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EuPTCVHe1646-69182013000400012

EuPTCVHe1646-69182013000400012

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1646-6918
ano2013
Issue0004
Article number00012

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Radioterapia intraoperatória e neoplasia da mama

INTRODUÇÃO A cirurgia de ressecção tumoral, seguida de radioterapia externa envolvendo toda a mama, constitui o standard of care, na neoplasia da mama, em estádio inicial, oferecendo boas taxas de controlo local da doença. (1) A radioterapia externa convencional (RTX), prescrita a título adjuvante, para o controlo local desta neoplasia, administra habitualmente 50 Gy, em 25 fracções, durante 5 semanas, com um incremento final (boost) que pode ser de 10-16 Gy sobre o leito tumoral. Este incremento de dose é habitualmente efectuado com o recurso a electrões, produzidos por um acelerador linear ou com braquiterapia intersticial (étimo grego brachys significando por dentro, através de...) utilizando isótopos radioactivos - ex.: Ir-192).

A IORT, que pode ser considerada uma forma de irradiação acelerada parcial da mama (APBI), parece constituir uma alternativa possível ao esquema convencional e tem vindo a ganhar adeptos na comunidade médica, como consequência também de novos e atractivos equipamentos que permitem a sua realização (Intrabeamâ, Xoft eBxâ, ...).

A International Society of Intraoperative Radiation Therapy (ISIORT) apontava em 2004, para cerca de 61% de casos de neoplasia da mama a poderem beneficiar de IORT, seguida à distância pela neoplasia rectal (com 15% dos casos).

MÉTODOS A IORT proporciona uma integração completa entre cirurgia e radioterapia, considerando que permite reduzir a probabilidade de resíduo tumoral, ao ser combinada com uma cirurgia de ressecção tumoral, maximizando (alguns) efeitos radiobiológicos, ao utilizar uma dose única e elevada de radiação e optimizando o factor tempo, ao irradiar precocemente, submetendo a doente a um único procedimento anestésico (1).

É sabido que maior volume tumoral pressupõe maior dose para a obtenção de controlo local. Esta tese está subjacente ao conceito de escalada de dose e à necessidade de incremento (boost) final, num esquema de tratamento por radioterapia com fraccionamento convencional (RTX). Por outro lado, o hiato temporal ocorrido no procedimento standard, entre a cirurgia e o início da RTX, permite a "repopulação" celular tumoral acelerada, a partir de clones celulares tumorais residuais. O crescimento desta população, que é inicialmente exponencial, parece ser impedido pela utilização de IORT (2). Por outro lado, diversos autores referem que, pelo facto de não existirem ainda alterações do ambiente vascular e da oxigenação celular, no momento da cirurgia, o efeito radiobiológico da IORT resulta mais favorável, por existirem condições "ambientais" que conferem maior radiossensibilidade aos tecidos (2).

Existem diversos modelos matemáticos que analisam a relação dose-resposta, em radioterapia. O modelo linear quadrático é actualmente o mais utilizado e acentua o benefício da utilização de doses/ fracção inferiores a 6 a 8 Gy.

Assumindo que razão a/b de uma célula tumoral de tecido glandular mamário é igual a 10, com a administração de uma dose única de 12 Gy, como boost ou 21 Gy como tratamento exclusivo, obter-se-ia o mesmo controlo local, que com fraccionamento convencional de 25 ou 60 Gy, respectivamente. A desvantagem potencial são os fenómenos de toxicidade tardia como a fibrose, em tecidos de resposta tardia (a/b £ 3) (2).

O objectivo de irradiar o alvo com prejuízo mínimo dos tecidos /órgãos sãos envolventes (OR), objectivo primeiro de qualquer modalidade de radioterapia, parece ser atingido de forma facilitada com a IORT, ao poderem proteger-se OR, afastando-os literalmente no momento da irradiação, por mobilização intra- operatória e/ou protecção mediante blindagem. A crítica mais contundente apontada à IORT é a de não permitir a decisão baseada no estudo anátomopatológico completo (exaustivo), não evitando assim que casos de pior prognóstico tenham mesmo de efectuar radioterapia externa convencional, envolvendo toda a mama ou, de outro modo, não evitando a radioterapia adjuvante, a doentes de idade avançada, com carcinomas invasivos da mama, com receptores hormonais positivos, que poderiam beneficiar apenas de cirurgia e hormonoterapia.

Também a delimitação do volume-alvo, o volume a envolver pela radiação, parece ser prejudicada na IORT, colocando-se dúvidas quanto às margens de segurança a envolver (que deverão contemplar zonas de potencial invasão microscópica). Na prática, os desafios principais para uma adequada definição do volume a tratar com IORT e que deverão ser objecto de estudo, são a margem de ressecção posterior, a margem dosimétrica posterior e o seu gradiente terapêutico.

A IORT pode ser efectuada com recurso a várias técnicas, sendo as mais antigas, descritas em estudos japoneses da década de 60, que utilizam electrões produzidos por aceleradores lineares (ELIOT) e a braquiterapia de Alta taxa de dose (High Dose Rate - HDR), utilizando isótopos radioactivos (2).

Os aceleradores lineares, através de aplicadores específicos, administram electrões com diversas energias. Estes equipamentos podem ser fixos, o que pressupõe logística adequada para o transporte do doente, em condições de assepsia, até à unidade ou podem ser móveis, permitindo a sua deslocação ao bloco operatório, que deverá estar dotado das características físicas, adequadas à realização de tratamentos com radiação ionizante de alta energia.

Os aplicadores utilizados oscilam entre os 3 a 15 mm de diâmetro e as energias de electrões mais usadas são de 6 a 12 MeV.

A braquiterapia de alta taxa de dose é efectuada com recurso a um radioisótopo, habitualmente o Ir-192 e a material vector, que permitirá a deslocação da fonte radioactiva e a consequente irradiação do volume de interesse. A utilização destes radioisótopos permite decaimentos de dose rápidos nos volumes a considerar, poupando os tecidos ou órgãos adjacentes à radiação. As modernas técnicas de controlo remoto (after-loading) permitem a segurança das equipas envolvidas e a utilização de imagem no planeamento ( com aplicadores desenvolvidos especificamente para serem compatíveis com Tomografia Computadorizada ou Ressonância Magnética) trouxe avanços nesta modalidade terapêutica.

O sistema Intrabeamâ (Carl Zeiss Surgical, Oberkochen, Alemanha) é um equipamento móvel, com gerador miniaturizado de Rx, que é levado ao bloco operatório, para utilização durante o acto cirúrgico. O electrões acelerados embatem num alvo de ouro, colocado na extremidade de um tubo, resultando na emissão de Rx de 50 kV. A uniformidade da dose é conseguida pela utilização de aplicadores esféricos que preenchem a "pseudo-cavidade" deixada pela remoção tumoral. A taxa de dose depende do diâmetro do aplicador e da distância do alvo à superfície do aplicador (5).

O equipamento Xoftâ (Sistema Axxent) é apresentado como braquiterapia electrónica, isotope-free (eBx). Trata-se de um equipamento portátil, uma plataforma "multi-usos", que possui uma fonte miniaturizada de Rx e que permite diversas soluções, entre as quais a IORT. O feixe energético obtido é de baixa voltagem (kV) e permite tempos de tratamento semelhantes aos de uma fonte de Ir-192 (6). O primeiro tratamento reportado, em neoplasia da mama, data de Setembro de 2008.

Estes últimos equipamentos não possuem ainda estudos com recuo necessário para a sua validação, embora estejam a surgir publicações que avaliam as complicações a curto prazo, em mulheres submetidas a IORT, com equipamentos que utilizam Rx de baixa voltagem (7).

A necessidade de comparar RTX convencional sobre toda a mama, com IORT mamária exclusiva está plasmada no International randomized trial targeted intraoperative radiotherapy (TARGIT) , um estudo Fase III, que iniciou o recrutamento de doentes em Março de 2000, envolvendo 33 centros e 3451 mulheres. Os resultados, apresentados em 2012, apontam para recidiva na mama ipsilateral de 3,3% para doentes tratadas com IORT, contra 1,3 % tratadas com RTX convencional e para todas as recidivas consideradas 8,2% (para IORT) contra 5,7% (para RTX) (3) (8).

Também parâmetros relacionados com a qualidade de vida são abordados no TARGIT- A. Um estudo envolvendo 230 doentes, entre os 31 e 84 anos, foi recentemente publicado (10). Os end-points traçados foram o estado geral, restrições na actividade normal diária e avaliação da dor utilizando escalas da European Organization for Research and Treatment of Cancer (EORTC). As conclusões sugerem que, neste enquadramento de estudo randomizado, parâmetros de qualidade (QoL) relacionados com a radiação, foram superiores com IORT, que com RTX convencional.

O European Institute of Oncology (EIO) publicou recentemente uma análise retrospectiva com o objectivo de verificar se as guide-lines para aplicação de APBI, consensualizadas pela American Society for Therapeutic Radiation Oncology (ASTRO), podem ser utilizadas para IORT. O estudo incluiu 1822 casos de doentes tratadas IORT utilizando electrões (ELIOT). Concluíram que, no contexto de doentes tratadas com ELIOT, as guide-lines da ASTRO identificavam bem os grupos nos quais a APBI pode ser considerada uma alternativa à RTX convencional sobre toda a mama e, identificavam igualmente bem, os grupos nos quais a APBI não estava indicada.

RESULTADOS Permanecem muitas hesitações quanto à técnica de IORT a utilizar, uma vez que, as técnicas existentes, diferem entre si na cobertura que efectuam ao volume- alvo, no perfil de dose e na técnica cirúrgica. Os critérios de selecção de doentes a beneficiarem desta terapêutica, não estão claramente estabelecidos e a selecção efectuada é prejudicada pela falta de dados anátomo-patológicos, como o estado da margem ou a invasão dos linfáticos.

Muitas doentes submetidas a IORT precisarão prosseguir com esquemas de RTX convencional, envolvendo toda a mama (8) (9).

CONCLUSÕES As técnicas existentes para a realização de IORT são atraentes e o racional subjacente à utilização de IORT mantém-se actual.

O follow-up das doentes tratadas com IORT, nos estudos indicados é ainda limitado, sendo necessárias mais publicações.

Parece admissível considerar que a IORT terá um papel na abordagem terapêutica da neoplasia da mama em estádio inicial, no entanto, a extensão e os detalhes da sua utilização não estão ainda claramente estabelecidos.


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