenção.
Avaliação dos conhecimentos e técnica no uso dos dispositivos inalatórios em
crianças asmáticas
Eliana Oliveira1, Ana Cristina Barros1, Natacha Fontes1, Ana Paula Aguiar1,
Cidrais Rodrigues1, Georgeta Oliveira1
1Dep. da Mulher, da Criança e do Jovem, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos
Introdução:A via inalatória constitui o método preferencial para a
administração de fármacos no tratamento das doenças respiratórias, pelo que é
imperativo a monitorização e ensino desta técnica por parte dos profissionais de
saúde.
Métodos: Foi realizado um estudo observacional analítico transversal numa
amostra de conveniência, que incluiu as crianças asmáticas seguidas na consulta
de Imunoalergologia Pediátrica do HPH, durante o mês de Maio e Junho de 2012. A
recolha da informação foi realizada através de um questionário autoaplicado ao
acompanhante da criança, que inclui informação relativa a parâmetros
sociodemográficos, conhecimentos sobre a terapêutica inalatória e compreensão
das orientações clínicas recebidas. Efetuou-se o registo do desempenho do
doente durante a demonstração da técnica inalatória.
Resultados: Durante o período de estudo obtiveram-se 64 questionários
correspondentes a crianças com uma média de idades de 10,1 anos, dp4,1, das
quais 64,1% eram do sexo masculino. Á data da avaliação, os doentes
apresentavam um tempo médio de uso de dispositivos inalatórios de 5,3 anos,
dp3,8 (mínimo-máximo: 0-17 anos); a média de idade de início de terapêutica
inalatória foi de 4,9 anos, dp3,5. Aproximadamente 65% das famílias
apresentavam um Índice de Graffar: %4. Em cerca de metade dos participantes
havia história familiar de uso de dispositivos inalatórios. Na avaliação do
ensino, 53,1% dos participantes reportou raramente ser necessário a correção da
técnica inalatória pela equipa de enfermagem. No dia de aplicação do
questionário, 70,3% das crianças revelaram um bom desempenho na demonstração da
sua técnica inalatória. Em apenas 6,5% dos casos, constatou-se uma discrepância
entre a real necessidade de correção, avaliada pela equipa de enfermagem, e a
perceção dos inquiridos. As crianças em que foi referida a necessidade de
correção de técnica inalatória eram, em média, mais novas e apresentavam menos
anos de uso de dispositivos inalatórios comparativamente com as que raramente
precisavam de correção, embora as diferenças não sejam estatisticamente
significativas. As famílias com Graffar: %4 apresentaram 3 vezes mais
probabilidade de necessitarem de correção na técnica inalatória, após ajuste
para idade da criança e anos de uso de dispositivo (OR=3,22, IC95%: 1,06-9,80).
Conclusão: O facto de quase metade da amostra referir a necessidade de correção
da técnica inalatória, reforça a importância de uma monitorização e
reavaliação periódicas, procedimento sempre executado pela nossa equipa de
enfermagem previamente.
Alergia alimentar - da suspeita ao diagnóstico
Ana Cristina Barros1, Natacha Fontes1, Eliana Oliveira1, Ana Paula Aguiar1,
Georgeta Oliveira1
1C. Imunoalergologia, Dep. da Mulher da Criança e do Jovem, H Pedro Hispano,
ULS Matosinhos
Introdução: A alergia alimentar, com uma prevalência em pediatria de 6 a 8%,
caracteriza-se por uma reação imunológica que pode ser, ou não, IgE mediada. As
manifestações clínicas variam desde o ligeiro prurido até à anafilaxia.
Material e métodos: Análise retrospetiva e prospetiva dos casos de suspeita de
alergia alimentar observados em consulta de Imunoalergologia Pediátrica entre
Abril e Junho de 2012.
Resultados: Durante o período de estudo observou-se em consulta 52 casos de
suspeita de alergia alimentar. A idade média na primeira consulta foi 3 anos e
5 meses (54% com menos de 12 meses) e a dermatite atópica foi a patologia
concomitante mais frequente (52%). Existia história familiar de asma (33%),
rinite (31%) e alergia alimentar (9,6%). Foram implicados em possíveis
manifestações alérgicas 71 alimentos (12 casos referindo dois ou mais
alimentos), sendo mais frequente o leite (38%), peixe ou mariscos (18%),
frutos secos (10%) e ovo (7%). A primeira manifestação de reação adversa ao
leite ocorreu em média aos 5 meses e aos outros alimentos aos 3 anos. Os
sintomas cutâneos foram os mais frequentes (urticária 38%, eritema peribucal
27% e prurido 18%), seguido dos gastrointestinais (vómitos 14%) e respiratórios
(dispneia 4%). Foi referido atingimento de dois ou mais sistemas com 13
alimentos. O teste Prick (realizado em 42 alimentos) foi positivo em 45% (n=19)
e em 10 desses casos a IgE específica foi negativa. Identificou-se alergia
alimentar IgE mediada (IgE específica com classe>2) em 28%. Realizou-se 20
provas de tolerância oral (leite, ovo e peixe) sem manifestações imediatas nem
tardias de alergia em 17 casos.
Comentários: A alergia alimentar pode ter um impacto significativo na qualidade
de vida, pelo que é essencial o correto diagnóstico. Na maioria das reações
adversas a alimentos consegue demonstrar-se a ausência de mecanismos
imunológicos, excluindo-se assim o diagnóstico de alergia. Nos casos
apresentados, as manifestações clínicas foram variadas e, apesar de muitos
sintomas serem sugestivos de um mecanismo imunológico IgE mediado, apenas se
comprovou a presença de IgE específica num quarto dos alimentos testados. No
entanto, nos restantes alimentos não é possível excluir a presença de reação
imune. A identificação dos casos de alergia alimentar e a realização de prova
de tolerância oral evita dietas de exclusão restritas e previne reações graves
causadas por reatividade cruzada.
Necessidades, dificuldades e preocupações de pais com bebé internado numa
unidade de neonatologia: perspetiva dos profissionais de saúde
Zusana Diaz1, Susana Caires2, Susana Correia3
1Instituto de Educação, Universidade do Minho
2 Universidade do Minho
3 Universidade de Évora
Intervenção no bullying: o antes, o depois e ainda os efeitos da comunicação
social
Rosário Pinho1, Joana Monteiro2, Catarina Carvalho1, Virgínia Monteiro2
1 Divisão de Educação, Câmara Municipal de Oliveira de Azeméis (CMOA)
2 S. Pediatria, CH Entre Douro e Vouga
Introdução:O Município de Oliveira de Azeméis (Divisão Municipal de Educação)
desenvolveu em parceria com a Consulta de Desenvolvimento do CHEDV vários
projetos no âmbito da saúde escolar. Assumindo a escola como espaço
privilegiado para a aquisição de competências de relacionamento interpessoal,
a equipe pretendeu com este projeto dotar os agentes educativos de
habilitações para ajudar crianças e jovens a ultrapassar as situações de
violência em contexto escolar - Bullying.
Materiais e métodos:Realizaram-se ações de formação para toda a comunidade
educativa (professores, pais/encarregados de educação, assistentes
operacionais e alunos) das escolas da rede pública do concelho, do jardim-de-
infância ao ensino secundário. Foram desenvolvidas por psicólogas, com o apoio
de professores, alunos, associações de pais e agentes de autoridade (Escola
Segura). Incidiram nos seguintes aspetos: definição e tipos de bullying, perfil
da vítima e do agressor, identificação de situações em casa e na escola, formas
de atuação e prevenção nos vários contextos. Posteriormente, a equipe
disponibilizou-se a organizar um trabalho em regime de consultadoria ao nível
escolar, para apoiar a implementação de medidas práticas na deteção e
orientação das situações existentes, e através da criação de regulamento anti
abuso, criação de grupos de pares, etc.
Resultados:Esta atividade teve um impacto significativo na comunidade e provocou
o reconhecimento de vários casos, principalmente entre os encarregados de
educação. Observou-se inicialmente algum interesse pelo tema por parte dos
professores, apesar da relutância em aceitarem a sua existência. Com a
divulgação na comunicação social de situações concretas de bullying, a atenção
passou a ser crescente e os pedidos de formação multiplicaram-se. Notou-se, no
entanto, que o envolvimento da comunidade educativa nunca foi para além destas
formações, não se concretizando o trabalho em regime de consultoria que
proporcionaria continuidade ao projeto. Coincidentemente ou não, ocorreu um
esquecimento do assunto por parte dos meios de comunicação.
Conclusões:Embora o bullying persista um problema atual, não parece constituir
uma prioridade para a rede escolar em causa, eventualmente por razões
socioculturais. A comunicação social desempenha um papel determinante na forma
como a comunidade encara determinadas problemáticas e a recente mediatização
deste tema poderá servir para renovar o interesse e a procura de ajuda na sua
abordagem.
PHDA e acidentes: será a realidade portuguesa diferente?
Joana Monteiro1, Hugo Rodrigues2, Fátima Nunes1, Virgínia Monteiro1
1 S. Pediatria, CH Entre Douro e Vouga
2USF Vale do Vouga, S. João da Madeira
Introdução:As lesões acidentais são a principal causa de morbimortalidade em
idade pediátrica e a sua incidência estima-se aumentada em crianças com
Perturbação de Hiperatividade e Défice de Atenção (PHDA). O objetivo do presente
estudo foi analisar a prevalência de acidentes com necessidade de observação
médica hospitalar em crianças com PHDA, comparando-a com a da população de
crianças saudáveis.
Métodos:Revisão de processo clínico electrónico com registo de recorrências ao
Serviço de Urgência do CHEDV, EPE de crianças e jovens com diagnóstico de PHDA
seguidos na consulta externa de Neurodesenvolvimento (grupo 1) e crianças e
jovens seguidos em Consulta de Saúde Infantil da USF de Vale do Vouga, sem
patologia neurodesenvolvimental (grupo 2). Os grupos, divididos por género e
faixas etárias, eram semelhantes em número de elementos. Análise estatística
com SPSS v17.
Resultados:A amostra estudada era constituída por 734 indivíduos, dos quais 304
(41.4%) apresentavam critérios de diagnóstico para PHDA. Registou-se na
população geral um predomínio do sexo masculino, sendo ligeiramente mais
elevado no grupo com PHDA (76%).
A média de idades foi 12.8±3.1 anos e mediana de 14.
Comparando os dois grupos, salientou-se uma maior prevalência de acidentes na
amostra com PHDA (46.1% vs 43.5%, p=0.491), com um número ligeiramente mais
elevado de recorrências ao serviço de urgência (0.76±1.1 vs 0.67±1.04, p=
0.20), embora sem significado estatístico. Observou-se também, ao subdividir a
amostra por faixas etárias, que os adolescentes com PHDA com idade superior a
18 anos apresentavam uma significativamente maior prevalência de acidentes em
relação à amostra controlo (p=0.020).
No grupo com PHDA, destaca-se o facto de os rapazes apresentarem
significativamente mais acidentes (49.4% vs 35.6%, p =0.040) e em maior número
(0.84±1.2 vs 0.52±3.85, p= 0.038).
Discussão:Os resultados mostraram um elevado número de acidentes e ao contrário
de múltiplos estudos publicados, no nosso não se verificou uma maior prevalência
na população com PHDA, à exceção dos adolescentes mais velhos.
Este resultado surpreendente vem reforçar a noção de que a população infanto-
juvenil portuguesa tem um alto nível de acidentalidade, o qual não está
relacionado com a presença de patologias predisponentes, como é o caso da PHDA,
mas sim com características socioculturais que dizem respeito à falta de
medidas de prevenção, entre outras.
Envolvimento cardíaco na distrofia muscular de Becker
Joana Freitas1, Marília Loureiro3, Manuela Santos2, Sílvia Álvares3
1S. Pediatria, CH Porto
2 S. Neurologia Pediátrica, CH Porto
3S. Cardiologia Pediátrica, CH Porto
Introdução: A distrofia muscular de Becker (DMB) associa-se a alterações
cardíacas que são responsáveis por elevada morbilidade e mortalidade, podendo
ser mais importantes que o atingimento do músculo esquelético. O envolvimento
cardíaco é variável, podendo ser subclínico, ou manifestar-se sob forma de
cardiomiopatia e insuficiência cardíaca congestiva. O objectivo deste estudo é
avaliar as alterações cardíacas presentes nos doentes com DMB seguidos na
consulta multidisciplinar de doenças neuromusculares.
Material e métodos:Análise retrospectiva dos processos clínicos com registo da
avaliação clinica, electrocardiograma e ecocardiograma.
Resultados: O estudo inclui 11 doentes, com idades entre os 12 meses e os 16
anos, à data da primeira consulta de Cardiologia Pediátrica, com um tempo médio
de follow-up de 6,8+/-4,4 anos. A avaliação cardíaca foi anual ou mais
frequente de acordo com a evolução clinica. Só um adolescente referia dispneia.
A prevalência de doença cardíaca pré-clínica ou clínica foi de 55%. Alterações
electrocardiograficas estiveram presentes em 9% dos casos. O ecocardiograma
mostrou cardiomiopatia dilatada em 55%, tendo sido iniciado medicação com
inibidores da enzima de conversão da angiotensina.
Conclusões: Salienta-se a importância da deteção precoce da disfunção
miocárdica nos doentes com DMB, com o objetivo de instituir terapêutica
apropriada, bem como a implementação das recomendações de seguimento em centros
com experiência.
Síndroma de Turner e drenagem venosa pulmonar anómala parcial
Raquel Themudo1, Silvia Alvares2, Isabel Sá3, Jorge Moreira4
1 S. Radiologia, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos
2 S. Cardiologia Pediátrica, CH Porto
3 S. Cardiologia, CH Porto
4 S. Cardiologia Pediátrica, CH São João
Introdução:A incidência de cardiopatia congénita na síndroma de Turner é
elevada, sendo recomendada uma avaliação e seguimento regular em cardiologia.
Os novos meios de diagnóstico de imagem têm permitido uma melhor deteção de
mal-formações cardíacas, sobretudo na adolescência, uma vez que a
ecocardiografia transtorácica pode não ser o exame ideal para diagnosticar as
anomalias de retorno venoso pulmonar, uma patologia rara que se associa a esta
doença.
Caso clínico:Adolescente com Sindrome de Turner, de 14 anos de idade, sem
sintomas cardiovasculares, referenciada aos 10 anos à Consulta de Cardiologia
Pediátrica para rastreio de cardiopatia congénita. Apresentava sopro sistólico
de ejeção no bordo esternal direito alto, bloqueio incompleto de ramo direito
no electrocardiograma, dilatação das cavidades direitas com movimento paradoxal
do septo interventricular, sobrecarga de volume do ventrículo direito, septo
interventricular (SIV) e interauricular (SIA) intactos. Colocada a hipótese de
drenagem venosa pulmonar anómala parcial, realizou cateterismo cardíaco e
angiocardiografia, reportado como normal (Qp/Qs=1). No seguimento posterior na
consulta de Cardiologia Pediátrica, esteve sempre assintomática, mantendo
dilatação das cavidades direitas no ecocardiograma. Efetuou RM cardíaca que
demonstrou um shunt esquerdo-direito com Qp/Qs de 1.6; a angiografia pulmonar
com o método 4D Track permitiu detetar drenagem venosa pulmonar anómala
parcial para a veia braquiocefálica, SIA intacto e dilatação das cavidades
direitas. Repetiu cateterismo cardíaco que confirmou os achados na RM. Foi
submetida a cirurgia cardíaca corretiva com bom resultado.
Conclusão:A RM cardíaca permitiu definir com exatidão a anatomia cardíaca e as
anomalias vasculares extracardíacas, bem com calcular o Qp/Qs. É um meio de
diagnóstico cada vez mais utilizado no seguimento dos doentes com Sindroma de
Turner, para melhor esclarecimento da cardiopatia.
Displasia broncopulmonar. Casuística da unidade de cuidados intensivos
neonatais do Hospital Pedro Hispano, 2009-2011.
Eliana Oliveira1, Natacha Fontes1, Ana Cristina Barros1, Marta Nascimento1,
Cláudia Ferraz1, Isabel Martins1
1Dep. da Mulher, da Criança e do Jovem, H Pedro Hispano, ULS Matosinhos
Introdução:A Displasia Broncopulmonar (DBP) constitui uma das principais causas
de doença pulmonar crónica na infância, com importante morbilidade e
mortalidade associadas. Este trabalho tem como objetivo a caracterização dos
recém-nascidos prétermo (RN PT) com o diagnóstico de DBP, internados na
Unidade de Cuidados Intensivos Neonatais (UCIN) do Hospital Pedro Hispano
(HPH), entre 2009 e 2011.
Métodos:Foi realizado um estudo retrospetivo dos processos clínicos de todos
os RN com o diagnóstico de DBP (dependência de O2 suplementar por um período ≥
28dias), internados na UCIN do HPH entre 2009 e 2011. Foram recolhidos os
seguintes parâmetros: idade gestacional, sexo, peso, corticoide pré-natal, tipo
de parto, DMH, surfactante, sépsis, PCA, ventilação assistida, O2 suplementar,
diuréticos, broncodilatadores, corticoides pós-natais e tempo de internamento.
Resultados:Durante os 3 anos de período de estudo estiveram internados na UCIN
do HPH 26 RN com o diagnóstico de DBP, dos quais 43,9% eram do sexo masculino.
A idade gestacional variou entre as 23S e as 32S (mediana 28S). O peso médio
ao nascimento foi de 1070g (500-1720g), sendo que 85% tinham peso <1500g. Em
88,5% das gestações foi realizada corticoterapia profilática pré-natal. A DMH
estava presente em 69,2% dos casos e 84,6% dos RN efetuaram surfactante nas
primeiras horas de vida. Foi diagnosticada sépsis e PCA a 76,9% e 15,4% das
crianças, respetivamente. O apoio ventilatório foi necessário em praticamente
todos os RN (25), com 72% a requererem um modo invasivo e 28% a precisarem
apenas de CPAPn. Durante o tempo de internamento, a necessidade de O2
suplementar variou entre os 20 e os 136dias (mediana 42,5dias) e 40,9% dos RN
mantinham esta necessidade às 36S. Dezasseis crianças realizaram tratamento com
diuréticos durante uma média de 36dias, dp=31,5 (2-117dias), que foi iniciado
entre o 16º e 51ºdias, e 3 fizeram broncodilatadores. Os corticóides foram
usados em 5 RN, mas apenas 3 efetuaram corticoterapia sistémica. Cinco RN foram
transferidos para outras Unidades, tendo o tempo de hospitalização dos
restantes oscilado entre os 36 e 136 dias, o que correspondeu a altas entre as
33S e os 2M de IC. Apenas 2 doentes mantiveram necessidade de O2 suplementar no
domicílio.
Conclusão:A etiopatogenia da DBP não está completamente esclarecida, contudo a
prematuridade, baixo peso ao nascimento, sexo masculino e DMH têm sido
associadas a esta patologia, e tal como esperado, os resultados obtidos no
nosso trabalho são concordantes com esta associação.
Na nossa amostra apenas 3 RN com evoluções menos favoráveis foram submetidos a
corticoterapia sistémica, prática que se coaduna com as recomendações atuais
que consideram o seu uso controverso, devendo ser limitado a situações
excecionais. Apesar de quase metade dos RN necessitarem de O2 suplementar às
36S de IC, à data de alta apenas 2 mantinham esta necessidade.
Febre, dor abdominal e dor no ombro na adolescência? Dois casos clínicos
ilustrativos.
Manuel Ferreira-Magalhães1, Marta Guimarães2, Ana Azevedo3, Conceição Costa4,
Sónia Aires3, Cristina Rocha3
1 Hospital Pediátrico Integrado, CH São João
2 S. Cirurgia, CH Entre Douro e Vouga
3 S. Pediatria, CH Entre Douro e Vouga
4 S. Pediatria, CH Vila Nova de Gaia-Espinho
A abdominalgia, associada ou não a febre, é uma das queixas mais frequentes do
SU. Um exame objetivo (EO) cuidadoso poderá ser crucial.
Caso 1-16 anos, masculino, admitido no SU por febre há 1 semana, astenia,
recusa alimentar, cefaleias e tosse produtiva. EO: emagrecido (-6Kg),
orofaringe ruborizada, adenomegalias cervicais (<1cm) e fígado palpável cerca
de 2cm. Analiticamente apresentava hemograma normal, PCR 286 mg/L, AST/ALT sem
alterações, aPTT 35,4 (N 28,7), INR 1,7 e urina normal. Radiografia do tórax com
infiltrado intersticial. Internou-se para vigilância, tendo realizado Mantoux,
serologias víricas e culturas bacterianas.
Em D7 iniciou dor no ombro direito, efetuou eco abdominal que revelou abcesso
hepático de 56mm (confirmado por TC). Iniciou antibioticoterapia e foi proposto
para drenagem após transfusão de plasma que rejeitou por argumentos religiosos.
Por evolução desfavorável fez drenagem percutânea em D12 e laparoscópica em
D14, mantendo dreno até D33, altura em que fi cou apirético. Alta em D35.
Cultura de líquido do abcesso positivo para Staphyloccocus aureus.
Caso 2-12 anos, feminino, recorre ao SU por abdominalgia. EO com dor abdominal
difusa à palpação. Urina II com leucocitúria. Eco abdominal sem alterações.
Teve alta medicada com cefuroxima por ITU (não confirmada posteriormente). Três
dias depois regressa por dor no flanco direito. EO com dor localizada nos
quadrantes direitos e defesa. Análises: 21000 leucócitos e PCR de 170 mg/L.
Submetida a apendicectomia, com diagnóstico intraoperatório de adenite
mesentérica (isolamento posterior de Brevibacteriumno líquido peritoneal e
histologia compatível com apendicite), sem antibioticoterapia pós-cirúrgica.
Após alta hospitalar, 5º dia pós-operatório regressa ao SU por febre com 24
horas, dor no flanco, região escapular e ombro direito. EO: queixosa com dor à
palpação profunda dos quadrantes direitos e à inspiração profunda. Análises:
21000 leucócitos (79% neutrófilos), PCR 119 mg/L e urina normal. Radiografia do
tórax sem alterações. Eco abdominal sem alterações. TC abdominal revelou
abcesso hepático multilobulado (5,3cm). Iniciou antibioticoterapia e, um dia
depois, fez drenagem percutânea. Em D5 ficou apirética, retirou dreno em D11 e
teve alta em D12. Cumpriu total de 21 dias de antibióticos, com boa evolução.
Culturas foram negativas.
Os dois casos ocorridos num espaço de 2 meses demonstram a importância
diagnóstica precoce de uma patologia rara na pediatria e em países
desenvolvidos.
Enterocolite necrotizante numa unidade de cuidados intensivos neonatais
Catarina Resende1, Andreia Dias1, Elisa Proença1, Alexandra Almeida1, Carmen
Carvalho1
1 S. Neonatologia, Maternidade Júlio Dinis, CH Porto
Introdução:A enterocolite necrotizante (NEC) é uma das emergências
gastrointestinais mais comum nos recém-nascidos (RN). Ocorre em 1-3 por 1000
nados-vivos. A incidência aumenta com diminuição da idade gestacional (IG)
ocorrendo em 6-7 % nos RN com muito baixo peso (RNMBP). A sua patogénese
permanece desconhecida, tratando-se provavelmente de uma doença multifatorial.
Objetivo: Caracterizar a população de RN internados na UCIN com o diagnóstico
de NEC.
Metodologia:Estudo retrospetivo, com base na análise dos processos clínicos dos
doentes internados com o diagnóstico de NEC, entre janeiro 2005 e dezembro
2011. Parâmetros analisados: fatores de risco (IG, MBP, restrição de
crescimento intrauterino (RCIU), persistência do canal arterial (PCA), asfixia,
instabilidade hemodinâmica, concentrado eritrócitário (CE), policitemia, leite
de fórmula para prematuros, progressão alimentar rápida, cateterismo umbilical
e antibioticoterapia prolongada prévia); diagnóstico; tratamento e evolução.
Resultados: Estabelecido o diagnóstico de NEC em 51 RN. Destes, 3 foram
excluídos, resultando numa incidência global de 1,7 %, 2,7% nos pré-termos e
6,4% nos RNMBP. A IG mediana foi de 29 semanas (min:25; Max: 35). A idade
média ao diagnóstico foi de 15,4 dias. O peso médio ao nascer foi de 1124g e
31% dos RN apresentaram RCIU. Em 21% dos RN documentou-se PCA com significado
hemodinâmico. Na altura do diagnóstico 31% dos RN estava sob alimentação trófica
e a maioria sob aleitamento materno (AM) exclusivo (65%). Tinham efetuado
antibioticoterapia prolongada 64,6% dos RN e 7 RN fizeram CE. Foram submetidos a
cateterismo umbilical 19 RN (39,6%). Os principais sinais à apresentação foram:
distensão abdominal (95,8%) e resíduos gástricos significativos (93,7%). Ocorreu
pneumatose intestinal em 35,4% e pneumoperitoneo em 5 casos. Predominou o
diagnóstico de NEC grau I (20 casos; 41,7%). A NEC grau III foi descrita em 12
casos (25%). Obtiveram-se hemoculturas positivas em 13 crianças. Efetuado
tratamento cirúrgico em 11 RN (22,9%). Constataram-se sequelas em 10 crianças.
Verificaram-se 4 óbitos na sequência de NEC.
Discussão: Dos fatores de risco avaliados, os mais frequentes foram a
prematuridade (100%) e MBP (83,3%), seguido de antibioticoterapia prolongada e
RCIU (64,6% e 31%, respetivamente). O AM, considerado fator de proteção, foi a
alimentação predominante neste grupo. O tratamento da NEC depende da gravidade
da doença, tendo sido necessária intervenção cirúrgica em 25% dos RN.