Caracterização do perfil lesional em ginástica artística feminina: um estudo
prospectivo das ginastas Portuguesas de competição ao longo de uma época
desportiva
INTRODUÇÃO
Devido à sua especificidade, a Ginástica Artística Feminina (GAF) impõe às
praticantes um início de actividade desportiva antecipado. Com efeito a elevada
complexidade dos movimentos técnicos e o alto grau de habilidade motora
inerente a esta modalidade, faz com que seja usual as ginastas iniciarem a sua
prática aos 5-6 anos de idade
(29)
, treinarem 20-40 horas semanais
(2),(5)
e atingirem o pico de forma entre os 14-18 anos
(7),(11)(12),(16)
. Decorrente do anteriormente exposto, é frequente encontrar na GAF uma elevada
taxa de lesões
(3),(16)
,26)
que tem sido atribuída, entre outros factores, ao facto dos praticantes serem
ainda crianças, adicionalmente serem crianças permanentemente submetidas a
altos impactos, tanto nos treinos como nas competições(11)e por utilizarem
intensidades de treino extremas(11),(16),
(20),
. No entanto, apesar do potencial risco de lesão, para alguns autores a
ginástica artística pode ser uma modalidade relativamente segura desde que seja
devidamente orientada e adoptada as indispensáveis medidas preventivas
(22),(23)
. Neste contexto, os resultados de estudos epidemiológicos centrados na GAF
poderão, eventualmente, ser um contributo fundamental para a prevenção de
lesões, pelos dados que podem fornecer sobre a sua etiologia, localização
anatómica, tipo e severidade, entre outros.
Em Portugal são escassos os estudos centrados na GAF, sendo mesmo inexistentes
no que se refere à epidemiologia das lesões. Por este motivo, consideramos ser
este um tópico de investigação prioritário de modo clarificar a incidência e
prevalência das lesões na GAF, análise sem a qual não se podem retirar ilações
para a sua prevenção. Deste modo, foi objectivo geral deste trabalho analisar e
caracterizar todas as lesões ocorridas ao longo de uma época desportiva na
totalidade das ginastas portuguesas dos vários escalões de competição. Com base
neste propósito foi formulado o seguinte objectivo específico: caracterizar a
natureza das lesões, por escalão etário, segundo a etiologia, a localização
anatómica, o tipo, a severidade e o aparelho de ocorrência.
METODOLOGIA
Amostra
A população avaliada foi composta pela totalidade (n=79) das atletas de
competição de GAF em Portugal em 2006. Os dados pessoais obtidos por entrevista
simples podem ser observados no Quadro 1. De acordo com a Declaração de
Helsínquia da Associação Médica Mundial, foi obtido o consentimento informado
de todos os pais das ginastas participantes neste estudo, tendo sido igualmente
solicitada a autorização dos respectivos treinadores.
Quadro 1. Caracterização da totalidade da amostra (n=79) de ginastas.
As ginastas das várias idades foram reunidas em 3 grupos: Grupo I - Infantis B
(n=19; 7/8 anos) e Infantis A (n=26; 9/10 anos); Grupo II - Iniciadas (n=12;
10/11 anos) e Juvenis (n=10; 12/13 anos); Grupo III - Juniores (n=5; 13/15
anos) e Seniores (n=7; a partir dos 16 anos).
Avaliação do perfil lesional
Foi efectuada mensalmente uma visita aos clubes das ginastas envolvidos no
estudo e recolhida informação relativa à ocorrência de lesões. Procedeu-se ao
preenchimento de um formulário acerca da etiologia, localização anatómica,
tipo, severidade e aparelho de ocorrência das lesões, ao longo da época
desportiva 2006/07. Foi calculada a taxa de lesões por 1000 horas de exposição
(5).
Perfil antropométrico
As medidas antropométricas avaliadas foram o peso, a altura, as pregas
tricipital e sub-escapular e o perímetro bicipital. Na avaliação da composição
corporal utilizou-se uma balança analógica para o peso (Tanita - Body Fat
Monitor/Scale BF-574) e uma escala de medição da altura (Seca Mod 220). A
partir destes parâmetros calculou-se o Índice de Massa Corporal ' IMC (Kg/m²).
A medição das pregas subcutâneas foi realizada com compassos do tipo Harpenden
em dois pontos: prega cutânea tricipital e sub-escapular, fundamentada por Janz
et al.
(15)
e Heyward e Stolarczyk
(14)
quando se referem à equação de Slaughter et al.(ver ref.14) para estimar a
percentagem de gordura corporal (Gc) em crianças. O Perímetro Bicipital foi
medido com uma fita Harpenden Anthropometric Tape 2m. Para a determinação da
massa gorda e massa isenta de gordura (MIG) ou massa magra, utilizámos as
fórmulas propostas por Malina et al.
(19)
: massa gorda = peso corporal x % gordura; MIG = peso corporal ' massa gorda.
Para avaliar a massa muscular (MM) foram aplicadas as fórmulas de Heymsfield
(13)
.
Procedimentos Estatísticos
No estudo de caracterização da amostra utilizou-se a média ( ), desvio-padrão
(dp), valores mínimos (min) e máximos (max). Para a comparação entre os grupos
I, II e III (Infantis, Iniciadas/Juvenis, Juniores/Seniores) da frequência de
lesões recorreu-se à ANOVA One-Way. Na determinação de valores estatisticamente
significativos entre os pares aplicou-se o Post-hoc de Bonferroni. Com o
objectivo de testar a influência das variáveis de prática desportiva (anos de
prática e número de horas de treino por semana)no ter ou não ter lesão
recorreu-se á utilização da regressão logística. O nível de significância
estatístico foi mantido em 5% (p = 0,05).
RESULTADOS
Caracterização da natureza das lesões ocorridas no total de ginastas e nos
diferentes grupos etários
No Quadro 2 pode observar-se que 43% (n=34) das atletas pesquisadas
apresentaram lesões durante o período de observação. Feita a análise por
escalão, encontrou-se um valor claramente superior nas atletas mais velhas (75%
no grupo III) comparativamente às mais novas (31,1% no grupo I e 50% no grupo
II). Com efeito, a grande maioria das atletas que não apresentou qualquer tipo
de lesão pertencia ao grupo I. No Quadro 3, relativo à etiologia das lesões,
pode observar-se que, à semelhança do descrito no quadro 2, também aqui o grupo
III (52,8%) registou o número mais elevado de lesões (67 num total de 127). Do
mesmo modo, o grupo I continuou a evidenciar o valor mais baixo (22), apesar do
maior número de elementos que o constitui (n=45).
Quadro 2. Número de atletas lesionadas.
Quadro 3. Etiologia das lesões.
Quanto à etiologia das lesões, constatou-se que a maioria (58,3%) ocorreu de
forma súbita, sendo estas consideradas lesões traumáticas. As restantes (41,7%)
tiveram um início gradual, e resultaram do sobreuso das estruturas anatómicas.
O grupo III registou a maior percentagem (59,7%) de lesões traumáticas e o
Grupo II (44,7%) de lesões de sobreuso, no entanto, os valores percentuais nos
três grupos foram idênticos, não tendo sido observadas diferenças
significativas.
Relativamente à ocorrência das lesões (Quadro 4), em termos absolutos, estas
ocorreram maioritariamente durante o treino (92,1%), com valores muito
semelhantes nos três escalões (entre 91-95,5%). Apenas 5,5% aconteceram durante
as competições e quase todas no grupo III. O Quadro 5 indica a taxa lesiva da
época desportiva 2006/07, com base na média de horas de treino e de competição.
A taxa de lesões na presente amostra em treino e competição foi de 2,47 e 1,95,
respectivamente, com o grupo III a apresentar sempre os valores mais elevados
(6,77 e 23,8).
Quadro 4. Local de ocorrências das lesões.
Quadro 5. Taxa de lesões em treino e em competição.
Quanto à tipologia das lesões (Quadro 6), em termos globais, as entorses foram
as afecções mais frequentes (21,3%), seguidas pelas contusões (18,9%) e
contracturas (17,3%). Na análise por escalões, as contracturas foram as mais
frequentes (27,3%) no grupo I, as lesões na cartilagem de crescimento (21,1%)
no grupo II e as contusões (25,4%) e entorses (23,9%) no grupo III.
Quadro 6. Tipo de lesões.
Relativamente à localização anatómica das lesões, mais de metade (53,5%)
ocorreu nos membros inferiores, 24,4% nos membros superiores, 17,3% na coluna e
4,7% no tronco. Quanto à localização corporal, o calcâneo foi o local anatómico
mais atingido (14,2%), seguido da tíbio-társica (11,0%), da coluna dorsal
(9,4%), do joelho e punho (8,7%), dos pés/dedos (7,9%), da coluna lombar (7,1%)
e da coxa (6,3%). Os locais menos atingidos foram o antebraço (4,7%), o ombro,
as mãos/dedos e anca (3,9%), o cotovelo e abdómen (3,1%), a perna e costelas
(1,6%) e a coluna cervical (0,8%).
Verificou-se uma prevalência das lesões traumáticas relativamente às de
sobreuso no membro inferior (40,2% versus 13,4%) e no tronco (4,7% versus 0%).
No entanto, observou-se uma prevalência das lesões crónicas relativamente às
agudas no membro superior (14,2% versus 10,2%) e na coluna (14,2% versus 3,1%).
Relativamente à influência das lesões na actividade dos ginastas, observou-se
que a grande maioria (83,5%) dos traumatismos sofridos causou limitações na
actividade. Com efeito, apenas 16,5% das lesões não se traduziram por
restrições ao treino.
Relativamente à severidade das lesões (Quadro 7) constatou-se que, em termos
globais, a maioria das lesões apresentou uma severidade moderada (30.7%). Já no
que respeita à análise por grupo, a maioria (50%) das lesões no grupo I
apresentou uma severidade moderada, no grupo II grave (37,0%) e no grupo III
ligeira (36,8%).
Quadro 7 ' Categorias relativas à severidade das lesões.
Dos 51% de ginastas que sofreram traumatismos nos diferentes aparelhos (Quadro
8), a maioria lesionou-se na trave olímpica (19,7%) e solo (15,7%), tendo o
salto de cavalo registado o menor número de lesões (3,9%). Já comparando as
lesões ocorridas nos diferentes grupos, verificou-se que a maior parte destas
ocorreu no grupo I nos exercícios de solo (71,4%).
Quadro 8. Ocorrência de lesões por aparelho.
Caracterização do perfil morfológico
No Quadro 9 podem ser observados os valores médios dos vários indicadores
antropométricos e de composição corporal utilizados na caracterização
morfológica da nossa amostra.
Quadro 9. Caracterização antropométrica das ginastas.
Da análise do Quadro 10 constatou-se que os três grupos apresentaram um número
de lesões diferenciado (p=0,00). Utilizando o teste de Post-Hoc de Bonferroni
encontraram-se diferenças entre o grupo III e os grupos I (p=0,00) e II
(p=0,00). Com efeito, as atletas do grupo III apresentaram uma maior ocorrência
de lesões relativamente aos grupos I (5,58 vrs. 0,49) e II (5,58 vrs. 1,73).
Quadro 10. Comparação múltipla entre grupos relativamente ao de número de
lesões (*p=0,05).
O Quadro 11 apresenta os resultados do modelo de regressão logística em que
foram incluídas as variáveis de prática desportiva com o objectivo de testar a
sua influência no ter ou não ter lesão. Pela observação dos efeitos
principais de cada uma das variáveis explicativas, constatou-se o seguinte: (1)
as ginastas Infantis têm menor probabilidade de contraírem uma lesão
relativamente às Juniores/Seniores; (2) quanto maior o número de anos de
prática, o número de h/semanais de treino, maior a possibilidade das ginastas
contraírem uma lesão.
Quadro 11. Resultados do Modelo de regressão logística para testar a sua
influência em ter ou não ter lesão (*p=0,05).
DISCUSSÃO
Perfil lesional
Para alguns autores a ginástica é uma modalidade potencialmente indutora de
lesões(11), tendo sido referido que a taxa anual de lesões na GA é das mais
elevadas no desporto feminino(16),
(18)
ou mesmo que o risco lesivo duplica relativamente a outras modalidades
desportivas(20). De acordo com a National Collegiate Athletic Association
(NCAA)
(21)
, a ginástica ocupa o segundo lugar do ranking quanto à taxa e à severidade das
lesões, com 6,2 lesões por 1000h de exposição e com lesões que ocasionam mais
de 7 dias de restrição da actividade, valor próximo da taxa lesiva encontrada
no grupo III (6,8) do nosso estudo. Na apreciação da taxa de lesões em 1000h de
prática, verificou-se que na globalidade das atletas, a taxa de ocorrência de
lesões no treino (2,47), foi superior à da competição (1,95), valores
condizentes com os valores apresentados por diversos autores
(5),(17)
,(18). No entanto, apesar de nos grupos I e II a taxa de lesões, em treino e
competição, ter sido similar, essa tendência não se verificou no grupo III, com
uma taxa lesiva muito superior na competição (23,80 vrs 6,77). A NCAA 1993/94
também menciona que o risco lesivo é normalmente 3 vezes superior em competição
(8).
Também os anos totais de prática, quando analisados independentemente de outras
variáveis, se mostraram influentes no aparecimento de lesões (OR: 1,43; IC95%:
1,16-1,76). De facto, os nossos resultados evidenciaram que quanto maior for o
número de anos de prática de uma ginasta, tanto maior será a predisposição para
o aparecimento de lesões. De forma similar, as horas de prática semanal das
ginastas potenciam o aparecimento de lesões
(1)
.
Efectivamente, ao utilizar o modelo de regressão logística, concluímos
igualmente que quanto maior for o número de horas de treino semanal, tanto
maior será a hipótese da ginasta contrair uma lesão (OR: 1,42; IC95%: 1,20-
1,69).
Adicionalmente, tal como referido por Kirialanis et al.(16), verificámos que as
atletas lesionadas treinavam mais horas por semana do que as não lesionadas.
Relativamente à etiologia das lesões, os valores médios encontrados para as
lesões traumáticas (58,3%) e de sobreuso (41,7%) encontram-se dentro dos
intervalos referidos por diversos autores (5),(12),(16)
,(17),(18),(25),(28)
. Os nossos resultados sugerem que as atletas com maior volume e anos de
treino, maior coeficiente de dificuldade nos exercícios e um perfil lesional
anterior mais acentuado, evidenciam uma maior predisposição para contrair
lesões de sobreuso. De facto, o grupo I apresentou o número mais baixo de
lesões deste tipo (7,1%), com as Infantis B a não apresentaram mesmo qualquer
lesão de sobreuso, o que está de acordo com a literatura que define uma relação
positiva entre a quantidade de tempo dispendida no ginásio e as lesões crónicas
por acumulação de microtraumas(20),(25). Com efeito, o tipo, a frequência, a
intensidade e a duração do treino revelam um papel importante na etiologia das
lesões de sobreuso
(24)
. Deste modo, as ginastas podem ter lesões de sobreuso apenas pela necessidade
de repetição de certas rotinas, centenas ou milhares de vezes, até obterem
consistência nos seus gestos e exercícios.
Relativamente à localização anatómica das lesões, o nosso estudo seguiu a
tendência encontrada na literatura(3),(5),(8),(12),(17),(20), com mais de
metade (53,5%) das afecções a atingirem o membro inferior, seguindo-se o membro
superior (24,4%), a coluna vertebral (17,3%) e o tronco (4,7%). Mais
detalhadamente, os locais mais predispostos às lesões foram o calcâneo e a
articulação tíbio-társica, confirmando os resultados de Dixon e Fricker(12) que
referem as entorses da tíbio-társica como as lesões mais frequentes do membro
inferior. Esta predisposição pode, em grande medida, ser justificada pelo alto
impacto típico desta modalidade, tanto nas recepções como nas constantes
impulsões, ao que acresce a necessidade de manter permanentemente o controlo
proprioceptivo de forma a assegurar o equilíbrio em qualquer situação. Já no
que se refere ao membro superior, o punho (8,7%) foi claramente o local mais
atingido, uma vez que as extremidades superiores são utilizadas tanto como
membros de suporte, como receptores de alto impacto. Relativamente à coluna
vertebral, a região mais afectada foi a região dorsal (9,4%) seguida da lombar
(7,1%), resultados ligeiramente diferentes das pesquisas de Wadley e Albright
(28) e de Caine(3)que referem o segmento lombar como o mais afectado. As causas
dos sintomas na coluna das ginastas são a consequência de posturas repetidas de
flexão e hiper-extensão durante os voos, saídas e mortais, associadas a
posturas hiperlordóticas com fortes cargas de impacto vertical durante as
recepções(3).
Quanto à tipologia das lesões, o número elevado de contracturas, entorses e
fracturas observadas nas ginastas mais novas, poderá eventualmente estar
relacionado com diferentes factores entre os quais poderíamos referir a
utilização de gestos inadequados, falta de controlo corporal, laxidez
ligamentar, desequilíbrios musculares, factores proprioceptivos, ou mesmo
imaturidade óssea. Waddington
(27)
refere precisamente que a fase de crescimento em que se encontram as atletas,
está relacionada com a particular susceptibilidade a certos tipos de lesões,
nomeadamente luxações e fracturas. Nestes escalões, as atletas estão numa etapa
de aquisição de habilidades/coordenação e numa fase de desenvolvimento espaço-
temporal. Portanto, tanto a falta de domínio no aparelho como as constantes
situações de aprendizagem podem ser igualmente a causa destas lesões
traumáticas. Já no caso das atletas Juniores/Seniores, com um nível de controlo
corporal e proprioceptivo superior, esperávamos encontrar maioritariamente
lesões mais severas, tais como fracturas e luxações, no entanto não se observou
nenhuma ocorrência desse tipo. De facto, as contusões e as entorses foram as
lesões de maior incidência no grupo III, possivelmente em consequência do
grande número de impulsões e recepções.
Relativamente às lesões nas cartilagens de crescimento, verificámos que as
ginastas mais velhas, contrariamente ao esperado, também as contraem,
provavelmente por ainda não terem atingido a maturidade óssea e sexual. Deste
modo, torna-se relevante conhecer as fases de desenvolvimento de cada ginasta,
em particular, e não trabalhar somente em função da idade cronológica. No caso
de imaturidade óssea, em que a jovem ginasta ainda não atingiu o termo do seu
crescimento e não apresenta uma ossificação completa, o limite de tolerância
das epífises pode ser excedido por mecanismos de stress inerentes à modalidade
(6),
(10)
. Nesta fase, poderá ser pertinente proteger as cartilagens articulares das
forças de compressão, de deslize e de rotação, reduzindo o número de repetições
consecutivas, utilizando mais o trampolim, utilizando protecções e treinando
flexibilidade durante o pico de salto de crescimento.
Em relação à severidade das lesões, os resultados da nossa pesquisa são
semelhantes aos referenciados na literatura (5),(16): 26,8 - 40,8% para as
ligeiras; 33,3 - 44,0% para as moderadas; 25,9 - 29,0% para as graves. Quanto à
ocorrência de lesões por aparelho, a literatura refere, por ordem decrescente
de importância, o solo (33,9-47,7%), a trave (17,4-23,1%), as paralelas (9,2-
20,0%) e o salto de cavalo (12,8-14,5%)(16),(18),(20),(25). Em termos globais,
a trave revelou-se o aparelho mais lesivo, particularmente no grupo III onde
foi responsável por 45.2% das lesões (especialmente contusões nos pés). Já nos
grupos I e II os resultados foram similares aos da literatura, com o solo a
apresentar o maior número de lesões, especialmente no grupo I (71,4%). O solo é
particularmente traumático porque é o local onde se realiza a aprendizagem da
maioria das habilidades, com as forças (nas impulsões e recepções) a variarem
entre 5 e 17,5 vezes o peso do corpo(26).
Para concluir, existem tendências gerais notórias na natureza das lesões
ocorridas nas ginastas portuguesas, tanto em função da sua etiologia
(eminentemente traumática), como da localização anatómica (envolvendo
principalmente a articulação tíbio-társica e o calcâneo). Finalmente,
constatou-se a influência de cargabilidade (h/semanais treino) no aparecimento
de lesões.