O envolvimento do pai na gravidez/parto e a ligação emocional com o bebé
Introdução
Nos anos oitenta do século passado, começaram a surgir pesquisas científicas em
torno da figura paterna, nomeadamente a sua importância na educação dos filhos.
A relação pai-filho, até aqui negligenciada, começou, a partir desta altura, a
assumir uma importância no estudo do desenvolvimento da criança (Silverstein e
Auerbach, 1999). Fonseca e Taborda (2007) partilham desta opinião, referindo
que a literatura acerca da paternidade ainda é relativamente escassa quando
comparada à amplitude que esta assume no desenvolvimento biopsicossocial da
criança. De facto, a ligação emocional entre o pai e o filho é determinante
para a transição do pai para a paternidade e para o desenvolvimento do bebé
(Genesoni e Tallandini, 2009). Nesse sentido, para estimular uma parentalidade
positiva, devem ser incentivados comportamentos para a promoção da vinculação
(Bryanton et al., 2009 cit. por Lopes, Catarino e Dixe, 2010). Embora exista
uma tendência atual para que os pais se identifiquem como um casal grávido
desde o início da gravidez, procurando ter um papel ativo através da
participação nas consultas de vigilância de gravidez ou nas aulas de preparação
para o parto, com frequência experimentam sentimentos de ambivalência
principalmente no 1º trimestre de gravidez. A literatura aponta também inúmeras
vantagens para a tríade mãe-pai-filho com a presença do pai no trabalho de
parto, contudo é necessário que os profissionais de saúde estejam atentos e
recebam formação para proporcionar ao pai uma experiência positiva e
gratificante (Genesoni e Tallandini, 2009). Os mesmos autores relatam sete
estudos que avaliaram a experiência do pai durante o trabalho de parto e parto
em que os pais indicaram frequentemente sentimentos de ansiedade, inutilidade e
desamparo. Na verdade, aqueles não esperavam que o parto fosse tão exigente e
com frequência sentiam-se deslocados, vulneráveis, com necessidade de apoio
psicológico e mal preparados.
Neste contexto e pelo facto de esta temática ter ainda pouca visibilidade na
investigação em Portugal, considerámos pertinente estudar as implicações do
envolvimento do pai na gravidez/parto na ligação emocional com o bebé,
pretendendo atingir os seguintes objetivos: conhecer a ligação emocional do pai
com o bebé no final da gravidez, no 1º dia e no 3º dia após o parto; verificar
se existe relação entre as variáveis sóciodemográficas, as variáveis
obstétricas, o envolvimento do pai na gravidez e no parto com a ligação
emocional que este estabelece com o bebé; fundamentar intervenções de
enfermagem autónomas que promovam a ligação emocional entre o pai e o bebé.
Quadro teórico
Para Genesoni e Tallandini (2009) existem três grandes áreas de dificuldade
para os homens durante o período de gravidez. A primeira refere-se a um
sentimento de irreal, relacionado com a falta de provas visíveis do filho que
vai nascer e do seu desejo simultâneo de criar uma ligação emocional com o
bebé. A segunda área de dificuldade diz respeito ao relacionamento com a
grávida, uma vez que a divergência entre as expectativas masculinas e femininas
durante a gravidez e as necessidades discrepantes de ambos levam a um
desequilíbrio no casal. Draper (2002) partilha da mesma opinião quando refere
que os homens sentem dificuldade em abarcar a realidade da gravidez, ou seja,
de a perceberem em toda a sua amplitude e nas grandes modificações que este
período específico produz na vida do casal. Também as relações com os amigos e
família se modificam. Estes demonstram muita preocupação com a evolução da
gravidez, com a saúde e sentimentos da grávida o que pode originar no homem
sentimentos de ciúme e exclusão. A terceira grande área de dificuldade de
acordo com Genesoni e Tallandini (2009) diz respeito à formação da identidade
de pai, que tem de se relacionar com as já existentes, nomeadamente de parceiro
e filho.
Martin et al. (2007) realizaram um estudo nacional nos Estados Unidos da
América representativo das crianças nascidas em 2001 com 5404 mães que viviam
com o seu companheiro e verificaram que o planeamento da gravidez, o número de
filhos e o nível de escolaridade influenciavam o envolvimento do pai na
gravidez, sendo que os que planearam a gravidez, os que esperavam o primeiro
filho e os que possuíam um maior nível de escolaridade tinham probabilidade de
ter um maior envolvimento. Neste estudo 83,2% dos pais estiveram envolvidos na
gravidez da esposa. Os autores realçaram a importância do envolvimento do pai
na gravidez para a saúde da mãe e do bebé e para a vigilância da gravidez.
Também Gomez e Leal (2007) reportaram um maior nível de vinculação do pai
durante a gravidez quando aguardavam a chegada do primeiro filho. Encontraram,
ainda, um aumento da vinculação à medida que a gravidez avança, uma relação
positiva entre a vinculação e a perceção da qualidade conjugal e um decréscimo
no nível de envolvimento com o aumento da idade dos progenitores. Estes autores
verificaram que a intensidade de envolvimento paterno depois do nascimento se
relaciona diretamente com o nível de envolvimento no final da gravidez.
Heinowitz (2005) no seu livro Pais Grávidos, no sentido de promover a
vinculação, aconselha os pais a lerem sobre o desenvolvimento fetal, a ajudarem
a grávida em algumas tarefas menos recomendáveis ao seu estado, frequentarem
aulas de preparação para o parto, ouvirem o coração do feto, acariciarem o
abdómen da grávida, procurarem sentir os movimentos fetais, falarem para ele,
fazerem preparativos no quarto do bebé e imaginarem-se a abraçá-lo ou a tocá-
lo. Lafuente e Aparici (2009) descrevem comportamentos paternos semelhantes
como manifestações de vinculação pré-natal. O acompanhamento às consultas de
vigilância de gravidez e a visualização das ecografias também parece ser um
importante fator no fortalecimento deste vínculo, uma vez que ao visualizar o
bebé na ecografia este torna-se mais real. No estudo realizado por Samorinha,
Figueiredo e Cruz (2009) a vinculação pré-natal aumentou significativamente
enquanto a sintomatologia ansiosa diminuiu, depois da realização da ecografia.
Lafuente e Aparici (2009) apresentam ainda fatores que favorecem ou dificultam
a vinculação pré-natal. Assim, são fatores facilitadores: a planificação da
gravidez, a visualização do feto, uma boa relação com a companheira e algumas
características de personalidade (autoconfiança, autonomia, facilidade de
adaptação). A prematuridade, conflitos com a companheira, patologia
psiquiátrica, companheiras muito jovens ou no limite da idade reprodutiva, o
não planeamento da gravidez, número elevado de filhos e uma personalidade
insegura, ansiosa ou com baixa autoestima são fatores dificultadores da
vinculação pré-natal.
Relativamente ao acompanhamento no trabalho de parto, foi só em junho de 1985
que na lei foi conferido esse direito à grávida (Decreto-lei nº 14/85, 1985).
Tomeleri et al. (2007) indicam que os pais ao assistirem ao nascimento do filho
vivem experiências positivas pelo suporte emocional que proporcionam à grávida
e pelos sentimentos e emoções que vivem, os quais podem favorecer o maior
envolvimento emocional precoce com o filho. Erlandsson (2007) realizou um
estudo no qual descreveu a experiência dos pais que cuidaram dos filhos durante
as primeiras horas de vida após o nascimento, uma vez que as mães tinham sido
submetidas a cesariana. O autor verificou que os pais experimentavam
sentimentos de responsabilidade para com o bebé, contribuindo para a sua
aproximação. Brandão (2009) encontrou relação entre o corte do cordão umbilical
e o envolvimento emocional do pai com o bebé, sendo a ligação emocional
superior naqueles que cortaram. O mesmo autor salienta a importância do papel
dos profissionais de saúde que executam o parto, na medida em que são eles que
dão ou não, a oportunidade aos pais de cortarem o cordão umbilical dos seus
filhos.
Apesar de encontrarmos na literatura inúmeras vantagens para a tríade mãe-pai-
filho com a presença do pai no trabalho de parto é necessário que os
profissionais de saúde estejam atentos e recebam formação para proporcionar ao
pai uma experiência positiva e gratificante. Martins et al. (2006) estudaram a
vivência do pai na sala de partos de um Hospital Português e encontraram
sentimentos de incapacidade, impotência, medo e angústia. A perceção de
sofrimento da grávida causa grande impacto no pai. De acordo com os relatos dos
pais neste estudo, verifica-se que a vivência destes é muito influenciada pela
forma como decorre o trabalho de parto e parto da grávida. O sofrimento físico
da grávida e as rotinas hospitalares são fatores que influenciam imenso a
perceção que os homens têm do trabalho de parto. Eles referem que poucas
experiências na vida se aproximam àquela, no que diz respeito a stress,
ansiedade, dor e desordem emocional. Verifica-se assim a importância do papel
dos profissionais de saúde na preparação do casal para viver de uma forma
positiva este momento tão importante das suas vidas. Esta ajuda deverá ser
realizada ainda na gravidez. Por este motivo são vários os autores que
salientam a importância da frequência de sessões de preparação para o parto
pelos casais (Brazelton e Cramer, 2007; Genesoni e Tallandini, 2009; Mazzieri e
Hoga, 2006). Deste modo, parece fulcral o papel dos profissionais de saúde,
nomeadamente do Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde Materna e
Obstétrica para minimizar os sentimentos negativos vividos pelo casal e ajudá-
lo a viver a experiência do nascimento do filho na sua plenitude. Aquele deve
informar o casal sobre a evolução do trabalho de parto, apoiar o casal nas
escolhas que faz no que diz respeito a medidas de alívio da dor, uma vez que é
um dos fatores que mais o afeta negativamente, ter atitudes de escuta ativa
para desmistificar medos e receios, informar acerca dos procedimentos habituais
e envolver os pais nos cuidados ao filho.
Metodologia
Perante os objetivos e características da investigação optámos por um estudo do
tipo transversal e descritivo / analítico. Formulámos as seguintes questões de
investigação:
Quais as implicações do envolvimento do pai na gravidez / parto na ligação
emocional com o bebé?
Quais são os fatores que influenciam a ligação emocional pai / bebé?
O estudo foi realizado pela aplicação de um questionário em três momentos
diferentes (durante o trabalho de parto, no 1º e no 3º dia após o parto) a uma
amostra não probabilística acidental de 222 pais que acompanharam a grávida
durante o trabalho de parto, num Hospital Português entre novembro de 2010 e
janeiro de 2011. O tipo de amostragem escolhido relacionou-se com o tempo
disponível e a acessibilidade dos investigadores aos participantes. Para a
realização do presente estudo os investigadores dirigiram um pedido de
autorização para colheita de dados dirigido ao Hospital de São Teotónio EPE -
Viseu. Após ter sido avaliado pela comissão ética do referido Hospital foi
concedida autorização. Foi pedida a colaboração a cada participante e
explicados os objetivos do estudo, garantindo sempre o anonimato e estrita
confidencialidade das respostas. O estudo piloto realizou-se pela aplicação dos
10 primeiros questionários terminou o estudo piloto, não tendo sido necessário
efetuar alterações ao mesmo. Este apresenta 32 questões que permitem colher
dados relativos às variáveis independentes e caracterizar a amostra. No 1º
momento as questões 1, 2, 3, 4 estão presentes para fazer a caracterização
sóciodemográfica da amostra. As questões 5, 6 e 7 fornecem dados para conhecer
o planeamento da gravidez e o número de filhos e as questões 8, 9, 10, 11, 12 e
13 permitem-nos conhecer o envolvimento do pai na gravidez. Considerámos que os
que responderam positivamente às questões 8, 9,10,11,12 e 13 tinham um
envolvimento muito elevado. Isto significa que estes pais acompanharam a
grávida nas consultas de gravidez e auxiliaram-na em tarefas domésticas, pelo
facto de ela estar grávida, acompanharam a grávida nos preparativos para o
nascimento do bebé, frequentaram aulas de preparação para o parto, procuraram
sentir o bebé a mexer, colocando a mão na barriga da grávida, e leram ou
procuraram obter informação sobre o bebé em desenvolvimento. Os que responderam
positivamente a cinco destas questões tiveram um envolvimento elevado. Se
assinalaram afirmativamente a quatro questões, o seu envolvimento foi moderado
e se a resposta positiva foi a três ou menos perguntas o envolvimento foi
fraco. No 2º momento as questões colocadas permitem-nos caracterizar o
envolvimento do pai no parto. Contém também a escala bonding (ligação) para
medir o envolvimento emocional do pai com o bebé. Esta escala foi validada para
a população portuguesa por Figueiredo et al. (2005). Neste instrumento foram
identificadas três subescalas: bonding positivo, bonding negativo e bonding not
clear (não claro). Na escala bonding os itens são pontuados de modo a que
quanto mais presente a emoção em causa, mais elevado é o resultado. O resultado
total é obtido pela subtração do resultado das subescalas bonding negativo e
bonding not clear ao resultado da subescala bonding positivo e é tanto mais
elevado quanto melhor o bonding dos pais.
Para o tratamento estatístico dos dados foi utilizado o programa Statistical
Package for Social Sciences - 19.0, utilizando a estatística descritiva e
analítica. A distribuição dos dados da nossa variável dependente não é normal,
pelo que optámos por utilizar testes não paramétricos.
Resultados
Os pais que constituem a amostra têm entre 17 e 51 anos, sendo a média de
idades de 32,1 anos. No que se refere ao envolvimento na gravidez, constatámos
que 88,3% dos pais acompanharam a grávida nas consultas de vigilância da
gravidez, 96,4% auxiliaram a futura mãe do bebé em tarefas domésticas, pelo
facto de ela estar grávida, 94,6% acompanharam a grávida nos preparativos para
o nascimento do bebé, 20,3% frequentaram aulas de preparação para o parto,
todos os pais desta amostra procuraram sentir o bebé a mexer colocando a mão na
barriga da grávida e 86,5% leram ou procuraram obter informação sobre o bebé em
desenvolvimento.
Verificámos que foi oferecida a oportunidade de cortar o cordão umbilical a
32,9% dos pais da amostra. Do total da amostra, 19,8% cortaram-no e 55,4%
pretendiam cortá-lo.
Após o parto foi oferecida a oportunidade de ajudar a cuidar do filho a 87,8%
dos pais, tendo ajudado a cuidar 86,0%. Verificámos que 94,6% dos pais
pretendiam ajudar a cuidar do seu filho.
O Teste de Kruskal Wallis revelou diferenças estatisticamente significativas
(qui-quadrado=11,229; p=0,024) ao nível do score do bonding total, em função
dos grupos etários considerados. Pela análise do quadro 1, observamos que a
ligação emocional do pai com o bebé é menor quando a idade é inferior a 25 anos
ou superior a 40 anos.
Quadro 1 ' Teste de Kruskal Wallis relacionando o bonding e suas subescalas com
os grupos etários
Através da análise do quadro 2 verificamos que os pais que acompanharam a
grávida às consultas de vigilância da gravidez apresentam valores de bonding
mais elevados, sendo a diferença estatisticamente significativa (p=0,011).
Quadro 2 ' Teste U de Mann-Whitney relacionando o Bonding e suas subescalas com
o acompanhamento da grávida nas consultas de vigilância de gravidez
Mediante a observação do quadro 3, constatamos que existem diferenças
estatisticamente significativas (p=0,046; p=0,013) a nível da pontuação de
bonding negativo e bonding not clear e bastante significativas (p=0,002) no
bonding total entre o grupo de pais que acompanharam a grávida nos preparativos
para o nascimento do bebé e os que não fizeram este acompanhamento, sendo que o
valor de bonding total é superior naqueles que acompanharam a grávida.
Quadro 3 ' Teste U de Mann-Whitney relacionando o Bonding e suas subescalas com
o acompanhamento da grávida nos preparativos para o nascimento do bebé
Pela análise do quadro 4, verificamos que existem diferenças estatisticamente
bastante significativas (p=0,006) ao nível do score do bonding total, em função
dos dois grupos considerados (os que leram ou procuraram informações sobre o
bebé em desenvolvimento e os que o não fizeram). A ligação emocional do pai com
o bebé é maior (x¯= 5,83) quando o pai leu ou procurou informações sobre o bebé
em desenvolvimento.
Quadro 4 ' Teste U de Mann-Whitney relacionando o Bonding e suas subescalas com
a Leitura ou Procura de informações sobre o bebé em desenvolvimento
No que se refere ao envolvimento na gravidez, pela análise do quadro 5,
encontramos diferenças estatísticas altamente significativas na subescala
Bonding Not Clear (p=0,000) e na escala Bonding (p=0,000). Verificamos também
que o valor de Bonding total aumenta à medida que o envolvimento na gravidez
aumenta, ou seja, os pais que se envolveram mais na gravidez apresentam uma
maior ligação emocional com o bebé.
Quadro 5 ' Teste de Kruskal Wallis relacionando o Bonding e suas subescalas com
o Envolvimento na gravidez
O Teste de Mann-Whitney revelou diferenças estatisticamente bastante
significativas (p=0,001) ao nível do score do bonding total, em função dos
grupos considerados. Pela análise do quadro 6, verificamos que os pais que
cortaram o cordão umbilical têm um score de bonding total superior.
Quadro 6 ' Teste U de Mann-Whitney relacionando o Bonding e suas subescalas com
o Corte do cordão umbilical
Verificamos ainda, pela observação do quadro 7, que existem diferenças
estatísticas altamente significativas entre os valores de bonding obtidos nos
três momentos de aplicação da escala. De acordo com o score de bonding obtido,
constatámos que existe uma evolução crescente do 1º para o 3º momento, o que se
traduz por um aumento na ligação emocional entre o pai e o filho.
Quadro 7 ' Teste de Friedman relacionando o Bonding nos 3 momentos de aplicação
da escala
Discussão
No que se refere ao nível de envolvimento na gravidez, 18% dos pais
apresentaram um envolvimento muito elevado, 55,9% tiveram um envolvimento
elevado, 20,7% mostraram um envolvimento moderado e 5,4% apresentaram um
envolvimento fraco. Estes resultados são semelhantes aos encontrados por Martin
et al. (2007), que realizaram um estudo nacional nos Estados Unidos da América
representativo das crianças nascidas em 2001. Os autores verificaram que 83,2%
dos pais estiveram envolvidos na gravidez da esposa.
Relativamente ao envolvimento no parto, verificámos que foi oferecida a
oportunidade de cortar o cordão umbilical a 32,9% dos pais da amostra, 19,8% do
total da amostra cortaram-no e 55,4% pretendiam cortá-lo. A percentagem de pais
que cortaram o cordão umbilical foi inferior à encontrada por Pereira (2009)
num estudo efetuado num Hospital Português, em que verificou que 28,1% dos pais
inquiridos cortaram o cordão umbilical, ou por Brandão (2009) que, também numa
maternidade Portuguesa, encontrou uma percentagem superior de pais a cortarem o
cordão umbilical (42,0%). Este resultado pode estar relacionado com o facto de
o profissional que executa o parto ainda não estar consciente da importância
que este ato pode ter para o pai e para a sua ligação emocional com o recém-
nascido. Já no que se refere à oportunidade de ajudar a cuidar do filho, foi
oferecida essa oportunidade a 87,8% dos pais, tendo ajudado a cuidar 86,0%.
Estes valores são muito superiores aos encontrados por Pereira (2009). No seu
estudo nenhum pai ajudou a vestir o filho e apenas 3,1% colaboraram na
colocação da fralda. Este autor aponta o facto de os cuidados imediatos serem
realizados numa sala longe do campo visual dos pais, para justificar a baixa
percentagem de pais que vestiram o bebé ou colocaram a fralda. De facto, as
condições físicas parecem ser determinantes. No Hospital onde foi realizado o
presente estudo os cuidados imediatos são realizados no quarto onde decorre o
parto. Quando este é por cesariana, o bebé é vestido na enfermaria com a
possibilidade de o pai estar presente e participar.
Após a análise inferencial dos dados verificámos que a idade (p=0,024)
influencia a ligação emocional do pai com o bebé, sendo menor quando a idade é
inferior a 25 anos ou superior a 40 anos. Estes dados estão de acordo com a
literatura consultada, uma vez que Gomez e Leal (2007) reportaram um decréscimo
no nível de envolvimento com o aumento da idade dos progenitores. Relativamente
à escolaridade não foi encontrada relação com a variável dependente. Para
Martin et al. (2007), os pais com maior nível de escolaridade envolvem-se mais
na gravidez, aumentando assim a ligação emocional com o bebé. Na amostra em
estudo verifica-se que a grande maioria dos pais (79,3) tem um bom nível de
escolaridade e apenas 3,6% tem o 1º ciclo, pelo que, provavelmente, esta
homogeneidade dificultou o estabelecimento de relação entre as variáveis.
Relativamente à 2ª hipótese verificámos que não existe relação entre o
planeamento da gravidez e a ligação emocional do pai com o bebé (p=0,699).
Contudo, ao analisar as subescalas, verifica-se que para a subescala Bonding
negativo existem diferenças estatisticamente significativas (p=0,015), ou seja,
o Bonding Negativo é maior nos pais que não planearam a gravidez. Isto
significa que nestes a ligação emocional com o bebé é menor. Lafuente e Aparici
(2009) e Martin et al. (2007) também indicam que a não planificação da gravidez
é um fator dificultador da vinculação do pai com o bebé. No que concerne ao
número de filhos, não foi encontrada relação com a ligação emocional do pai com
o bebé (p=0,227). A literatura aponta para a existência desta relação e para a
existência de maior dificuldade na vinculação quando existe um número elevado
de filhos. Por outro lado quando o pai aguarda o nascimento do 1º filho, parece
ter uma maior ligação emocional (Martin et al., 2007; Gomez e Leal, 2007;
Lafuente e Aparici, 2009). Apesar de não terem sido encontradas diferenças
estatisticamente significativas, o valor de Bonding vai diminuindo conforme o
número de filhos aumenta (5,87 quando aguardam a chegada do 1º filho e 4,60
quando esperam o 4º filho). Na nossa opinião o facto de 91,9% dos pais
aguardarem o nascimento do 1º ou 2º filho dificultou o estabelecimento de
relação entre as variáveis. No que se refere à 3ª hipótese - A ligação
emocional do pai com o bebé é influenciada pelo seu envolvimento na gravidez,
constatámos que o acompanhamento da grávida nas consultas de vigilância de
gravidez (p=0,011), o acompanhamento da grávida nos preparativos para o
nascimento do bebé (p=0,002) e ler ou procurar informações sobre o bebé em
desenvolvimento (p=0,006) influencia positivamente a ligação emocional do pai
com o bebé. Verificámos, ainda, que quanto maior é o nível de envolvimento do
pai na gravidez, maior a sua ligação emocional com o bebé (p=0,000). Estes
resultados estão de acordo com os autores consultados, uma vez que, segundo
estes, o pai envolve-se na gravidez quando ajuda a grávida nas tarefas
realizadas durante a mesma e este envolvimento aumenta a vinculação pré-natal
(Brazelton e Cramer, 2007; (Heinowitz, 2005; Lafuente e Aparici, 2009).
Constatámos que os pais que cortaram o cordão umbilical têm uma maior ligação
emocional com o bebé. Este resultado vai ao encontro do estudo realizado por
Brandão (2009), no qual utilizou a mesma escala para medir a ligação emocional
entre o pai e o filho. Relativamente ao facto de o pai ajudar a cuidar do bebé
após o parto, no presente estudo não foi encontrada relação com a ligação
emocional com o bebé. Este resultado é contrário à literatura consultada, o que
se deve, na nossa opinião, ao facto de os pais poderem estar presentes quando
são prestados os cuidados imediatos ao recém-nascido (na sala de partos ou na
enfermaria) e, dessa forma, embora respondam que não ajudaram a cuidar do seu
filho, estiveram presentes, viram-no a ser vestido, possivelmente tocaram-lhe
ou pegaram nele ao colo, logo interagiram com ele promovendo a vinculação. Esta
realidade manifestou-se, desta forma, como uma limitação no estudo desta
variável. No que se refere à evolução da ligação emocional entre o pai e o bebé
encontrámos relação entre a ligação emocional do pai com o bebé na gravidez e a
sua ligação emocional no 1º dia e no 3º dia após o parto. De acordo com o valor
de Bonding obtido, constatámos que existe uma evolução crescente do 1º (5,68)
para o 3º momento (6,87), o que se traduz por um aumento na ligação emocional
entre o pai e o filho. Este resultado é coincidente com a opinião dos autores
consultados. Para Figueiredo e Costa (2009) a ligação emocional do pai com o
bebé é um processo que se inicia logo desde o início da gravidez e que de
acordo com Lafuente e Aparici (2009) evolui com o nascimento do bebé, nas
primeiras horas e dias de vida, sendo seguida pela denominada sincronização
pós-natal (primeiros anos de vida da criança). De acordo com Gomez e Leal
(2007) existe um aumento da vinculação à medida que a gravidez avança e uma
relação direta entre o nível de envolvimento no final da gravidez e a
intensidade de envolvimento paterno depois do nascimento.
Relativamente às limitações deste estudo, a principal prende-se com o tipo de
amostra utilizada, na medida em que era não probabilística por conveniência,
pelo que os resultados não podem ser generalizados para a população em geral.
Apesar disto, é relevante verificar que os resultados foram, de uma forma
geral, ao encontro da literatura revista.
Conclusão
Os resultados apontam para uma melhoria na ligação afetiva entre o pai e o bebé
se os profissionais de saúde promoverem o envolvimento do pai na gravidez,
nomeadamente através:
do acompanhamento da grávida às consultas de vigilância da gravidez;
nos preparativos para o nascimento do bebé;
na leitura de informação sobre o bebé em desenvolvimento.
O envolvimento do pai no parto, estando atento às suas expectativas e
proporcionando o corte do cordão umbilical, também parece influenciar
positivamente a sua ligação emocional com o bebé.
Consideramos que ao dar resposta ao nosso problema inicial construímos
conhecimento científico na disciplina de enfermagem e podemos afirmar, para a
população estudada, algumas atitudes que promovem a ligação emocional entre o
pai e o bebé. As conclusões do trabalho também fornecem informação pertinente
para os profissionais de saúde que exercem funções na área (Médicos Obstetras e
Enfermeiros Especialistas em Enfermagem de saúde Materna Obstétrica e
Ginecológica) e para os profissionais que ocupam órgãos de gestão para a tomada
de decisões fundamentadas. Assim gostaríamos de deixar as seguintes sugestões:
Promoção do envolvimento do pai na gravidez, através de educação para a saúde
baseada na evidência científica, nas consultas de vigilância da gravidez, nas
sessões de preparação para o parto ou noutros contextos adequados.
Promoção do envolvimento do pai no parto, nomeadamente através da
sensibilização dos profissionais de saúde, que prestam cuidados às
parturientes/casais, para estarem despertos para as expectativas do pai e
proporcionarem o corte do cordão umbilical, se possível;
Realização de uma investigação com uma amostra representativa da população
portuguesa, confrontando os resultados obtidos com os do nosso estudo;
Em suma, aumentando o envolvimento do pai na gravidez e no parto, atendendo
sempre à especificidade de cada pai e às suas expectativas, é possível melhorar
a ligação emocional entre este e o bebé com repercussões positivas para ambos,
para o casal e para a sociedade.