Relação entre a gordura corporal e indicadores antropométricos em adultos
frequentadores de academia
A literatura tem apontado que a concentração de gordura na região abdominal,
independentemente da gordura corporal total, é fator determinante de múltiplos
distúrbios cardiovasculares e metabólicos (Goodpaster et al. 2005; Rexrode et
al., 1998; Silva, Barbosa, Oliveira, & Guedes, 2006). O aumento excessivo
da gordura corporal está fortemente associado com o risco de morte
(Wannamethee, Shaper, Lennon, & Whincup, 2007), representando assim, um dos
maiores problemas atuais de saúde pública (Cavalcanti, Carvalho, & De
Barros, 2009).
A absortometria radiológica de dupla energia (DXA) é um método bem estabelecido
no meio científico, com acurácia e reprodutibilidade válida na estimativa da
gordura corporal, no entanto, é uma técnica que requer elevado custo
operacional e técnicos especializados (Ellis, 2000). Dessa forma, métodos
indiretos como a mensuração de dobras cutâneas têm sido utilizados, por meio de
equações de regressão para a estimativa da gordura corporal, tendo como
vantagens a aplicabilidade em grandes grupos, rapidez, baixo custo operacional
e ser um método não invasivo (Carvalho & Pires Neto, 1999).
Ainda no contexto antropométrico, vários indicadores são propostos na
literatura para a avaliação do estado nutricional, bem como o diagnóstico de
riscos à saúde por conta de aumentos na gordura corporal. O índice de massa
corporal (IMC), desenvolvido por Quetelet em 1871, é um dos procedimentos mais
usados para avaliação do excesso de peso e obesidade em estudos epidemiológicos
(NHLBI, 1998; Rech, Petroski, Silva, & Silva, 2006).
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS), além da massa corporal e da
estatura, devem ser medidos a circunferência da cintura (CC) e circunferência
do quadril (CQ), pois o aumento da deposição de gordura abdominal na população
pode fornecer um indicador sensível (WHO, 1995). Entretanto, estudos apontam
para perda da sensibilidade quando utilizado a razão cintura-quadril (RCQ) como
indicador de risco, pois o quadril inclui a gordura subcutânea pélvica, a massa
muscular e o tamanho do osso pélvico horizontal (Page et al., 2009). Uma
alternativa proposta, ainda utilizando a CC, é a razão cintura-estatura (RCE),
onde ocorre um ajuste da CC pela estatura (Flegal et al., 2009). A
circunferência abdominal (CA) também tem sido utilizada como um indicador da
distribuição central da gordura corporal (Alvarez, Vieira, Sichieri, &
Veiga, 2008). Nesse sentido, os indicadores antropométricos têm como objetivo
refletir o excesso de gordura corporal, esse fato se torna importante pela
praticidade na utilização desses indicadores por profissionais na área da
saúde.
Os profissionais envolvidos em programas interdisciplinares para redução/
controle da gordura corporal necessitam de ferramentas válidas para prescrever
exercícios e monitorar a efetividade do programa em grandes grupos de
praticantes, sobretudo quando o objetivo é a modificação na quantidade de
gordura corporal (Costa, Guiselini, & Fisberg, 2007). Assim pode-se
hipotetizar que os indicadores antropométricos (IMC, CC, RCQ, RCE e CA) possuem
relação com o percentual de gordura corporal (% GC) em frequentadores de
academia de ambos os sexos.
Dessa forma, os objetivos do presente estudo foram: 1) verificar a utilidade
dos indicadores antropométricos (IMC, CC, RCQ, RCE e CA) em frequentadores de
academia de ambos os sexos; 2) analisar e comparar as diferenças dos
indicadores entre as faixas etárias e sexos; e, 3) verificar a magnitude da
relação entre os indicadores antropométricos com o %GC.
MÉTODO
Amostra
Participaram do estudo 438 alunos praticantes de exercícios físicos de uma
academia de ginástica de Florianópolis/SC/Brasil, sendo 195 homens e 243
mulheres, com idade média de 31.3 ± 8.1 anos e 32.2 ± 8.6 anos,
respectivamente, com amplitude de 18 a 50 anos de idade. Foram selecionados por
procedimento não-probabilístico, do tipo intencional, onde os alunos que
realizavam exercícios resistidos por no mínimo um mês passaram por uma rotina
de avaliações de aptidão física, incluindo a realização de medidas
antropométricas. Esta pesquisa seguiu os princípios éticos de respeito à
autonomia das pessoas, apontados pela Resolução n° 196/1996, do Conselho
Nacional de Saúde. Todos os sujeitos que participaram do estudo assinaram um
termo de consentimento livre e esclarecido.
Procedimentos
Foram mensuradas as variáveis de massa corporal e estatura por meio de uma
balança eletrônica WELMY, modelo R-110 (precisão de .1 kg) e estadiômetro
portátil SANNY, EUA (precisão de .1 cm), respectivamente, atendendo às
padronizações sugeridas por Gordon, Chumlea e Roche (1991). As medidas de peso
e estatura foram utilizadas para o cálculo do IMC, onde o peso (kg) é dividido
pelo quadrado da estatura (m), utilizando-se os pontos de corte propostos pela
WHO (1995).
A medida da CC foi realizada utilizando o procedimento descrito por Callaway et
al. (1991), onde a fita inelástica é colocada horizontalmente, no seu menor
perímetro. As medidas foram realizadas com a fita sobre a pele, todavia sem
compressão dos tecidos. Foi utilizada uma fita métrica flexível com precisão de
1 mm. A RCE foi calculada por meio da razão da CC (cm) pela estatura (cm).
A CQ foi mensurada com uma fita métrica, colocada horizontalmente em volta do
quadril na parte mais saliente dos glúteos (Callaway et al., 1991). A RCQ foi
obtida pela divisão da CC (cm) pela CQ (cm). A CA foi identificada em seu maior
perímetro, não sendo necessariamente localizada sobre a cicatriz umbilical
(Callaway et al., 1991). A fita foi colocada em torno do abdômen do avaliado,
de trás para frente, mantendo-a no plano horizontal e após uma expiração
normal.
Para a medida critério, foram mensuradas as dobras cutâneas com a utilização de
um plicômetro SANNY, modelo AD-1010 (precisão de 1 mm). Todas as dobras
cutâneas foram realizadas no hemicorpo direito do sujeito, seguindo o padrão
descrito por Harisson et al. (1991). Mensuraram-se três medições em todas as
medidas antropométricas, adotando-se a média como valor final, assim como foram
realizadas por um mesmo avaliador. A estimativa da densidade corporal foi
obtida pelo modelo de regressão proposto por Jackson e Pollock (1978) para
homens, onde são mensuradas três dobras cutâneas (peitoral, abdominal e coxa
média). Para as mulheres foram mensuradas as dobras cutâneas das regiões
tricipital, supra-ilíaca e coxa média (Jackson, Pollock, & Ward, 1980). O
cálculo do % GC foi realizado pela conversão da densidade corporal utilizando a
equação de Siri (1961).
Análise estatística
Empregou-se a análise descritiva (média, desvio-padrão e amplitudes) para
apresentação inicial dos resultados. Verificou-se a distribuição normal dos
dados por meio da análise gráfica dos histogramas. A comparação entre os sexos
foi testada por meio do teste t de Student para amostras independentes, ainda,
para testar a diferença entre as faixas etárias, utilizou-se a ANOVA one-way,
seguido do post-hoc de Tukey. Para verificar a relação dos indicadores
antropométricos com o % GC, utilizou-se a correlação linear de Pearson e a
análise de regressão linear simples, respectivamente. Em todas as análises foi
utilizado o pacote estatístico Statistical Package for the Social Sciences
(SPSS), versão 15.0 para Windows, estabelecendo um nível de significância de
5%.
RESULTADOS
Com o objetivo de visualizar as características da amostra avaliada, o quadro 1
apresenta os valores médios e desvios padrão dos participantes do estudo,
estratificada por sexo e faixas etárias. Em todas as variáveis analisadas,
houve diferenças significativas entre os sexos (p < .05).
Quadro_1
Valores médios e desvios padrão das características antropométricas dos
participantes do estudo
De acordo com a classificação do IMC proposta pela WHO (1995), verificou-se uma
frequência relativa de 42.1% dos sujeitos, do sexo masculino, sendo
identificados como eutróficos, 47.1% apresentaram sobrepeso e 10.8% obesidade.
Em contrapartida, para o sexo feminino, observou-se que 84.8% foram
classificadas como eutróficas, 11.9% apresentaram sobrepeso e 3.3% obesidade.
O quadro 2 mostra os valores médios e desvios padrão dos indicadores
antropométricos. Novamente foram encontradas diferenças significativas entre os
sexos em todos indicadores antropométricos avaliados na pesquisa (p < .05).
Quadro_2
Valores médios e desvios padrão dos indicadores antropométricos
A faixa etária de 40 a 50 anos apresentou diferença significante (p < .05) para
todos os indicadores antropométricos ao serem comparadas com as faixas etárias
mais jovens, nas mulheres. Os resultados no sexo masculino mostraram que tanto
a CC como RCE foi significantemente menor (p < .05) para o grupo mais jovem
comparado com as faixas etárias de 30 a 39 anos e 40 a 50 anos. Já a RCQ
apresentou diferença significativa (p < .05) em todos os grupos de homens,
divididos por faixas etárias.
O quadro 3 apresenta os valores da correlação linear de Pearson e coeficientes
de determinação entre o % GC com os indicadores antropométricos avaliados.
Observa-se que o IMC foi o indicador que teve maior correlação com o % GC para
as mulheres. Entretanto, para esse sexo, estratificado por faixas etárias nota-
se uma aproximação muito grande na correlação entre o % GC com o IMC, CA, CC e
RCE. Já para os homens, em todas as faixas etárias, a CA foi indicador
antropométrico com mais forte relação com o % GC. A RCQ foi o indicador com
menor relação com o % GC em ambos os sexos (quadro 3).
Quadro_3
Coeficientes de correlação linear (r) e coeficientes de determinação (R2) entre
o % GC com os indicadores antropométricos
A figura 1 apresenta gráficos de dispersão, onde é possível verificar a
disposição e tendências na relação entre o IMC e CA com o % GC, estratificados
por sexo. Observa-se maior variabilidade dos respectivos indicadores
antropométricos no sexo masculino, quando comparado ao feminino.
Figura_1. Gráfico de dispersão entre o % GC e os indicadores antropométricos
IMC e CA
DISCUSSÃO
O principal objetivo deste estudo foi verificar a relação de diferentes
indicadores antropométricos com a gordura corporal relativa em adultos
frequentadores de academia de ambos os sexos. O achado mais importante do
presente estudo foi evidenciar que todos os indicadores antropométricos tiveram
uma correlação positiva e significante com o %GC, com ênfase, o IMC e a CA
foram os indicadores que apresentaram maior força na relação, em mulheres e
homens, respectivamente. Essa análise reforça a possibilidade de utilizar
indicadores antropométricos como uma alternativa na avaliação e prescrição de
exercícios em grupos de larga escala. A praticidade e o baixo custo na
avaliação permitem uma maior amplitude no escopo de monitoramento do estado
nutricional da população, auxiliando programas de intervenções a nível
epidemiológico.
As medidas antropométricas são frequentemente utilizadas como indicadores da
localização de gordura central, em estudos epidemiológicos, que visam
identificar o risco para doenças cardiovasculares (Page et al., 2009). No
entanto, ainda há discussões sobre a melhor medida para este fim, uma vez que
um bom indicador de localização deveria associar-se de maneira independente de
sexo, idade e adiposidade total, com os marcadores de risco para as doenças
cardiovasculares (Alvarez et al., 2008).
Em estudo recente, Costa et al. (2007), identificaram a relação do % GC com o
IMC em 799 frequentadores de academia com idade entre os 20 e os 50 anos (363
homens e 436 mulheres) e tiveram como resultados uma correlação maior entre as
variáveis quando comparado ao atual estudo (R2 = .58 para homens e R2 = .68
para mulheres). Em adição, os dados também indicaram uma relação maior para as
mulheres do que para os homens.
A diferença entre as correlações do % GC com o IMC entre homens e mulheres (r =
.54 e r = .73, respectivamente) eram esperadas visto que os homens possuem uma
maior quantidade de massa corporal magra comparado às mulheres. Nesse caso, com
a utilização do IMC existe a possibilidade de diagnosticar falsos-positivos, ou
seja, identificar indivíduos como sobrepeso e obesos enquanto eles possuem
aumentos na massa corporal magra, indicando um diagnóstico inadequado. No
entanto, não foi o objetivo do presente estudo testar a sensibilidade e
especificidade dos pontos de corte.
Ao analisar o quadro_3 percebe-se que no sexo masculino, o IMC teve maior
correlação com o % GC na faixa etária de 40 a 50 anos (r = .71) do que as
faixas etárias anteriores (r = .49 para 18 a 29 anos e r = .55 para 30 a 39
anos). Com o passar dos anos, especialmente dos 40 aos 60 anos de idade,
ocorre, gradativamente, um aumento do peso corporal e uma diminuição da
estatura, explicada, em grande parte, pela perda de massa óssea, o que
influencia diretamente no IMC (Matsudo, Matsudo, & Barros Neto, 2000). Os
autores acrescentam que o processo de envelhecimento inclui um aumento da
gordura corporal, diminuição da massa livre de gordura e seus principais
componentes (mineral, água, proteína e potássio), diminuição da taxa metabólica
de repouso, massa muscular esquelética e massa óssea. Corroborado por um estudo
longitudinal, no qual foi identificado aumento na gordura corporal total em 54
homens e 75 mulheres com idade média de 60.4 ± 7.8 anos (Hughes et al., 2004).
O IMC explicou, em média, 53% da variação do % GC nas mulheres e 29% nos
homens. A correlação do IMC com o % GC foi mais forte na idade de 18 a 29 anos
para as mulheres, explicando 62% da variação do % GC, e na faixa etária entre
40 e 50 anos para os homens, explicando 50% dessa variação, como já demonstrado
anteriormente.
Ao analisar a relação do IMC e CC com a distribuição da gordura corporal,
Janssen, Heymsfield, Allison, Kotler e Ross (2002) observaram correlações
significantes e em magnitudes similares entre o IMC e CC com a gordura total,
não abdominal e gordura subcutânea da região abdominal, em mulheres. Enquanto
para os homens foram observadas as mesmas correlações com as medidas de gordura
corporal, porém o IMC (r = .78) demonstrou maior correlação quando comparado a
CC (r = .68), discordando do presente estudo, onde o IMC obteve correlações de
menor magnitude, para o sexo masculino. Análises subsequentes da pesquisa
supracitada identificaram que a CC, independente do sexo, apresentou
correlações mais fortes com a gordura visceral do que o IMC.
A Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica
(ABESO, 1998) aceita que a simples determinação da CC pode ser suficiente para
categorizar, conforme o sexo, o risco de complicações metabólicas. Wang et al.
(2003) realizaram comparações entre quatro protocolos utilizados para a
mensuração da CC: imediatamente abaixo da última costela, menor circunferência
da cintura, ponto médio entre a última costela e a crista ilíaca, e
imediatamente acima da crista ilíaca. Os quatro protocolos testados
apresentaram alta reprodutibilidade e foram correlacionados significantemente
com a gordura corporal total, em ambos os sexos. Entretanto, quando realizada a
correlação dos protocolos de CC com o % GC, somente foram encontradas relações
significantes para o sexo feminino. Nesse sentido, os resultados discordaram
parcialmente do atual estudo. Estas divergências podem, em parte, serem
atribuídas às diferenças do método de mensuração da gordura corporal e às
características da amostra (etnia e idade).
Na adiposidade central, a distribuição do tecido adiposo se dá
preferencialmente no nível do tronco com a deposição aumentada na região intra-
abdominal (Mancini, 2001). De um modo geral, os estudos utilizam a região da
menor circunferência do tronco entre a última costela e a crista ilíaca para a
medida da CC (Callaway et al., 1991). Entretanto, alguns autores usam a
denominação e os pontos de corte da CC, mas aferem a medida na cicatriz
umbilical (Daniels, Khoury, & Morrison, 2000; Ribeiro, Gimeno, Andreoni,
& Ferreira, 2006). Porém, de acordo com Callaway et al. (1991), a
localização desta medida seria para aferição da CA. Esta aparente confusão de
padronizações pode gerar incoerências na interpretação de resultados referentes
à utilização das medidas antropométricas de acúmulo de gordura central (Alvarez
et al., 2008).
Ao analisar os dados da presente investigação, percebe-se que a CA, medida na
maior circunferência do abdômen, não sendo necessariamente localizada sobre a
cicatriz umbilical (Callaway et al., 1991), foi a mais correlacionada com o %
GC nos homens (r = .73). Ao analisar por faixas etárias, entre os 40 e 50 anos
de idade, a CA foi aquela com maior força na correlação com o % GC para as
mulheres (r = .69). Assim, a CA explica 53% e 49% da variação do % GC em homens
e mulheres, respectivamente. Sendo que para o sexo masculino, na faixa etária
de 40 a 50 anos, esta variável explicou 66% da variação do % GC.
Na literatura revisada não se encontrou pontos de corte recomendados para
discriminar CA com riscos a saúde, entretanto é possível supor que, em função
da forte correlação entre CC e CA encontrada no presente estudo (r = .95 e r =
.93, p < .001, para homens e mulheres, respectivamente), os valores dos pontos
de corte ideais para os dois parâmetros sejam próximos (Hasselmann, Faerstein,
Werneck, Chor, & Lopes, 2008). Nessa perspectiva, necessita-se de estudos
que realizem pontos de corte para a CA, verificando se os valores ficariam
realmente próximos do ponto de corte para a CC, visto que os resultados do
atual estudo demonstraram que a medida desta variável foi aquela que melhor se
relacionou e explicou as variações do % GC em homens, principalmente naqueles
com faixa etária entre 40 e 50 anos.
Recentemente, a RCE tem sido proposta como uma alternativa no uso de
indicadores antropométricos (Flegal et al., 2009). Nesse sentido, estudos têm
demonstrado que a RCE está fortemente associada aos diversos fatores de risco
coronariano (Ho, Lam, & Janus, 2003; Lin et al., 2002; Pitanga & Lessa,
2006). Huang et al. (2002) observaram que existe uma forte associação da RCE
com hipertensão arterial, intolerância a glicose, diabetes e dislipidemias, ao
avaliarem 38556 sujeitos de ambos os sexos.
Page et al. (2009) realizaram um estudo longitudinal para utilizar a RCE como
preditor do risco coronariano entre as mulheres, e encontraram que a CQ, IMC e
RCQ foram correlacionadas positivamente com a RCE. Os mesmos autores concluíram
que a RCE é superior ao IMC para predizer a incidência doenças coronarianas
entre mulheres de meia-idade e idosas, sendo comparável com a RCQ e CC.
Na investigação de Flegal et al. (2009) foram comparados o % GC (mensurados por
meio da DXA) com os indicadores antropométricos (IMC, CC e RCE), em 12901
adultos, estratificados por faixa etária. Os autores observaram que em homens,
o % GC foi mais correlacionado com a CC e RCE quando comparadas ao IMC. Em
relação às mulheres, o % GC foi mais correlacionado com o IMC do que a CC. Na
análise estratificada por faixa etária, o % GC foi significantemente mais
correlacionado com a RCE quando comparada a CC, no grupo mais jovem de ambos os
sexos (20 a 39 anos). Estes dados acima corroboram com o atual estudo, onde o %
GC, para as mulheres, tendeu a ser levemente mais correlacionada com a RCE (r =
.69) quando comparada com a CC (r = .67). No entanto, para os homens, a RCE e
CC foram igualmente correlacionadas com o % GC (r = .67).
A medida da RCQ tem sido utilizada para revelar a distribuição da gordura
corporal. Pereira, Sichieri e Marins (1999) acrescentam que não há consenso
sobre a definição do que seja uma RCQ elevada. A implicação da realização desta
medida está no fato do quadril incluir a gordura subcutânea pélvica, a massa
muscular e o tamanho do osso pélvico horizontal (Flegal et al., 2009), dessa
forma, causando confusões para a avaliação da gordura corporal. Os resultados
da correlação (quadro_3) demonstram que a RCQ foi o indicador com menor relação
com o % GC dentre os indicadores analisados, em ambos os sexos.
Alvarez et al. (2008), ao associarem medidas antropométricas de localização de
gordura central com os componentes da síndrome metabólica em adolescentes,
verificaram que a RCQ foi a medida que apresentou a menor associação, não tendo
efeito significativo para nenhuma das variáveis investigadas.
Pode-se destacar como limitação do presente estudo, o fato deste utilizar
medidas duplamente indiretas (dobras cutâneas) para o estabelecimento da medida
critério de gordura corporal, entretanto, no contexto da avaliação física em
academias de ginástica, as medidas antropométricas são comumente utilizadas.
Ainda pode-se destacar que os sujeitos do atual estudo foram selecionados por
um procedimento não probabilístico em frequen-tadores de academia.
Os resultados aqui apresentados nos conduzem a concluir que existe uma relação
positiva entre o % GC e os indicadores antropométricos analisados, sendo que o
IMC e a CA apresentaram maior força nas correlações para o sexo feminino e
masculino, respectivamente. Além disso, mostram que a RCE e CC são indicadores
antropométricos que podem ser utilizados como alternativa da utilização da RCQ.
Sugere-se que futuros estudos verifiquem se a combinação de indicadores
antropométricos podem melhor explicar as variações no % GC.