Como publicar em revistas médicas: regras básicas para autores I
EDITORIAL
Como publicar em revistas médicas – regras básicas para autores I
How to publish in medical publications – basic rules for authors I
Jorge Penedo
Editor Chefe da Revista Portuguesa de Cirurgia
Correspondência
PUBLISH OR PERISH
O desafio e o interesse pela publicação científica têm vindo a crescer
exponencialmente nos últimos anos. Este é um movimento internacional que se tem
vindo a consolidar nas últimas décadas, sendo bem visível pelo número crescente
de artigos que as principais revistas médicas internacionais têm vindo a
receber.
Os números da publicação cirúrgica portuguesa ainda são razoavelmente baixos
quer nas publicações nacionais quer internacionais. Tem contribuído para tal
uma preocupação dos serviços essencialmente focada na atividade assistencial e
não tanto na atividade de investigação e de publicação.
Temos assistido no entanto, nos últimos anos, a uma maior dinâmica dos
cirurgiões portugueses no domínio da publicação científica por várias ordens de
razões:
* Contágio das boas práticas internacionais;
* Maior ligação dos serviços hospitalares a instituições universitárias
* Aumento do número de cirurgiões motivados para a investigação clinica
* Aparecimento da Revista Portuguesa de Cirurgia colmatando um espaço até à
data inexistente na publicação nacional.
Importa pois desenvolver o potencial de publicação dos cirurgiões portugueses
pela divulgação de um conjunto de regras essenciais para quem queira publicar
os seus trabalhos.
A principal regra da publicação é a de que só deve ser publicado o artigo cujo
conteúdo científico seja relevante e inovador. As maiores revistas
internacionais têm taxas de rejeição entre os 90 e os 95%. Cerca de 50% dos
manuscritos não chegam sequer à fase de revisão, sendo recusados de imediato
pelo corpo editorial.
De seguida importa conhecer as regras básicas da publicação científica. E sobre
este tema há que começar por conhecer aquele que é atualmente reconhecido como
um dos documentos essenciais neste domínio: “Recommendations for the Conduct,
Reporting, Editing and Publication of Scholarly Work in Medical Journals”
produzido pelo International Committee of Medical Journal Editors (http://
www.icmje.org/about-icmje/faqs/_icmje-recommendations/). Grande parte das
principais revistas médicas seguem estas recomendações pelo que o seu
conhecimento é de todo essencial.
Relacionado com este tópico há também que conhecer antecipadamente as
instruções aos autores da revista onde se pretende publicar. Uma leitura atenta
destas instruções possibilita o ganho de tempo no início do ciclo de publicação
e evita pedidos desnecessários de documentos, formatações erradas, modelos
desajustados e outras incoerências com as instruções existentes que podem
redundar no limite numa recusa precoce de publicação.
Outro tema sempre polémico é o que se prende com a autoria do artigo. A autoria
inapropriada é hoje reconhecidamente uma má prática. Este tema tem tal
importância que o COPE (Committee on Publication Ethics) (http://
publicationethics.org/resources/code-conduct) define claramente quais as
principais regras a seguir. De uma forma resumida as principais regras a seguir
quanto á autoria passam por:
* são autores quem teve um contributo intelectual na conceção do artigo, quem
participou na análise dos dados, o redator ou revisor e quem aprova a versão
final;
* a ordem dos autores não tem nenhuma regra fechada e resulta do acordo entre
os autores;
* a denominada autoria honorária é considerada má prática e de evitar;
* com exceção de artigos resultantes de estudos multicêntricos ou de
guidelineso número de autores não deve ser excessivo, havendo mesmo várias
revistas que limitam o número de autores;
* é considerado boa prática referir qual o papel desempenhado por cada autor no
trabalho apresentado.
Globalmente os manuscritos cirúrgicos dividem-se em três grandes grupos: casos
clínicos, artigos de revisão e artigo de investigação/ original. A sua
relevância é claramente diferente tal como a sua estrutura organizativa. As
exigências e os modelos de revisão são normalmente diferentes não querendo
dizer com isso que haja modelos a quem se aplica maior ou menos exigência. O
autor ao iniciar a conceção do artigo deve decidir o que quer comunicar e
decidir qual o tipo de artigo que melhor se adapta à sua pretensão. As
instruções aos autores tipificam as diferentes regras (dimensão, número de
tabelas, numero de imagens, referências bibliográficas, etc.) para cada tipo de
artigo que devem ser conhecidas e seguidas pelos autores
A escrita e o estilo utilizado é igualmente relevante. Afirmava o Conde de
Buffon em 1753: “Os que escrevem como falam, mesmo que falem bem, escrevem
mal”.
O título é essencial, devendo ser claro e referir a natureza do estudo. Não
deve conter referências à instituição ou instituições onde ocorreu o estudo nem
utilizar sublinhados ou realces.
O resumo deve ser curto, objetivo e resumir de forma clara o manuscrito. Não
devem utilizar-se abreviaturas nem referências. As palavras-chave são
essenciais para uma boa pesquisa pelo que devem traduzir claramente os
principais tópicos do artigo. O sistema MeSH (Medical Subject Headings) da U.S.
National Library of Medicine (https://www.nlm.nih.gov/mesh/authors.html) é
muito divulgado e facilita muito uma pesquisa mais eficaz dos artigos. A sua
utilização pode ajudar a uma maior projeção do artigo.
O plágio é uma má prática infelizmente ainda presente na publicação científica.
E atente-se que quando nos referimos a plágio não nos estamos somente a referir
a cópias integrais de artigos. A utilização não referenciada de trechos de
outras publicações é considerada plágio e constitui motivo de recusa de
publicação. Atentem os mais incautos que, atualmente, a maioria das revistas
indexadas utilizam poderosos motores de revisão de texto que detetam com enorme
facilidade textos plagiados.
A língua utilizada é outro dos tópicos essenciais na publicação científica.
Numa primeira opinião a utilização, no nosso caso, da língua portuguesa
constitui uma premissa aparentemente indiscutível. No entanto, se considerarmos
que uma das principais motivações para publicar, é o de aumentar o Conhecimento
e divulgar descobertas, facilmente se entende que, quanto mais universal for a
língua utilizada, maior divulgação se obterá do manuscrito produzido. É esse o
motivo pelo qual a Revista Portuguesa de Cirurgia estimula todos os autores a
publicar em inglês, como forma essencial para aumentar quer o Fator de Impacto
da revista quer o Fator H de cada autor (http://researchguides.uic.edu/
c.php?g=252299&p=1683205).
Independentemente da língua utilizada a correção ortográfica e gramatical é
essencial pelo que deve assumir a redação final com especial cuidado.
Estas são algumas regras básicas que devem ser conhecidas por quem pretende
publicar em revistas científicas. A Sociedade Portuguesa de Cirurgia tem vindo
ao longo dos últimos anos a empenhar-se neste tema pretendendo-se que a Revista
Portuguesa de Cirurgia constitua um contributo para a divulgação da Cirurgia
portuguesa e o reconhecimento do seu trabalho e da sua pujança. Publicar é hoje
uma obrigação de todos os serviços e dos cirurgiões portugueses. Contamos
convosco e com os vossos trabalhos.
Correspondência:
JORGE PENEDO
e-mail: jrgpenedo@gmail.com