O consumo de antioxidantes e o balanço energético na dieta de praticantes de
hidroginástica em idade sénior
O consumo de antioxidantes e o balanço energético na dieta de praticantes de
hidroginástica em idade sénior
Filomena Calixto, Luis Silva.
Laboratório de Investigação em Desporto. Escola Superior de Desporto de Rio
Maior.
Instituto Politécnico de Santarém. Rio Maior. Portugal.
E-mail:fcalixto@esdrm.pt
Introdução: existe uma evidência epidemiológica muito sustentada que associa o
consumo de alimentos vegetais (cereais, frutas e legumes) à redução da
incidência de numerosas doenças cardiovasculares, cancerígenas,
neurodegenerativas e à preservação da saúde no geral. Também é aceite e está
largamente demonstrado que a actividade física associada a uma dieta
equilibrada contribui para a saúde e o bem estar do indivíduo (Coyle, 2000).
Sabe-se ainda que o exercício físico funciona como um factor de stress
fisiológico e metabólico (Quiles et al., 1999), devido ao aumento da actividade
mitocondrial que leva a um incremento na produção de radicais livres. O
exercício moderado praticado pelo menos cinco vezes por semana está relacionado
com uma melhoria da saúde do indivíduo (ACSM, 2005). O exercício demasiado
intenso e prolongado com períodos de recuperação deficientes tem sido
relacionado com uma redução das capacidades e funções imunitárias (Gleeson et
al., 2001, 2004,Nieman, 1995) e com alterações bioquímicas e hormonais (Gleeson
and Bishop, 2000) características dos estados de stress. Em qualquer dos casos
os mecanismos de defesa antioxidante associados ao consumo adequado de fontes
alimentares ricas em antioxidantes é essencial para potenciar os efeitos
benéficos do exercício ou para atenuar os efeitos do stress oxidativo. Embora a
actividade física seja aconselhada em idade sénior, a capacidade para mobilizar
os mecanismos antioxidantes reduzem tornando ainda mais pertinente o cuidado
com uma alimentação equilibrada e rica em fontes alimentares antioxidantes. As
doenças neurodegenerativas associadas ao aumento da idade revelam
frequentemente um baixo conteúdo energético das células nervosas e benefícios
de uma dieta rica em antioxidantes e co-factores implicados no metabolismo
energético. Por isso, a prescrição do exercício em idade sénior deve ser
acompanhado de um adequado aconselhamento nutricional muito raramente
encontrado nos programas de sensibilização destas populações.
Objectivo:o objectivo deste estudo foi o de analisar o consumo de fontes
alimentares antioxidantes e nutrientes energéticos num grupo de indivíduos
seniores praticantes regulares de hidroginástica, e avaliar se os seus hábitos
alimentares correspondem às exigências em nutrientes energéticos e
antioxidantes relacionados com a sua idade associada à prática do exercício.
Metodologia:homens e mulherescom idade média de 61.7±6.4 anos, com hábitos de
vida activo, vivendo em Lisboa ou arredores e praticantes de hidroginástica 2
ou 3 vezes semanais, foram recrutados para o estudo. Os sujeitos preencheram um
inquérito durante três dias de prática de exercício, que forneceu informação
detalhada sobre o consumo de alimentos sólidos, líquidos, suplementação
farmacêutica e medicação. Os dados de nutrientes obtidos a partir dos alimentos
ingeridos foram analisados utilizando o software PIABAD (Instituto de
Alimentação Becel, versão portuguesa). Os dados foram comparados com as doses
diárias recomendadas adequadas á idade média dos indivíduos. Os resultados
serão apresentados como média±SD.
Resultados:o consumo de alimentos do grupo dos cereais, frutos, carne-pescado-
ovos, óleos-gorduras, tubérculos-hortícolas, lacticínios, leguminosas e
confeitaria pelos sujeitos estudados foi de, respectivamente 7.9, 12.7, 12.4,
0.8, 29.1, 28.4, 4.2 e 4.5%. O consumo energético médio da amostra foi de
1693.2±414.9 Kcal, e o balanço dos vários macronutrientes energéticos,
glícidos, lípidos e prótidos foi de, respectivamente 55, 18 e 27%. A tabela 1
mostra o resultado do consumo médio diário dos nutrientes antioxidantes:
vitaminas A, C e E, b-Caroteno, cobre, ferro, selénio e zinco.
Tabela 1: Quantidade média (mg/dia) de nutrientes antioxidantes, vitaminas, b-
Caroteno e sais minerais, consumidos pelos indivíduos estudados.
_________________________________________________________________
| ___|Vitaminas____________|b-Caroteno|Sais_Minerais_____________|
| ___|A_____|C________|E___|__________|Cu___|Fe___|Se___|Zn______|
|Médi|321.33|79.55____|7.27|0.42______|0.80_|10.42|0.040|6.80____|
|SD___|165.24|40.76____|5.70|0.064_____|0.079|3.33_|0.024|2.54____|
|RDA__|800___|M-90_F-75|15__|9.6_______|0.9__|8____|0.055|M-8_F-11|
SD ' desvio padrão. *RDA ' dose diária recomendada (mg/dia) para indivíduos
saudáveis
O grupo de indivíduos estudado consome uma quantidade inferior de lípidos (18
versus 30% recomendados) e superior de prótidos (27 versus 10 a 15%
recomendados). No entanto, 11% dos lípidos consumidos contêm ácidos gordos
essenciais o que prefaz 2.15% do total energético, devido ao elevado consumo de
pescado e marisco. Por outro lado, o consumo elevado de lacticínios, carne,
pescado e ovos resulta numa quantidade elevada de consumo proteico que
associado a uma dieta lipídica baixa poderá contribuir para o stress metabólico
por aumentar o metabolismo proteico. O consumo de vitaminas A, C e E e de b-
Caroteno foi inferior ao recomendado, excepto a vitamina C no caso das mulheres
seniores. No entanto, contrariamente ao valor recomendado, a amostra refere-se
a mulheres praticantes de hidroginástica. Os resultados referentes à vitamina A
e b-Caroteno, combinados com um baixo consumo de lípidos pode reduzir a
absorção, comprometendo ainda mais a disponibilidade daqueles nutrientes. Os
sujeitos revelaram um consumo ligeiramente inferior de Cu, Se e Zn que o RDA,
mas superior de Fe, concordante com o elevado consumo de carne. Tratando-se de
indivíduos praticantes de exercício seria conveniente a ingestão de uma
quantidade de nutrientes antioxidantes mais adequada.
Discussão: os resultados demonstram que os indivíduos estudados não ingerem a
quantidade recomendada para indivíduos activos, praticantes de exercício
físico, de fontes alimentares antioxidantes, quer de vitaminas, provitaminas ou
sais minerais e consomem dietas com alto conteúdo proteico e baixo conteúdo
lipídico, contribuindo para agravar os estados de stress oxidativo. Estas
condições afectam o organismo favorecendo os efeitos associados ao
envelhecimento celular prematuro. Concluímos que é necessária maior informação
e aconselhamento associada à prática de exercício. Os indivíduos activos,
nomeadamente em idade sénior, devem ser alertados para o facto de que os
benefícios que procuram no exercício estão relacionados com um equilíbrio
nutricional adequado, necessário à redução do stress associado à idade e à vida
activa, e que só desta forma os resultados concorrem para uma perfeita saúde e
bem-estar.