Correção endovascular de aneurisma da artéria esplénica: caso clínico
Correção endovascular de aneurisma da artéria esplénica ' caso clínico
*
José Almeida Lopes*, Daniel Brandão*, Armando Mansilha*
*Unidade de Angiologia e C. Vascular do Hospital CUF ' Porto
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|RESUMO|
Os aneurismas da artéria esplénica, embora sejam os aneurismas esplâncnicos
mais frequentes, cursam com uma prevalência de apenas 0,01%. Neste contexto os
autores apresentam um caso clínico de uma doente de 41 anos com aneurisma da
artéria esplénica de 20x29mm, tratada através da colocação de um stent coberto
auto-expansível (Gore®, Viabahn®).
É realizada uma revisão da literatura, das possíveis complicações
e feita referência às várias hipóteses de tratamento, dando particular ênfase
às novas técnicas endovasculares.
Palavras-chave: aneurisma da artéria esplénica, endovascular
Endovascular correction of splenic artery aneurysm' case report
|ABSTRACT|
Splenic artery aneurysms, although they are the most common splanchnic
aneurysms, they have a prevalence of only 0,01%. In this context the authors
present a case report of a 41 years female patient with a splenic artery
aneurysm of 20x29mm, treated by deployment of a covered self-expandable stent
(Gore® Viabahn®).
It is performed a literature review of the pathology in question, possible
complications and made reference to the various treatment options, with
particular emphasis on the new endovascular techniques.
Key words: splenic artery aneurysm, endovascular
INTRODUÇÃO
Os aneurismas esplénicos são os aneurismas esplâncnicos mais frequentes, mas
cursam com uma prevalência de apenas 0,01%.[1]
Verdadeiros aneurismas da artéria esplénica são de relevante importância
clínica, por apresentarem uma elevada mortalidade aquando da rotura.[2,3] São
habitualmente assintomáticos e quando diagnosticados podem ser abordados de
diversas formas, mediante o tamanho, localização e ainda a existência ou não de
gravidez concomitante (fator associado a um risco acrescido de rotura).
Atualmente as técnicas endovasculares têm gradualmente substituído a cirurgia
clássica para o tratamento de aneurismas esplâncnicos.[4] O tratamento
endovascular assentou mais comummente durante muitos anos na embolização com
coils, acarretando frequentemente défices de perfusão esplénica e portanto
morbilidade para o doente.
Hoje em dia a exclusão de aneurismas esplénicos com recurso a stent coberto,
tem-se tornado uma opção válida como o caso clínico a seguir apresentado.
CASO CLÍNICO
Doente de 41 anos de idade, sexo feminino, sem antecedentes médicos,
traumáticos ou cirúrgicos de relevo, com história obstétrica constituída por
duas gestações e dois partos eutócicos, apresentou numa ecografia abdominal de
rotina uma imagem sugestiva de um aneurisma esplâncnico. Na sequência realizou
uma angio-TC |Figura 1| que confirmou tratar-se de um aneurisma sacular da
artéria esplénica de 20x29mm, localizado no seu terço proximal.
| FIGURA 1 | Angio-TC 3D de aneurisma da artéria esplénica
Sob anestesia local e após punção femoral, utilizou-se uma baínha 8F (Flexor®
Check-Flo®introducer, Cook®, Bloomington, Indiana, EUA) e efectuou-se a
exclusão do referido aneurisma, tendo-se colocado um stent coberto auto-
expansível de 6mm x 50mm (Viabahn®, Gore®, Flagstaff, Arizona, EUA), |Figura
2|. O procedimento decorreu sem intercorrências, tendo a doente tido alta no
dia seguinte à intervenção.
| FIGURA 2 |Exclusão de aneurisma esplénico por via endovascular
Aos quatro meses, realizou uma angio-TC de controlo |Figura 3| que revelou
exclusão do aneurisma esplénico, permeabilidade do stent colocado, e ausência
de sinais de enfarte ou atrofia esplénica. Seis meses após o procedimento, a
doente mantinha-se sem queixas.
| FIGURA 3 | Angio-TC 3D, 4 meses após o procedimento
DISCUSSÃO
O uso generalizado de meios auxiliares de diagnóstico levou ao crescente
diagnóstico de aneurismas viscerais.
Ao contrário da doença aneurismática degenerativa de rotina, os aneurismas
esplénicos são mais comuns no sexo feminino, numa proporção de 4:1, sendo a
média de idades de 52 anos.[5,7]
São geralmente saculares, menores que dois centímetros de diâmetro, estando a
sua maioria localizada no terço médio ou distal da artéria esplénica ou em
pontos de bifurcação.[6,7]
Os factores de risco associados são o sexo feminino, história de múltiplas
gestações e a hipertensão portal.[6,8]
Aspetos hemodinâmicos locais, hipertensão, fatores hormonais e degeneração da
parede média da artéria, têm sido mencionados como factores causadores de
aneurismas esplénicos.[9]
As indicações geralmente aceites para a correção de aneurismas esplénicos são:
sintomas locais, gravidez, tamanho maior que dois centímetros e aumento de
diâmetro. Muito embora a condição global do doente desempenhe um importante
papel na decisão final do tratamento.[10]
O objetivo da correção dos aneurismas esplénicos é prevenir a sua expansão,
potencial risco de rotura (mortalidade global de cerca de 25%[2,3]). Existe
atualmente uma larga gama de possibilidades terapêuticas que podem passar pela
cirurgia clássica (laqueação, excisão do aneurisma e/ou revascularização) ou
por procedimentos endovasculares (exclusão com colocação de stent coberto ou
embolização com coils).
Visto haver várias hipóteses de tratamento e não haver um suficiente número de
casos para suportar a existência de um estudo randomizado que possibilite uma
diferenciação clara entre cirurgia clássica e os procedimentos endovasculares,
ambas as técnicas continuam a ser legitimamente utilizadas.
A cirurgia clássica tem maior probabilidade de ser definitiva e portanto de
necessitar de um follow-up menos vigilante. Dada a rica rede de circulação
colateral existente no baço (artérias gástricas curtas e arcada pancreático-
duodenal) a artéria esplénica pode ser laqueada sem consequências.[5]
Dado os procedimentos endovasculares apresentarem uma eficácia comprovada,
limitada morbilidade, reduzido tempo de internamento, menor período de
convalescência, são por isso considerados por um número crescente de autores
como a primeira opção.
A abordagem endovascular pode porém apresentar complicações como por exemplo as
relacionadas com o local do acesso, toxicidade relativa ao uso de contraste,
anafilaxia, trombose e dissecção arterial e embolizações de estruturas não
alvo, assim como a possibilidade de endoleaks que exijam reintervenção.
Entres as diferentes técnicas endovascular os procedimentos com stent têm a
vantagem de tentar preservar e manter a função imunológica do baço, evitar o
síndrome pós-embolização (febre, dor abdominal, ileo e pancreatite) presente em
30-80% dos doentes submetidos à embolização com coils e de produzir imagens de
follow-up sem artefactos relativamente às imagens radiopacas produzidas quer
por colas (N-butil-2-cianoacrilato) quer por coils.[11]
A opção de um stent coberto auto-expansível em detrimento de um stent
expansível por balão, recaíu no facto do primeiro ser mais flexível e portanto
de se adaptar melhor à tortuosidade da artéria em questão.
CONCLUSÃO
Este caso clínico serve para documentar um caso de um aneurisma esplénico
corrigido por via endovascular e de permitir a discussão em torno da abordagem
terapêutica mais atual, englobando as técnicas endovasculares minimamente
invasivas.