Os jardins digitais e o sedentarismo
EDITORIAL
Os jardins digitais e o sedentarismo
Com a revolução industrial verificou-se uma restrição do movimento físico
conduzindo, por vezes, a uma anulação quase completa da actividade física. Esta
redução na actividade física acarreta, tanto entre jovens como entre indivíduos
menos jovens, uma diminuição da qualidade de vida e da aptidão física. A
actividade física constitui uma importante medida profilática contra patologias
da civilização moderna, como por exemplo o stress. Esta necessidade de
exercício do homem actual não é uma moda, mas antes uma iminência exigida pela
indesejável adaptação do organismo humano ao modus vivendi actual.
A evolução do Homo Sedentaris tem sido feita a um ritmo alucinante, bem mais
rápido do que as espécies que lhe deram origem. Vejamos um exemplo tão caricato
quanto triste. Um dos municípios mais importantes de Portugal anunciou
recentemente a brilhante ideia de apetrechar os seus parques da cidade com
Internet sem fios. Para melhor esclarecer, estamos a falar mesmo de parques
verdes, de jardins, com árvores e passarinhos chilreando... Reparem nos novos
horizontes que uma medida tão simples pode trazer Imaginemos os papás e mamãs
daquela cidade saindo de casa com as suas crianças num lindo dia de sol e, cada
membro da família com o seu portátil na maleta, se instalarem confortavelmente
à sombra de uma árvore e navegarem pelo mundo. Nada de bolas de futebol, cordas
de saltar e outros brinquedos não. Há que educar as criancinhas de acordo com
os tempos modernos e substituir esses objectos pelo computador! E será que à
sombra das árvores não poderão os portáteis padecer de mazelas quando pingar um
dejecto de passarinho sobre o teclado ou o ecrã? Bem, o melhor seria talvez
eliminar toda a espécie de aves desses espaços. E mesmo sem pássaros será que a
seiva das árvores não poderá igualmente danificar o instrumento de fruição dos
munícipes? E que tal, já agora, retirar também as árvores? Como ambas as
medidas seriam pouco ecológicas e alvos fáceis dos ecologistas, talvez
solucionar de uma forma mais simples. Porque não construir uns cubículos nos
jardins para os cibernautas? Esta solução até poderia protegê-los da radiação
ultravioleta e poupar assim alguns cancros de pele!
Este mero exercício de futurismo, mas não necessariamente de ficção, ilustra a
ideia de que o sedentarismo nas sociedades modernas galga por vezes as margens
do razoável.
O Editor
Victor Machado Reis