UMA CAUSA RARA DE PÓLIPOS DO CÓLON
INTRODUÇÃO
Foi porventura com a demonstração de que os cancros do
cólon se originam num pequeno tumor benigno, o pólipo,
facilmente removível por colonoscopia, que a prevenção
do cancro de cólon e recto se tornou possível e viável.
Se um país se organizar para remover os pólipos do cólon,
com certeza que baixará a incidência de cancro do cólon (1).
CASO CLÍNICO
Doente de 57 anos, que recorreu à Consulta Externa de
Gastrenterologia referenciado pelo seu Médico assistente
para eventual polipectomia de pólipo séssil de 4mm,
localizado no cólon ascendente, detectado em exame de
rastreio de cancro colo-rectal. Não apresentava qualquer
queixa clínica, sendo os antecedentes do doente irrelevantes. De forma electiva, realizou colonoscopia, tendo
sido detectado um pólipo séssil de 4mm no ascendente
proximal (Figura1), tendo sido excisado com ansa dietérmica e recuperado para análise histológica.
A análise histológica mostrou tratar-se de uma lesão com
células neoplasicas negativa para MNF 116, C-Kit, CD3,
CD5 e ciclina, apresentando forte imunoreactividade
para o antigénio leucocitário comum (LCA) e para o
CD 20, indicando proliferação linfóide de linhagem B,
compatível com linfoma de células B (Figura 2). Realizou Tomografia Computorizada toraco-abdómino-pélvica e medulograma que não mostraram alterações
patológicas. Orientou-se para a Consulta Externa de
Gastrenterologia e Hematologia, onde mantém seguimento, mantendo-se actualmente sem recidiva local,
tendo-se decidido não realizar terapêutica dirigida a lesão neoplasica.
DISCUSSÃO
A incidência de malignidade em pólipos pequenos é inferior a 0,1%. Os linfomas gastrointestinais primários representam uma entidade clinicopatológica diferente dos
linfomas ganglionares; o linfoma primário do cólon é um
tumor raro do tubo digestivo (2). Os linfomas do tubo digestivo associam-se, por vezes a doenças como a doença
celíaca, colite ulcerosa, vírus da imunodeficiência humana, herpes vírus, entre outras. Os sinais e sintomas
dependem da localização da lesão; no cólon, geralmente
caracteriza-se por dor abdominal, perda de peso, obstipação ou até hemorragia digestiva. No caso apresentado,
o facto de o doente se apresentar assintomático, deve-se
muito provavelmente as pequenas dimensões da lesão.
Os pólipos do cólon e recto são lesões frequentes,
detectadas em 30-40% das pessoas com mais de 60
anos. A detecção de pólipos aumentou significativamente nos últimos anos com a implementação de programas de rastreio de cancro de cólon e recto e com um
maior acesso por parte dos doentes a exames endoscópicos. A importância clínica destas lesões advém do risco
de progressão para cancro do cólon e recto (3). Pela evidência consistente de que a excisão dos pólipos diminui
a incidência de cancro de cólon e recto, os doentes com
pólipos detectados por colonoscopia devem ser submetidos a polipectomia; mesmo os pequenos pólipos devem
ser excisados e submetidos a análise histológica, dado que
como se pode observar no caso apresentado anteriormente,
os pequenos pólipos podem conter “grandes surpresas”.
Em conclusão, a evidência indica que a colonoscopia
com polipectomia tem um impacto substancial na
incidência do cancro do cólon e recto, sendo fundamental excisar todos os pólipos independentemente do seu
tamanho e a sua respectiva analise histológica.