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EuPTCVHe0874-02832012000300002

EuPTCVHe0874-02832012000300002

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN0874-0283
ano2012
Issue0003
Article number00002

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Adaptação cultural e validação da versão portuguesa da Escala de Expectativas acerca do Álcool: versão adolescentes

Introdução A intensiva investigação das últimas décadas mostrou que o consumo de álcool e o alcoolismo são influenciados por um largo espetro de fatores, tanto pessoais como ambientais, considerados em interação, adquirindo particular relevância durante a infância e a adolescência.

O conceito de expectativas acerca do álcool tem em conta este tipo de abordagem. É um constructo que beneficiou do contributo de várias teorias: a Teoria da Aprendizagem de Sinal de Tolman, segundo a qual o comportamento é determinado principalmente pela necessidade e pelas expectativas; a Teoria de Expectativa de MacCorquodale e Meehl, que divide a expectativa global em três componentes - evocador, resposta e espectandum; a Teoria das Expectativas de Eficácia de Bandura; e a Teoria da Aprendizagem Social de Rotter, resumida em quatro variáveis altamente preditoras do comportamento - o potencial de comportamento, a expectativa, o valor de reforço e a situação psicológica.

Tendo como base estas teorias, nas últimas décadas a investigação tem procurado mostrar como os diversos fatores são explicativos do uso de álcool e dos diferentes padrões de consumo, quer através da influência dos processos cognitivos na decisão de beber, quer pelo efeito independente e interativo das expectativas acerca dos efeitos do álcool em diversos comportamentos (Goldman, Greenbaum e Darkes, 1997; Barroso, Barbosa e Mendes, 2006; Schuckit et al., 2009; Comasco et al., 2010; Zimmermann et al., 2010).

Em suma, o conhecimento atual neste domínio sugere que os processos cognitivos devem ser examinados como um possível mecanismo mediador, em que o constructo de expectativas acerca do álcool fornece um veículo óbvio para esse estudo (Jones, Corbin e Fromme, 2001; Schuckit et al., 2009; Barroso, Mendes e Barbosa, 2009; Reich, Below e Goldman, 2010). Para além disso, uma vez que estas cognições são potencialmente modificáveis, apresentam-se como um alvo prioritário dos esforços preventivos. Por outro lado, os estudos empíricos têm mostrado que as expectativas são adquiridas precocemente, mesmo antes das experiências pessoais de consumo de álcool, sendo desenvolvidas através de processos de aprendizagem social ao longo da infância e adolescência (Perez- Aranibar, Van den Broucke e Fontaine, 2005; Barroso, Barbosa e Mendes, 2006; Barroso, Mendes e Barbosa, 2009; Comasco et al., 2010; Zimmermann et al., 2010).

Para a maioria dos indivíduos, o início de consumo de bebidas alcoólicas tende a ocorrer durante o início da adolescência e em situações sociais, pelo que o consumo solitário é pouco comum. Os estudos europeus mais recentes indicam que 9 em cada 10 adolescentes, dos 15-16 anos de idade, consumiram álcool; que o início do consumo se faz em média aos 12 ½ anos de idade; e que 29% dos adolescentes com 15 anos de idade referem ter um consumo semanal (Anderson e Baumberg, 2006; European School Survey on Alcohol and Other Drugs, 2009; Deutsche Hauptstelle für Suchtfragen, 2008).

Em Portugal, as primeiras experiências de consumo de álcool iniciam-se muito antes da idade mínima legal para o seu consumo. Os estudos epidemiológicos indicam que a maioria dos adolescentes consumiu bebidas alcoólicas. Todavia, o consumo regular não é frequente entre os adolescentes (Matos et al., 2003; European School Survey on Alcohol and Other Drugs, 2009).

Estes resultados sugerem que os adolescentes portugueses iniciam o consumo de álcool no início da adolescência; que com o aumento da idade têm maior probabilidade de estarem expostos ao consumo de álcool e seus riscos; e que ocorre um rápido incremento do consumo de álcool dos 13 para os 15 anos de idade (Matos et al., 2003).

A evidência científica aponta a idade de início do consumo de álcool como um poderoso preditor da ocorrência de problemas de abuso e dependência ao longo da vida (Pitkånen Lyyra e Pulkkinen, 2005), designadamente, os indivíduos que iniciam o consumo de álcool aos 15 anos de idade têm 4 vezes mais probabilidade de vir a desenvolver dependências de álcool em determinado momento da vida do que os que iniciam o consumo aos 20 anos de idade (Grant e Dawson, 1997; Anderson e Baumberg, 2006).

A média de álcool consumida, na última ocasião de consumo, entre os adolescentes europeus com 15-16 anos de idade, é de 6 bebidas, cerca de 60 g de álcool; e 1 em cada 6 adolescentes (18%) nesta idade referem consumo excessivo na mesma ocasião, três ou mais vezes no último mês (European School Survey on Alcohol and Other Drugs, 2009; Deutsche Hauptstelle für Suchtfragen, 2008). Na última década, verificou-se um aumento por toda a Europa daquela tipologia de consumo entre os adolescentes dos 15 aos 16 anos de idade (Deutsche Hauptstelle für Suchtfragen, 2008). A média de idades referentes à ocorrência de embriaguez é para os rapazes aos 13.6 anos e para as raparigas aos 13.9 (Anderson e Baumberg, 2006).

Ora, se essas expectativas influenciam o início do consumo de álcool entre os adolescentes é importante a investigação do seu papel na transição para os padrões de consumo em adultos. Pois as expectativas, para além de funcionarem como incentivadoras do consumo em jovens bebedores, podem ser responsáveis pela perceção seletiva das situações de consumo, favorecendo desse modo a confirmação das expectativas antecipadas.

Sabendo que o instrumento mais utilizado pela comunidade científica internacional para avaliar dimensões referentes às expectativas acerca do álcool nos adolescentes é o Alcohol Expectancy Questionnaire ' adolescent form (AEQ-A) de Brown, Christiansen e Goldman (1987) (Aas, 1993; Kline, 1996; Rönnback, Ahllund e Lindman, 1999; Perez-Aranibar, Van den Broucke e Fontaine, 2005) e devido à inexistência, em Portugal, de um instrumento que permitisse avaliar as expectativas acerca do álcool em adolescentes, procedeu-se à sua tradução e à realização dos estudos de avaliação psicométrica com desenvolvimento de um novo instrumento.

Origem do AEQ-A A versão original do AEQ-A é constituída por 90 itens que se organizam em sete dimensões (Quadro_1). A dimensão Tansformação global positiva, que integra 15 itens (Beber álcool pode tirar a dor física; Beber álcool torna mais fácil estar com os outros, e em geral, faz o mundo parecer um sítio mais agradável); a dimensão Alteração do comportamento social com 17 itens (A maior parte das bebidas alcoólicas sabe bem; Beber algumas bebidas alcoólicas é uma forma de tornar as férias agradáveis); a melhoria do funcionamento motor e cognitivo, com 10 itens (As pessoas conduzem melhor depois de algumas bebidas alcoólicas; Beber álcool afasta o sentimento das pessoas de que elas não são tão boas como as outras); a dimensão ativação da sexualidade, que tem 7 itens (O álcool faz as pessoas sentirem-se mais românticas; As pessoas sentem-se mais sensuais depois de algumas bebidas alcoólicas); a dimensão Deterioração do funcionamento motor e cognitivo com 24 itens (As pessoas ficam predispostas a partir e a destruir coisas quando estão a beber álcool; As pessoas sentem-se poderosas quando bebem álcool); a dimensão Estimulação, que integra 4 itens (O álcool aumenta a estimulação, faz as pessoas sentirem-se mais fortes e mais poderosas e iniciar uma luta torna-se mais fácil); a dimensão Relaxamento e redução da tensão, com 13 itens (É mais fácil para as pessoas abrirem-se e falarem dos seus sentimentos depois de algumas bebidas alcoólicas; Beber álcool faz as pessoas sentirem-se menos ansiosas).

O formato do questionário é de reposta dicotómica de autopreenchimento.

O estudo de validação do AEQ-A foi realizado nos EUA com uma mostra de 1580 adolescentes, dos 12 aos 19 anos de idade, e foram obtidos os resultados que se apresentam no quadro seguinte (Quadro 1).

Quadro_1 ' Valores de coeficiente de consistência interna das dimensões do AEQ- A

Este instrumento foi adaptado para diferentes contextos socioculturais, nomeadamente o estudo de adaptação do AEQ-A realizado na Noruega por Aas (1993), com uma amostra de 924 adolescentes do ano de escolaridade (Média = 13,3 anos); o estudo desenvolvido por Kline (1996), no Canadá, com uma amostra de 408 estudantes do , e 8 ano de escolaridade (Média = 12.1 anos); e o estudo realizado por Rönnback, Ahllundnk e Lindman, (1999), na Finlândia, com uma amostra de 195 jovens militares do género masculino (Média = 18.5 anos).

Conforme se pode observar no Quadro 2, os resultados destes estudos revelaram algumas fragilidades na consistência interna para algumas das dimensões, nomeadamente a dimensão Estimulação que apresenta valores muito baixos em todos os estudos. Em relação às outras dimensões, para além das diferenças verificadas nos estudos, é de salientar que o valor obtido na dimensão de Melhoria do funcionamento motor e cognitivo é baixo, especificamente nos estudos de Aas (1993) e Kline (1996), e, ainda, o valor baixo obtida no estudo de Aas (1993) na dimensão de Ativação da sexualidade.

Quadro 2 ' Valores de coeficiente de consistência interna das dimensões do AEQ- A nos diversos estudos identificados

Alguns estudos têm revelado que o AEQ é um instrumento adequado para a avaliação das expectativas acerca do álcool. Este instrumento de utilização frequente tem, no entanto, suscitado algumas polémicas, sendo as mais importantes: as dificuldades em se obter uma análise fatorial clara; a baixa consistência interna de algumas das sub-escalas, o que põe em causa as qualidades psicométricas do instrumento; e o formato de resposta pouco discriminativo (Leigh e Stacy, 1991).

O trabalho de tradução e adaptação do AEQ-A foi realizado em três estudos diferentes cuja apresentação é independente e segue estruturalmente a seguinte organização: metodologia, apresentação dos resultados e discussão.

Estudo 1 Métodos A versão da escala Alcohol Expectancy Questionnaire ' Adolescent Form (AEQ-A) sobre a qual se trabalhou no processo de adaptação foi proporcionada por Goldman e colaboradores. Seguiram-se as orientações fornecidas pelos autores relativamente às respetivas cotações e outros aspetos considerados importantes à realização e cumprimento das normas e procedimentos.

Inicialmente procedeu-se à tradução da versão original, em inglês, para a língua portuguesa, recorrendo ao apoio de dois especialistas bilingues. Depois da tradução, foi feita uma análise do conteúdo dos itens por dois especialistas. Seguiu-se a sua retro-tradução efetuada por um licenciado bilingue. Foram analisados os aspetos convergentes/divergentes com 3 peritos na área da saúde mental. A sua análise no que respeita à equivalência semântica foi efetuada de modo a que a versão se enquadrasse na realidade sociocultural portuguesa. A sua aplicação a um grupo pré teste, com 10 adolescentes não incluídos na amostra final, permitiu aferir que os termos utilizados eram facilmente compreendidos, pelo que não foi necessário efetuar alterações ao nível do léxico.

A amostra foi constituída por 654 adolescentes de ambos os sexos (51.50% do género feminino e 48.50% do género masculino), com idades compreendidas entre os 12 e os 18 anos (Média = 13.55 anos; DP = 1.13 anos), estudantes do , e ano de escolaridade, após o cumprimento dos respetivos procedimentos formais (autorizações) e técnicos (reuniões preparatórias com os colaboradores no trabalho de campo). O tempo médio necessário para o seu preenchimento foi de 15 a 20 minutos.

O questionário integra questões relativas às variáveis sociodemográficas e questões relativas ao consumo de álcool. Após a administração do instrumento, procedeu-se ao cálculo do coeficiente de consistência interna da escala (Kuder Richardson), com o apoio do software SPSS 14.0.

Consideraram-se os seguintes critérios de eliminação de itens: a correlação item-total corrigida inferior a .20 e/ou itens que apresentavam uma concentração massiva de respostas (superiores a 80%) na mesma alternativa (análise da média das respostas e o desvio padrão).

Resultados Dos 654 questionários aplicados foram analisados os resultados de 412, uma vez que 242 questionários foram anulados por apresentarem deficiências de preenchimento.

Os resultados obtidos através do coeficiente de Kuder-Richardson revelam valores nas diferentes dimensões entre .81 (Fator V - Deterioração do funcionamento motor e cognitivo) e .34 (Fator VI ' Estimulação). Salienta-se que o valor obtido na dimensão Estimulação é de (K20=.34), que é considerado um valor de consistência interna muito baixo.

Atendendo a correlação item-total corrigida, os resultados indicaram 28 itens com valores inferiores a .20 e, ainda, 33 itens que apresentaram uma concentração massiva de respostas (superiores a 80%) na mesma alternativa (análise da média das respostas e desvio padrão). No total identificaram-se 40 itens com critérios de eliminação.

Discussão Os resultados obtidos neste primeiro estudo revelaram valores de consistência interna baixos, em particular no fator VI (Estimulação) e correlações baixas e, por vezes, negativas com o total da escala. Verificou-se ainda, para um número elevado de itens, uma escolha massiva na mesma alternativa (superior a 80%).

Dos 40 itens com critérios de eliminação procedeu-se à eliminação de 29, tendo- se optado por reter os 11 itens restantes. As razões que levaram à sua retenção foram: itens de cotação invertida (6 itens) e valoração atribuída ao conteúdo (5 itens). Em qualquer dos casos considerou-se útil verificar o seu comportamento numa segunda fase de refinamento do questionário.

Os itens eliminados conduziram à extinção do fator III (Melhoria do funcionamento motor e cognitivo). As expectativas de melhoria do funcionamento cognitivo e motor parecem enfraquecer durante a adolescência, embora estas existam nos adultos alcoólicos. Alguns estudos sugerem que os indivíduos adultos com dependência alcoólica esperam mais benefícios cognitivos no consumo de álcool do que os consumidores não problemáticos. A diminuição progressiva com a idade da expectativa de que o álcool melhora o funcionamento cognitivo e motor e o seu reaparecimento em indivíduos adultos com dependência alcoólica tem estimulado alguns autores a questionarem sobre o seu significado. Sugere-se que aquelas expectativas desempenham um papel etiológico no desenvolvimento dos problemas com a bebida, uma vez que persistem nos indivíduos com dependência alcoólica mas não na generalidade dos adultos. Noutra perspetiva, também se pode considerar o desenvolvimento da tolerância ao álcool e a dependência como possíveis fatores explicativos da sua presença em indivíduos com dependência alcoólica.

Um dos sintomas da dependência alcoólica é o craving, ou seja, a necessidade compulsiva para consumir bebidas alcoólicas no sentido de estabilizar os níveis de alcoolemia e esbater a sintomatologia de privação. Ao consumir álcool e invertendo a sintomatologia de privação, produz-se um reforço da expectativa de que beber melhora o funcionamento cognitivo e motor.

Estudo II Na sequência do processo de adaptação do AEQ-A, tendo em conta os resultados obtidos no primeiro estudo, o fraco poder discriminativo de um instrumento em formato de resposta dicotómico e a escassez de informação para traduzir o constructo de expectativas, considerou-se importante a realização do segundo estudo com o objetivo de analisar a consistência da versão adaptada numa escala de tipo likert.

Métodos Após a integração das alterações que emergiram do processo de análise anterior realizou-se uma proposta de questionário que incluía 61 itens da versão inicial com uma escala de likert que foi submetida à aprovação do autor da escala original.

A escala de likert inclui os seguintes níveis: Discordo Totalmente/Discordo em Parte/Não tenho opinião/Concordo em Parte/ Concordo Totalmente.

Com o propósito de verificar a fidelidade do instrumento após a remoção do itens, e considerando que os estudantes se encontravam em férias letivas, a colheita de dados foi realizada por quatro professores com acesso a estudantes.

A amostra foi constituída por 205 adolescentes, 51.70% do sexo feminino, com idades compreendidas entre os 12 e os 19 anos, sendo a média de idade 15.78 anos (DP = 2.25). Após terem sido cumpridos os pressupostos formais e éticos, o questionário foi aplicado a uma amostra de adolescentes fora do contexto escolar. O tempo médio para o seu preenchimento foi de 15 minutos.

Após a administração do instrumento utilizado, procedeu-se à utilização dos métodos necessários à validação de conteúdo e de constructo. As operações estatísticas foram realizadas com o apoio do software SPSS 14.0.

Considerou-se a correlação item-total corrigida inferior a .20 como critério de eliminação dos itens.

Resultados Os resultados obtidos neste estudo revelaram um valor de Alfa de Cronbach Global de .90. Contudo, alguns itens mantiveram correlações negativas e baixas o que conduziu à decisão favorável da eliminação dos 11 itens problemáticos identificados no primeiro estudo.

Discussão Conforme os resultados obtidos neste estudo, considera-se que a utilização da versão adaptada (61 itens) proporcionou a confirmação dos itens problemáticos, facilitando a decisão relativa à sua eliminação e consequente anulação do fator V (Deterioração do funcionamento cognitivo e motor), por ser a única dimensão de expectativas negativas. No mesmo sentido, alguns estudos têm revelado que as expectativas negativas acerca do álcool possuem menor valor explicativo do comportamento de consumo de álcool do que as expectativas positivas (Leigh e Stacy, 1991).

Estudo III O processo de análise e de adaptação do AEQ-A proporcionou condições favoráveis à construção de uma versão diferente da versão original, passando a ser a mesma designada por Escala de Expectativas Positivas acerca do Álcool (EEPaA-A/AEQ- A).

A EEPaA-A/AEQ-A é uma versão constituída por 50 itens de expectativas positivas com o mesmo formato da versão adaptada anteriormente descrita.

Este estudo teve como objetivo analisar a consistência interna e a validade de constructo da referida escala.

Métodos A EEPaA-A/AEQ-A foi aplicada a uma amostra constituída por 212 adolescentes (53.80% do género feminino), com idades compreendidas entre os 12 e os 15 anos de idade, sendo a média de 12.16 anos (DP=.76), a frequentarem o ano de escolaridade. O questionário foi aplicado após terem sido cumpridos os pressupostos formais e éticos. O tempo médio para o seu preenchimento foi de 15 minutos.

Após a sua administração, procedeu-se à avaliação da fidelidade através do cálculo do coeficiente de consistência interna (Alfa de Cronbach), à avaliação da validade de constructo através da análise fatorial com rotação de Varimaxa, à análise do coeficiente de variação e à comparação das médias das expectativas acerca do álcool, considerando o consumo e a ocorrência de episódios de embriaguez através do teste-t para grupos independentes, com o apoio do software SPSS 14.0.

A realização dos procedimentos de análise acima indicados teve em consideração os seguintes critérios: validação da consistência interna: considerou-se como critério de eliminação de itens a correlação item-total corrigida inferior a 20; validação de constructo: o número de fatores a reter foi baseado nos valores próprios (eigenvalues) superiores a 1.00, na análise do scree test e ainda na percentagem da variância explicada apresentada pela solução; na escolha das soluções fatoriais finais reteve-se os itens cuja validade convergente do item com o fator apresentaram: correlação com o fator superior ou igual a .30; validade discriminante do item com o fator em que cada item fosse correlacionado apenas com um fator; e caso este não fosse discriminativo daquele fator, análise do seu conteúdo tendo em conta a sua pertinência e manutenção. Considerou-se ainda que a solução final encontrada deveria apresentar uma percentagem de variância total explicada com valor aproximadamente de 50%; não existir discrepância entre a estrutura teórica subjacente e a solução encontrada; e cada fator dever ser constituído por três ou mais itens.

Foi utilizado o método de consulta a quatro investigadores da área científica do presente estudo para uma tomada de decisão final acerca da organização e denominação dos fatores obtidos.

Resultados A análise da fidelidade da EEPaA-A/AEQ-A revelou um bom valor de consistência interna global (α = .94) depois de retirado o item 49 (o álcool torna as pessoas melhores amantes), por apresentar uma correlação negativa e muito baixa (-.054). Relativamente às correlações, entre o item e a pontuação total, os resultados mostram correlações moderadas e fortes com o total da escala (.30 a .70), excetuando o item 2, em que o valor da correlação é mais baixo (.205).

No que se refere aos resultados obtidos na análise fatorial, com a rotação ortogonal Varimax dos 49 itens remanescentes, conforme se pode verificar no Quadro 3, os resultados mostram 4 fatores com valores próprios = 1.00, explicando 40.81% da variância total. É de salientar que a medida de KMO (Kaiser-Meyer-Olkin) é de .890 e o valor do teste de esfericidade de Bartlett de c2 = 4419.729; p = .000, o que nos permitiu prosseguir com a análise fatorial.

Quadro 3 ' Matriz de saturação dos itens da EEPaA-A/AEQ-A com rotação ortogonal Varimax (n = 212)

A solução obtida permite verificar que o primeiro fator explica 11.008% da variância e nele saturam os itens 3, 4, 5, 7, 16, 17, 26, 37, 38, 43 e 45.

Neste agrupamento, os 11 itens respetivos anexam-se numa dimensão de expectativas acerca do álcool que foi designada por facilitador da relação com os outros. Todos os itens saturam discriminativamente no fator com exceção dos itens 17 e 45. Ainda no mesmo quadro, relativamente ao segundo fator, os resultados mostram que este explica 10.197% da variância e agrega 12 itens (18, 19, 20, 22, 24, 31, 32, 35, 36, 39, 41 e 48) relacionados com a dimensão designada por estimulação e redução da tensão. Não discriminam os itens 19, 22, 31, 32 e 39. O terceiro fator explica 10.029% da variância e agrupa 14 itens (1, 2, 6, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14, 15, 25, 28 e 33) relacionados com a dimensão escape a estados emocionais negativos. Não discriminam os itens 9, 10, 12, 14 e 33. Por fim, o fator explica 9.576% da variância e agrupa 12 itens (21, 23, 27, 29, 30, 34, 40, 42, 44, 46, 47, 49) na dimensão relacionada com alterações do comportamento social e ativação sexual. Não discriminam os itens 27, 42, 44, 46 e 49.

Os resultados anteriormente apresentados mostram alguns itens problemáticos que foram analisados caso-a-caso. Tendo em conta a sua importância teórica na definição do constructo em análise decidiu-se manter os referidos itens. Estes permaneceram nas dimensões onde apresentavam valor de saturação mais elevado.

Após a análise fatorial procedeu-se ao estudo de fidelidade através da análise da consistência interna da escala e das respetivas dimensões. Os valores de Alfa nas dimensões variam entre .82 e .85, e Alfa Global de .94. Estes resultados são indicadores de uma boa qualidade psicométrica do instrumento em análise.

No estudo comparativo entre grupos verificamos que os adolescentes que referem experiências de consumo e de embriaguez apresentaram médias de expectativas positivas acerca do álcool mais elevadas do que os adolescentes que não referem aquelas experiências (Quadro 4).

Quadro 4 ' Análise dos scores obtidos na EEPaA-A/AEQ-A em função do consumo e ocorrência de embriaguez

Os adolescentes que referiram aquelas experiências apresentam expectativas positivas acerca do álcool mais elevadas tanto no global (p = .029 e p = .015, respetivamente) como no fator IV: Alteração do comportamento social e ativação sexual (p = .000 e p=.000, respetivamente). Também os que referiram a ocorrência de episódios de embriaguez apresentam expectativas acerca do álcool como fator de escape a estados emocionais negativos mais elevadas (fator III) (p = .034) do que os adolescentes que não referiram aquelas experiências.

Discussão O estudo de fidelidade da EEPaA-A/AEQ-A mostrou um valor de consistência interna muito bom (α = .94). Por outro lado, na análise fatorial revelaram-se 4 fatores com valores próprios (eigenvalues) 1, explicando 40.81% da variância total, que apontam para um modelo de expectativas acerca do álcool de quatro dimensões. Em referência às dimensões anteriormente aludidas, pelo seu conteúdo e organização, foram atribuídas as seguintes denominações: I - Expectativas acerca do álcool como fator facilitador da relação com os outros; II - Expectativas acerca do álcool como fator de estimulação e redução da tensão; III - Expectativas acerca do álcool como fator de escape a estados emocionais negativos; e IV - Expectativas acerca do álcool como fator de alteração do comportamento social e ativação sexual. Outros estudos utilizando uma versão reduzida do AEQ-A (27 itens) identificaram uma estrutura semelhante (Aas, 1993).

Apesar de terem sido eliminadas duas dimensões, Melhoria do funcionamento motor e cognitivo e Deterioração do funcionamento cognitivo e motor, cuja justificação foi anteriormente apresentada, e três dos quatro itens da dimensão Estimulação terem sido agregados noutro fator da estrutura em análise, a solução encontrada não compromete o constructo original.

Relativamente às expectativas alguns estudos mostram diferentes organizações, evidenciando-se diferentes dimensões em função das experiências de consumo e da idade. Podemos, assim, considerar que a solução encontrada está ancorada na revisão da literatura, sendo de salientar que as expectativas acerca do álcool referem-se a um constructo multidimensional e dinâmico.

Os resultados revelam que as expectativas acerca do álcool, nas dimensões de alteração do comportamento social e ativação sexual, são diferenciadas da experimentação do consumo e da ocorrência de embriaguez, e que as expectativas de Escape e estados emocionais negativos são diferenciadoras da ocorrência de embriaguez. Estes resultados são concordantes com outros estudos, que indicam as expectativas acerca do álcool de Melhoria do comportamento social como fatores preditores do consumo frequente, quer nos adultos quer nos adolescentes (Aas, 1993; Leigh e Stacy, 1991; Goldman, Greenbaum, Darkes, 1997). Por outro lado, as dimensões que medem aspetos mais específicos ligados aos efeitos farmacológicos, nomeadamente as expectativas de Relaxamento e redução da tensão mostram ser diferenciadoras de consumos problemáticos (Goldman, Greenbaum, Darkes, 1997).

Tendo em conta que a amostra do terceiro estudo é constituída por adolescentes com média de idades de 12 anos, cujo consumo de álcool diz respeito apenas a experiências sem características regulares, não nos foi permitido efetuar agrupamentos em função da tipologia do consumo. Apesar disso, as diferenças registadas podem ser entendidas como indicadoras de validade discriminante do instrumento.

O estudo das expectativas acerca do álcool nos adolescentes, especificamente na área da educação para a saúde, é de grande relevância, uma vez que possibilita a identificação dos potenciais consumidores e o planeamento das intervenções de prevenção, com influência no adiamento do início de consumo de álcool e controlo de futuros comportamentos de risco associados. Esta assunção é apoiada nas evidências que mostram que as expectativas são adquiridas precocemente, mesmo antes das experiências pessoais de consumo de álcool (Perez-Aranibar, Van Den Broucke e Fontaine, 2005; Barroso, Mendes, Barbosa, 2009; Comasco et al., 2010; Zimmermann et al., 2010).

Conclusão Relativamente aos resultados do estudo de adaptação do AEQ-A, decorrentes da realização de três estudos com adolescentes (n = 654; n = 205 e n = 212), quanto à sua constituição foram eliminados 41 itens, resultando numa estrutura de 49 itens reorganizada em formato de likert. A solução encontrada revelou quatro fatores, que se designaram de expectativas acerca do álcool como: fator facilitador da relação com os outros; fator de estimulação e redução da tensão; fator de escape a estados emocionais negativos; e fator de alteração do comportamento social e ativação sexual. Quanto à sua fidelidade apresentou valores de consistência interna (Alfa Cronbach) para todas as dimensões variando entre .82 e .85 e no global apresentou valor de .94.

A escala mostrou ser sensível ao consumo de álcool, mesmo para consumos experimentais (apesar das diferenças significativas se encontrarem apenas num fator) e à ocorrência de embriaguez (diferenças estatisticamente significativas para dois dos quatro fatores), o que é um bom indicador. São necessários, no entanto, outros estudos com adolescentes/jovens mais velhos e com outras experiências de consumo de álcool para confirmarem estes resultados.


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