Clima motivacional em jogadores de uma equipa de andebol
A motivação representa forças externas e internas que produzem a iniciação,
direção, intensidade e persistência de um comportamento direcionado a um
objetivo específico e é uma das variáveis cognitivas determinantes na adoção e
manutenção de hábitos desportivos (Buckworth & Dishman, 2007). Sem a
motivação apropriada é difícil que os atletas se dediquem à prática desportiva
com o sacrifício e perseverança que é exigido ao mais alto nível de rendimento
desportivo.
Para Vasconcelos-Raposo e Mahl (2005) a motivação pode ser definida como a
direção e intensidade de um esforço. Se um indivíduo procura aproximar-se ou é
atraído para determinadas situações, estamos perante a direção do esforço. A
quantidade de esforço que um atleta coloca numa determinada situação refere-se
à intensidade do esforço (Weinberg & Gould, 2007).
A psicologia da motivação tem como objetivo responder a questões gerais como:
por que razão é que alguns indivíduos participam em desportos e outros não? Por
que é que uns atletas praticam futebol e outros atletismo ou esqui? Quais os
fatores que são importantes para manter alguém otimamente motivado num desporto
e como manter esse nível ótimo de motivação? Ou por outro lado, por que é que
alguns atletas abandonam antecipadamente a prática desportiva?
Parece existir consenso quando atletas e treinadores afirmam que um atleta com
elevados níveis de motivação utiliza a sua energia para estabelecer objetivos e
para cumpri-los, emprega vontade de resolver os problemas, evidencia elevados
níveis de atenção e concentração e demonstra entusiasmo e gosto pela
participação desportiva. Por estas razões é da maior importância que a
motivação e os processos associados a esta sejam objecto de permanente
preocupação por parte das equipas técnicas.
A motivação para a realização afeta o desempenho e a participação no que diz
respeito à prática. Relaciona-se com os esforços de um indivíduo em dominar uma
tarefa, atingir os seus limites, superar obstáculos, ter um melhor desempenho
que os outros e ter orgulho do seu talento (Ferreira, Costa, Penna, Samulsky,
& Moraes, 2012).
Diferenciam-se dois tipos de orientações motivacionais: a orientação para a
tarefa e a orientação para o ego. Orientação para a tarefa (ou mestria) é a
preocupação do atleta no desenvolvimento da sua competência e das suas
habilidades na melhoria de uma tarefa (Vasconcelos-Raposo & Mahl, 2005). Um
indivíduo com esta orientação motivacional sentir-se-á bem-sucedido quando
atingir o desenvolvimento de mestria e melhorar as suas próprias capacidades.
Arriscamos afirmar que o atleta está motivado a melhorar os seus níveis de
desempenho anteriores, tendo em vista a autossuperação.
Um indivíduo orientado para o ego não objetiva superar-se a si mesmo, mas sim
superar os outros, a sua perceção de sucesso baseia-se na comparação com os
colegas, tendo necessidade de se sentir superior a eles. Vasconcelos-Raposo e
Mahl (2005) defendem que o critério de alta perceção de habilidade dos atletas
orientados para o ego (resultado) depende do alcance de resultados tão bons ou
melhor do que os outros e de preferência num menor esforço possível.
Em idades inferiores, a própria habilidade é vista pelo atleta como melhor ou
pior tendo em conta o desempenho realizado anteriormente por ele mesmo, em
idades mais avançadas há já uma tendência de comparar a sua habilidade com a
habilidade dos outros (Cox, 2007).
Silva (2006) encontrou elevada orientação para a tarefa nos atletas de escalões
competitivos superiores. Contudo, num estudo de Coroa (2009) este verificou que
atletas muito novos, com idades compreendidas entre os 8 e os 11 anos, também
se orientam preferencialmente para a tarefa. Libório (2007) encontrou valores
superiores relativamente à orientação para o ego nos escalões inferiores.
Rodrigues, Lázaro, Fernandes e Vasconcelos-Raposo (2009) verificaram que a
orientação para a tarefa é superior nos atletas com mais anos de experiência.
Nesse mesmo estudo não se encontraram diferenças significativas entre os anos
de prática da modalidade e a orientação para o ego. Num estudo de Vasconcelos-
Raposo e Mahl (2005) verificou-se que a posição competitiva não evidenciou
diferenças significativas relativamente à orientação cognitiva adotada.
Face aos resultados constatados na literatura optamos por assumir como
objectivos específicos para o presente trabalho fazer as seguintes comparações
em função das orientações motivacionais: 1- escalão competitivo; 2- anos de
prática; e 3- anos de presença na eauipa; 4- posição competitiva.
MÉTODO
Amostra
A amostra é constituída por 57 atletas nascidos entre 1977 e 1997 do sexo
masculino de diferentes escalões competitivos, 14 (24.6%) iniciados nascidos em
1996 e 1997, 21 (36.8%) juvenis nascidos entre 1993 e 1995, 8 (14.0%) juniores
nascidos entre 1990 e 1992 e 14 (24.6%) seniores nascidos entre 1977 e 1992. Os
anos de prática da modalidade variaram entre 1 e 22 anos, os atletas foram
divididos em 4 grupos, 18 (31.6%) têm 3 ou menos anos de prática de andebol,
entre 4 e 8 anos eram 17 (29.8%), entre 9 e 13 anos eram 14 (24.6%) e com mais
de 14 anos de prática de andebol eram 8 (14.0%). Os anos de presença no clube
variaram entre 1 e 13 anos, foram divididos em 4 grupos, os que se encontravam
há um ano ou menos no clube eram 17 (29.8%), com 2 a 4 anos eram 27 (47.4%),
com 5 a 7 anos eram 5 (8.8%) e 8 (14.0%) estavam há 8 anos ou mais no clube.
Relativamente à posição competitiva eram 9 (15.8%) guarda-redes, 9 (15.8%)
centrais, 12 (21.1%) laterais, 11 (19.3%) pontas, 10 (17.5%) pivots e 6 (10.5%)
universais.
Instrumentos
O Questionário de Orientação para a Tarefa e para o Ego no Desporto (TEOSQp)
visa saber a opinião do atleta acerca do significado do sucesso no contexto
desportivo. A versão utilizada foi desenvolvida por Fernandes e Vasconcelos-
Raposo (2010) e é constituída por 13 itens que se encontram agrupados em dois
fatores de orientação cognitiva, 6 de orientação para o ego e 7 de orientação
para a tarefa. Os 13 itens foram respondidos numa escala tipo Likert de 5
pontos (variando entre 1=discordo completamente e 5=concordo completamente).
Procedimentos
Os questionários foram entregues a todos os atletas pertencentes à modalidade
de um clube profissional de andebol português. Para o tratamento estatístico
dos dados recorreu-se ao programa SPSS 20 (Statistical Package for the Social
Sciences). Através do cálculo da média, desvio padrão, valor máximo e mínimo
realizou-se a análise descritiva dos dados. O estudo da normalidade das
distribuições foi concretizado através da análise das medidas de simetria
(Skewness) e achatamento (Kurtosis). A homogeneidade das variâncias foi
analisada através do teste de Levene. O efeito das variáveis independentes no
conjunto das dimensões abrangidas pelos instrumentos utilizados foi estudado
através da análise de variância multivariada (MANOVA a um fator). Foram
utilizados os testes Post-Hoc para comparação entre grupos e identificação de
possíveis diferenças significativas. Estabeleceu-se um nível de significância
de 5% (p ≤ .05) em toda a análise dos dados.
RESULTADOS
No quadro_1 são apresentados a média, desvio padrão, os valores mínimo e
máximo, o Skewness e Kurtosis das orientações cognitivas da população em
estudo.
Uma vez que o TEOSQp contempla uma escala tipo Likert de 5 pontos, pode-se
afirmar que os andebolistas participantes nesta investigação têm uma forte
orientação para a tarefa, apresentando uma média de 4.03 (± .37). A orientação
para o ego tem uma média inferior à orientação para a tarefa (3.78 ± .49).
Analisando o Skewness e Kurtosis verifica-se a normalidade das distribuições.
Escalão competitivo
Quanto à comparação entre escalões no que toca às orientações cognitivas, a
análise de variância multivariada (Manova a um fator) revelou existir um efeito
diferenciador significativo [λ de Wilks = .788, F(3,53) = 2.193, p = .049 e ηp2
= .112]. Apesar de apenas a orientação para a tarefa (p = .007) mostrar
diferenças significativas, ambas as dimensões do TEOSQp parecem evidenciar
algumas relações causa-efeito. Foi obtido efeito forte, sugerindo que 21% da
variação na combinação linear da orientação para a tarefa pode ser atribuído ao
escalão competitivo. Foram obtidos efeitos médios, sugerindo que 11% da
variação na combinação linear da orientação para o ego pode ser atribuído ao
escalão competitivo.
Quadro_2
Os seniores evidenciam médias superiores na orientação para a tarefa e os
iniciados evidenciam uma média mais alta na orientação para o ego. Os juvenis
são aqueles que apresentam médias mais baixas nas orientações cognitivas,
havendo diferenças significativas entre este grupo e o grupo de seniores,
especialmente na orientação para a tarefa em que o escalão superior apresenta
médias mais altas.
Anos de prática da modalidade
Para diferenciar a experiência competitiva quanto às dimensões do TEOSQp,
procedeu-se a uma Manova (a um fator) que denunciou não existir um efeito
diferenciador significativo por parte da variável anos de prática da modalidade
[λ de Wilks = .859, F(3,53) = 1.368, p = .234 e ηp2 = .073]. O teste de Levene
demonstrou que a igualdade de variâncias entre os grupos pode ser assumida em
ambas as orientações cognitivas. Apesar de nenhuma das orientações cognitivas
mostrar diferenças significativas, ambas parecem evidenciar algumas relações
causa-efeito. Foram obtidos efeitos médios, sugerindo que 12% (orientação para
a tarefa) e 6% (orientação para o ego) das variações na combinação linear das
variáveis dependentes podem ser atribuídos aos anos de prática da modalidade.
Quadro_3
De um modo geral não houve um aumento progressivo das médias de ambas as
orientações cognitivas com o aumento dos anos de prática da modalidade.
Contudo, o grupo dos que praticam a modalidade há mais tempo evidenciou médias
superiores aos restantes grupos tanto na orientação para a tarefa como na
orientação para o ego. O grupo 2 (4-8) evidenciou médias mais baixas para ambas
as orientações cognitivas.
Tempo de presença no clube
Quanto à comparação entre grupos no que toca às orientações cognitivas, a
Manova revelou não existir um efeito diferenciador significativo [λ de Wilks =
.828, F(3,53) = 1.713, p = .125 e ηp2 = .090]. Apesar de apenas a orientação
para a tarefa (p = .03) mostrar diferenças significativas, ambas as dimensões
do TEOSQp parecem evidenciar algumas relações causa-efeito. Foi obtido efeito
forte, sugerindo que 15% da variação na combinação linear da orientação para a
tarefa pode ser atribuído ao tempo de presença no clube. Foi obtido efeito
médio, sugerindo que 7% da variação na combinação linear da orientação para o
ego pode ser atribuído ao tempo de presença no clube.
Quadro_4
De uma forma generalizada não se verificou um aumento ou diminuição graduais
nas orientações cognitivas com o aumento do tempo de presença no clube. O
grupo2 (2-4 anos) mostrou média mais alta na orientação para a tarefa; quanto à
orientação para o ego, aqueles que se encontram há mais tempo no clube
apresentaram média mais alta do que os restantes grupos. O grupo 3 (5-7)
evidenciou médias mais baixas para ambas as orientações cognitivas.
Posição competitiva
Com o objetivo de comparar as diferentes posições competitivas, efetuou-se uma
Manova (a um fator) que revelou não existir um efeito diferenciador
significativo por parte da variável posição competitiva [λ de Wilks = .832, F
(5,51) = .965, p = .478 e ηp2 = .088]. Apesar de nenhuma das orientação
cognitivas mostrar diferenças significativas, ambas as dimensões do TEOSQp
parecem evidenciar algumas relações causa-efeito. Foram obtidos efeitos médios,
sugerindo que 9% (orientação para o ego) e 6% (orientação para a tarefa) das
variações na combinação linear das variáveis dependentes podem ser atribuídos à
posição competitiva.
Quadro_5
De uma forma geral não existem diferenças evidentes entre as várias posições
competitivas no que toca a ambas às orientações cognitivas. Os jogadores
universais são aqueles que apresentam uma média superior na orientação para a
tarefa e inferior na orientação para o ego. Os pontas são os jogadores que
apresentam uma média superior na orientação para o ego e os centrais os que têm
média inferior na orientação para a tarefa.
DISCUSSÃO
Na nossa investigação, os andebolistas revelaram uma maior orientação para a
tarefa do que para o ego, tal como nos estudos de Almeida (2009) e Vasconcelos-
Raposo e Mahl (2005). Acreditamos que isto ocorre pelo facto do estudo se ter
realizado numa modalidade coletiva o que leva a que, habitualmente, os
jogadores sejam incentivados a dirigir preferencialmente os seus esforços e a
sua prestação em função da equipa ao invés de valorizarem em demasia as suas
metas pessoais.
A elevada orientação para a tarefa por parte dos atletas em estudo resulta dos
feedbacks que estes recebem de todos aqueles que intervêm na sua prática
desportiva. Quando um treinador dá feedbacks positivos aos atletas após a
correta execução de uma tarefa e critica quando executam de forma errada o
exercício, o treinador está a optar por um sistema de reforços. Os atletas irão
manter os comportamentos que forem reforçados, isto é, se o treinador elogia a
execução de um exercício, o atleta tenderá a manter a conduta.
Vejamos um exemplo da aplicação de reforço para a mestria, se um guarda-redes
obtém 100% de eficácia de defesa numa série de 10 remates e o treinador
corrigir a sua postura, a posição em relação à baliza, o timing de saída à
bola, o posicionamento dos braços e das pernas, etc., significa que está
preocupado com a correta execução da tarefa por parte do atleta e não com o
resultado. Isto quer dizer que o treinador valoriza a orientação para a
mestria, preocupando-se com a melhoria das habilidades do atleta numa dada
tarefa ao invés da preocupação com o resultado.
No que concerne ao escalão competitivo, os iniciados apresentam médias mais
elevadas tanto na orientação cognitiva para o ego como na orientação cognitiva
para a tarefa, seguidos dos jogadores seniores. Os nossos resultados vão de
encontro ao estudo de Libório (2007) que encontrou valores superiores na
orientação para o ego nos escalões inferiores, e ao estudo de Coroa (2009) que
verificou que atletas muito novos se orientam preferencialmente para a tarefa.
Verificaram-se apenas diferenças significativas na orientação para a tarefa
entre o escalão de seniores e o escalão de juvenis, sendo que os primeiros
apresentam médias mais altas. Os juvenis e juniores apresentam médias mais
baixas em ambas as orientações cognitivas.
Os nossos resultados podem ser explicados pelo facto dos jogadores iniciados
serem muito jovens, com idades compreendidas entre os 14 e 15 anos, e ainda não
terem adquirido uma clara definição e perceção dos conceitos abordados nos
questionários. Em idades mais tenras, é habitual os atletas responderem às
perguntas da forma que consideram ser mais positiva e correta, muitas vezes não
correspondendo exatamente à realidade daquilo que vivenciam em relação à
orientação das suas motivações. Tal como afirma Vygotsky (1994), nos primeiros
estágios de desenvolvimento do jogo, a definição funcional dos conceitos e dos
objetos ainda não foi atingida e as palavras ainda não se tornaram em algo
concreto. Em idade mais avançadas, a compreensão de conceitos mais complexos
vai aumentando e verifica-se assim um decréscimo de ambas as orientações
cognitivas. Acreditamos que os atletas mais velhos respondem aos questionários
com mais consciência e realismo que os atletas mais jovens. Elkonin (1998)
defende que o jogo possibilita às crianças transcender tendências imediatas,
enraizadas em motivações mais biológicas e primitivas, para seguir as regras
sociais e atuar espelhando-se na realidade.
No escalão sénior verifica-se um aumento de ambas as orientações cognitivas que
pode ser explicado com a profissionalização destes atletas. Com a
profissionalização da atividade desportiva acresce-se, não só o envolvimento do
atleta na modalidade que pratica, como também a responsabilidade para com a
equipa onde se insere. Exige-se ao atleta que, não só execute as tarefas da
maneria mais correta possível (orientação para a tarefa), mas também que os
resultados apareçam (orientação para o ego), uma vez que o caracter competitivo
está inerente à profissionalização de uma modalidade. Os feedbacks dados aos
atletas acerca dos seus desempenhos na fase de aprendizagem (juvenis/juniores)
têm um impacto evidente nas orientações cognitivas. Um feedback
autorreferenciado vincula-se a uma orientação maior à tarefa, feedbacks
socialmente comparados estão relacionados com uma maior orientação para o ego
(Shih & Alexander, 2000). A estabilização das médias das orientações
cognitivas verificada no escalão sénior pode ser sustentada pela interação
entre o desenvolvimento de crenças autorreferenciadas e a promoção de
experiências em busca do melhor resultado, o que, segundo Bandura (1997), tem
uma influência na ação, motivação e nos processos cognitivos.
Quanto aos anos de prática da modalidade, os nossos resultados vão de encontro
ao do estudo de Rodrigues, Lázaro, Fernandes e Vasconcelos-Raposo (2009) onde
verificaram que a orientação para a tarefa é superior nos atletas com mais anos
de experiência. Santos (2009) também verificou no seu estudo que à medida que
aumentam os anos de prática desportiva, aumenta a orientação motivacional para
a tarefa. Verificou-se que os atletas mais experientes (grupo 4) apresentaram
índices mais elevados tanto na orientação para o ego como na orientação para a
tarefa, seguidos dos atletas do grupo 1. Aproximadamente na altura em que os
atletas passam do grupo 1 para o grupo 2 e começam a adquirir mais vivências
desportivas ocorre um período de descentralização cognitivo, por esse facto o
grupo 2 é aquele que apresenta médias mais baixas relativamente às orientações
cognitivas. Ao longo dos tempos, vários autores (Piaget, 1982; Elkonin, 1998)
destacaram a importância do jogo para a superação do egocentrismo cognitivo e
emocional, defendem que, através dele, a criança começa a reconhecer outros
pontos de vista, a colocar-se no lugar do outro, perceber melhor o mundo que as
rodeia e a estabelecer de forma mais eficaz inter-relações. Este conjunto de
mudanças permite que se constituam novas operações intelectuais e que o
pensamento atinja um nível mais elevado.
Posteriormente, com o aumento da experiência desportiva, é importante conceder
aos atletas uma grande variedade de estímulos e vivências desportiva, bem como
valorizar as aprendizagens técnicas e táticas. A estimulação das capacidades
dos atletas permitirá a importante aquisição da motricidade fina e a
possibilidade de um novo acréscimo das médias das orientações cognitivas. Ré
(2011) acredita que o desenvolvimento em fases posteriores é influenciado pelo
processo de aquisição de habilidades e capacidades motoras, o desempenho
desportivo e a qualidade e quantidade dos estímulos vivenciados em fases
iniciais. O mesmo autor defende ainda que na adolescência o atleta deve já
possuir um padrão coordenativo e cognitivo, para que seja implementado o treino
da força, velocidade e resistência que conduzam posteriormente à especialização
de um atleta numa determinada modalidade.
Numa fase mais avançada, quando os jogadores já detêm de uma elevada
experiência desportiva, as médias de ambas as orientações cognitivas tendem a
aproximar-se devido à estabilização característica dos atletas profissionais.
Para jogadores com vários anos de experiência é tão importante executar bem uma
tarefa (orientação para a tarefa), como obter o melhor resultado numa dada
competição (orientação para o ego), características resultantes da
profissionalização enquanto atleta.
Não foram encontrados outros estudos que tivessem correlacionado o tempo de
presença no clube com as orientações cognitivas dos atletas e por esse motivo
não podemos comparar os resultados obtidos nesta investigação. Em todos os
grupos a orientação para a tarefa está mais desenvolvida que a orientação para
o ego, não se evidenciando diferenças significativas entre eles. No entanto, a
orientação para a tarefa encontra-se mais desenvolvida nos grupos 2 e 4. Isto
pode ser explicado pelo facto de inicialmente quando os atletas integram o
clube ainda não têm uma clara definição das suas orientações motivacionais. Com
o aumento do tempo de presença no clube, estes vão valorizando mais a
orientação para a tarefa uma vez que na fase de aprendizagem (camadas jovens)
vão recebendo feedbacks no sentido da autorreferenciação e melhoria da execução
de uma tarefa ao invés da valorização do resultado. Contudo, quando já se
encontram no clube há algum tempo, além de lhes ser solicitado que sejam
perfeccionistas nas suas prestações, também esperam que eles obtenham os
melhores resultados nas competições disputadas. O clube estudado tem como
preocupação, não só que os atletas evoluam técnica e taticamente, mas tem
também como lema entrar numa competição sempre para vencer. Deste modo, o grupo
com mais de 7 anos de permanência foram os que obtiveram não só médias mais
altas na orientação para a tarefa como obtiveram, também, as médias mais altas
na orientação para o ego.
Cada clube tem uma filosofia e ideais que vão sendo transmitidos aos atletas e
outros agentes desportivos que dele fazem parte. A filosofia do clube envolve
regras desportivas e sociais que vão sendo adquiridas e interiorizadas pelos
atletas à medida que vai aumentando o seu tempo de presença no clube. Com o
tempo, o ser humano aprende a usar racionalmente as suas capacidades, o
ambiente torna-se interiorizado e o comportamento torna-se social e cultural
(Vasconcelos-Raposo, 1993).
No que diz respeito à posição competitiva também não foram encontradas
diferenças significativas ao nível das orientações cognitivas, tal como
verificou Vasconcelos-Raposo e Mahl (2005). Destaca-se apenas os pontas que
evidenciaram uma média mais alta na orientação para o ego e os jogadores
universais que apresentaram uma média mais alta na orientação para a tarefa.
Lázaro, Casimiro e Fernandes (2005) admitem a dificuldade de avaliar um jogador
universal, contudo acreditam que este possa ser um atleta dotado de um conjunto
de capacidades mentais que o fazem ser eficaz em qualquer posição. Os
resultados obtidos pelo grupo dos pontas pode ser explicado pelo facto destes
jogadores não serem tão participativos como um central ou um lateral na
construção do jogo ofensivo, em que é de extrema importância executar
corretamente todos os passes, organizarem o jogo e orientarem os colegas
(tarefas mais dirigidas para a mestria), e também pelo facto dos pontas serem
os principais intervenientes no contra-ataque, em que o principal objetivo é
marcar golo (função mais relacionada com a orientação para o ego).
No entanto, existe uma certa dificuldade em avaliar o jogador de andebol em
função da posição competitiva uma vez que o mesmo atleta pode ocupar várias
posições no decorrer de um só jogo, ou seja, por vezes verifica-se uma falta de
definição da posição do atleta (com exceção dos guarda-redes). Devido à
imprevisibilidade e dinâmica do jogo de andebol, o mesmo atleta pode ocupar
diferentes posições dependendo do desenho tático do treinador, da equipa estar
a atacar ou defender, de estar a ganhar ou a perder, de se encontrar
temporariamente sem um ou mais jogadores (devido às habituais exclusões de dois
minutos), entre outras condições inesperadas.
CONCLUSÕES
No geral, os andebolistas abrangidos nesta investigação estão fortemente
orientados para a tarefa e para o ego, apresentando, no entanto, níveis mais
elevados de orientação para a tarefa, ou seja, além da elevada preocupação em
executar corretamente uma determinada tarefa, têm também como objetivo a
obtenção do melhor resultado numa dada competição.
Relativamente ao escalão competitivo e aos anos de prática da modalidade,
inicialmente há uma diminuição das médias das orientações cognitivas devido à
ocorrência da importante fase do descentralismo cognitivo e emocional incitada
pelo próprio jogo. A participação num dado desporto tem um papel fundamental na
capacidade do indivíduo em se colocar no lugar do outro e conduzir o pensamento
para níveis mais elevados, sendo preponderante no início da adolescência e na
iniciação da prática desportiva. Após esse período de adaptação, caracterizado
por vivências desportivas, feedbacks e diversas aprendizagens, os atletas vão
aumentando novamente as suas orientações cognitivas. Com a experiência tendem a
convergir para uma estabilização, em que há uma aproximação entre as médias da
orientação cognitiva para a tarefa e da orientação cognitiva para o ego.
Após um determinado tempo de presença num dado clube, os atletas vão adquirindo
atitudes e seguindo orientações em conformidade com os feedbacks que vão
recebendo. Cada clube tem uma filosofia e ideais característicos que vão
transmitindo aos seus agentes desportivos e que vão, consequentemente, sendo
interiorizados e assumidos por estes, os atletas evidenciam assim
características do clube a que pertencem. Uma vez que o clube estudado os
orienta preferencialmente para a correta execução dos exercícios e movimentos
do andebol, valorizando igualmente a obtenção do melhor resultado, os atletas
evidenciam níveis elevados de orientação cognitiva não só para a tarefa como
também para o ego.
Há uma certa dificuldade em avaliar o jogador de andebol em função da posição
competitiva, visto que muitas vezes os atletas precisam de estar preparados
para assumir várias posições competitivas num mesmo jogo devido à dinâmica e
imprevisibilidade do andebol.
De um modo geral, defendemos que em qualquer investigação desta área, o
desportista deve ser visto e interpretado numa perspetiva holística, pois o
atleta é o resultado de um conjunto complexo de fatores físicos, fisiológicos,
sociais, culturais e psicológicos que interagem entre si.