Influência da família na primeira fase de desenvolvimento da carreira de
nadadores medalhistas olímpicos brasileiros
Estudos que analisam o desenvolvimento de jovens expoentes em várias
atividades, inclusive as desportivas, comprovam que a presença familiar é
fundamental para o apoio ao atleta, principalmente nos períodos de transição
das suas carreias (Bloom, 1985; Côté, 1999; Durand-Bush & Salmela, 2002;
Moraes, Salmela, Rabelo, & Vianna Jr, 2004b; Salmela & Moraes, 2003;
Salmela, Young, & Kallio, 2000; Moraes, Rabelo, & Salmela, 2004a).
Todos os trabalhos supracitados elucidam o papel fundamental que os pais
exercem sobre os atletas, essencialmente nos anos iniciais (Bloom, 1985), pois,
o adequado envolvimento destes irá possibilitar o progresso do atleta
(Hellstedt, 1987). Bloom (1985) investigou, num estudo retrospetivo, a vida de
expoentes em diversas áreas. O seu trabalho, plurianual, contou com pianistas,
nadadores olímpicos, tenistas e escultores, entre outros. Os resultados
indicaram que a qualidade do apoio da família foi um fator preponderante para o
progresso em direção ao alto desempenho nas suas áreas. Bloom sugeriu ainda
três estágios distintos (anos iniciais, anos intermediários e anos finais) que
marcam o processo de desenvolvimento da criança nesses campos.
Nos anos iniciais, os pais são responsáveis por inserir os seus filhos numa
modalidade desportiva, sendo que o apoio emocional e financeiro é fundamental
para que a criança se mantenha praticante (Bloom, 1985; Moraes, Rabelo, &
Salmela, 2004a). Nos anos intermediários, os pais contribuem com o apoio
financeiro para despesas com materiais, viagens e melhores condições de treino,
sendo determinantes para o desenvolvimento dos seus filhos. Tal apoio garante a
manutenção da atividade desportiva dos filhos em relação aos mais variados
aspetos, como os motivacionais (Vernacchia, Mcguire, Reardon, & Templin,
2000), a realização, o comprometimento (Mallet & Hanrahan, 2004) e a
prática. Nos anos finais, muitas das vezes, as famílias mudam para outra cidade
a fim de proporcionarem melhores condições de treino para os filhos (Marques
& Samulski, 2009).
Côté (1999), ao realizar um estudo similar ao desenvolvido por Bloom,
investigou o processo de desenvolvimento de expoentes no desporto, mais
especificamente em relação à influência das suas famílias. Os resultados, desse
estudo retrospetivo, resultaram, também, na identificação de estágios de
desenvolvimento dos atletas no desporto, caracterizados como: anos de
experimentação, de especialização, de investimento e de manutenção e
aperfeiçoamento.
Nos anos de experimentação (6 a 13 anos), destacou-se o apoio dos pais e
treinadores, sendo estes fundamentais para o desenvolvimento da criança na
modalidade durante esse período. Nos anos de especialização (13 a 15 anos), o
apoio dos pais ainda continuou presente, principalmente o financeiro. A
presença de modelos dentro de casa, como irmãos mais velhos, que também foram
atletas, constituiu uma referência importante para a persistência dos filhos no
desporto. Nos anos de investimento (dos 15 anos em diante), a família ainda
apoiou financeira e emocionalmente o futuro atleta. Já no último estágio, nos
anos de perfeição, a ajuda disponibilizada pelos pais caracterizou-se por um
apoio mais emocional.
Durante todos os estágios de desenvolvimento, a relação existente entre pais e
filhos é fundamental para o desenvolvimento contínuo das suas carreiras. Dessa
forma, Czikszent-mihalyi, Rathunde, & Whalen (1993) estabeleceram dois
processos nomeados de integração e diferenciação. As famílias que promovem a
integração desenvolvem um sentimento de apoio e harmonia nos filhos e por meio
da convivência no lar. Já as famílias que promovem diferenciação, encorajam os
seus filhos durante os desafios do processo de formação de competências em
determinada área, incluindo a do desporto. Tais famílias visam à independência
dos filhos. Além disso, os autores apresentam o conceito de famílias complexas,
que são aquelas que promovem tanto a diferenciação quanto a integração,
proporcionando as melhores condições de desenvolvimento de crianças e jovens
(Durand-Bush & Salmela, 2002; Moraes, Rabelo, Salmela, Lima, & Lôbo,
2001; Moraes & Sousa, 2004; Salmela & Moraes, 2003). Vianna, Moraes,
Salmela e Mourthé (2001) realizaram um trabalho com atletas de ginástica
rítmica, os resultados demonstraram a existência de um envolvimento efetivo dos
pais durante todos os estágios, no entanto, o foco de estudo foi a primeira
fase de desenvolvimento. Os pais apoiaram as atletas por meio de recursos
financeiros, na busca de melhores condições de treino, e na motivação
extrínseca de suas filhas. Todavia, a cobrança, a pressão pelo resultado a
qualquer custo, por parte da família, pode levar a criança ao abandono precoce
da prática desportiva (Gustafsson, Kenttä, Hassmén, & Lundqvist, 2007).
Hellstedt (1987) estabeleceu em três níveis o conceito de envolvimento dos pais
no desporto; (i) o sub envolvimento, traduzido pela falta de comprometimento
financeiro e emocional dos pais, como a ausência nas competições; (ii) o
envolvimento adequado, no qual os pais oferecem todo o suporte e ajuda aos
filhos em relação ao estabelecimento de metas reais, além de os apoiarem
financeiramente, e; (iii) o super envolvimento, onde os pais exageram na sua
participação, não sabendo diferenciar as suas necessidades daquelas dos seus
filhos.
Portanto, os pais foram apontados como fator determinante para se atingir o
sucesso em determinada área, na medida em que proviam o apoio emocional
adequado, bem como suporte financeiro e estrutural aos filhos (Baker &
Horton, 2004; Falk, Lidor, Lander, & Lang, 2004; Ericsson, Prietula, &
Cokley, 2007; Côté, Lidor, & Hackfort, 2009). Este contexto contribuiu para
a atração dos filhos pelo desporto, passando pela escolha da modalidade, pelo
desenvolvimento na iniciação desportiva até chegar à participação em
competições de alto nível (Bloom, 1985; Côté, 1999).
Moraes et al. (2004b) analisaram a influência da família em crianças
praticantes de futebol e os resultados apontaram que, nem sempre, o apoio da
família, financeiro ou emocional, interferiu no desenvolvimento dos atletas.
Pois, nestes casos, a motivação desses atletas era intrínseca, movidos pela
paixão pelo desporto, pelo baixo poder aquisitivo dessas famílias e,
principalmente, pela oportunidade de mudança de vida (financeira) que o futebol
proporciona. Contudo, essas famílias ofereciam um apoio indireto, já que os
jovens atletas eram poupados dos trabalhos nas respetivas casas para poderem
jogar futebol no clube local. McCarthy e Jones (2007) realizaram um estudo
qualitativo com 45 crianças, no qual o objetivo era examinar quais as fontes
que proporcionavam o prazer e o desprazer em praticar atividades desportivas
nos anos iniciais de desenvolvimento. Os principais resultados indicaram que as
fontes prazerosas para os praticantes eram: o envolvimento social, a relação
com os amigos e um bom treinador; já as principais fontes de desprazer foram as
cobranças excessivas dos pais e o feedback negativo.
Este trabalho se justifica por, inicialmente, se tratar de um levantamento
histórico, que analisa a influência que as famílias dos nadadores medalhistas
olímpicos brasileiros tiveram durante o início de suas carreiras, o que pode
ter determinado sua permanência na natação. Por conseguinte, o estudo sobre os
melhores atletas de uma determinada modalidade se justifica pelo fato de
colaborar para a melhora daqueles que pretendem aperfeiçoar seu nível (Strauss
& Corbin, 1990; Morgan & Giacobbi, 2006). Além disso, a visão da
realidade que estes indivíduos têm a respeito da influência de suas famílias
serve como base para a compreensão dos componentes da expert performance
(Ericsson & Lehmann, 1996).
O objetivo do presente estudo foi analisar o papel que a família de nadadores
medalhistas olímpicos brasileiros tem em relação aos tipos de apoio/
influências durante a primeira fase de desenvolvimento de suas carreiras.
MÉTODO
Para a realização do presente estudo foi utilizada uma abordagem qualitativa,
de natureza retrospetiva, pois esta utiliza uma visão mais holística para
analisar o fenômeno investigado (Patton, 2002). No caso do presente estudo, o
fenômeno é a influência que as famílias de atletas que conquistaram medalhas
olímpicas na natação brasileira têm em suas carreiras durante a fase inicial.
Amostra
A amostra foi composta por oito nadadores expert com idade média de 46.25 ±
14.22 anos e com tempo de prática de 11.37 ± 3.29 anos. O critério de seleção
foi o atleta ter conquistado, pelo menos, uma medalha (ouro, prata ou bronze)
em qualquer uma das edições dos Jogos Olímpicos, podendo ser conquistada em
provas individuais ou de estafetas. Os nadadores, com a finalidade de se manter
o anonimato, foram aleatoriamente distribuídos por A1 (atleta 1), A2 (atleta
2), ... e A8 (atleta 8). Este estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em
Pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob protocolo número ETIC 195/
09.
Instrumentos
Foram utilizados para a coleta de dados uma ficha demográfica e um roteiro de
entrevista semiestruturada (Côté, 1999; Moraes, 1999; Patton, 2002; Côté,
Ericsson, & Law, 2005; Jonhson, et al., 2008).
O roteiro de entrevista semiestruturada contou perguntas relativas ao
envolvimento das famílias na vida desportiva dos atletas, sendo que a ordem
inicial das questões é apresentada na Tabela 1.
Tabela 1
Ordem inicial das perguntas da entrevista semiestruturada
As vantagens para este tipo de procedimento são: a possibilidade e coletar uma
grande variedade de informação; menor número de questões mal entendidas e
respostas impróprias, menor quantidade de respostas incompletas e maior
controle sobre o ambiente no qual a entrevista é realizada (Patton, 2002).
Nesse tipo de entrevista, os aspetos a serem investigados são estabelecidos
previamente pelo pesquisador. As questões são primeiramente listadas, contudo,
estas podem-se desviar do curso inicial, dependendo da necessidade e decisão do
pesquisador (Côté, 1999; Johnson et al., 2008; Patton, 2002; Tesch, 1990).
Os equipamentos utilizados para realizar as entrevistas foram dois gravadores
digitais (Panasonic RR-US450), um notebook (Acer Aspire 3690-2023), além do
software Voice Editing Premium Edition 2.0, para edição de arquivos de áudio.
Procedimentos
Inicialmente foi obtido um apoio institucional da Confederação Brasileira de
Desportos Aquáticos (CBDA), que endossou uma carta respaldando o presente
estudo. Posteriormente, com o objetivo de compreender a viabilidade do
trabalho, foi realizado, via telefone, um primeiro contato com os nadadores,
explicando os principais objetivos do estudo.
Posteriormente, as entrevistas foram agendadas de acordo com a disponibilidade
dos voluntários, entre julho e outubro de 2009. Nas datas agendadas, foi
assinado o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, e realizada a coleta nas
suas respetivas cidades de residência, em locais tranquilos e sem interrupções.
A duração média das entrevistas foi de 60 minutos, sendo que as mesmas foram
gravadas e transcritas (Patton, 2002; Côté, Salmela, Baria, & Russel, 1993;
Moraes, 1999; Martens, 1987; Thomas, Nelson, & Silverman, 2007; Jonhson et.
al., 2008). As entrevistas foram transcritas por meio de digitação simultânea
das gravações (Patton, 2002; Martens, 1987; Johnson et al., 2008). Foi
realizada a descontextualização das mesmas, ou seja, todas as perguntas do
pesquisador foram retiradas, restando apenas uma narrativa única do
entrevistado (Strean, 1998).
As entrevistas foram enviadas aos voluntários para uma confirmação do que havia
sido transcrito, juntamente com uma carta-resposta para ser assinada,
confirmando a veracidade dos dados (Krefiting, 1991; Patton, 2002). O texto foi
considerado fidedigno pelos entrevistados, a partir de uma cartaresposta,
assinada por todos os voluntários. Caso houvesse alguma correção, esta era
realizada de acordo com as sugestões enviadas pelos voluntários.
Análise dos Dados
As narrativas foram categorizadas e analisadas por meio de Meaning Units (Mini-
Unidades - MUs) (Côté, et al., 1993; Johnson, et. al., 2008). Uma Meaning Unit
(MU) representa uma parte do texto, que pode ser uma linha, parágrafo ou mais
de um parágrafo do corpo de um texto, que exemplifica uma ideia expressada pelo
pesquisado de forma clara e objetiva. Neste estudo, foram categorizadas e sub
categorizadas de acordo com as similaridades identificadas entre as diversas
MU's estabelecidas no estudo.
Essas MU's foram avaliadas por três expert em pesquisa qualitativa com o
objetivo de validar os critérios usados para identificação de MU ou grupos de
MUs. Após esta avaliação, as MU´s foram subdivididas em categorias e sub
categorias estabelecidas como representativas dos fatores investigados. A
análise dos três expert mais uma vez se fez necessária para que,
posteriormente, fosse realizada a interpretação dos dados (Côté, et al., 2005).
As avaliações realizadas pelos voluntários e três expert em pesquisa
qualitativa tiveram como objetivo aumentar a credibilidade/legitimidade
exigidas na pesquisa qualitativa (Mathinson, 1988).
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Após a transcrição das entrevistas, o que originou 73 páginas digitadas com
espaçamento 1,5, fonte Times New Roman tamanho 12, procedeu-se a análise das
MUs mais significativas. 127 MUs foram selecionadas, gerando um grupo de duas
categorias, 5 subcategorias e duas propriedades (ver Figura 1), distribuídas
dedutivamente para análise (Strauss & Corbin, 1990).
Figura 1. Distribuição das MUs em categorias, subcategorias e propriedades
Início da prática desportiva
Os motivos pelos quais uma criança inicia a prática de uma modalidade
desportiva são fundamentais para o progresso na mesma, pois contribuem para a
sua permanência/persistência no desporto. Este início é advindo da influência
direta da família (Côté, 1999). Os principais motivos que levaram os
medalhistas ao início da prática da natação estão apresentados na Tabela 2:
Tabela 2
Motivos do início da prática da natação pelos nadadores medalhistas olímpicos
Os resultados demonstram que, na fase de iniciação, a grande maioria dos
nadadores teve a proximidade da família oferecendo apoio e incentivo para a
manutenção da prática esportiva. Tal fator é designado como crítico por Moraes
et al. (2004a) no decorrer do processo de aprendizagem do início da prática
desportiva. Durand-Bush, Salmela e Thompson (2005) e Samulski et al. (2009),
baseados na percepção de ex-atletas, verificaram também que os familiares foram
os principais motivadores para o início da carreira esportiva dos mesmos.
De acordo Bloom (1985), durante os anos iniciais, os pais são os responsáveis
por inserir os seus filhos numa atividade desportiva, além de prover apoio
emocional e financeiro para que não ocorra o abandono da modalidade por falta
desses incentivos (Falk et al., 2004). No presente estudo, os nadadores ( A2,
A3, A5, A6, A7, A8) apontaram que o principal motivo para a iniciação esportiva
foi a influência direta da família, e a dos irmãos que praticavam a modalidade.
Justificaram, ainda, que os pais os incentivaram por serem igualmente
praticantes de modalidades desportivas, o que é exemplificado pela narrativa do
atleta A2.
"Bem, o meu envolvimento aconteceu porque eu venho de uma família de atletas,
de nadadores, meus três irmãos nadaram, eu sou o quarto e mais novo. Meu pai é
um entusiasta muito grande em todos os esportes, principalmente na natação.
Começou com meu irmão mais velho que era asmático e o médico sugeriu que ele
fizesse um esporte e indicou a natação. Aí meu pai matriculou o A. na natação e
daí ele se envolveu, gostou demais e depois do A. veio o R., veio o R., depois
veio eu." (A2) ' Início e influência da família
No entanto, os atletas A1 e A4 tiveram como principal motivo de iniciação na
natação o desenvolvimento muscular e o acometimento de um afogamento. Esses
fatos motivaram os familiares destes atletas a ingressarem na natação, o que
não deixou de ser uma influência familiar indireta.
Para Côté (1999), nos anos de experimentação, a inserção em diversas
modalidades desportivas é de suma importância, pois desenvolve o gosto pela
atividade desportiva, aprimorando a experiência motora do atleta e
possibilitando, mais tarde, o mesmo a se especializar numa única modalidade.
Este argumento pode ser observado pela narrativa do nadador A3.
"... meus pais decidiram que eu precisava realmente saber nadar. Aí na época eu
comecei a fazer natação e judô. Foram as duas modalidades. E obviamente eu
comecei a me destacar já na natação com mais sucesso, logo abandonei o judô e
me dediquei só a natação." (A4) ' Início generalizado
Estas narrativas estimulam a reflexão de que os pais, esta força invisível, que
não aparecem no cenário de sucesso de seus filhos, são o elo entre os atletas e
o percurso para atingirem altos níveis de desempenho. Moraes (1999) encontrou
resultados idênticos quando pesquisou judocas de nível internacional no Canadá.
Principais tipos de influências
O tipo e a constância do apoio proporcionado pela família (Tabela 3) foi também
um dos norteadores da manutenção dos participantes na natação. Sem o apoio
motivacional e financeiro, os filhos não teriam condições de frequentarem um
clube. Segundo os nadadores, este tipo de apoio foi durante o início, meio e
ápice das suas carreiras desportivas.
Tabela 3
Tipo de apoio recebido pelo atleta durante a carreira, advindo da família
O tipo de apoio ofertado pelos pais no início e durante a carreira dos atletas
influiu no desenvolvimento da criança no desporto. Este tipo de apoio que se
manteve, para a maioria dos nadadores, refletiu na motivação para permanecer na
modalidade, assim como no comprometimento com a carreira e a prática, o que
corroborou com os estudos de Vernacchia et al. (2000), Durand-Bush e Salmela
(2002) e Mallet e Hanrahan (2004).
A característica dessas famílias foi o envolvimento, dos pais apoiando os
filhos de forma adequada, sem sobre ou sub valorizar seu comprometimento,
confirmando Hellstedt (1987). O apoio da família dos nadadores durante este
período foi evidenciado, por meio do apoio emocional e financeiro, confirmando
Moraes et al. (2004b) e Samulski et al. (2009), que destacam a importância do
apoio da família para a permanência dos seus filhos na modalidade esportiva.
Outro importante ponto a se destacar é que estas famílias podem ser
caracterizadas como famílias complexas (Czikszentmihalyi, et al., 1993), já que
elas transmitem segurança não somente a partir de incentivos financeiros, mas
também motivacionais, estimulando os seus filhos a procurarem por desafios,
como o apoio para o treino fora do país ou por melhores locais de treino,
corroborando com os achados de Salmela e Moraes (2003). Tal fato pode ser
elucidado pela MU do atleta A5.
"... normalmente a família veste a vontade no atleta. Eles são incentivadores
porque levam os atletas para treinar, eles dão suporte... e toda competição que
era importante, eles iam lá e presenciavam. Mas não me cobravam diretamente."
(A5) ' Apoio da família
Para o nadador A8, a família, no ápice de sua carreira, exerceu a função de
gerência, deixando para o filho somente a preocupação de treinar, toda
estrutura existente, como transporte, alimentação, parte financeira, entre
outras era de responsabilidade dos pais, promovendo, dessa forma, todas as
facilidades para a melhora do desempenho do atleta.
"Com 13 anos eu comecei a perder, foi difícil. Meus pais me seguraram. E aí
depois quando eu vim para São Paulo, fui para os EUA, todo esse backstage, todo
esse cenário atrás que ninguém vê, escolher o melhor ponto no apartamento, para
estar perto do clube, a pé, na frente do colégio, estar junto das coisas, eu
nunca corri atrás, foi sempre meu pai e minha mãe que fizeram tudo. Eu só
chegava e tinha que nadar mesmo, o que eu sempre fiz foi chegar, treinar e
nadar, fazer o que eu tinha que fazer." (A8) ' Apoio da família
Diante dos dados apresentados nesta pesquisa, mais uma vez, confirma-se que a
presença familiar, constante, silenciosa, fora de foco da mídia, contribui
marcantemente para a formação expert destes nadadores medalhistas olímpicos.
Este trabalho representa um levantamento histórico acerca da influência que as
famílias dos medalhistas olímpicos da natação brasileira tiveram em seu
desenvolvimento desportivo. Contudo, o estudo contém algumas limitações: o
número reduzido da amostra; a análise de diferentes gerações esportivas; e o
método empregado, no caso uma entrevista. Em relação ao método, a fidedignidade
das informações depende, diretamente, da motivação, honestidade, memória e
capacidade de resposta dos desportistas.
CONCLUSÕES
A partir das ponderações apresentadas neste estudo, conclui-se que a influência
da família em todas as fases, do início ao ápice, contribuiu de forma
fundamental para o desenvolvimento dos atletas. Destaca-se, contudo, a primeira
fase como especial, representado pelo apoio familiar, marcado por apoio
financeiro e motivacional e a sustentação para o prosseguimento dos nadadores
no desporto.
O início da carreira dos atletas foi de fundamental importância para seu
desenvolvimento posterior. A família esteve presente direta ou indiretamente,
influenciando a criança a iniciar e a permanecer na natação. A contribuição
mais encontrada para a iniciação da prática da modalidade foi a influência de
irmãos e/ou pais atletas, praticantes de desporto. O apoio financeiro e
motivacional também contribuiu para o desenvolvimento do atleta e para a
permanência das crianças nos anos iniciais da prática da natação.
A investigação da influência da família na primeira fase no contexto de
medalhistas olímpicos se fez justificável, pois, existe uma carência de
estudos, principalmente analisando o contexto brasileiro, sobre a influência da
família, especialmente no nível destes nadadores olímpicos. Sugere-se a
realização de mais estudos analisando outras modalidades, no entanto, mantendo-
se os critérios de inclusão, com o objetivo de se descrever a trajetória de
outros atletas olímpicos no Brasil.