Revista Motricidade: novas exigências, novos desafios
Editorial ' Director
Revista Motricidade: novas exigências, novos desafios
Ao longo dos últimos tempos temos assistido a uma crescente preocupação por
parte dos investigadores, e até por parte dos jovens formandos, para publicar
os resultados obtidos em projectos de pesquisa. A esta pressão nem sempre os
estudiosos têm respondido da melhor forma. Há uma aposta clara em se obter o
maior número possível de publicações e no mais curto espaço de tempo, mas esse
volume nem sempre é acompanhado da qualidade desejável. Neste editorial
debruçamo-nos, de forma breve, sobre alguns aspectos associados à crescente
procura para publicar em revistas indexadas, assim como tecemos algumas
considerações quanto às medidas que julgamos necessárias para garantir a
qualidade tal como esta deve estar associada tanto ao prestígio dos
pesquisadores como das revistas onde escolhem divulgar os seus trabalhos.
Os governos contemporâneos têm integrado nos seus programas políticos, e alguns
até nas suas políticas orçamentais, incentivos à produtividade científica.
Estes estímulos, porém, tendem a privilegiar algumas áreas científicas mais do
que outras, nomeadamente aquelas que estão mais directamente relacionadas à
criação e desenvolvimento de produtos que possam ser, rapidamente,
transformados em mais-valias para os interesses do sector industrial. Os
diferentes países, para além de alargarem a percentagem de financiamento para a
pesquisa científica, têm tido o cuidado de criar instituições cujo objectivo é
financiar algumas formas de divulgação do conhecimento desenvolvido.
Presentemente, herdamos um sistema em que as Universidades são por norma os
lugares onde a produção científica se desenvolve mais intensamente. Em nome do
desenvolvimento da excelência, as universidades são avaliadas e comparadas
entre si em função das publicações que o seu corpo docente foi capaz de
produzir (intencionalmente não abordamos as questões associadas ao
financiamento de projectos). Em resposta a esta solicitação (poderá ser lido
como exigência) os docentes e investigadores universitários têm procurado
estratégias para poderem dar uma resposta adequada às solicitações e critérios
impostos pelas agências financiadoras. Para uns essa resposta tem consistido em
transformar as dissertações de mestrado num número específico de artigos a
serem publicados conjuntamente, obviamente pelo mestrando e o seu orientador.
Outros vão um pouco mais longe e instituíram que os co-autores são todos os que
participam no júri das provas de mestrado. Decerto que há outras alternativas,
uma vez que essa prática parece estimular a criatividade de alguns que
apresentam em substituição da tradicional tese a publicação de dois artigos
publicados em revistas indexadas como requisito para obtenção do grau de
mestre. Algumas instituições fazem o mesmo ao nível de doutoramento
estabelecendo que o grau seja atribuído com a publicação de quatro artigos, por
exemplo.
Há diferenças qualitativas e substanciais entre os propósitos de uma tese de
mestrado ou de doutoramento e o de um artigo científico. O que se verifica na
prática é que há uma tendência para decompor a tese a tese tradicional em
pequenos trabalhos e para o efeito fazem-se estudos com um número muito
reduzido de variáveis independentes e normalmente as variáveis apresentadas no
segundo artigo fariam todo o sentido se tivessem sido tratadas simultaneamente
com as do primeiro. Em suma, produzem-se trabalhos sem qualquer interesse
científico, na medida em que os resultados conseguidos nada acrescentam ao
conhecimento. Consequentemente, importa implementar medidas e critérios de
selecção que visem evitar que esses trabalhos sejam publicados.
Face a esta crescente realidade, julgamos ser imperioso que as revistas
científicas desempenhem um papel selectivo no que se refere ao processo de
divulgação de resultados e de estudos. Assim, a revista Motricidade, já a
partir do próximo ano de 2010, implementará uma politica editorial em que a
complexidade dos desenhos e a complexidade teórica assumirão uma preponderância
mais acentuada. De alguma forma, também procuraremos desencorajar a submissão
de trabalhos de revisão de bibliografia que tendem a ser retirados das teses.
Assim, só serão considerados textos de revisão os que se apresentarem como
sendo verdadeiramente trabalhos aprofundados sobre um tema e em que os autores
se apresentem com uma história de investigar nessa temática. Por último, um
outro aspecto que tomará em consideração prende-se com o número de autores por
artigo.
Até à data as instituições financiadoras da investigação científica
disponibilizavam algumas verbas para custear, mesmo que parcialmente, as
edições de revistas científicas de prestígio. No quadro da crise financeira
actual, chegou, também, a hora de se dizer que é da maior importância reduzir
custos e, naturalmente, seguem-se os cortes ao financiamento para a edição dos
periódicos. Face a esta nova realidade, as revistas, para se manterem actuais e
viáveis, são obrigadas a terem de encontrar fontes de receita para suportar
os custos que decorrem da edição em papel. É bom recordar que todo o trabalho
editorial é gratuito.
Face a esta nova realidade, a Revista Motricidade, até ao final do ano,
encontrará estratégias financeiras que lhe permita prosseguir, de uma forma
ainda mais agressiva, a sua política de incentivo à publicação de trabalhos, o
que provavelmente, se traduzirá na cobrança aos autores de um quantitativo para
poderem publicar os seus trabalhos. Na nova política a implementar será tido em
consideração o número de autores por artigo, sendo penalizados os manuscritos
que apresentarem um maior número de participantes na co-autoria. Com as verbas
a serem cobradas, procuraremos estabelecer um prémio para o artigo da Revista
Motricidade mais citado, assim como um prémio para o revisor que no final de
cada volume se estabelecer com maior mérito no desempenho desta tarefa,
nomeadamente no que se refere ao número de artigos revistos, mas também o tempo
médio gasto nas tarefas de avaliação entre pares.
Novos tempos exigem medidas inovadoras, para que possamos continuar a poder ser
uma das revistas preferidas para a divulgação dos novos saberes, assim como a
manter motivados aqueles que graciosamente nos oferecem o seu tempo para o
desempenho da função de revisores.
José Vasconcelos Raposo
Professor Catedrático