Prevalência e fatores de risco de dores nas costas em adolescentes: uma revisão
sistemática da literatura
Introdução
As queixas a nível da coluna vertebral são frequentes numa percentagem
significativa de indivíduos e implicam, ao longo da vida e a nível individual,
problemas significativos de natureza psicológica, social e económica (Rubin,
2007; Portugal, 2005).
Apesar das dores nas costas serem frequentes e existirem bastantes estudos
sobre este problema de saúde pública, seja com adultos e, mais recentemente,
com adolescentes, a sua fisiopatologia continua ainda pouco clara, e outras
evidências não são consensuais, ou não apresentam o rigor científico desejado.
Sabemos que o estilo de vida, das pessoas em geral e dos adolescentes em
particular, tem mudado significativamente nos últimos anos. O sedentarismo
prevalecente, as posturas incorretas, os hábitos alimentares, o peso das
mochilas, entre outros fatores, sugerem que as dores nas costas manifestadas na
idade adulta não dependem apenas de fatores provenientes daquele ciclo de vida,
mas, muitas vezes, de fatores provenientes de características individuais, de
desenvolvimento e maturação fisiológica e psicológica (Harreby et al., 1995;
Jordaan et al., 2005; Hestbaek et al., 2006)
Atualmente, com a globalização e o número exponencial de fontes de informação,
associado à necessidade de utilizar cada vez mais a melhor evidência científica
na prática clínica, surgiu nos anos 80 e 90 o movimento de Medicina Baseada na
Evidência, com o objetivo de preparar, manter e assegurar o acesso a revisões
sistemáticas sobre efeitos de intervenções na área de saúde (Galvão, Sawada e
Rossi, 2002).
Neste contexto, e porque existem bastantes incongruências e falta de algum
rigor científico nos resultados de estudos sobre este problema, pretendemos
determinar a prevalência e os fatores de risco, na adolescência, de dores nas
costas e analisar a evidência científica existente atualmente.
Metodologia
Revisão sistemática da literatura é uma visão geral de estudos primários, que
contém uma declaração de objetivos, materiais e métodos, e desenvolve-se de
acordo explicitar métodos transparentes e reprodutíveis. Utiliza um protocolo
válido e explícito, que minimiza o viés e inclui resumos qualitativos e
quantitativos. O objetivo desta revisão é, pois, determinar a melhor evidência
disponível sobre a prevalência de dores nas costas e fatores de risco
associados, em adolescentes com idades entre 11 e 19 anos.
Esta revisão pretende determinar a prevalência e os fatores de risco associados
às dores nas costas em adolescentes.
Os objetivos específicos foram: determinar a prevalência de dores nas costas
nos adolescentes; identificar os principais fatores de risco associados às
dores nas costas em adolescentes; avaliar criticamente a qualidade metodológica
de estudos de prevalência sobre dores nas costas em adolescentes; e identificar
a evidência científica atual sobre dores nas costas em adolescentes.
Os seguintes termos foram usados nesta revisão:
' Dores nas costas: experiência de dor de costas em diferentes regiões da
coluna vertebral (pescoço, região torácica e lombar);
' Prevalência: número total de casos de dores nas costas em adolescentes num
determinado período de tempo;
' Fatores de risco: todos os fatores (físicos, psicossociais, contextuais) que
podem contribuir para o desenvolvimento de dores nas costas em adolescentes;
' Adolescentes: indivíduos com idades compreendidas entre 11 e 19 anos de
idade.
Estratégia de busca
A revisão sistemática foi realizada durante o mês de setembro de 2010 através
da EBSCO, em 6 bases de dados bibliográficas on-line, nomeadamente: CINAHL®
Plus with Full Text; Nursing & Allied Health; British Nursing Index;
Cochrane Collection; Medic Latina (tm); MEDLINE® with Full Text; seguiu-se um
processo sistemático, desde a seleção dos recursos de pesquisa até à avaliação
crítica dos textos selecionados.
Para além destas bases de dados e no sentido de encontrar mais artigos
elegíveis para análise, efetuámos pesquisa complementar via motor de busca
Google e consulta de repositórios de teses de Mestrado e Doutoramento (da
Escola Nacional de Saúde Pública e da Universidade do Minho), tendo sido
identificados e selecionados mais alguns estudos para esta revisão.
Definiu-se como questão de investigação: qual a prevalência e quais os fatores
de risco de dores nas costas entre os adolescentes com idades entre 11-19 anos?
Na estruturação desta questão recorremos à estratégia PICO: Participants,
Intervention, Comparations, Outcomes (Sackett et al., 2000).
Os principais descritores (termos) utilizados foram, na língua inglesa: back
pain, adolescent, risk factors, prevalence, ligados pelo operador booleano
and. No Google e nos repositórios de teses, usámos os mesmos descritores, em
língua portuguesa.
Os estudos selecionados são em língua inglesa e portuguesa, e editados durante
o período entre janeiro de 2005 a agosto de 2010.
Numa primeira fase, os títulos e os resumos de toda a literatura identificada
foram revistos por dois revisores, que avaliaram independentemente a qualidade
dos estudos revistos, incluindo os critérios a seguir referidos. Numa segunda
fase, o texto completo de todos os artigos potencialmente relevantes foi
revisto e selecionado por ambos os revisores, usando os mesmos critérios, a fim
de determinar a elegibilidade dos artigos para inclusão na revisão.
Critérios de inclusão
Como critérios de inclusão utilizámos os que são relatados nos estudos
epidemiológicos.
A prevalência e os fatores de risco serão o foco do estudo, em adolescentes com
idade entre os 11 e os 19 anos, de qualquer raça e de ambos os sexos.
Avaliação metodológica
Segundo Katrak et al. (2004) os investigadores usam frequentemente instrumentos
padrão de avaliação crítica para avaliar a qualidade das investigações
publicadas. No entanto, não existe consenso em relação ao instrumento de
avaliação crítica mais apropriado para pesquisas na área da saúde. Estes
autores, concluíram que não existem instrumentos ótimos de avaliação crítica
para os diferentes desenhos de estudo, nem existe nenhum instrumento genérico
que possa ser usado igualmente nos diversos tipos de estudos. Eles referem que
o instrumento adotado deve ser escolhido cuidadosamente consoante as
características e tipo de estudo.
Assim, a avaliação da qualidade dos artigos foi baseada numa versão modificada
de um instrumento de avaliação crítica bem aceite pela comunidade científica e
usada em estudos relacionados com dores nas costas, adaptado por Crombie em
1996, conforme Steele, Bialocerkowski e Grimmer (2003). A qualidade de cada
artigo foi avaliada de acordo com os itens apresentados no quadro 1.
Quadro 1 ' Instrumento de avaliação crítica modificado
Este instrumento de avaliação crítica da qualidade metodológica dos artigos
selecionados (Crombie, 1996, segundo Steele et al., 2003) inclui dezasseis
itens e pode ser usada em estudos de prevalência, os quais avaliam a
representatividade da população alvo, qualidade dos resultados e conceito de
dores nas costas.
Foi alocado um ponto no preenchimento de cada item, caso presente, e 0 pontos
quando ausente ou pouco claro. A pontuação máxima, indicativa de alta
qualidade, foi de 16, com a pontuação mais baixa possível de zero. A qualidade
metodológica de cada estudo foi posteriormente cotada como baixa (0-5 pontos),
moderada (6-11 pontos), ou alta (12-16 pontos), em semelhança aos procedimentos
usados por Geytenbeek em 2002, conforme Steele, Bialocerkowski e Grimmer
(2003).
Para além deste instrumento, devido à utilização de métodos diferentes em dois
dos artigos elegíveis, usámos ainda o JBI Critical Appraisal Checklist for
Experimental Studies (Pearson e Aromataris, 2009) e a Grelha de Avaliação
Crítica de uma Revisão Sistemática (Bugalho e Carneiro, 2004).
Todos os artigos foram avaliados independentemente por ambos os revisores.
Opiniões diferentes entre os revisores foram discutidas até ter sido alcançado
consenso.
Hierarquia da evidência
O sistema hierárquico da evidência, descrito por Sackett et al. (2000), foi
usado para determinar o nível da evidência dos estudos selecionados e incluídos
neste estudo. Os estudos de prevalência são estudos epidemiológicos e, assim,
os estudos procurados para esta nesta revisão sistemática encontram-se, na
maioria, no nível 3 de evidência desta classificação (quadro 2).
Quadro_2 ' Hierarquia da evidência
Extração e análise de dados
Os dados foram extraídos para um ficheiro Word (tabela), onde se incluíram os
elementos mais relevantes de cada estudo, nomeadamente: autor(es), país de
publicação, desenho do estudo, caracterização da amostra, tipo de amostragem,
conceito de dor de costas, método de colheita de dados, prevalências e fatores
de risco (quadro 3).
Quadro_3 ' Descrição dos principais aspetos metodológicos e resultados de
estudos sobre dores nas costas em adolescentes
Resultados e discussão
Pretendemos, aqui, identificar a evidência científica recente sobre a
prevalência e principais fatores de risco associados às dores nas costas em
adolescentes. A pesquisa forneceu trinta e um artigos, dos quais foram
excluídos oito, numa primeira fase, pelo título e resumo, por não estarem em
conformidade com a questão e os objetivos desta revisão (após avaliação pelos
dois investigadores).
Num 2º momento, acedemos ao texto completo dos vinte e três artigos, tendo sido
excluídos dois, por não responderem aos critérios predefinidos.
No final, foram ainda selecionados três outros estudos através do motor de
busca Google e após consulta de repositório de dissertações da Escola Nacional
de Saúde Pública e da Universidade do Minho (Paiva, Marques e Paiva, 2009;
Coelho, Almeida e Oliveira, 2005; Alpalhão e Robalo, 2005). Consequentemente,
vinte e quatro estudos foram incluídos nesta revisão.
O método de busca e os resultados são apresentados na figura 1.
Figura 1 ' Resultados da busca em bases de dados eletrónicas
Hierarquia da evidência
Como referimos, a maioria dos estudos são de características epidemiológicas,
com uma evidência de nível 3 (ver quadro_2), incluindo dezanove estudos
transversais e três prospetivos, conforme quadro_3. Elegemos, ainda, um estudo
experimental (Fanuchi et al., 2009) e uma Revisão Sistemática da Literatura
(Briggs et al., 2009).
Avaliação crítica da qualidade metodológica
O valor da qualidade metodológica dos estudos está apresentado na tabela 1.
Tabela 1 ' Avaliação crítica da qualidade de estudos
Como os questionários foram o principal instrumento de colheita de dados, os
critérios 8 e 9 do instrumento de avaliação crítica de Crombie (1996), citado
por Steele, Bialocerkowski e Grimmer (2003) nem sempre foram utilizados, ou
foram omitidos. Contudo, tendo em conta a pontuação obtida, a maioria dos
artigos (68%) apresenta uma qualidade alta e, os restantes, uma qualidade
moderada.
Em relação aos artigos de Fanucchi et al. (2009) e Briggs et al. (2009), dadas
as suas características (estudo experimental e revisão sistemática da
literatura, respetivamente), foram avaliados com grelhas específicas - JBI
Critical Appraisal Checklist for Experimental Studies e a grelha de avaliação
crítica de revisão sistemática (Bugalho e Carneiro, 2004) - cujos resultados
foram de boa qualidade metodológica.
População/amostra
A população alvo mais comum nos estudos analisados foi composta por
adolescentes, nomeadamente estudantes do ensino secundário, abrangendo idades
compreendidas entre os 11 e os 19 anos (quadro_3), apesar das variações ou
intervalos de idade diferentes (mín. - máx.) encontrados.
O tamanho das amostras variou entre 72 e 9600 indivíduos e o tipo de amostragem
foi na maioria (13 artigos) não probabilística por conveniência (Hanvold,
Veiersted e Waersted, 2010; Skaggs et al., 2006; O'Sullivan et al., 2008;
Auniven et al., 2010; Østeras et al., 2006; Stovitz et al., 2008; Kaspiris et
al., 2010; Mohseni-Bandpei, Bagheri-Nesami e Shayesteh-Azar, 2007; Navuluri e
Navuluri, 2006; Hestbaek et al., 2006; Giusti e Tomasi, 2008; Paiva, Marques e
Paiva, 2009; Coelho, Almeida e Oliveira, 2005; e Alpalhão e Robalo, 2005),
seguida de oito artigos com amostragem randomizadas (Fanucchi et al., 2009;
Kratenová et al., 2007; Masiero et al., 2008; Grimmer, Nyland e Milanese, 2006;
Gilkey et al., 2010; Jordaan et al., 2005; e Brink et al., 2009) e um artigo
referente a uma revisão sistemática da literatura. Alguns autores referiram
mortalidade de indivíduos da amostra, principalmente nos estudos longitudinais
(Skaggs et al., 2006).
Métodos de colheita de dados
Entre os métodos de colheita de dados, os questionários de auto preenchimento
são os mais usados sendo, na sua maioria, versões adaptadas do Standardized
Nordic Questionnaire of analysis of Musculoskeletal Symptoms (Kuorinka et al.,
1987) - Hanvold, Veiersted e Waersted, 2010; Stovitz et al., 2008; Kaspiris et
al., 2010; Mohseni-Bandpei, Bagheri-Nesami e Shayesteh-Azar, 2007; Masiero et
al., 2008; Grimmer, Nyland e Milanese, 2006; Gilkey et al., 2010; Navuluri e
Navuluri, 2006; Jordaan et al., 2005; Hestbaek et al., 2006; Giusti e Tomasi,
2008; Coelho, Almeida e Oliveira, 2005; e Alpalhão e Robalo, 2005 - alguns dos
quais incluem questões para avaliar dados demográficos, diversos fatores de
risco e dados pessoais e familiares (O´Sullivan et al., 2008).
Contudo, a validade e fidelidade destes questionários nem sempre é revelada e
confirmada.
Para além dos questionários referidos, no estudo realizado por Skaggs et al.
(2006) foi usado uma adaptação do Questionário de Fairbank (1984); Fanuchi et
al. (2009) usaram o Mental Health Inventory-5; Brink et al. (2009) usaram o
Beck Depression Inventory (BDI) e o Anxiety Scale for Children (MASC); Brink et
al (2009) usaram uma parte adaptada do Computer Usage Questionnaire (CUQ);
Auniven et al. (2010) utilizaram um questionário de avaliação da qualidade e
quantidade de sono e Coelho, Almeida e Oliveira (2005) aplicaram a escala
Piers-Harris Children's Self-Concept Scale para avaliar o nível de
autoconceito.
A percentagem de respostas aos questionários foi referida em cerca de metade
(onze) dos artigos avaliados, com taxas de resposta elevadas e moderadas na
generalidade: 75% (Auniven et al., 2010); 97,2% (Beijia et al., 2005); 22%
(Kaspiris et al., 2010); 97,7% (Kratenová, et al., 2007); 97,7%, (Masiero et
al., 2008); 83% (Grimmer, Nyland e Milanese, 2006); 45,85% (Gilkey et al.,
2010); 87,30% (Navuluri e Navuluri, 2006); 94,28% (Brink et al., 2009); 84%
Hestbaek et al., 2006); 96% (Alpalhão e Robalo, 2005).
A maioria dos questionários foram preenchidos na instituição de ensino, um foi
preenchido através de computador com 130 questões (Perry et al., 2009) e
noutro, as respostas foram enviadas via CTT (Auniven et al., 2010).
Nos estudos em que foi avaliada a intensidade da dor, foram usadas
essencialmente Escalas Visualógicas de Avaliação de Dor (EVA) (Fanuchi et al.,
2009; Beijia et al., 2005; Masiero et al., 2008; Coelho, Almeida e Oliveira,
2005), verificando-se o uso da BorgCR 10 Scale para avaliar a perceção de
esforço durante o exercício físico, apenas num artigo (Navuluri e Navuluri,
2006).
O exame físico e clínico foi outro dos métodos utilizados na avaliação de
algumas variáveis (Østeras et al., 2006), com avaliações de medidas
antropométricas como o peso, a altura e determinação do Índice de Massa
Corporal (Paiva, Marques e Paiva, 2009; Stovitz et al., 2008; Kaspiris et al.,
2010; Kratenová, 2007; Giusti e Tomasi, 2008; Perry et al., 2009), avaliação
postural (Skaggs et al., 2006) e apenas um estudo recorreu ao Photographic
Posture Analysis Method (Brinketal, 2009). A avaliação da força muscular, da
estabilidade e mobilidade lombar foram realizados no estudo de Fanuchi et al.
(2009), avaliação da capacidade aeróbica, desempenho muscular e flexibilidade
com uso do Schober índex (Beijia et al., 2005; Perry et al., 2009). A avaliação
do peso das mochilas escolares, usadas pelos estudantes, foi também um dos
dados colhidos (Giusti e Tomasi, 2008).
Definição/conceito de dores nas costas
Uma das dificuldades e limitações desta revisão deveu-se a diversos conceitos
de dores nas costas referidos nos artigos analisados. Tendo em conta algumas
similaridades de localização, associámos alguns dos conceitos em três
categorias, sendo os mais referidos Low back pain/ Nonspecific low back pain/
Lombalgia (37,5%), seguido por Neck, shoulder and upper back pain/Thoracic
back pain (25%) e um conceito de características mais abrangentes Back pain
(20,8%).
Prevalência de dores nas costas
A prevalência de dores nas costas variou em duas dimensões: temporal
(prevalência no presente, nos últimos sete dias, no último mês, nos últimos
seis meses, no último ano e ao longo da vida) e localização (na coluna
vertebral, na região cervical, torácica, lombar e sagrada, ombro(s), cefaleias,
dores nas costas em geral), que dividimos nas três categorias, referidas
anteriormente. Relacionando a prevalência temporal com as referidas três
categorias, verificamos que a prevalência mais elevada encontrada a nível de
Low back pain/Nonspecific low back pain/Lombalgia foi de 15% no presente e
de 14,4% no último mês (Mohseni-Bandpei, Bagheri-Nesami e Shayesteh-Azar,
2007), de 40% nos últimos 6 meses no grupo de controlo do estudo experimental
de Fanucchi et al. (2009), de 69,3% no último ano e de 71,3% ao longo da
vida (Paiva, Marques e Paiva, 2009).
A prevalência mais elevada encontrada a nível de Neck, shoulder and upper back
pain/thoracic back pain foi de 72% no presente, de 51,4% nos últimos 7
dias e 34,8% nos últimos 7 dias e no último mês ao longo da vida (Briggs
et al., 2009). Nos últimos 6 meses a prevalência mais elevada foi de 43%,
verificando-se diferenças entre sexos, 28% nas raparigas e 15% nos rapazes
(Østeras et al., 2006), e diferenças entre idades, com 46,8% em raparigas de 16
anos e 61,8% em raparigas de 18 anos, e de 39,03% em rapazes com 16 anos e de
42,9% em rapazes com 18 anos (Auniven et al., 2010).
A prevalência mais elevada encontrada a nível de Back pain, foi de 37% no
presente, verificando-se diferenças entre sexos, 43% nas raparigas e 32% nos
rapazes (Skaggs et al., 2006), de 28,1% no último mês (Perry et al., 2009),
de 38% no último mês (Gulkey et al, 2010), e de 46,5% ao longo da vida
(O'Sullivan et al., 2008).
Fatores de risco
Os fatores de risco identificados e estudados são diversos, agrupando-se como:
fatores físicos (idade, género, história anterior de dores, antecedentes
familiares de dores nas costas, dados antropométricos, força muscular); fatores
psicossociais (depressão, ansiedade, autoconceito, problemas de sono); fatores
relacionados com o estilo de vida (sedentarismo, prática de atividade física e
desportos, sono, hábitos tabágicos, obesidade, horas despendidas a ver
televisão e no computador) e fatores relacionados com o ambiente escolar
(postura, tipo e peso da mochila, método de transporte da mochila, mobiliário
escolar).
O fator de risco com maior impacto na prevalência de dores de costa é o género.
Em sete estudos, a evidência indica-nos que o sexo feminino apresenta maiores
prevalências e maior risco de queixas de dores nas costas do que o sexo
masculino (Hanvold, Veiersted e Waersted, 2010; Skaggs et al., 2006; Perry et
al., 2009; Auniven et al., 2010; Masiero et al., 2008; Briggs et al., 2009;
Paiva, Marques e Paiva, 2009), embora Grimmer, Nyland e Milanese (2006) refiram
que os padrões de dores nas costas são semelhantes entre rapazes e raparigas e,
no estudo de Kaspiris et al. (2010), a evidência vai no sentido de que ser do
sexo masculino parece afetar mais a existência dessas queixas.
A idade surge como outro dos fatores de risco mais referido entre os artigos
avaliados, evidenciando que quanto maior a idade maior evidência de dores nas
costas nos adolescentes. De facto, Kaspiris et al. (2010) referem que o fator
maior idade parece afetar a existência de dores, Hestbaek et al. (2006)
identificaram correlações entre lombalgia na adolescência e lombalgias na idade
adulta, Briggs et al. (2009) referem que os fatores de risco identificados
incluem a idade (ser mais velho) e Paiva, Marques e Paiva (2009) referem que a
percentagem de dor ou desconforto nos adolescentes mais velhos (79.6%) é
significativamente superior à percentagem observada nos adolescentes mais novos
(59.7%).
Em oposição a estas evidências, no estudo realizado por Skaggs et al., (2006),
os adolescentes de menor idade relataram maiores taxas de dores nas costas do
que os homólogos mais velhos.
Os fatores antropométricos são fatores de risco referidos com alguma frequência
nos estudos sobre problemas de coluna. Isso foi confirmado por alguns autores
dos artigos analisados na nossa RSL. De facto, o peso, a altura e o Índice de
Massa Corporal (IMC) elevados estão associados com queixas a nível da coluna e
pernas (Stovitz et al., 2008; Kaspiris et al., 2010; Kratenová et al. 2007).
Na nossa RSL, alguns artigos fazem alusão à existência de alguma associação
entre dores nas costas e aspetos de postura corporal. No artigo de Mohseni-
Bandpei, Bagheri-Nesami e Shayesteh-Azar (2007) observou-se correlação entre as
lombalgias e posturas menos adequadas durante o tempo passado na televisão, a
posição e duração do trabalho de casa. Crianças com má postura referiram dores
de cabeça e cervicalgias e lombalgias mais frequentemente, conforme referem
Kratenová et al. (2007), e existem evidências de que certas posturas são
fatores de risco significativos para o desenvolvimento de problemas e dores nas
costas e músculo esqueléticos (Brink et al., 2009; Briggs et al., 2009).
Nos fatores relacionados com aspetos ergonómicos, nomeadamente do material e
equipamento escolar, existem também algumas evidências. Beijia et al., (2005) e
Kaspiris et al. (2010) referem que a insatisfação com cadeiras escolares parece
aumentar a referência de dores e Skaggs et al. (2006) referem existir
associação entre disponibilidade de armário escolar e menos dores.
Quanto ao peso, forma de transporte e tipo de mochilas e/ou outro tipo de
materiais escolares são também aspetos referidos como fatores de risco.
Observou-se evidência de associação entre maior peso de mochilas,
(in)disponibilidade de armários escolares e dores nas costas (Skaggs et al.,
2006; Navuluri e Navuluri, 2006; Briggs et al., 2009). Guisti et al. (2008)
observaram existir associação entre o peso excessivo de material escolar e o
tipo de mochila (saco trolley) ou notebook (saco mais pesado). Finalmente,
Paiva, Marques e Paiva, 2009 observaram que o modo como os adolescentes
transportam o material escolar influencia significativamente (p = 0.030) o
aparecimento de mau estar, dor ou desconforto na zona lombar. Os mesmos autores
verificaram, também, que a prevalência desta perturbação nos adolescentes que
transportam o material escolar em mochila apoiada nos dois ombros ou em mochila
com rodas (56.3%) é significativamente inferior à prevalência observada nos
adolescentes que transportam o material escolar de outro modo (73.7%).
A história familiar é outro dos fatores de risco referido e estudado nos
artigos analisados. Kaspiris et al. (2010) referem que história familiar de
lombalgia num dos pais e condições anatómicas parecem afetar a existência de
dores nas costas nos adolescentes. Masiero et al. (2008) observaram associações
entre o género (feminino) e história de lombalgias na família e, também,
O'Sullivan et al. (2008) constataram que os cuidadores com dores nas costas,
que normalmente são os pais, aumenta o risco de dores no adolescente e
encontraram associação entre as dores do adolescente e eventos de stress na
família.
A existência de antecedentes de dores nas costas pode ser outro fator de risco
a ter em conta. Parece que a existência de queixas durante a adolescência é
preditor de dores nas costas na fase adulta (Hanvold, Veiersted e Waersted,
2010), podendo aquelas estarem relacionadas com as mudanças de crescimento
verificadas na adolescência (Jordaan et al., 2005; Briggs et al., 2009).
Outros fatores de risco, referidos e abordados com menor frequência mas sem
diminuir a sua importância, são os denominados fatores psicossociais. Gilkey
et al. (2010) constataram que os fatores psicossociais estavam associados
significativamente às dores nas costas e que sentir-se com fadiga permanente ou
existirem problemas de relacionamento afetivo, foram alguns dos fatores
referidos pelos adolescentes. Os estilo de vida, fatores emocionais e
autoconceito foram fatores referidos nos estudos de Briggs et al. (2009),
Gilkey et al. (2010) e Coelho, Almeida e Oliveira (2005). Entretanto, Auniven
et al. (2010) observaram que insuficiente quantidade e qualidade menor de sono
predizem dores no pescoço e lombalgias nos rapazes e nas raparigas, mas dores
no ombro apenas nas raparigas.
Segundo alguns autores dos artigos analisados, a prática de atividade física e/
ou exercício físico e o sedentarismo podem também contribuir, ou não, para o
desenvolvimento de dores nas costas nos adolescentes. Coelho, Almeida e
Oliveira (2005) observaram existir relação entre a prevalência de lombalgia e a
ausência de atividade física (p = 0,001), o tempo gasto em jogos eletrónicos (p
<0,001), os indivíduos que não realizavam as deslocações casa-escola-casa a pé
(p <0,001). Num estudo experimental, com grupo experimental e grupo de
controlo, Fanuchi et al. (2009) observaram que a dor diminui ao longo do
protocolo de exercício físico durante 8 semanas, de 45 minutos de duração,
cerca de 2.2 cm na escala de avaliação da dor, para o grupo experimental. Os
mesmos autores constataram que no grupo experimental, o risco absoluto reduziu
a prevalência de queixas, 24% ao fim de três meses e 40% ao fim de seis meses.
Hanvold, Veiersted e Waersted (2010) verificaram que a atividade física diminui
o risco de dores e Alpalhão e Robalo (2005) observaram existir associação
significativa entre algias vertebrais e intensidade das atividades de tempos
livres. Aliás, por vezes, a prática intensiva de atividade física pode ter
efeitos opostos, como se verificou nos estudos realizados por Mohseni-Bandpei,
Bagheri-Nesami e Shayesteh-Azar (2007) com a prática de exercício aeróbico e
natação.
Conclusão e recomendações
Na literatura analisada, identificaram-se diferentes conceitos de dores nas
costas (em itens como: cronicidade, intensidade e localização) que podem ter
limitado a capacidade de síntese na identificação e impacto de alguns fatores
de risco.
Após a classificação dos conceitos em três categorias, confirmou-se que as
prevalências de dores de costa são bastante significativas e multidimensionais,
variando a nível temporal e da localização, sugerindo que as dores aumentam com
a idade e são mais comuns no sexo feminino. Para além disso, os estilos de vida
praticados, assim como o uso de determinado material e equipamento escolar,
associado a alguns fatores individuais e psicossociais, são determinantes no
desenvolvimento deste problema entre os adolescentes, podendo predizer queixas
na fase adulta.
Entre as recomendações mais referidas, foi dada ênfase à utilização de
estratégias preventivas (campanhas oficiais na área da prevenção e esforços
para melhorar a saúde dos adolescentes) e ao aprofundamento desta área de
investigação (através de estudos prospetivos, que permitam explorar a interação
de múltiplos fatores de risco ' físicos, estilos de vida e psicossociais).