Secção Especializada: Dois Anos Depois
Secção Especializada: Dois Anos Depois
Pediatric Endoscopy Section: Two Years Later
Fernando Pereira1
1Presidente da Secção Especializada de Gastrenterologia Pediátrica da SPED;
Serviço de Gastrenterologia, Hospital Maria Pia, Porto - Portugal. Email:
facpereira@sapo.pt.
É hoje comum aceitar-se que a criança não é um adulto em tamanho pequeno e, por
isso, a sua observação e tratamento devem ser específicos utilizando
metodologias próprias.
Apetece dizer o mesmo da endoscopia pediátrica, ou seja, não é a observação
endoscópica feita num adulto pequeno. É sim um acto endoscópico efectuado num
ser humano com características muito diferentes do adulto, com maior ou menor
grau de crescimento, desenvolvimento e maturidade, envolvendo um contexto
familiar e social também muito particular. A endoscopia é um elemento integrado
no esclarecimento de perturbações digestivas de índole diferente das do ser
humano adulto, com gravidade e prognóstico diferentes e tendo em regra um
horizonte mais optimista.
O aparecimento e desenvolvimento da endoscopia pediátrica acontece como
consequência do seu reconhecimento como método fundamental ao diagnóstico e
tratamento da patologia digestiva do adulto. A vontade dos pediatras em
utilizar esta técnica levou-os à procura do contacto com os gastrenterologistas
que a praticavam, para a aprenderem, e à sensibilização da indústria, para o
fabrico de equipamentos adaptados aos diferentes grupos etários pediátricos e
aos diversos segmentos digestivos.
A endoscopia pediátrica começou a ser realizada essencialmente nos Hospitais
Pediátricos e nos Serviços de Pediatria dos Universitários, com grandes
limitações e recorrendo aos serviços de adultos sempre que a aplicação
terapêutica era necessária. Progressivamente os pediatras dedicados a esta área
do conhecimento foram ganhando experiência e simultaneamente foram
desenvolvendo outras áreas da investigação do aparelho digestivo e criando
consultas especializadas, o que veio a culminar com o reconhecimento e a
criação da Sub-especialidade de Gastrenterologia Pediátrica.
Os primeiros gastrenterologistas pediátricos, organizados desde longa data numa
Secção Especializada da Sociedade Portuguesa de Pediatria, com a qual têm uma
forte ligação profissional, consideraram ser fundamental para o desenvolvimento
da sua actividade profissional fortalecer os laços de colaboração e intercâmbio
de experiências com os médicos gastrenterologistas e com as suas organizações,
o que rapidamente foi reconhecido e aceite pela Sociedade Portuguesa de
Endoscopia Digestiva, durante a presidência do Dr. Venâncio Mendes, conduzindo
posteriormente à criação dentro da SPED da Secção Especializada de Endoscopia
Pediátrica.
Esta Secção tem procurado cumprir os desígnios para que foi criada. A
colaboração entre os dois tipos de profissionais que praticam endoscopia na
criança e no adulto, a divulgação da patologia digestiva, especialmente aquela
em que a endoscopia tem papel interventivo e das técnicas endoscópicas mais
recentes, introduzidas no estudo da criança como é o caso de enteroscopia com
cápsula, junto dos pediatras e dos médicos em geral.
Para a concretização destes objectivos foram publicadas duas pequenas
brochuras, uma com temas de Gastrenterologia Pediátrica (Endoscopia Digestiva
em Pediatria, O que fazer face à ingestão de um cáustico, Doença inflamatória
intestinal, Obstipação na criança, Doença de Refluxo Gastroesofágico, O
Helicobacter pylorina doença gastrodudoenal da criança, Abordagem da criança
com sangue nas fezes) e outra exclusivamente dedicada à Doença Celíaca nas suas
vertentes da criança e do adulto.
Foi também incluída na revista Endonews uma rubrica intitulada Momento
Pediátrico em que foram publicados diversos casos clínicos com envolvimento da
endoscopia e na publicação da qual estiveram envolvidos quase todos os serviços
ou unidades de Gastrenterologia Pediátrica.
A Secção Especializada organizou um curso de Avanços em Endoscopia Digestiva
destinado a gastrenterologistas pediátricos, pediatras e internos de Pediatria,
em que com a colaboração de vários gastrenterologistas foram abordados temas
actuais na sua aplicação à patologia pediátrica como a Ecoendoscopia, a
Enteroscopia e as mais recentes técnicas terapêuticas (Próteses, clips, Árgon-
Plasma).
A Secção Especializada participou activamente nos dois últimos Congressos
Nacionais de Gastrenterologia, no Congresso Nacional de Pediatria, na Reunião
Ibérica de cápsula endoscópica e integrou o corpo docente do Mestrado em
Endoscopia Digestiva da Escola Superior de Enfermagem da Universidade do Minho.
Deve salientar-se o inquérito efectuado às seis principais unidades e serviços
de Gastrenterologia Pediátrica Nacionais, em que foram analisados diversos
aspectos da sua actividade: instalações, pessoal, equipamentos, monitorização,
acessórios, tipo de desinfecção, técnicas efectuadas e recurso a anestesia/
sedação. Os resultados foram apresentados em comunicação na última reunião
nacional da Sociedade de Gastrenterologia e Hepatologia e Nutrição Pediátrica e
podemos sintetizá-los dizendo que temos um número suficiente de centros
equilibradamente distribuídos mas necessitando de melhores instalações e mais
profissionais.
Finalmente foi elaborada uma newsletter para a revista Endoscopy que deverá ser
publicada oportunamente e onde se pretende dar a conhecer o que é a
Gastrenterologia Pediátrica no nosso país, especialidade ainda não reconhecida
na maioria dos países europeus.
E agora que futuro para a Secção? Esperamos que a próxima direcção se mantenha
fiel aos princípios que levaram à criação da Secção Especializada e contribua
com a sua actividade para o desenvolvimento da Endoscopia Pediátrica no país e,
se possível, estabeleça laços de aproximação com os nossos colegas europeus.
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