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EuPTCVHe1646-107X2014000100005

EuPTCVHe1646-107X2014000100005

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-107X
ano2014
Issue0001
Article number00005

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Validação de conteúdo de ações tático-técnicas do Teste de Conhecimento Tático Processual: Orientação Esportiva

INTRODUÇÃO A avaliação do nível de rendimento tático do atleta em competições, durante o processo de treino, nas fases de formação ou no alto rendimento possibilita o aprimoramento do processo de ensino-aprendizagem nos jogos desportivos coletivos (JDC). O termo jogos desportivos coletivos (JDC) abrange, segundo Garganta (1995), desportos a exemplo do basquetebol, futebol, futsal, andebol e voleibol. Em tais modalidades, a ação do jogador apresenta um comportamento tático, resultante de um processo intencional dirigido e regulado psiquicamente (Nitsch, 2009).

Pode-se observar que as ações no jogo são condicionadas por pressões e restrições externas (posição e movimentos dos colegas e adversários, espaço de jogo, comportamento defensivo, relação com o objetivo/meta/alvo, trajetórias dos jogadores, trajetória e velocidade da bola, etc.) e internas (motivação, cansaço, etc.). Portanto, a capacidade percetiva e a tomada de decisão desempenham um papel crucial na aprendizagem das ações de jogo, possibilitando a apropriação do conhecimento tático declarativo e processual.

O conhecimento tático declarativo é definido como o nível de compreensão da lógica do jogo verbalmente declarado pelo jogador (Mitchell & Oslin, 1994).

O conhecimento tático processual manifesta-se quando o mesmo realiza ações em diferentes condições e situações por meio da concretização de um movimento (McPherson & Thomas, 1989). A execução da técnica desportiva em situação de jogo surge como o resultado do conhecimento tático adquirido (processual e declarativo).

Os instrumentos existentes que avaliam o conhecimento processual de forma ampliada nos JDC intitulam-se Team Sport Assessment Procedure - TSAP (Gréhaigne et al., 1997), Game Performance Assessment Instrument (Griffin et al., 1998) e Game-test situations (Memmert & Roth, 2003). Estes contemplam uma aferição das ações por peritos, porém não foi apresentado o ajustamento dos itens à semântica das ações táticas encontradas nos jogos como os professores/ treinadores as intitulam na área desportiva. O Game-test situations avalia formas de pensamento convergente e divergente da tomada de decisão. Porém, o mesmo avalia os jogadores em ações de ataque (sem bola), não permitindo considerar a interseção das diferentes fases dos jogos desportivos coletivos, ataque, defesa e transição (Bayer, 1986), bem como a disputa pela posse da bola.

No levantamento bibliográfico realizado por Costa, Garganta, Fonseca e Botelho (2002) e complementado até o ano de 2012, na revisão realizada para o desenvolvimento deste trabalho, nos últimos 15 anos, apenas os estudos de Gréhaigne, Godbout e Bouthier (1997), Oslin, Mitchell e Griffin (1998), Memmert e Roth (2003), Blomqvist, Luhtanen, Laakso e Keskinen (2000) em badminton; Blomqvist, Vänttinen e Luhtanen (2005) em futebol e Costa, Garganta, Greco, Mesquita e Maia (2011) em futebol desenvolveram instrumentos que avaliam o conhecimento tático processual. Os demais estudos foram realizados, em sua maioria, apenas na perspetiva do conhecimento tático declarativo dos jogadores.

A maior parte da amostra dos estudos foi dividida por nível competitivo, porém sem a apresentação de uma ampla visão sobre como as variáveis se comportam no decorrer dos anos de prática nas modalidades desportivas.

Nesse contexto, os testes são procedimentos avaliativos importantes do processo pedagógico, que possibilitam o levantamento de dados de determinada variável, auxiliando o professor na tomada de decisão sobre os modelos de ensino mais adequado para abordar os conteúdos e atividades planeadas (Greco, Memmert & Morales, 2010).

Um segundo aspeto a mencionar é o facto de que muitos pesquisadores têm utilizado, principalmente, participantes adultos para identificar as características dos processos cognitivos nos desportos. Poucos são os pesquisadores que têm examinado se as diferenças nesses processos também são visíveis nos atletas jovens e, se a melhoria dos processos cognitivos também ocorre em função da maturação e da prática (Williams, Ward, & Smeeton, 2004).

Objetivou-se identificar evidências de validade de conteúdo do teste para avaliação do conhecimento tático processual de orientação esportiva (TCTP-OE), por meio do cálculo do coeficiente de validade de conteúdo proposto por Hernández-Nieto (2002). Este procedimento também foi aplicado nos estudos de validação de questionário de valores olímpicos (QVO-27) (Secco et al., 2009), protocolo de categorização de metodologias de ensino nos desportos (Soares, Santos, Lima, Aburahcid, & Greco, 2010), escala de autopercepção para crianças (Valentini, Villwock, Vieira, Vieira, & Barbosa, 2010) e cenas de teste de ténis (Aburachid & Greco, 2011).

A validade de conteúdo foi uma das validades internas realizadas junto a outros procedimentos aplicados posteriormente, tais como, a verificação da dimensionalidade, da fidedignidade e da validade de construto.

MÉTODO Amostra Os procedimentos de validade de conteúdo seguiram os passos metodológicos apresentados por Hernández-Nieto (2002) através da avaliação de 11 juízes (4 de basquetebol, 3 de andebol e 4 de futsal), respeitando o número mínimo de três e máximo de cinco juízes por modalidade desportiva, como recomendado por este autor. Além disso, conforme Balbinotti, Benetti e Terra (2006) os juízes não podem participar de nenhuma parte do processo de pesquisa e acumular experiência ativa de no mínimo 10 anos na área, neste caso, na área dos JDC. No presente estudo os peritos tinham experiência profissional em diferentes categorias e níveis de rendimento.

Uma primeira versão do Teste de Conhecimento Tático Processual: Orientação Esportiva (TCTP-OE) foi estabelecida a partir das ações táticas confirmadas por meio do cálculo do coeficiente de validade de conteúdo (CVC). Essa foi aplicada na avaliação do conhecimento tático processual em 321 crianças de ambos os sexos, praticantes e não praticantes de "escolinhas desportivas", com média de idades de 10.32 ± 1.45 anos. Para a computação das ações foram analisados 108 jogos simulados (isto é, joga-se 3 × 3 conforme descrito a seguir), sendo que um mesmo sujeito foi avaliado por duas vezes, realizando o jogo com os pés e com as mãos.

O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais sob o número CAAE ' 0734.0.203.000-12. Foi obtido para todos os participantes deste estudo o respetivo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido assinado pelos pais ou seus tutores.

Consolidação das ações desportivas As ações desportivas foram elencadas a partir de ações tático-técnicas realizadas com as mãos e os pés. Semelhantemente à aplicação do teste Game-test situations(GTS) de Memmert e Roth (2003) (aplicado durante 3 minutos, em um quadrado de 9 × 9 metros, com dois grupos de 3 × 3 jogadores num mesmo espaço), a proposição de nova validação partirá dessa mesma situação, porém alterando a duração do teste para 4 minutos em sua forma de execução. Para isso, a troca de passes será realizada de maneira contínua e caso os jogadores na defesa recuperem a posse de bola, deverão iniciar imediatamente a troca de passes (ataque). Dessa maneira, o teste possibilita uma situação semelhante a como acontece nas modalidades desportivas coletivas.

Os desportos mais associados à verificação das ações esportivas são: futsal utilizando os pés, e andebol e basquetebol utilizando as mãos. Caracterizam-se pela prática num espaço comum, com ações simultâneas entre ataque e defesa, o que permite distingui-las a partir das fases do jogo em ofensivas, defensivas e de transição (contra-ataque e reorganização de defesa) (Bayer, 1986). O voleibol não se adequa como um desporto para a construção desse teste porque a estrutura do jogo inclui a rede, classificando-se como desporto de rede/ parede e de prática do jogo em espaço separado (Griffin et al.,1997; Moreno, 1994).

As 18 ações esportivas de observação do TCTP-OE propostas inicialmente para compor o instrumento e avaliar o comportamento tático-técnico dos sujeitos, tiveram como base a classificação espacial e comportamental, as fases do jogo, assim como a posse ou não da bola. Sendo assim, os pesquisadores do Centro de Estudos de Cognição e Ação criaram as ações esportivas incutidas nas seguintes dimensões: Jogador no ataque sem bola (JSB); Jogador no ataque com bola (JCB); Marcação ao jogador sem bola (MJSB); Marcação ao jogador com bola (MJCB).

O critério definido para a computação das ações consiste do registo da frequência com que esses comportamentos são observados. Ou seja, na análise dos vídeos os observadores registam cada ação tático-técnica realizada pelos sujeitos nesses jogos simulados contidos nos quatro itens que compõem cada dimensão identificados de um a dezasseis (ver tabela_5).

Procedimentos de validade de conteúdo Conforme sugerido por Pasquali (2003), objetivou-se nesta etapa do procedimento de validação testar, de maneira teórica, a hipótese do pesquisador. Ou seja, os itens construídos representam adequadamente o construto? A análise de conteúdo antecede a análise de construto, pois se procura verificar a adequação da representação comportamental do(s) atributo(s) latente(s).

O coeficiente de validade de conteúdo (CVC) mede o grau de concordância entre os juízes a respeito de cada item e vem preencher a lacuna das propriedades métricas do teste estatístico Kappa Cohen, que avalia apenas a fidedignidade e consistência (Balbinotti, 2005; Hernández-Nieto, 2002;). As instruções de avaliação dos itens propostas aos peritos incluíram uma escala de Likert de 5 pontos, além de permitir aos mesmos comentários livres sobre cada ação desportiva. A explanação dos critérios para escolha das ações tático-técnicas se apresenta a seguir.

Clareza de Linguagem Avaliou a linguagem escrita das ações, levando-se em conta a compreensão da forma como as ações poderão ser executadas em movimento. Foram apresentadas as seguintes questões aos peritos: "As ações são compreensíveis quanto à execução de movimento? É possível imaginar e executar esta ação após sua leitura?" Pertinência prática Avaliou as ações esportivas como forma de representar as situações tático- técnicas para a tomada de decisão no jogo. Foram apresentadas as seguintes questões aos peritos: "Você acredita que estas ações representam situações que realmente ocorrem no momento que um jogador atua em jogo?" Relevância teórica Avaliou a relevância das ações como forma de demonstração dos processos cognitivos que se tinha interesse de avaliar. Pergunta feita aos peritos: "Você acredita que estas ações esportivas permitem a análise da tomada de decisão tático-técnica de um jogador?" Hernández-Nieto (2002), Balbinotti et al. (2006) e Pasquali (1999) recomendam que os itens do instrumento devam apresentar um valor mínimo de CVC igual a 0.80. Com relação à clareza de linguagem, caso o item apresente valores inferiores a 0.80, os autores preconizam que a linguagem seja reformulada antes que a bateria de testes seja administrada à população alvo. Em relação à relevância teórica, para este estudo os itens com valores inferiores a 0.80 também foram reformulados, conforme as sugestões e observações dos juízes para que se enquadrassem na formulação do instrumento posteriormente proposto. Os itens julgados como insatisfatórios no termo da pertinência prática foram rechaçados na análise dos resultados do exame.

Aplicação do TCTP-OE O TCTP-OE foi aplicado por professores de educação física com experiência no processo de ensino-aprendizagem nas modalidades desportivas coletivas. Para isso, todas as ações tático-técnicas dos participantes realizadas com as mãos e com os pés foram filmadas durante a realização da situação de jogo de 3 × 3. O conhecimento tático processual foi avaliado, por meio das ações tático-técnicas que alcançaram valores satisfatórios de validade de conteúdo (CVC≥ 0.80). Foi necessária a realização do treino de dois observadores por meio de análise de vídeos do jogo simulado junto aos pesquisadores responsáveis. Dessa maneira, foi possível tirar as dúvidas que surgiram e alinhar o entendimento em relação à aplicação dos critérios de observação.

Análise Estatística As escalas respondidas foram inseridas e analisadas no programa Microsoft Office Excel 2010 através da fórmula do CVC. A análise dos dados foi computada a partir das fórmulas específicas apresentadas a seguir (Tabela_1).

A validade de construto do TCTP-OE foi determinada, por meio da análise fatorial exploratória (AFE). O método utilizado foi o de componentes principais com rotação ortogonal Varimax e normalização Kaiser. Os dados foram analisados por meio do pacote estatístico SPSS® 16.0.

A fiabilidade do TCTP-OE foi estabelecida, por meio do método teste-reteste em dias diferentes (interavaliadores). O intervalo de tempo entre uma observação e a outra foi de 7 dias. A técnica usada foi a correlação intraclasse (ICC), considerando no mínimo 10% da amostra total. Para este estudo 154 participantes foram reavaliados, configurando 27% da amostra (Tabachnick & Fidell, 1989).

RESULTADOS Os resultados deste estudo se apresentam a partir dos valores de CVCtotal para os critérios de validação (clareza da linguagem, pertinência prática e relevância teórica) avaliados pelos juízes no basquetebol (Tabela_2). Nos três critérios o CVCtotal foi satisfatório, levando-se em consideração a nova aceitação do item 11 (Apoia aos colegas na defesa ' cobertura ' quando são superados pelo adversário) e o descarte dos itens 5 e 8.

Na Tabela_3 observam-se os valores de CVCtotal para os critérios de validação levando-se em consideração a modalidade andebol. O CVCtotal dos três critérios foi satisfatório, exceto na clareza da linguagem. Os itens de número 1 a 11, que em primeira instância obtiveram valores de CVCt de 0.79, foram reavaliados e aceites em nova análise do painel de juízes, com CVCt de 0.80.

Os valores de CVCtotal para os critérios de validação na modalidade futsal estão evidenciados na Tabela_4. Nos três critérios, o CVCtotal foi satisfatório, levando-se em consideração a nova aceitação dos itens 1, 2, 11 e 17 e o descarte dos itens 3, 4 e 5. Mesmo que o item 4 tenha sido aceito no critério de relevância teórica após sua reformulação, no critério pertinência prática foi desconsiderado, o que o excluiu definitivamente do rol de itens válidos.

Após a análise da validade de conteúdo, os itens com CVC baixo ( 0.80) na pertinência prática foram retirados do instrumento proposto, por não serem ações tático-técnicas típicas dos JDC de invasão (basquetebol, andebol e futsal), que são o foco deste estudo. Foram eles: item 3 (Afasta-se do portador da bola criando linhas de passe sem prejudicar sua progressão), item 4 (Aproxima-se do portador da bola criando linhas de passe sem prejudicar sua progressão), item 5 (Finta e avança/dribla ou passa a bola) e item 8 (Passa ao colega sem marcação e desloca em sua direção para passar pelas costas e receber).

O rol das ações a serem visualizadas em forma de ocorrências no teste piloto, próximo passo da validação, foi finalizado com 16 ações desportivas tático- técnicas, agora intituladas itens.

Embora tenham sido retirados quatro itens dos 18 propostos, optou-se por criar um novo item em substituição ao item 4, assim como a reformulação do item 15 (Pressiona ao adversário tentando tirar a bola ou induzindo ao erro). Pela avaliação dos juízes o item 4 (Procura espaços livres executando deslocamentos com mudanças de direção e de velocidade) deveria ser parte da dimensão de marcação ao jogador com bola (MJCB) e não sem bola, como havia sido proposto pelos pesquisadores.

Dessa maneira e conforme os ajustes, o instrumento final comtemplou quatro itens para cada dimensão (jogador no ataque sem bola - JSB, jogador no ataque com bola - JCB, marcação ao jogador sem bola - MJSB e marcação ao jogador com bola ' MJCB), totalizando 16 itens a serem observados na Tabela_5.

Em relação à validade de construto o TCTP- OE executado com a mão, a AFE identificou seis itens que carregaram satisfatoriamente em um dos dois fatores definidos pela regra de Kaiser (componente 1= 2.630 e 43.83% de variância explicada e componente 2= 1.341 e 22.35% de variância explicada). Nesse contexto, o item 1 (Movimenta-se procurando receber a bola - JSB) e item 7 (Passa ao colega sem marcação e posiciona-se para receber - JCB), relacionados com ações no ataque sem bola e com bola apresentaram carga fatorial satisfatória no fator 2. O item 11 (Apoia aos colegas na defesa cobertura quando são superados pelo adversário - MJSB), item 12 (Apoia ao colega na defesa quando o jogador com bola tem dificuldade para dominá-la - MJSB), item 14 (Pressiona ao adversário e acompanha seus deslocamentos - MJCB) e item 16 (Pressiona ao adversário levando-o para os cantos do campo de jogo - MJCB), relacionados a situações de defesa marcando ao jogador no ataque sem bola e com bola, carregaram satisfatoriamente no fator 1. Assim, os pesquisadores optaram por denominar o fator 1 de defesa e o fator 2 de ataque. A percentagem total de variância explicada pelo modelo final alcançado foi de 66.18%.

O valor do KMO calculado com os cinco itens que apresentaram cargas fatoriais satisfatórias no modelo final resultante foi de 0.74, indicando que a técnica da análise fatorial pode ser utilizada para a amostra em questão. A prova de esfericidade de Bartlett demonstrou que existem correlações significativas (Qui-quadrado= 883.28, df= 15, p< 0.001) entre as variáveis e o modelo fatorial é pertinente.

A AFE do TCTP-OE executada com o identificou cinco itens que carregaram satisfatoriamente em um dos dois fatores definidos pela regra de Kaiser (componente 1= 2.101 e 42.01% de variância explicada e componente 2= 1.256 e 25.12% de variância explicada). Portanto, os itens 1 (Movimenta-se procurando receber a bola - JSB) e 7 (Passa ao colega sem marcação e posiciona-se para receber - JCB), relacionados com ações no ataque sem bola e com bola apresentaram carga fatorial satisfatória no fator 2. Os itens 11 (Apoia aos colegas na defesa cobertura quando são superados pelo adversário - MJSB), 12 (Apoia ao colega na defesa quando o jogador com bola tem dificuldade para dominá-la - MJSB) e 16 (Pressiona ao adversário levando-o para os cantos do campo de jogo - MJCB), relacionados a situações de defesa marcando ao jogador no ataque sem bola e com bola, carregaram satisfatoriamente no fator 1. Dessa maneira, os pesquisadores optaram por denominar o fator 1 de defesa e o fator 2 de ataque. A percentagem total de variância explicada pelo modelo final alcançado foi de 67.13%.

O valor do KMO calculado com os cinco itens que apresentaram cargas fatoriais satisfatórias no modelo final resultante foi de 0.63, indicando que a técnica da análise fatorial pode ser utilizada para a amostra em questão. A prova de esfericidade de Bartlett demonstrou que existem correlações significativas (Qui-quadrado= 405.68, df= 10, p<0.001) entre as variáveis e o modelo fatorial é pertinente.

No que se refere à fidedignidade do TCTP-OE, os valores do ICC calculados foram satisfatórios (ICC= 0.40'0.74) e excelentes (ICC≥ 0.75) determinando a fidedignidade do instrumento (Szklo & Nieto, 2000). Portanto, para a situação JSB os valores foram de 0.74 para mão e 0.76 para . Na situação JCB os valores foram de 0.77 para mão e 0.79 para . Na situação MJSB os valores foram de 0.72 para mão e 0.67 para . Na situação MJCB os valores foram de 0.76 para mão e 0.73 para .

DISCUSSÃO Como o objetivo deste trabalho foi avaliar a utilização do método de validade de conteúdo para validar ações para a composição de um teste de orientação desportiva, a avaliação dos juízes permitiu resultados satisfatórios quanto à manutenção de 16 itens que representam ações desportivas tático-técnicas. Este número representativo de itens 88.8% contribuiu para verificar que os processos cognitivos e motores utilizados para a execução dessas ações se baseiam na classificação das fases do jogo propostas por Bayer (1986). Além disso, pôde-se perceber semelhanças entre as ações desportivas, mesmo que estas sejam realizadas com os pés ou com as mãos, o que se apoiou nas teorias de classificação dos desportos de Griffin et al. (1997) e Moreno (1994).

Em sua maioria, as ações desportivas apresentaram relevância teórica e uma linguagem clara, que se define como a compreensão das ações que ocorrem em movimento no jogo interpretadas por meio da leitura da linguagem escrita. Os fatores limitantes nos valores de corte na validação evidenciaram-se no critério de pertinência prática, o que era esperado. Como a pertinência prática se caracteriza pela forma de representação das situações tático- técnicas para tomada de decisão no jogo, existe uma representativa dificuldade semântica para se definir o conceito deste tipo de ações no âmbito desportivo.

Como exemplo apresenta-se a situação do drible: driblar no futsal é considerado fintar, ou seja, realizar movimentos com o corpo (com ou sem bola) para enganar o adversário. no basquetebol e no andebol, o driblar significa ressaltar a bola em deslocamento ou parado.

O bloqueio no andebol é outro exemplo discrepante entre as modalidades, pois no basquetebol e no futsal é nomeado como "corta luz" (bloquear com o corpo a movimentação do adversário para que seu companheiro de equipe tenha espaço livre para finalizar).

Vale ressaltar que a concretização das ações desportivas a serem validadas por seu conteúdo serão úteis tanto para avaliar a aprendizagem dos alunos quanto para, através da verificação de ocorrência ou não das mesmas, ofertar o maior uso dessas ações nas sessões de treinos per se. O instrumento a ser validado pretende ser mais do que uma avaliação ou uma mensuração do produto esperado de uma unidade pedagógica (Harvey & Van Der Mars, 2010). O instrumento deve alcançar uma perspetiva de aprendizagem, permitindo que os alunos demonstrem suas técnicas e conhecimento tático que poderão ser aplicados no contexto do mundo real.

Os valores de corte dos estudos de Pasquali (1999), Balbinotti et al. (2006) e Hernández-Nieto (2002) foram mantidos, com CVC≥ 0.80, sugerindo que o rol de ações tático-técnicas desportivas selecionadas fosse pertinente baseada numa análise de forma empírica.

Acredita-se que a validação de construto dos itens embasada na teoria psicométrica de Pasquali (2003) cobriu grande parte significativa da extensão semântica do construto. A partir de uma sequência de estudos realizados na área da Educação Física (Aburachid & Greco, 2011; Secco et al. 2009; Soares et al. 2010; Valentini et al. 2010;) torna-se possível comprovar, mais uma vez, que os procedimentos estatísticos de Hernández-Nieto (2002) para a validação de conteúdo se adequam a esta área.

CONCLUSÕES A hipótese de validar um número satisfatório de ações tático-técnicas, ocorrentes em jogos coletivos, para a criação de um instrumento de avaliação do conhecimento tático processual, voltado à orientação desportiva, pôde ser confirmada após a aplicação do CVC. Demonstrou-se que este método também se ajusta na validação de ações a serem realizadas em avaliações processuais.

Este tipo de desafio contribui para um processo criterioso de validação e será utilizado como meio pedagógico, para a unificação conceitual das ações tático- técnicas nos desportos coletivos. A aplicação do TCTP-OE permitirá planificar os processos de ensino-aprendizagem das capacidades do rendimento desportivo relacionadas à cognição e ação, bem como aplicar avaliações temporais dentro dos períodos de treino adequando a regulação desse processo, seja na formação ou na descoberta de talentos desportivos. A utilização deste teste universaliza o conceito e execução das ações ocorrentes no jogo, o que facilita para o professor/treinador aplicar o instrumento e saber interpretá-lo. Torna-se possível avaliar o conhecimento tático processual nas modalidades desportivas coletivas de invasão, particularmente basquetebol, andebol e futsal, por meio de um teste simples, de baixo custo, aplicável em diferentes níveis de rendimento. Recorrendo ao solicitado por Harvey e Van Der Mars (2010), o TCTP- OE apresenta situações reais de jogo que são avaliadas e assim, diretamente relacionadas com os conteúdos do ensino dos jogos, e integrá-los na elaboração de processos de ensino-aprendizagem-treino mais precisos, direcionados ao desenvolvimento das potencialidades dos praticantes.

Dos 16 itens validados no TCTP-OE por meio do cálculo do CVC, a AFE confirmou 6 itens com a mão e 5 itens com o , configurando a segunda e definitiva versão do teste. Pode-se afirmar que as ações tático-técnicas, definidas na AFE, são suficientes para avaliar o conhecimento tático processual na iniciação desportiva nas modalidades desportivas de basquetebol, futsal e andebol.

Recomenda-se que os interessados em aplicar o teste compreendam a interpretação das ações de forma universal e que as mesmas sirvam como ações inclusive a serem estimuladas no processo de ensino-aprendizagem.


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