Tele-enfermagem para a promoção da saúde da Criança numa Unidade de Saúde
Familiar
Introdução
A disciplina de Enfermagem necessita de produção e de renovação contínuas do
seu próprio conhecimento, o que apenas poderá ser conseguido pela investigação,
sobretudo a investigação clínica, aplicada e a investigação-ação. A
consistência científica garante ainda uma incorporação dos resultados na
prática clínica dos enfermeiros, transversalmente à identificação e nomeação de
saberes inerentes à mesma, através de um processo de natureza dedutiva. Esta é
a forma de evolução efetiva e a construção da disciplina, através da
identificação de saberes específicos e de um desenvolvimento para a prática
baseada na evidência (Ordem dos Enfermeiros, 2006).
O Ministério da Saúde (2011) elegeu para o ano de 2011, como uma das
necessidades de novos conhecimentos, a acessibilidade/procura/meios de
contacto/satisfação dos utentes, nomeadamente no que se refere à inovação e
diversificação de meios de contacto/comunicação entre utentes, serviços e
profissionais e, respetivos efeitos. Considerando que as Unidades de Saúde
Familiar se pautam pela auto-organização funcional e técnica, surgiu a
necessidade de realizar um estudo exploratório numa Unidade de Saúde Familiar,
pertencente a um Agrupamento de Centros de Saúde da Administração Regional de
Saúde de Lisboa e Vale do Tejo, Instituição Pública, no sentido de melhorar a
eficiência do atendimento de enfermagem por telefone na área da criança para
esclarecimento de dúvidas e aconselhamento, uma vez que existe um Enfermeiro
Especialista em Enfermagem de Saúde da Criança e do Jovem.
O desenvolvimento deste estudo teve como objetivo avaliar as necessidades
sentidas pelos enfermeiros da Unidade Saúde Familiar e pelos pais/cuidadores de
crianças dos 0 aos 17 anos inclusive, para a criação de uma Linha Telefónica
Direta para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança.
Enquadramento/Fundamentação Teórica
Uma das linhas prioritárias na reforma dos cuidados de saúde é a substituição
de um sistema hospitalocêntrico por um mais orientado para a promoção da saúde,
para a proximidade entre cidadão e os profissionais de saúde, porque tal
melhora a saúde e a eficiência global na gestão da mesma (Campos, 2007). Assim,
a saúde neste início de século XXI está num contexto em mudança, reflexo de uma
sociedade também ela num processo de transformação, que decorreu da conjugação
de fatores económicos, políticos, sociais e culturais, mas, sobretudo, do
desenvolvimento de tecnologias de informação e comunicação que vieram
intensificar a velocidade e as interações entre pessoas de culturas diferentes
do mundo inteiro (Martins, 2009).
Segundo o mesmo autor, o desenvolvimento nas últimas décadas da utilização das
telecomunicações como meio de prestar cuidados de saúde deve-se sobretudo aos
benefícios que doentes, famílias, profissionais e organizações de saúde lhe
reconhecem.
Importa referir que os gastos em saúde em Portugal têm acompanhado a tendência
de outros países da União Europeia e da Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico no qual se registou, nos últimos anos, um crescimento
superior ao crescimento económico, com impactos no Produto Interno Bruto
(Simão, 2009).
Segundo Carrasqueiro (2007), o Ministério da Saúde deve desenvolver um Contact
Center que disponibilize a informação considerada mínima ao cidadão enquanto
pagador do sistema de saúde e enquanto utilizador do mesmo e que o avalie e
recolha as suas expectativas.
Em Portugal, à semelhança de outros países, existe uma linha de telefone que é
a Linha de Saúde 24 da iniciativa do Ministério da Saúde, que teve o seu início
em abril de 2007 e que visa responder às necessidades manifestadas pelos
cidadãos em matéria de saúde, contribuindo para ampliar e melhorar a
acessibilidade aos serviços e rentabilizar os recursos existentes através do
encaminhamento dos utentes para as instituições integradas no Serviço Nacional
de Saúde mais adequadas (Portugal, 2007).
Este serviço, que integra enfermeiros na sua equipa, disponibiliza triagem,
aconselhamento e encaminhamento em situação de doença; aconselhamento
terapêutico para esclarecimento de questões e apoio em matérias relacionadas
com medicação; assistências em saúde pública; e informação geral de saúde, como
a localização dos serviços englobados no Serviço Nacional de Saúde (Portugal,
2007).
Parra, Gomes e Carrasqueiro (2007) apresentam o perfil demográfico de
utilização da Linha de Saúde 24 em Portugal, após os primeiros meses de
funcionamento da mesma. Em termos geográficos, estes referem que a maior parte
dos contactos provêm da área da grande Lisboa e Porto. Dizem ainda que cerca de
60% dos contactos realizados para esta linha se relacionam com questões de
aconselhamento pediátrico, dos 0-14 anos.
Num segundo estudo descritivo do perfil de utilizador da Linha de Saúde 24,
realizado no período de maio de 2008 a março de 2009, a faixa etária mais
representativa, com 53,3% de chamadas, foi também a dos 0-14 anos. O motivo da
chamada mais frequente neste estudo foi o sintoma (febre) com 17,5%. O
aconselhamento, embora não seja o motivo mais referido, também é referenciado
com 9,5% das chamadas realizadas (Simão, 2009).
Melo (1999) diz que o acréscimo da procura e a efetivação da resposta aos
utentes nos serviços de saúde implica uma sobrecarga económica e humana para os
serviços, já que se efetua o atendimento de muitas situações que não justificam
o recurso ao hospital.
Por outro lado, a rede de Tele-enfermagem do Conselho Internacional de
Enfermeiros visa educar, apoiar e colaborar com enfermeiros de todo o mundo que
têm interesse em Tele-enfermagem e promover o envolvimento da enfermagem no
desenvolvimento e utilização de tecnologias de Tele-saúde, com o objetivo de
melhorar a pontualidade, qualidade e acesso de uma ampla gama de serviços de
saúde para indivíduos, suas famílias e comunidades (Conselho Internacional de
Enfermeiros, 2011). Segundo o mesmo autor, a Tele-enfermagem é definida como a
prática de enfermagem à distância, utilizando a tecnologia das
telecomunicações.
Importa referir que este estudo teve como referência o modelo conceptual de
enfermagem, o Modelo da Parceria dos Cuidados, utilizado na área da criança,
uma vez que se centra nas respostas às necessidades desta e sua família,
binómio encarado como o beneficiário dos cuidados. Este é enformado pelos
valores de reconhecimento da criança como ser vulnerável, valorização dos pais/
cuidadores como os primeiros prestadores de cuidados, maximização do potencial
de crescimento e desenvolvimento da criança e preservação, em qualquer
situação, da segurança e bem-estar da criança e família (Ordem dos Enfermeiros,
2010).
A tecnologia na comunicação em contexto de saúde, sendo útil e necessária, deve
no entanto contextualizar-se numa lógica de cuidados ao serviço do doente na
sua individualidade. Fica, assim, delimitada a sua ação à intencionalidade dos
cuidados que os enfermeiros planearam para aquele doente. As mudanças que têm
ocorrido na prática de enfermagem, resultantes da utilização das
telecomunicações e tecnologia de informação por estes profissionais, remetem
para a reflexão acerca da natureza da intervenção de enfermagem na consulta
telefónica (Martins, 2009).
A Linha de Saúde 24 funciona 24 horas por dia e é um excelente recurso para a
acessibilidade aos cuidados de saúde. No entanto, pelo facto de muitos pais
ligarem para a Unidade Saúde Familiar à procura de esclarecimentos/
aconselhamento por parte dos enfermeiros, é imperioso que este contacto seja
mais efetivo e eficiente. Não se pode descorar a ligação e a continuidade de
cuidados que os profissionais desta unidade tanto prezam, pensando que também
estes são os princípios pelos quais os jovens/pais/família/cuidadores ligam
diariamente para os enfermeiros da Unidade Saúde Familiar. Há momentos em que a
saúde tem tudo a ver com o telefone (Portugal. Ministério da Saúde, 2007).
Para Doenges, Moorhouse e Murr (2008), o processo de enfermagem permite aos
enfermeiros um maior controlo na sua prática, bem como a oportunidade de
utilizar o seu conhecimento, competência e intuição para construir, de forma
dinâmica, uma prática de cuidados que satisfaça as pessoas cuidadas e os
enfermeiros.
Segundo o Regulamento nº 123/2011, o Enfermeiro Especialista em Enfermagem de
Saúde da Criança e do Jovem trabalha em parceria com a criança e família/pessoa
significativa, em qualquer contexto em que ela se encontre, para promover o
mais possível o seu estado de saúde e proporciona educação para a saúde, assim
como, identifica e mobiliza recursos de suporte à família.
O facto de existir um Enfermeiro Especialista nesta área na Unidade Saúde
Familiar, leva a que este seja muitas vezes solicitado para dar pareceres em
relação àquilo que o questionam pelo telefone e não só, também presencialmente,
o que por vezes leva a que as chamadas possam ter que ocupar mais do que um
enfermeiro e mais tempo do que o necessário.
No entanto, é importante referir que, por vezes, as informações podem não ser
consensuais, ou seja, ainda subsistem diferenças entre as informações dadas
pelos vários enfermeiros, existindo assim a possibilidade de surgirem ainda
mais dúvidas por parte de quem procura esclarecimentos/aconselhamentos nesta
área.
Os assistentes técnicos da Unidade Saúde Familiar, por diversas vezes, em
conversas informais, manifestaram interesse em que fosse resolvido o problema
de acesso telefónico direto aos enfermeiros para este tipo de atendimento, pois
existem períodos em que têm muita dificuldade em fazer a triagem das chamadas,
uma vez que as pessoas se recusam a dizer o assunto e eles não têm a noção para
quem devem encaminhar as chamadas.
Torna-se assim pertinente a implementação da Tele-enfermagem na área da saúde
infantil nas Unidades de Saúde Familiar, com vista à capacitação dos pais/
cuidadores para a prestação de cuidados à criança no domicílio.
Questões de investigação
Os pais/cuidadores das crianças inscritas na Unidade de Saúde Familiar
consideram que é necessário criar uma Linha Telefónica Direta para a equipa de
Enfermagem para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança,
na Unidade de Saúde Familiar?
Os Enfermeiros da Unidade de Saúde Familiar consideram que é necessário criar
uma Linha Telefónica Direta para a equipa de Enfermagem para esclarecimento de
dúvidas e aconselhamento na área da criança, na Unidade de Saúde Familiar?
Os Enfermeiros da Unidade de Saúde Familiar realizam atendimento telefónico
para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança, na Unidade
de Saúde Familiar?
Qual é o Enfermeiro que os pais/cuidadores das crianças inscritas na Unidade de
Saúde Familiar e os restantes elementos da equipa de enfermagem consideram que
deveria fazer a Tele-enfermagem para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento
na área da criança?
Metodologia
Trata-se de um estudo quantitativo do tipo descritivo, com o seguinte objetivo:
Avaliar a necessidade sentida, pelos enfermeiros da Unidade Saúde Familiar e
pelos pais/cuidadores de crianças dos 0 aos 17 anos inclusive, da criação de
uma Linha Telefónica Direta para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na
área da criança.
Decorreu num Agrupamento de Centros de Saúde da Administração Regional de Saúde
de Lisboa e Vale do Tejo, numa Unidade de Saúde Familiar, e teve por base duas
amostras não probabilísticas intencionais. Uma é constituída pelos pais/
cuidadores das crianças dos 0 aos 17 anos inclusive, um total de 102 inquiridos
de uma população-alvo constituída por 1500 famílias com crianças inscritas na
Unidade Saúde Familiar, cujo critério de inclusão foi todos os pais/cuidadores
de crianças dos 0 aos 17 anos inclusive, em que a criança tivesse um
atendimento pela equipa de enfermagem na Unidade Saúde Familiar, de 4 de abril
a 4 de maio de 2011. A outra amostra em estudo foi a equipa de enfermagem da
Unidade Saúde Familiar, constituída por 6 enfermeiros, n=5 enfermeiros, não
tendo sido incluído o autor do estudo.
Para a sua realização foram utilizados dois questionários construídos para o
efeito, um para cada amostra. O primeiro questionário aplicado aos pais/
cuidadores era composto por 3 questões fechadas, 5 abertas e 6 mistas, e estava
dividido em duas partes. A primeira parte para caracterização sociodemográfica
dos pais/cuidadores e das crianças e a segunda tinha questões que pretendiam
avaliar a necessidade da criação da Linha Telefónica Direta, as fontes que
recorrem para o esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança e
se utilizam o atendimento de enfermagem por telefone da Unidade Saúde Familiar.
O segundo questionário aplicado aos enfermeiros da Unidade Saúde Familiar, foi
construído com 6 questões fechadas, 9 abertas e 1 mista, para avaliar a
necessidade de criação da Linha Telefónica Direta pela equipa de enfermagem da
Unidade Saúde Familiar e as necessidades sentidas por estes para a sua
implementação.
Quanto aos aspetos formais e éticos foi feito um pedido de autorização à
Coordenadora da Unidade Saúde Familiar para a aplicação dos instrumentos de
colheita de dados, garantindo o anonimato e a confidencialidade na colheita dos
mesmos. Neste âmbito, foi ainda pedida a colaboração aos pais/cuidadores e
enfermeiros no preenchimento dos instrumentos respetivos. Para além do pedido
formal à instituição, obteve-se por parte dos pais/cuidadores e dos enfermeiros
o consentimento informado para a aplicação dos questionários e utilização dos
dados.
O tratamento estatístico dos dados foi efetuado informaticamente através do
programa Statistic Packadge for the Social Sciences - SPSS na versão 14.0 para
o Windows Vista. Para a sistematização da informação colhida foi utilizada a
estatística descritiva, nomeadamente, as frequências absolutas (n.º) e
relativas (%), medidas de tendência central (Moda, Média e Mediana) e medidas
de dispersão ou variabilidade (Desvio padrão e Coeficiente de Variação).
Resultados
Uma das amostras foi composta por 102 pais/cuidadores de crianças inscritas na
Unidade Saúde Familiar, sendo que 86,3% são do sexo feminino e 13,7% são do
sexo masculino. Verifica-se ainda que 57,8% das crianças a seu cuidado são do
sexo feminino e 42,2% são do sexo masculino. Quanto ao grau de parentesco em
relação à criança, 83,3% dos inquiridos foi a mãe e 13,7% o pai quem respondeu
ao questionário. Quanto ao número de outras crianças a seu cuidado, a maioria
referiu não ter mais crianças a seu cuidado ou ter mais uma criança a seu
cuidado, 33,3%.
A média de idades da amostra é de 35,2 anos para um Desvio Padrão de 7,1 e um
Coeficiente de variação de 20,2, sendo a idade máxima de 62 anos e a idade
mínima de 23 anos. Quanto às crianças, a média de idades é 5,7 anos para um
Desvio Padrão de 5,0 e um Coeficiente de variação de 87,7, sendo a idade máxima
de 17 anos, a idade mínima de 0 anos e a moda é de 0 anos.
Relativamente às fontes de informação a que recorrem para esclarecimento de
dúvidas e aconselhamento na área da criança, 36,3% das 201 respostas referem-se
aos enfermeiros da Unidade Saúde Familiar, 20,4% aos médicos da Unidade Saúde
Familiar, 10,9% ao Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde da Criança e
do Jovem da Unidade Saúde Familiar e também 10,9% à Internet. Destaca-se que
apenas 9% são relativas à Linha de Saúde 24 como fonte de esclarecimento de
dúvidas e aconselhamento na área da criança.
Quanto à necessidade de criar uma Linha Telefónica Direta na Unidade Saúde
Familiar, para atendimento de Enfermagem para esclarecimento de dúvidas e
aconselhamento na área da criança, 38,2% dos inquiridos responderam que era
necessário, 29,4% responderam que era extremamente necessário e 24,5%
muito necessário. Das 106 respostas dadas pelos 84 inquiridos que
justificaram a criação da Linha Telefónica Direta constata-se que a maioria
refere que a Linha Telefónica Direta servia para esclarecimento de todas as
dúvidas, com 34 respostas, evitava consultas presenciais desnecessárias com
19 respostas e resposta mais eficaz à população também com 19 respostas
(Quadro_1).
Quadro_1
Segundo as respostas dos inquiridos (N=102) conclui-se que 70,9% das respostas
referem que deveria ser o Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde da
Criança e do Jovem da Unidade Saúde Familiar a atender as chamadas, sendo que
das 23 justificações, 10 foram porque tem mais formação. Salienta-se ainda
que 16,5% das respostas foram enfermeiro de família porque conhece melhor a
criança, com 7 respostas (total das justificações para este enfermeiro).
Do total de inquiridos, 48,0% refere que nunca utilizou a Tele-enfermagem
para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança. Dos
inquiridos, 52,0% já utilizaram o serviço e destes, 17,6% utilizou-o pelo
menos 1x/ano.
Em relação à eficiência do atendimento de enfermagem por telefone para
esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança, dos 52%
inquiridos que já utilizaram o serviço, 88,5% dos inquiridos consideram que
este é eficiente.
Dos 32 inquiridos que justificaram a sua resposta em relação à eficiência do
atendimento de enfermagem por telefone, 78,1% referiram que todas as perguntas
foram esclarecidas. De salientar que 6,3% responderam que a enfermeira não
soube responder.
Relativamente à tentativa de utilização do atendimento de enfermagem por
telefone, dos 79 inquiridos que responderam, 45,6% referem que não conseguiram
fazer a chamada, sendo que dos 12 inquiridos que justificaram o motivo da
tentativa falhada, 9 dizem que não consegui a ligação para os enfermeiros.
Ao cruzar as respostas dos inquiridos quanto à necessidade de criação da Linha
Telefónica Direta para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da
criança e as respostas dos inquiridos que recorrem a fontes para esclarecimento
de dúvidas na área da criança, conclui-se que dos 99 inquiridos que recorrem a
fontes para esclarecimento de dúvidas, 38 inquiridos consideram necessário e
30 inquiridos referem que é extremamente necessário a criação da linha direta
para os enfermeiros.
Da análise da distribuição das respostas dos inquiridos quanto à necessidade da
Linha Telefónica Direta e as respostas dos inquiridos que recorrem à Linha de
Saúde 24 para esclarecimento de dúvidas na área da criança, conclui-se que dos
18 inquiridos que recorrem à Linha de Saúde 24 para esclarecimento de dúvidas,
7 inquiridos consideram muito necessário, 4 inquiridos referem que é
necessário e outros 4 inquiridos extremamente necessário, a criação da
linha direta para os enfermeiros.
Dos 52 inquiridos que mencionaram sugestões de melhoria da acessibilidade ao
atendimento de enfermagem por telefone para esclarecimento de dúvidas e
aconselhamento na área da criança, na Unidade Saúde Familiar, 27 sugeriram a
criação de uma linha específica, direta e mais rápida, como forma de melhor a
acessibilidade. Salientam-se ainda as sugestões de ter sempre um enfermeiro
disponível de mais formação dos profissionais, respetivamente, com 13 e 5
das respostas dos inquiridos.
Relativamente à amostra dos enfermeiros importa mencionar que quanto à formação
na área da criança, 80% dos inquiridos referem que têm formação e o tema da
parentalidade foi o mais referido com 3 respostas.
A fonte que os enfermeiros mais recorrem para a formação na área da criança é o
Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde da Criança e do Jovem da Unidade
Saúde Familiar com 35,7% do total de respostas (14). Relativamente à formação
em serviço no Agrupamento de Centros de Saúde nesta área os inquiridos referem
que nunca recorreram.
Quanto à necessidade de criar uma Linha Telefónica Direta na Unidade Saúde
Familiar para atendimento de enfermagem para esclarecimento de dúvidas e
aconselhamento na área da criança, 80% dos enfermeiros responderam que era
extremamente necessário e 20% muito necessário, sendo que 40% dos
inquiridos consideram-na necessária para uma boa gestão do tempo dos pais e
dos enfermeiros.
Segundo os inquiridos, o enfermeiro que devia fazer o atendimento telefónico na
Linha Telefónica Direta neste âmbito era o Enfermeiro Especialista em
Enfermagem de Saúde da Criança e do Jovem da Unidade Saúde Familiar, com 80%
das respostas, sendo que as justificações foram porque possui competências
aprofundadas. Salienta-se ainda que 20% das respostas foram qualquer
enfermeiro, mas se estiver o especialista deve ser este.
Dos enfermeiros inquiridos, 80% refere que realizam entre 1 a 5 atendimentos de
enfermagem por telefone para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área
da criança por semana e 20% refere que efetua vários atendimentos diários.
Denota-se que a opção nunca não foi selecionada por nenhum enfermeiro.
Quanto aos sentimentos que os inquiridos referem aquando do atendimento de
enfermagem por telefone para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área
da criança, destaca-se que 60% sente-se apta no âmbito geral, com
encaminhamento para o Enf. Especialista em situações de maior complexidade.
Constata-se que todos os inquiridos referiram que necessitavam de formação para
o atendimento de Tele-enfermagem eficaz. As mais referidas (2) como temas para
a formação foram: desadaptação social; necessidades especiais; e
medicação/posologia nas crianças.
Relativamente à melhoria da acessibilidade ao atendimento telefónico para
esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança, das 10 sugestões
apresentadas pelos inquiridos, 5 manifestam que devia existir mais formação
específica dos profissionais e 40% devia ser criada uma linha direta
primeiramente para o Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde da Criança
e do Jovem para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança.
Dos enfermeiros inquiridos, 60% consideram que a Linha de Saúde 24 responde
muito às necessidades dos pais/cuidadores das crianças inscritas na Unidade
Saúde Familiar que recorrem às suas consultas de enfermagem. Salienta-se que
nenhum enfermeiro respondeu que a Linha de Saúde 24 nunca responde ou
responde pouco às necessidades dos pais/cuidadores.
Quanto à importância atribuída à criação da Linha Telefónica Direta na Unidade
Saúde Familiar, maioritariamente, os inquiridos pronunciaram-se como bastante
importante em todas as opções apresentadas, quer relativas à gestão de
serviço, quer aos cuidados. Referiram que a Linha Telefónica Direta na Unidade
Saúde Familiar era bastante importante com 80% das respostas: na diminuição
do recurso à Unidade Saúde Familiar por parte destes, por motivos facilmente
resolvidos pelo telefone; na continuidade dos cuidados prestados pelos
enfermeiros da Unidade Saúde Familiar a esta população; na continuidade dos
cuidados prestados pela equipa multiprofissional da Unidade Saúde Familiar a
esta população; na articulação/encaminhamento de situações para o enfermeiro
de família da criança; na articulação/encaminhamento de situações para o
médico de família da criança; no esclarecimento de dúvidas e aconselhamento
aos pais/cuidadores; no aconselhamento de autocuidado em casa; e na
rentabilização de recursos humanos da Unidade Saúde Familiar, nomeadamente da
equipa de enfermagem para outras situações (Quadro_2).
Quadro_2
Discussão
Considera-se como limitações do estudo o tamanho das amostras, o facto de o
mesmo ter um tempo reduzido para a sua execução e por o investigador fazer
parte da equipa de enfermagem, embora tenha sido excluído do estudo.
Relativamente às questões de investigação importa referir que dos pais/
cuidadores das crianças inscritas na Unidade Saúde Familiar, 38,2% dos
inquiridos responderam que era necessário, 29,4% responderam que era
extremamente necessário e 24,5% muito necessário criar uma Linha Telefónica
Direta para a equipa de Enfermagem para esclarecimento de dúvidas e
aconselhamento na área da criança, na Unidade Saúde Familiar.
Dos enfermeiros inquiridos, 80% consideram que é extremamente necessário criar
uma Linha Telefónica Direta para a equipa de enfermagem para esclarecimento de
dúvidas e aconselhamento na área da criança, na Unidade de Saúde Familiar.
Segundo Ministério da Saúde (2010), as Administrações Regionais de Saúde devem
negociar com cada instituição a atividade e os resultados a alcançar, tendo em
especial atenção as características e necessidades em saúde da população
abrangida, num contexto de prestação coordenada dos cuidados de saúde
sustentada nos cuidados de saúde primários e na sua capacidade para gerir o
estado de saúde dos utentes, promovendo, desta forma, a prestação dos cuidados
num nível mais adequado e efetivo.
Ainda segundo os mesmos autores, esta negociação deve basear-se na avaliação
das necessidades em saúde regionais e locais e na otimização da utilização dos
recursos disponíveis, reservando-se o acesso aos cuidados secundários para as
situações que exijam este grau de intervenção e promover a acessibilidade dos
utentes. A definição das prioridades regionais e locais, associada a uma
utilização eficiente dos recursos é um aspeto fundamental para a obtenção de
ganhos em saúde que, na maioria das vezes, só podem conseguir-se com atenção às
especificidades da população num dado território.
Salienta-se o facto de 80% dos enfermeiros da Unidade Saúde Familiar realizarem
entre 1 a 5 atendimentos de enfermagem por semana, por telefone, para
esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança, na Unidade Saúde
Familiar.
Segundo Simão (2009), ao analisar o número de contactos realizados para a Linha
de Saúde 24 por 100.000 habitantes, o distrito de Santarém efetuou entre 3.000
a 4.000. O mesmo autor afirma ainda no seu estudo que para 27,42% das chamadas
foi recomendado cuidados no domicílio/autocuidados.
Kaminsky et al. (2010) num estudo descritivo, realizado na Suécia, sobre a
saúde pediátrica e as chamadas para a tele-enfermagem, concluíram que em quase
metade das chamadas os enfermeiros aconselharam o autocuidado.
O enfermeiro que deveria fazer a Tele-enfermagem para esclarecimento de dúvidas
e aconselhamento na área da criança é, para os pais/cuidadores das crianças
inscritas na Unidade de Saúde Familiar, o Enfermeiro Especialista em Enfermagem
de Saúde da Criança e do Jovem da Unidade Saúde Familiar, com 70,9% das
respostas, assim como para os enfermeiros, com 80% das respostas.
Ferreira e Antunes (2009) num estudo realizado a um total de 75 pessoas
inscritas na Unidade Saúde Familiar em causa, em novembro de 2008, com o
objetivo de monitorizar a satisfação dos utilizadores da mesma, concluíram que
de forma geral 54,3% dos utentes desta Unidade Saúde Familiar estão muito
satisfeitos; no entanto, 11,6% estavam insatisfeitos em relação à comunicação
com os profissionais de forma geral; 15,1% estavam insatisfeitos em relação à
informação e apoio de forma geral; 29,6% estavam insatisfeitos com a
organização do serviço de forma geral; e 15,2% estavam insatisfeitos com a
continuidade e cooperação também de forma geral.
Relativamente à acessibilidade e espera, os mesmos autores referem que 45,2%
dos utentes estavam insatisfeitos com a facilidade em falar pelo telefone para
a Unidade Saúde Familiar e 55,5% estavam insatisfeitos quanto à facilidade em
falar pelo telefone com o médico de família. Quanto à resposta a necessidades
especiais (incluía necessidades na área da criança), 9,2% dos utentes estavam
insatisfeitos.
É imperioso a criação da Linha Telefónica Direta como forma de garantir o
esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança nesta Unidade
Saúde Familiar, assim como é necessário a formação aos enfermeiros da Unidade
Saúde Familiar para a implementação efetiva da linha telefónica para
esclarecimento de todas as dúvidas na área da criança, dando seguimento ao
proposto por Portugal (2007), de aumentar a acessibilidade dos cuidados de
saúde nesta área.
Os enfermeiros consideram que a Linha Telefónica Direta na Unidade Saúde
Familiar para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança era
bastante importante na diminuição do recurso à Unidade Saúde Familiar; na
continuidade dos cuidados; na articulação/encaminhamento de situações para a
equipa de saúde da família; no esclarecimento de dúvidas e aconselhamento; no
aconselhamento de autocuidado em casa; e na rentabilização de recursos humanos
da Unidade Saúde Familiar, nomeadamente da equipa de enfermagem para outras
situações.
O Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde da Criança e do Jovem assume
um papel fulcral na formação dos enfermeiros e são também reconhecidas as suas
competências como primeiro recurso no atendimento telefónico, quer pelas
famílias, quer pelos enfermeiros.
Conclusão
Após análise e discussão dos resultados conclui-se que os pais/cuidadores
consideram muito necessário a criação de uma Linha Telefónica Direta para os
enfermeiros para esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança.
Constatou-se ainda que os enfermeiros inquiridos partilham da opinião dos pais,
considerando extremamente necessário a criação da Linha Telefónica Direta na
Unidade Saúde Familiar. Os pais/cuidadores e os enfermeiros referem que deveria
ser o Enfermeiro Especialista em Enfermagem de Saúde da Criança e do Jovem da
Unidade Saúde Familiar a atender o telefone na Linha Telefónica Direta, porque
tem mais formação e competências na área.
Os resultados obtidos suportam o descrito na fundamentação do estudo, trazendo
assim ganhos importantes para a melhoria da acessibilidade aos cuidados de
enfermagem na área da criança, dando relevo ao preconizado para as Unidade
Saúde Familiar, como Unidades de Saúde que devem primar pela Qualidade,
Acessibilidade e Continuidade dos Cuidados, dando resposta efetiva e de
proximidade à população que abrange.
Quanto às sugestões para melhorar a acessibilidade à Tele-enfermagem para
esclarecimento de dúvidas e aconselhamento na área da criança, na Unidade Saúde
Familiar, os pais/cuidadores sugeriram a criação de uma linha específica,
direta e mais rápida. Para os enfermeiros devia existir mais formação
específica e devia ser criada uma linha direta primeiramente para o Enfermeiro
Especialista em Enfermagem de Saúde da Criança e do Jovem, como forma de melhor
a acessibilidade aos cuidados.
Ainda com base nos resultados que foram apresentados à coordenação da Unidade
Saúde Familiar e equipa multidisciplinar, criou-se então a Linha Telefónica
Direta para a equipa de Enfermagem, para esclarecimento de dúvidas e
aconselhamento na àrea da criança para pais/cuidadores e até mesmo jovens
inscritos na Unidade Saúde Familiar, com ligação prioritária ao Enfermeiro
Especialista em Enfermagem de Saúde da Criança e do Jovem da Unidade Saúde
Familiar, com início a 1 de junho de 2011 (Dia Mundial da Criança).
Preve-se a primeira avaliação da efetividade da Linha Telefónica Direta aos
três meses, seis meses e um ano de funcionamento, através do número de
atendimentos, dos fenómenos e intervenções registados de acordo com a
Classificação Internacional para a Prática de Enfermagem.
Sugere-se ainda que este estudo seja alargado a outras Unidades de Saúde,
nomeadamente a todo o Agrupamento de Centros de Saúde, assim como a nivel
nacional.