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EuPTCVHe1646-21222012000300010

EuPTCVHe1646-21222012000300010

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-2122
ano2012
Issue0003
Article number00010

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Osteomielite da sínfise púbica

INTRODUÇÃO A osteomielite da sínfise púbica é uma entidade rara, encontrada em certos grupos - casos de toxicodependentes, doentes sujeitos a procedimentos urológicos ou com patologia neoplásica pélvica e atletas. O diagnóstico é com frequência atrasado e não raramente confundido com outras entidades não infeciosas [1,2].

CASO CLÍNICO Homem, 44 anos, caucasiano, mecânico com um quadro de febre, dor abdominal baixa e cruralgia esquerda arrastada. Realizou consultas e exames auxiliares sem identificação da causa etiológica para a dor. Após 8 semanas foi tratado como hidrosadenite da coxa esquerda tendo sido submetido a drenagem cirúrgica e antibioterapia endovenosa com amoxicilina mais ácido clavulânico. Duas semanas após a drenagem da hidrosadenite apresentou recidiva da dor e fistulização purulenta a nível do local inicial do abcesso inguinal e também sinais de hidrosadenite contralateral (Figura_1). Após avaliação complementar identificou-se marcadores inflamatórios elevados: leucocitose com neutrofi lia e trombocitose acompanhado de valores de PCR na ordem dor 190,4 mg/l (n<3). O estudo imagiológico simples evidenciou um alargamento da sínfise púbica com rarefação da face sinfisial do corpo do púbis esquerdo (Figura_2) e uma fixação eletiva num cintilograma ósseo a nível da sinfise, evidenciado num exame previamente efetuado pelo doente. O doente foi submetido a desbridamento sinfi sial com ressecção das plataformas articulares e drenagem dos abcessos associados. Iniciou terapêutica endovenosa com vancomicina e meronem, mas ao 10º dia pós desbridamento apresentou recidiva da infeção com alastramento para o membro inferior direito com extensa/severa infeção partes moles e subida dos marcadores infl amatórios (PCR 285,7 mg/l). Realizou ressonância magnética da pelve e coxa visualizando-se além da destruição da sínfise um extenso infiltrado de material purulento a nível dos músculos da raiz da coxa com extensão aos compartimentos anterior e medial da coxa direita (Figura_3). Houve necessidade de fasciotomias dos compartimentos da coxa e revisão do desbridamento sinfisial (Figura_4). Foi isolado desde o primeiro procedimento cirúrgico, e consequentes colheita de microbiologia dos exsudados, uma espécie de Streptococcus spp sensível a meronem, vancomicina, linezolide, levofloxacina, rifampicina. Foram realizados pensos da sínfise e das fasciotomias em dias alternados sob sedação, com encerramento em intenção e terapêutica endovenosa durante 6 semanas e posteriormente oral com levofl oxacina e rifampicina até aos 3 meses.

Figura_4

DISCUSSÃO A dor abdominal baixa, na sínfise púbica e coxa, coloca problemas de diagnóstico diferencial. A osteomielite da sínfise púbica é uma possibilidade que devemos ter presente quando existem sinais de inflamatórios associados. Em termos genéricos o quadro ocorre com febre (74%), dor púbica (68%), dor na marcha com claudicação (59%), dor à mobilização da anca (45%) e dor na coxa (41%). A chave para o diagnóstico é um alto índice de suspeição e a presença de fatores de risco[1].

Os valores laboratoriais de infeção estão extremamente elevados na osteomielite e ligeiramente nos casos de osteíte. A cintigrafi a em 3 fases é positiva nas 3 fases da osteomielite e na osteite pode ser positiva na fase tardia[2,3].

Dado o agravamento do quadro clínico foi necessário o estudo por Ressonância Magnética para avaliação da extensão da infeção para os tecidos contínuos como se veio a confirmar com progressão para a coxa.

O isolamento do micro- quer por biopsia quer intraoperatóriamente permite o diagnóstico definitivo[1,2]. O agente mais frequentemente envolvido é o Estafilococus Aureus sendo o Streptococcus, identificado no nosso caso, dos mais frequentes. A existência de febre e a presença de uma deterioração clínica favorece a presença de um processo de infeção e enfatiza a necessidade de um estudo cultural repetido (hemocultura, biopsia aspirativa ou colheita intraoperatória[2].

As "guidelines" recomendam antibioterapia dirigida endovenosa pelo menos 6 semanas, mas um gesto cirúrgico, para desbridamento, pode ser necessário nos doentes que não respondem á antibioterapia ou em caso de complicação séptica [2,4]. Numa revisão de 100 doentes com osteomielite da sínfise 55 % requereu desbridamento cirúrgico[5]. A ressecção das plataformas articulares é a técnica recomendada para tratamento cirúrgico neste tipo de infeção[7,8]. Não raramente o encerramento por intenção permite controlar a infeção como o ocorrido no nosso caso clínico. Existem relatos de ocorrência de dor numa forma tardia a nível sinfi sial ou posteriormente na sacroilíaca quando ocorre uma instabilidade tardia do anel pélvico dado a perda de integridade do anel anterior de suporte. No nosso caso ainda não se evidenciou qualquer sinal clínico ou radiológico de instabilidade tardia[9].

CONCLUSÃO Devemos estar atentos para a possibilidade da existência de uma osteomielite da sínfise nos quadros de persistência de dor na região pré púbica. A distinção entre osteite e a osteomielite deve estar presente entre nós quando estudamos um doente. O diagnóstico precoce e orientação terapêutica correta permite controlar a doença de forma eficaz.


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