Estratégia terapêuticana doença venosa crónica
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
DVC Doença venosa crónica
AVF American Venous Forum
VCSS Venous Clinical Severity Score
SF-36 Short Form Health Survey
CIVIQ Chronic Venous Insufficiency Questionnaire
VEINES-QOL/Sym Venous Insufficiency Epidemiologic andEconomic Study of
Qualityof Life
AVVQ Aberdeen Varicose VeinQuestionnaire
CXVUQ Charing Cross VenousUlceration Questionnaire
FFPM Fração flavonóica purificada micronizada
CHIVA Cure Conservatrice et Hemodynamique de L'insiffisance Veineuse en
Ambulatiore)
ASVAL Ablation Sélective des Varices sous Anesthesié Locale
SVS/AVF Society of Vascular Surgery/American Venous Forum
INTRODUÇÃO
A doença venosa crónica (DVC) é uma patologia bastante prevalente, que atinge
entre 5 a 30% da população adulta[1], capaz de reduzir a qualidade de vida e
com repercussões importantes a nível socioeconómico, tendo em conta que a
doença e as suas complicações podem ser responsáveis por dor crónica e
incapacitante e, consequentemente, pela perda de dias de trabalho e antecipação
da reforma. Os custos diretos são capazes de exceder os 10 milhões de euros por
cada milhão de habitantes na Bélgica, França, Itália e Reino Unido[2].
O sistema venoso encontra-se dividido em superficial, perfurante e profundo,
podendo a DVC estar relacionada com qualquer um desses compartimentos. O
funcionamento venoso está dependente da plenitude das válvulas e de músculos
propulsores, que garantem o fluxo venoso no sentido contrário à gravidade [1].
A incompetência valvular de veias superficiais pode resultar do enfraquecimento
das paredes vasculares ou ser secundária a tromboflebites, enquanto a
incompetência venosa profunda surge, frequentemente, na sequência de um evento
obstrutivo[1].
A doença venosa crónica engloba qualquer alteração morfológica ou funcional do
sistema venoso e cursa com uma série de apresentações clínicas que podem variar
de telangiectasias a úlceras venosas[3]. Neste contexto surgiu a necessidade de
criar um sistema capaz de conduzir a um diagnóstico e classificação precisos e
adequados, que constitua a base para a escolha da estratégia terapêutica mais
apropriada. Assim, em 1994, no âmbito do congresso anual do American Venous
Forum (AVF), foi apresentada a classificação CEAP, a qual tem em conta a
avaliação clínica do doente (C), a etiologia da doença (E), região anatómica
envolvida (A) e o processo fisiológico subjacente (P)[4] |QUADRO 1|.
| QUADRO 1 | Classificação CEAP
Todas as formas de apresentação clínica da DVC estão compartimentadas em sete
categorias que variam de acordo com a gravidade, sendo C0 a ausência de sinais,
C1 telangiectasias e/ou varizes reticulares, C2 varizes tronculares, C3 edema,
C4a pigmentação e/ou eczema dos membros, C4b lipodermatosclerose e/ou atrofia
branca, C5 úlcera venosa cicatrizada e C6 úlcera venosa ativa. A presença (S)
ou ausência (A) de sintomatologia é igualmente registada[4]. As queixas mais
frequentemente apresentadas pelos doentes são dor, prurido, calor, edema,
sensação de "pernas pesadas", fadiga e/ou pernas inquietas[3].
Etiologicamente, a DVC encontra-se dividida em três classes: congénita (Ec),
primária (Ep) ou secundária (Es), havendo, contudo, a possibilidade da não
identificação da etiologia subjacente ao processo patológico (En).
No que diz respeito à anatomia venosa do membro inferior, esta é dividida em
três sistemas: superficial (As), profundo (Ad) e perfurante (Ap), embora possa
não ser possível identificar o sistema venoso atingido (An)[4].
Por fim, a DVC, em termos fisiopatológicos, poderá resultar de um fenómeno de
refluxo (Pr), de obstrução (Po), ou da coexistência de ambos (Pr,o), podendo
ainda não ser conhecido o processo desencadeante (Pn).
A classificação acima descrita diz respeito ao CEAP básico, usado
essencialmente, na prática clínica diária, sendo por isso dotado de um certo
grau de simplificação. No entanto, uma forma mais complexa, CEAP avançado, foi
desenvolvida, com especial relevância em estudos científicos. Este último
adiciona ao primeiro uma classificação anatómica dividida em 18 segmentos
venosos, que clarifica a localização dos processos patológicos subjacentes[4].
No sistema superficial estão incluídas telangiectasias e veias reticulares (1),
grande veia safena acima do joelho (2), grande veia safena abaixo do joelho
(3), pequena veia safena (4) e veias não safenas (5). O sistema venoso profundo
engloba a veia cava inferior (6), a veia ilíaca comum (7), a veia ilíaca
interna (8), a veia ilíaca externa (9), veias pélvicas como as gonadais e veias
do ligamento largo (10), veia femoral comum (11), veia femoral profunda (12),
veia femoral (13), veia poplítea (14), veias crurais como tibial anterior,
tibial posterior, peroniais (15) e ainda musculares (gastrocnémia e soleal)
(16). Por fim, as veias perfurantes encontram-se divididas em perfurantes da
coxa (17) e da perna (18).
Tendo por base a classificação CEAP, a doença venosa crónica é definida como
qualquer forma de doença venosa desde C0s a C6, inclusive formas como
telangiectasia cuja designação de "doença" é muitas vezes
controversa, enquanto a insuficiência venosa crónica implica apresentações mais
graves como edema (C3), alteração de pigmentação (C4) e úlcera venosa (C5-C6)
[3].
Classificar adequadamente a DVC requer um elevado grau de precisão diagnóstica.
Como tal, no artigo de revisão da classificação CEAP, foram ainda incluídos 3
níveis de avaliação diagnóstica. O primeiro (L1) inclui história clínica e
exame físico completos, assim como estudo doppler portátil; o segundo (L2),
exames laboratoriais não invasivos como eco doppler ou pletismografia; enquanto
o terceiro (L3) diz respeito a formas diagnósticas mais invasivas ou a estudos
imagiológicos mais complexos, como a venografia ascendente ou descendente,
medidas de pressão venosa, venografia por tomografia computorizada ou por
ressonância magnética[3].
A classificação da doença venosa crónica é um processo dinâmico que se inicia
na primeira consulta e evolui ao longo do tempo, de acordo com os estudos
efetuados, pelo que a data de examinação é outro dado que deve constar na
avaliação CEAP.
Um dos grandes fatores que determinam a importância da classificação CEAP é a
sua capacidade de distinguir entre doenças primárias, congénitas e secundárias,
uma vez que a terapêutica associada a cada uma das etiologias é diferente.
O Venous Clinical Severity Score (VCSS), usado frequentemente na prática
clínica, avalia a severidade da doença venosa crónica, atribuindo uma
classificação de 0 a 3 para cada forma de apresentação da DVC [5].
A preocupação estética constitui uma importante motivação para a procura de
ajuda médica, contudo, não raras vezes, a sintomatologia intensa constituiu a
força motriz. Quando não tratada, a doença progride para uma forma mais severa,
podendo cursar com agravamento sintomatológicos, alterações na pigmentação,
lipodermatosclerose e ulceração.
Tendo sempre em vista as expetativas do doente, a terapêutica assume, assim, um
papel determinante, uma vez que procura otimizar os resultados clínicos, os
quais se traduzem pela melhoria dos sintomas e da qualidade de vida que, na
realidade, podem nem expressar melhoria clínica significativa[5].
Assim, é importante avaliar o impacto do tratamento na melhoria da qualidade de
vida, estando disponíveis uma série de questionários como o Short Form Health
Survey (SF-36), o Chronic Venous Insufficiency Questionnaire (CIVIQ), o Venous
Insufficiency Epidemiologic and Economic Study Of Quality Of Life (VEINES-QOL/
Sym), o Aberdeen Varicose Vein Questionnaire (AVVQ) ou mesmo o Charing Cross
Venous Ulceration Questionnaire (CXVUQ), os quais permitem avaliar as
alterações nos sinais e sintomas ao longo do tempo e quantificar os resultados.
O SF-36 é uma medida de qualidade de vida genérica, podendo, como tal, ser
aplicada em diversas patologias. O CIVIQ, VEINES-QOL/Sym, AVVQ e o CXVUQ são,
por outro lado, instrumentos específicos para a doença venosa. Os dois
primeiros englobam todo o espetro de manifestação da doença venosa crónica
enquanto os últimos focam aspetos particulares da patologia venosa, sendo o
AVVQ um questionário direcionado para varizes, enquanto CXVUQ é específico para
ulceração venosa[5]. O CIVIQ avalia 4 dimensões: física, psicológica, social e
a dor |QUADRO 2|, enquanto o VEINES-QOL/Sym estima o efeito da doença na
qualidade de vida e mede os sintomas associados[5]. Estes são normalmente
usados em trabalhos de investigação e publicação. A vantagem do CIVIQ sobre os
restantes recai sobre o facto de ter sido validado em 10 línguas diferentes.
| QUADRO 2 | Questionário CIVIQ ' Perguntas incluídas[6]
A escolha da abordagem terapêutica é, assim, um processo dinâmico e que deve
ter em conta tanto a melhoria clínica como deve procurar satisfazer as
necessidades e expectativas dos doentes, devendo todo o procedimento ser
devidamente explicado para posteriormente poder ser dado o consentimento
explícito por parte do doente.
PONTUAÇÃO
1 Nunca
2 Ocasionalmente
3 Regularmente
4 Frequentemente
5 Sempre
Dimensão física: Questões 5, 6, 7 e 9.
Dimensão psicológica: Questões 12, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19 e 20.
Dimensão social: Questões 8, 10 e 11.
Dimensão dor: Questões 1, 2, 3 e 4.
MATERIAIS E MÉTODOS
Foi efetuada uma pesquisa bibliográfica usando a plataforma Medline, limitada a
artigos em língua inglesa, publicados desde 2000 a 2011, segundo a query
("Varicose veins"[MeSH]) OR ("Varicose Veins/drug therapy"
[Mesh]) OR ("Varicose Veins/therapy"[Mesh]) OR ("Varicose Veins/
surgery" [Mesh]) OR ("Stockings, compression"[MeSH]) OR
("Compression bandages" [MeSH]) OR ("Venous insufficiency"
[MeSH]) OR ("Varicose Veins" AND ("Sclerotherapy" OR
"Laser therapy"[MeSH])).
A pesquisa foi realizada no período compreendido entre 5 de maio de 2011 e 5 de
fevereiro de 2012, tendo sido selecionados os artigos a consultar de acordo com
os critérios de pertinência em relação ao tema e disponibilidade do artigo
completo. Foram ainda incluídos outros artigos não abrangidos nos resultados da
pesquisa, contudo com relevância para o assunto e citados como referência de
outros artigos.
MEDIDAS HIGIENO-DIETÉTICAS
Atualmente sabe-se que a idade avançada, história familiar e o sexo constituem
fatores de risco imutáveis para o desenvolvimento de doença venosa crónica. Há,
contudo, outros que podem ser evitados de forma a atrasar a sua progressão. A
Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular desenvolveu uma lista de
10 conselhos que procuram informar os doentes com DVC acerca das medidas a
adotar[6].
Permanecer muitas horas de pé ou sentados, principalmente de pernas cruzadas,
deve ser evitado uma vez que poderá conduzir ao desenvolvimento de doença
venosa. Caso o trabalho obrigue a permanecer longas horas sentados os doentes
devem procurar realizar movimentos circulares com os pés ou caminhar no horário
pós laboral.
A prática de exercício regular é também determinante uma vez que estimula a
contração muscular e consequentemente o retorno venoso. Devem ser preferidos
desportos como a ginástica, natação, ciclismo, dança que promovem a circulação
venosa e evitados desportos como basquetebol e ténis que obrigam a movimentos
bruscos. Estes últimos induzem variações de pressão nas veias que provocavam a
sua dilatação e a diminuição do retorno venoso.
Lugares quentes devem também ser evitados uma vez que dilatam as veias e
aumentam a estase. Exposição solar prolongada, banhos quentes, sauna, vestuário
quente constituem fatores de risco. Por oposição, passar água fria nas pernas,
assim como permanecer em locais frescos é aconselhado, uma vez que estimula o
funcionamento venoso e alivia a dor e sensação de pernas pesadas.
A prisão de ventre e excesso de peso aumentam a pressão sanguínea venosa. Os
doentes devem realizar uma alimentação rica em fibras (vegetais), com boa
hidratação e redução da ingestão de gorduras saturadas (como, por exemplo,
manteiga).
Roupa muito apertada comprime as veias e dificulta a circulação pelo que deve
ser evitado. O uso de sapatos apropriados é também extremamente importante.
Devem ser preferidos saltos de 3-4 cm em detrimento de sapatos de salto e
sapatos planos.
Durante o sono, o sistema venoso não é estimulado pelo que é aconselhado a
realização de movimentos de pedalar antes de adormecer assim como a elevação
dos pés (10 a 15cm da cama).
Massajar as pernas de baixo para cima estimula o retorno venoso, pelo que deve
ser efetuado.
A gravidez e a contraceção oral podem agravar a doença venosa crónica, uma vez
que os estrogénios aumentam a permeabilidade venosa e a progesterona promove a
dilatação[6].
TRATAMENTO FARMACOLÓGICO
Tratar o refluxo e a hipertensão venosa é uma prioridade, contudo reverter os
sintomas e melhorar a qualidade de vida é também imperativo, sendo o tratamento
farmacológico uma das modalidades terapêuticas capazes de atuar nesse sentido.
O tratamento farmacológico está indicado para todas as classes de doença venosa
crónica constituindo-se normalmente como um adjuvante ao tratamento
compressivo, embora possa constituir uma alternativa ao mesmo, como em
situações de doença arterial, infeções da pele, intolerância, fraca compliance
ou mesmo em climas muito quentes onde usar meias elásticas se torna
insuportável[7].
Os fármacos venoactivos podem ser divididos em agentes naturais e de origem
sintética. Os primeiros incluem alfa-benzodiazepinas como a cumarina,
flavonoides como a diosmina, fração flavonóica purificada micronizada (FFPM),
constituída por 90% de diosmina e 10% de hesperidina, e rutina e rutosido;
saponinas como a escina e extrato de ruscus; e outros extratos de plantas como
antocianósicos, proantocianidinas e extrato de Ginkgo, heptaminol e
troxerrutina. Os agentes sintéticos são o dobesilato de cálcio, naftazona e
benzarona[8] |QUADRO 3|.
| QUADRO 3 | Classificação dos principais fármacos venoactivos[8]
Os mecanismos pelo qual atuam não estão totalmente esclarecidos. No entanto,
sabe-se que exercem efeitos a nível da macro e microcirculação. De uma forma
geral, os venoactivos aumentam o tónus venoso, diminuem a híper-permeabilidade
capilar, exercem efeito ao nível das paredes e válvulas venosas, protegendo as
células endoteliais da hipoxia e prevenindo o refluxo venoso. Promovem a
melhoria do fluxo linfático, exibem propriedades anti-inflamatórias que se
traduzem pela inibição da interação leucócito-endotélio e redução dos radicais
livres, assim como melhoram os parâmetros hemorreológicos[6] |QUADRO 4|.
| QUADRO 4 | Modo de ação dos principais fármacos venoactivos[6]
A eficácia dos fármacos venoactivos no alívio de sintomas como dor, cãibras,
pernas inquietas, prurido, sensação de pernas pesadas e parestesias foi
confirmada por uma revisão sistemática desenvolvida por Martinez et al que
incluiu 44 estudos e evidenciou superioridade dos fármacos venoactivos face ao
placebo no alívio sintomático[9]. O seu uso é sugerido pelas guidelines do
American Venous Fórum com forte grau de recomendação e nível de evidência de
moderada qualidade[10] |QUADRO 5|.
| QUADRO 5 | Grau de recomendação e nível de evidência para as guidelines do
AVF e SVS/AVF[6, 10]
Apesar de ser um sinal não específico, o edema é extremamente comum na doença
venosa crónica sendo tipicamente esporádico, uni ou bilateral, e limitado à
extremidade distal dos membros apesar de poder estender-se proximalmente. Este
agrava com ortostatismo prolongado e melhora com a elevação do membro[11]. A
revisão do grupo Cochrane acima mencionada registou uma associação positiva
entre a toma de venoactivos e a redução de edema[9]. Vários estudos têm
demonstrado haver superioridade de FFPM, rutosido, escina, dobesilato de
cálcio, proantrocianidina e rutina face ao placebo para o tratamento do edema
[8]. Os diuréticos constituem a abordagem standard na redução do edema, pelo
que também são recomendados.
O AVF sugere o uso de fármacos venoactivos, especialmente os rutosido, diosmina
e hesperidina no tratamento do edema dos membros, grau 2B[10].
O crescente interesse na abordagem farmacológica da úlcera venosa ativa (C6),
surge associado à dificuldade em tratá-la num curto espaço de tempo. Um estudo
confirmou a eficácia do FFPM em úlceras grandes (5-10cm2) e de longa duração
(entre 6 a 12 meses) quando associado à terapêutica convencional (compressão e
tratamento local adequado)[12]. A pentoxifilina, um vasodilatador cerebral e/ou
periférico, também tem mostrado ser efetivo no tratamento da úlcera venosa. Há
evidência de que a toma de 400mg, três vezes por dia, promove e acelera a cura
da lesão[13].
A pentoxifilina ou FFPM no contexto de úlcera venosa é recomendada pelo AVF,
grau 1B[10].
Em geral os fármacos venoactivos são bem tolerados. Os efeitos adversos mais
frequentemente observados são a dor abdominal, desconforto gástrico, dispepsia,
vómitos e diarreia, insónia, sonolência, vertigens, cefaleias e cansaço, que se
manifestam em cerca de 5% dos doentes. A cumarina e benzarona estão ainda
associadas a algum grau de hepatotoxicidade[11].
A toma de fármacos venoactivos durante a gravidez tem decorrido sem
complicações para alguns agentes, contudo é necessário maior tempo de
seguimento para obter o verdadeiro impacto da sua administração em grávidas.
Por falta de evidência face à toma de venoactivos durante o aleitamento, este
deve ser feito, se feito, com precaução[11].
Podemos aferir que os fármacos venoactivos são adequados para todas as classes
de DVC. A sua toma é aconselhada para indivíduos sem sinais de doença venosa
crónica que se fazem acompanhar de sintomas (C0s), para telangiectasias e/ou
veias reticulares (C1) e varizes tronculares (C2), uma vez que promovem o
alívio sintomático que normalmente lhes estão associados. É recomendada a sua
toma para redução e prevenção de edema (C3), assim como para alterações
tróficas (C4). A abordagem farmacológica constitui, ainda, um importante
adjuvante no tratamento de ulceras venosas (C5 e C6) por promover e acelerar o
processo de cicatrização[6].
TRATAMENTO COMPRESSIVO
A compressão é a forma de tratamento mais frequentemente usada no contexto de
varizes tronculares (C2), edema (C3), alterações da pigmentação da pele (C4) e
úlcera venosa ativa (C6).
A compressão elástica promove a reabsorção do edema e previne a sua formação,
diminuiu o calibre venoso aumentando consequente a velocidade do fluxo, reduz o
refluxo em ortostatismo, o volume residual e a pressão venosa em ambulatório,
melhorando, adicionalmente, a contractilidade muscular [14].
A pressão externa pode ser exercida através de meias elásticas,
ligaduras elásticas compressivas, botas de Unna, botas ou ligaduras não
elásticas e através de aparelhos pneumáticos, sendo as duas primeiras as mais
amplamente usadas.
Atualmente existem três modelos de meias elásticas: meias até ao joelho, até à
raiz da coxa e collants.
A draft European Standard procurou uniformizar os graus de compressão na
Europa. Foi assim estabelecido que compressão grau 1 (ligeira) corresponde a
uma pressão externa de 15-21mmHg, grau 2 (média) corresponde a 23-32mmHg, grau
3 (forte) a 34-46mmHg sendo que as meias grau 4 (muito forte) exercem uma
pressão superior a 49mmHg[15].
A Sociedade Portuguesa de Angiologia e Cirurgia Vascular publicou, em Julho de
2011, recomendações no diagnóstico e tratamento da doença venosa crónica, das
quais consta a compressão indicada para cada classe CEAP de doença venosa
crónica[6].
Para C0s deve realizar-se compressão ligeira, enquanto para C1 e C2 estão
indicadas tanto a ligeira como a moderada[6].
Para reduzir e prevenir o edema (C3), deverá ser exercida compressão na ordem
dos 23-32mmHg, a qual é ainda recomendada para a abordagem das alterações
tróficas (C4) [6].
No contexto de úlceras venosas cicatrizadas, a aplicação de uma pressão externa
de grau moderado ou forte é o mais indicado[6].
A compressão elástica constitui a terapêutica de eleição na cura de úlceras
venosas ativas, sendo as ligaduras elásticas as mais adequadas para o efeito
[6].
Apesar de a sua eficácia estar comprovada e de o seu uso recomendado, esta
metodologia terapêutica não atrasa a progressão da doença nem previne a
recorrência de varizes[15]. Assim, esta abordagem não constitui o tratamento
primário para doentes candidatos à ablação da veia safena, o que é apoiado por
um estudo de Michels et al. que concluiu que o tratamento cirúrgico apresentava
alívio sintomático e melhoria da qualidade de vida superiores que às
proporcionadas pelo tratamento compressivo[16]. A relação custo-benefício
privilegiou ainda a abordagem cirúrgica.
A compressão pós cirúrgica é largamente usada para prevenir tromboembolismo,
reduzir a hemorragia, os hematomas, o edema e a dor.
Houtermans-Auckel et al concluíram que o uso de ligaduras elásticas, durante 3
dias após o stripping, seria suficiente para o controlo do edema, dor e outras
complicações e que a aplicação de meias elásticas, após este período, não
adicionaria qualquer benefício[17]. Outro ensaio clínico considerou que o uso
de meias elásticas durante uma semana, após a aplicação de ligaduras elásticas,
seria benéfico, não sendo necessário usá-las por períodos de tempo mais
alargados[18].
Prescrever compressões inadequadamente excessivas em doentes com patologia
venosa poderá conduzir a necrose por pressão e, se aplicadas num membro com
doença arterial adicional, poderá levar a insuficiente perfusão do membro que
possivelmente culminará na amputação do mesmo[15]. A meia ou ligadura podem
ainda causar efeito de torniquete[15]. Assim sendo, é recomendado que a pressão
externa seja prescrita por clínicos experientes de forma a minimizar os
possíveis malefícios descritos previamente[19].
Um dos grandes problemas associados a esta abordagem é o elevado número de
indivíduos que abandonam o tratamento. O calor incapacitante, associado ao seu
uso, e o custo da aquisição constituem os principais fatores de dropout
terapêutico. Doentes idosos com comorbilidades, como osteoartrite, doença
reumática, entre outras, assim como indivíduos obesos, têm grande dificuldade
em aplicar os sistemas de compressão, pelo que requerem ajuda diária [17].
ABLAÇÃO MECÂNICA
A ablação mecânica inclui técnicas como o stripping e a flebectomia que
procuram tratar o refluxo e hipertensão venosa através da remoção de varizes, e
outras como a CHIVA (cure conservatrice et hémodynamique de
l'insiffisance veineuse en ambulatiore) e ASVAL (ablation sélective des
varices sous anesthesié locale) que o fazem através da preservação da veia
safena.
A laqueação da junção safeno-femoral é uma das formas mais antigas de
tratamento da doença venosa crónica. No entanto, por estar associada a elevadas
taxas de recorrência, foi necessário desenvolver uma técnica mais efetiva[20].
No início do século XX, o stripping é, assim, adicionado à laqueação simples
[20]. Ao longo do tempo esta técnica foi sofrendo diversas modificações, pelo
que atualmente é um procedimento muito menos invasivo, o que permite que o
doente regresse a casa no próprio dia da intervenção e retome a sua atividade
profissional no dia seguinte.
Apesar de ser considerada, até à data, a abordagem padrão no tratamento de
varizes[21], resultados recentes, associados a técnicas como a ablação a laser
ou por radiofrequência, têm vindo a tornar-se alternativas eficazes.
A safenectomia é realizada em ambulatório sob anestesia geral, regional ou
local, estando disponíveis duas formas de intervenção: stripping convencional e
por invaginação.
Na abordagem convencional é usado o aparelho de babcock, cuja ponta em forma de
"bolota" é colocada no topo do stripper o qual é posteriormente
puxado no sentido descendente, arrastando consigo a veia, enquanto na ablação
por invaginação a safena é ligada à extremidade superior do stripper e, à
medida que a inferior é puxada, a veia invagina para o próprio lúmen[10]. A
grande diferença entre ambas prende-se com o facto de a primeira poder
danificar o tecido perivenoso e causar, adicionalmente, lesão nervosa ou
linfática[22].
Quando comparadas, foi possível concluir que o stripping por invaginação atenua
a perda sanguínea, está associado a menor formação de coágulos, menor sensação
dolorosa e menor lesão nervosa, apresentando ainda efeitos cosméticos de maior
qualidade[22], o que a torna mais indicada no tratamento da doença venosa
crónica.
A grande veia safena é raramente removida abaixo do nível do joelho devido ao
elevado risco de lesão do nervo safeno, uma vez que este descreve um trajeto
muito próximo da veia, principalmente junto ao maléolo medial[23]. O stripping
parcial permite que a porção distal da grande veia safena possa ser usada para
um eventual bypass futuro.
O American Venous Forum recomenda laqueação da junção safeno-femoral e
safenectomia por invaginação até ao nível do joelho, grau 1B[10].
Rasmussen et al observou infeção na incisão inguinal, tromboflebite, equimoses
e hematomas em 2%, 3%, 25% e 8% dos membros submetidos a stripping por
invaginação, respetivamente[24]. A qualidade de vida, avaliada pelo VCSS, AVVQ
e pelo SF-36, melhorou significativamente com esta abordagem[24]. Wood et al
documentou alterações neurológicas sensitivas em 27% dos membros tratados com
remoção parcial da grande veia safena por invaginação, às 6 semanas mas, aos 12
meses, apenas 12.7% dos indivíduos tratados mantinham estas alterações[25]. As
lesões nervosas decorrentes da safenectomia estão, normalmente, associadas a
reduzida morbilidade[23].
Rasmussen et al, após dois anos de seguimento, observou recorrência em 37% dos
indivíduos. Os autores afirmam poder dever-se a erros estratégicos e técnicos,
assim como à neovascularização e à progressão da doença[26].
Após a cirurgia de remoção de varizes safenas é comum realizar,
concomitantemente, flebectomia para exérese de trajetos varicosos associados.
Um estudo foi desenvolvido no sentido de observar a eventual regressão
espontânea dos trajetos varicosos remanescentes após a remoção da grande veia
safena[27]. Os resultados apoiaram a hipótese pelo que os autores sugerem que
uma abordagem terapêutica focada na irradicação da fonte de hipertensão poderá
diminuir a necessidade de tratar as veias remanescentes por flebectomia. Como
tal, apontam a necessidade de um seguimento mais prolongado após a remoção da
safena no sentido de averiguar quais as varizes que regridem espontaneamente e
quais as que efetivamente necessitam ser removidas[27].
Estes resultados põem em causa a realização de flebectomia concomitantemente à
safenectomia, o que implicaria uma segunda ocupação da sala de intervenção,
estando assim associado a um gasto acrescido. Para além disso, tornaria o
tratamento da doença venosa crónica um processo mais moroso, o que pode não
corresponder às expectativas do doente. Esta prática alternativa poderia ser
vantajosa na medida em que reduziria o número de incisões e consequentemente as
complicações que lhe estão associadas.
A flebectomia transiluminada permite a visualização direta das veias que serão
removidas, requer menor número de incisões e reduz a quantidade de varizes
residuais, estando associada a uma diminuição considerável do tempo de
intervenção quando comparada com a convencional[28]. Não foram observadas
diferenças estatisticamente significativas no que diz respeito às variáveis
dor, celulite, lesão nervosa, equimoses, veias residuais, recorrência, efeitos
cosméticos e satisfação avaliadas no mesmo estudo[28].
Apesar das vantagens mencionadas, a flebectomia transiluminada é uma técnica
mais dispendiosa[28] e realizada sob anestesia geral ou regional com sedação,
contrariamente à convencional[29].
O AVF recomenda flebectomia para a remoção de varizes, após safenectomia, tanto
durante o mesmo procedimento como num período posterior com grau de
recomendação e evidência 1B[10]. A flebectomia transiluminada constitui uma
alternativa à convencional apesar da fraca evidência para o seu uso (2C)[10].
ABLAÇÃO TÉRMICA
A ablação térmica endovenosa é um tratamento percutâneo e minimamente invasivo
que tem demostrado ser extremamente eficaz no tratamento da incompetência das
veias safenas. Desta fazem parte a ablação a laser e por radiofrequência.
O procedimento é realizado em ambulatório com anestesia local tumescente. A
fibra de laser ou cateter de radiofrequência, guiados ecograficamente, são
introduzidos no interior da safena incompetente[30]. O sistema, uma vez
ativado, gera calor, o qual promove lesão endotelial com consequente contração
venosa e oclusão fibrótica[30].
A obstrução venosa parcial secundária a um episódio de tromboflebite, assim
como veias extremamente tortuosas, dificultam a introdução da fibra ou cateter,
pelo que constituem possíveis contraindicações para ablação térmica[31].
Indivíduos com varizes mais superficiais ou com dilatação aneurismática da
junção safeno-femoral devem ser submetidos a safenectomia. Coagulopatia não
controlada, disfunção hepática que limite a administração de anestesia local,
imobilidade, gravidez e amamentação são outros critérios de exclusão relativos
[31].
A ablação a laser é recomendada no tratamento de telangiectasias, grau 1A[10],
no entanto, está mais indicada para as localizadas na face e no peito.
A trombose venosa superficial é esperada no contexto de ablação térmica,
contudo esta técnica pode tanto potenciar o desenvolvimento de trombose
profunda como promover a extensão do trombo do sistema superficial para o
profundo[32]. Marsh et al observou trombose venosa profunda em 1% dos membros
submetidos a ablação a laser e 0.7% com radiofrequência, sendo que um dos
indivíduos deste grupo desenvolveu tromboembolismo pulmonar[32].
A realização de profilaxia antitrombótica é um assunto dotado de alguma
controvérsia. Esta é aconselhada em indivíduos com história de tromboflebite,
trombose venosa profunda, trombofilia e obesidade[33]. Puggioni et al concluiu
que deve ser considerada em pacientes com idade superior a 50anos[34], enquanto
Enoch et al afirma que deve ser realizada apenas em grupos de risco aumentado,
apesar de considerar ser difícil estabelecer até que ponto sofrer de doença
venosa crónica constitui um risco desta ordem[35].
A ablação a laser pode desenvolver outras complicações como a tromboflebite
(2.5%), equimoses ligeiras (15.9%) ou moderadas (25.4%), celulite (2%), edema
(0.9%), neovascularização e inflamação perivenosa (0.9%) e parestesias (0.5%)
[36].
A ablação por radiofrequência pode causar queimaduras da pele (1.2%), não
obstante a sua incidência ter diminuído significativamente após a introdução da
anestesia tumescente à técnica, flebite (2.9%), infeção no local de acesso à
veia (0.2%) e parestesias (12.3%), sendo que aos cinco anos apenas 2.6%
mantinha alterações desta ordem)[37].
Têm sido documentadas altas taxas de oclusão no seguimento da ablação a laser,
o que foi demostrado por um estudo da Society for Clinical Vascular Surgery,
que registou 98.7% de oclusão aos 6 meses e 91.4% aos 30 meses, o que corrobora
os resultados publicados noutros estudos e mencionados no mesmo artigo[36].
Contudo, o sucesso terapêutico num ensaio clínico realizado por Myers et al foi
consideravelmente inferior, sendo que aos quatro anos apenas 75% dos indivíduos
submetidos a ablação a laser mantinham oclusão venosa[38].
Quanto à abordagem por radiofrequência, a taxa de oclusão imediata observada
por Merchant et al foi de 96.8%, decaindo para 87.2% ao fim de cinco anos[37].
Neste contexto foram definidos três tipos de falência anatómica que justificam
o observado:
Tipo I (não oclusão) ' veias não sofreram oclusão com o tratamento e
mantiveram-se sempre permeáveis ao longo do seguimento (12.4%).
Tipo II (recanalização) ' veias que inicialmente ocluiram mas recanalizaram
total ou parcialmente (69.7%).
Tipo III (refluxo inguinal) ' após a oclusão, algumas veias desenvolveram
refluxo na região inguinal envolvendo frequentemente uma veia acessória (17.8%)
[37].
Tanto a ablação a laser como com radiofrequência estão associadas a melhoria
significativa da qualidade de vida proporcionando ainda um rápido regresso às
atividades da vida diária e às profissionais [39].
O American Venous Fórum considera as abordagens térmicas efetivas no tratamento
da incompetência safena, com grau de recomendação e evidência 1A[10].
ABLAÇÃO QUÍMICA
A escleroterapia, apesar de amplamente aplicada no tratamento de
telangiectasias e veias reticulares, tem vindo a ganhar algum terreno no
tratamento de veias safenas incompetentes e das suas tributárias, por ser uma
técnica minimamente invasiva.
Esta consiste na administração endovenosa de esclerosantes que provocam lesão
endotelial e exposição das fibras de colagénio, tornando-as sujeitas à ação dos
agentes. A cascata de coagulação é ativada, o que potencia a formação de
trombos com consequente oclusão venosa. Todos os esclerosantes, embora atuem de
forma diferente, produzem o mesmo efeito, divergindo apenas na eficácia,
potência e reações adversas[40].
Os agentes esclerosantes estão divididos de acordo com o seu mecanismo de ação,
sendo estes classificados de osmóticos, detergentes e alcoólicos.
Os primeiros dizem respeito a soluções salinas hipertónicas indicadas no
tratamento de telangiectasias e veias reticulares[40]. A sua administração está
associada a elevada sensação álgica[41] podendo induzir necrose tecidual
massiva secundária ao extravasamento, mesmo quando pequenos volumes do agente
ultrapassam a veia[40]. A solução salina hipertónica constitui uma alternativa
aos detergentes quando os doentes desenvolvem reações alérgicas aos mesmos[40].
Entre os detergentes destacam-se o tetradecil sulfato de sódio e o polidocanol.
O primeiro é considerado um fármaco eficiente[41] e indolor à injeção[40].
Está, contudo, associado a elevada incidência de hiperpigmentação (cerca de 30%
dos doentes), a significativa necrose tecidual por extravasamento e a alguns
casos de anafilaxia[41]. O polidocanol, para além de indolor, não produz
necrose e apresenta baixa incidência de reações alérgicas[41]. Ocasionalmente
provoca hiperpigmentação embora em menor proporção que os restantes agentes
[41].
A glicerina cromada, um agente alcoólico, pode ser aplicada em telangiectasias
e veias reticulares, apesar de ser considerado um fraco esclerosante[42].
A ablação química pode ser realizada na forma líquida e em espuma. Na primeira,
os esclerosantes são diluídos e a concentração ajustada ao diâmetro venoso
enquanto na segunda os agentes são misturados com gás, o que permite a formação
de micelas que exercem maior contacto entre a parede venosa e o detergente[43].
Desta forma o volume de esclerosante necessário para que a oclusão venosa se
verifique é menor, o que torna a escleroterapia com espuma mais potente e menos
tóxica que a formulação líquida[40, 44].
Para o tratamento de telangiectasias e veias reticulares, o AVS recomenda a
escleroterapia grau 1B[10], sendo que a Society of Vascular Surgery juntamente
com o American Venous Forum (SVS/AVF) consideram a líquida mais eficaz [19].
Para varizes não safenas é sugerida a escleroterapia, grau 2B[10], sendo que o
SVS/AVF refere haver maior eficiência com o uso da formulação em espuma[19].
Vários estudos documentaram superioridade da escleroterapia com espuma face à
líquida no tratamento das veias safenas[45, 46]; no entanto, existe muito fraca
evidência acerca da sua eficácia e durabilidade, pelo que o SVS/AVF se refere à
escleroterapia como uma opção terapêutica com grau de recomendação e evidência
2C[19].
A ablação química está contraindicada em indivíduos com alergia severa aos
detergentes e com trombose venosa profunda ou superficial[44]. A sua
administração na presença de buraco ovale patente, está associado a alguma
controvérsia[44].
As complicações mais frequentes da escleroterapia são alteração da pigmentação
da pele, tromboflebite e trombose venosa comuns a ambas as formas de
escleroterapia[47].
A ablação química pode ainda desencadear uma série de efeitos sistémicos, os
quais, apesar de mais frequentes na escleroterapia com espuma podem também ser
observados na líquida[48]. As partículas de gás podem embolizar e causar
efeitos pulmonares, visuais e cerebrais, observados particularmente em
indivíduos com buraco ovale patente ou shunt direito - esquerdo[49]. Bergan et
al observou dor no peito, tosse seca, alterações visuais em 4, 3 e 2
indivíduos, respetivamente, de 416 tratados com escleroterapia[50]. Um caso de
acidente vascular cerebral fatal foi registado após a injeção de espuma, num
indivíduo com buraco ovale patente largo e não diagnosticado[51].
Um ano após ablação safena por escleroterapia com espuma, foi possível observar
sucesso terapêutico em 77% dos indivíduos num estudo realizado por Gonzalez-Zeh
et al[52], enquanto Darvall et al observou oclusão venosa em 87.8%[53]. Aos
três anos, Myers et al documentou apenas 52.4% de sucesso com a ablação química
[54].
Thomasset et al concluiu que a compliance, face ao uso de meias elásticas, é o
fator mais importante para garantir o sucesso da escleroterapia com espuma das
veias safenas[55].
COMPARAÇÃO ENTRE AS TÉCNICAS
É importante estabelecer a comparação entre as várias técnicas no sentido de
averiguar aquela mais adequada para o tratamento de varizes.
Quando comparado o stripping por invaginação com a ablação a laser, Ramusen et
al concluiu que ambas as técnicas seriam eficazes na eliminação do refluxo da
grande veia safena, no alívio sintomático e na melhoria da qualidade de vida
[24]. Não foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os
grupos, no que diz respeito à recorrência.[26]
A radiofrequência demonstrou ter maior impacto na melhoria da qualidade de vida
e na brevidade no regresso às atividades da vida diária quando comparada com a
safenectomia [56], no entanto, foram obtidos resultados semelhantes no que diz
respeito à eficácia clínica, à recorrência e à neovascularização[56]. Outro
estudo documentou menor sensação álgica, menor número de equimoses e menor
durabilidade de execução técnica com ablação por radiofrequência[57].
O SVS/AVF recomenda a ablação a laser ou radiofrequência em detrimento do
stripping (grau de recomendação e evidência 1B)[19].
Almeida et al, ao comparar as técnicas de ablação térmica, registou
superioridade da radiofrequência no recobro e parâmetros alusivos à qualidade
de vida[58]. Complicações como a tromboflebite foram significativamente mais
incidentes após intervenção a laser[58].Outro estudo registou superioridade da
ablação a laser face ao estreitamento venoso e recanalização[59].
Bountouroglu et al comparou escleroterapia com espuma com a safenectomia por
invaginação[60]. A escleroterapia revelou ser mais económica e rápida de
realizar, associada a uma recuperação mais célere e a uma melhoria de qualidade
de vida mais pronunciada. As complicações foram pouco frequentes em ambos os
grupos. As percentagens de obliteração a curto prazo (três meses) favoreceram o
stripping (93%), face à escleroterapia com espuma (87%)[60]. Kalodiki et al
concluiu que aos três e cinco anos de seguimento, as abordagens em questão,
eram igualmente efetivas[61].
Rasmussen et al desenvolveu um ensaio clinico randomizado que comparou todas as
técnicas acima mencionadas, stripping, ablação térmica com laser e por
radiofrequência e ablação química com espuma, no tratamento da incompetência da
grande veia safena[21].
A melhoria da qualidade de vida foi observada com todas as formas de ablação
venosa. No entanto, as variáveis dor e dimensão física, avaliadas pelo SF-36,
beneficiaram com a radiofrequência e escleroterapia [21]. Adicionalmente, as
duas técnicas mencionadas proporcionaram regressar às atividades da vida diária
e ao trabalho mais rapidamente[21].
As complicações foram essencialmente minor. Foi registado um caso de trombose
venosa com tromboembolismo pulmonar no seguimento de escleroterapia e outro de
trombose venosa profunda após safenectomia[21]. A tromboflebite foi
significativamente mais incidente nos indivíduos submetidos a radiofrequência e
escleroterapia[21].
A recorrência, após um ano de seguimento, foi de 14.8%, 13.8%, 11.6%, 7.3% no
stripping, escleroterapia com espuma, ablação endovenosa a laser e
radiofrequência, respetivamente. Estas diferenças não foram, contudo,
estatisticamente significativas[21].
Após um ano de seguimento, a falência terapêutica foi mais incidente com a
ablação química (16.3%) [21], sendo o stripping a técnica que apresentou
percentagens de recorrência mais elevadas (14.8% contra 13.8%, 11.6% e 7.3% com
escleroterapia, laser e radiofrequência, respetivamente) [21].
As abordagens mais dispendiosas são a radiofrequência e o laser sendo a
escleroterapia a mais económica[21]. No entanto, quando adicionados os custos
inerentes à da perda de dias de trabalho, embora a escleroterapia continue a
ser mais económica, a radiofrequência torna-se a segunda mais barata[21].
É importante realçar que seria necessário um período de seguimento mais
alargado para se estabelecer o sucesso terapêutico real. Para além disso,
atualmente é possível regressar às atividades da vida diária e ao trabalho no
dia seguinte à intervenção, com qualquer uma das técnicas mencionadas, o que de
certa forma anula o efeito dos custos relativos à perda de dias de trabalho.
Ao longo desta revisão foi ainda referido que tanto a flebectomia como a
escleroterapia seriam eficientes no tratamento de varizes não safenas, grau de
recomendação 1B e 2B respetivamente[10]. Um estudo que procurou comparar ambas
as técnicas, concluiu haver menor taxa de recorrência com a primeira, sendo que
consideram a flebectomia uma técnica eficaz no tratamento de varizes[62].
CONCLUSÃO
As varizes sintomáticas e edema beneficiam com a toma de fármacos venoactivos,
assim como do uso concomitante de tratamento compressivo (grau 2B)[10]. Ambas
as metodologias terapêuticas estão indicadas para todas as classes de DVC desde
C1 a C6.
As telangiectasias e varizes reticulares (C1) devem ser tratadas com
escleroterapia (grau 1A) [10], sendo a forma líquida a mais recomendada[19]. Os
detergentes devem ser preferidos; contudo, a solução salina hipertónica
constitui uma alterativa em caso de alergia ao primeiro.
Para o tratamento da incompetência da grande ou pequena safenas, é recomendado
a ablação a laser ou radiofrequência em detrimento do stripping clássico com
grau de recomendação e evidência 1B[19]. O American Venous Forum recomenda
laqueação da junção safeno-femoral e safenectomia por invaginação até ao nível
do joelho, grau 1B[10]. Devido à fraca evidência, no que diz respeito à
eficácia e durabilidade da técnica, a escleroterapia constitui uma alternativa
no tratamento das veias safenas, grau 2C[19].
Para o tratamento das tributárias incompetentes, tanto a flebectomia como a
escleroterapia são eficazes (grau 1B)[19]; todavia, o AVF sugere o uso da
primeira em detrimento da segunda com grau de recomendação e evidência 2B[10].
A flebectomia transiluminada constitui uma alternativa à flebectomia
tradicional, apesar da fraca evidência para o seu uso (grau 2C)[10]. Caso se
opte pela realização de escleroterapia, a formulação com espuma tem mostrado
ser mais efetiva no tratamento de varizes[19].
Alterações tróficas beneficiam com tratamento farmacológico, compressivo, assim
como com a ablação das fontes de refluxo e hipertensão venosas subjacentes ao
processo.
A compressão constitui o tratamento de eleição para a cura de úlceras venosas
ativas (grau 1B)[19], sendo recomendado o uso de ligaduras elásticas. O
tratamento farmacológico poderá constituir um adjuvante, uma vez que acelera o
processo de cura. Para úlceras grandes e de longa duração, é recomendado o uso
de pentoxifilina e FFPM associado à compressão, grau 1B[10]. Para evitar a
recorrência da lesão deve ser realizada a ablação das veias incompetentes e
aplicada compressão elástica por um longo período de tempo[19].
Com esta revisão foi ainda possível concluir que:
1. A incompetência venosa é uma doença crónica.
2. O tratamento da doença venosa crónica deve ser individualizado e estar de
acordo com o estádio clínico da doença.
3. O tratamento inclui medidas higieno-dietéticas, farmacoterapia, compressão
elástica e terapêuticas ablativas.
4. As medidas higieno-dietéticas devem ser adotadas por todos os doentes.
5. Os diferentes graus de compressão devem ser adequados à classificação CEAP.
6. A farmacoterapia promove alívio sintomático e melhoria das complicações
decorrentes da doença. Esta inclui fármacos venoactivos e diuréticos.
7. Todas as técnicas podem ser, atualmente, realizadas em ambulatório.
8. A ablação térmica é prometedora, desconhecendo-se, no entanto, as taxas de
recorrência a longo prazo.
9. A ablação química com espuma é a técnica mais barata, contudo, está
associada a maior incidência de pigmentação e de recanalização.
10. As modernas técnicas de ablação mecânica, incluindo a flebectomia
hemodinâmica em ambulatório, não necessitam de anestesia geral e permitem
retomar as atividades profissionais no dia seguinte à intervenção.