Variações anatómicas das artérias vertebrais
IMAGENS VASCULARES
Variações anatómicas das artérias vertebrais
Anatomic variations of the vertebral arteries
Sandrina Figueiredo Bragaa, Joana Ferreiraa, João Vasconcelosa, Ricardo
Gouveiaa, Pedro Pinto Sousaa, Jacinta Camposa, Pedro Brandãoa, António Guedes
Vaza
aServiço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova
Gaia/Espinho, Vila Nova Gaia/Espinho, Portugal
Autor_para_correspondência
Caso clínico
Doente sexo feminino, 52 anos, sem antecedentes de relevo, recorre à Consulta
Externa por suspeita de oclusão da artéria vertebral direita em ecodoppler
realizado para estudo de cefaleias. Sem queixas sugestivas de isquemia
vertebro-basilar. O exame objectivo não apresentava alterações. Realizou angio-
TC que revelou origem da artéria vertebral esquerda a partir do arco aórtico
(fig._1 e 2) e artéria vertebral direita atravessando os buracos transversários
apenas superiormente a C3 (fig._3 e 4). Sem alterações do calibre e dos
contornos de ambas as vertebrais, excluindo-se lesões intra-luminais ou
compressão extrínseca.
Comentários
A origem mais frequente da artéria vertebral é a partir da subclávia,
constituindo o seu primeiro ramo. O seu primeiro segmento, V1, localiza-se
entre a origem e a entrada nos buracos transversários, geralmente ao nível de
C6. O segmento V2 corresponde à passagem pelos buracos transversários até ao
atlas. V3 é o segmento que se curva posterior e superiormente ao atlas e V4
corresponde ao segmento intracraniano.
A origem directa da artéria vertebral esquerda a partir do arco aórtico é a
segunda variação do arco mais frequentearco aórtico tipo C de Adachi. Nesta
situação, a artéria vertebral tem origem imediatamente após a carótida comum
esquerda e à direita da subclávia esquerda, pelo que do arco emergem 4 ramos.
Esta variação anatómica tem uma incidência de 2-4%. A embriogénese da artéria
vertebral ocorre entre os dias 32 e 40 e a sua formação decorre da coalescência
de artérias intersegmentares dorsais, ramos da aorta dorsal primitiva. A
persistência de artérias intersegmentares que normalmente involuem ou a
involução de segmentos que deveriam persistir leva à ocorrência de múltiplas
variações anatómicas.
A artéria vertebral pode entrar nos buracos transversários num nível superior a
C6, geralmente em C5 ou C4 e raramente em C3. Neste caso, a artéria passa
anteriormente às apófises transversas até entrar no buraco transversário,
localizando-se entre estas e os músculos pré-vertebrais. A compressão
extrínseca por estruturas musculo-tendinosas ou por osteófitos fica, deste
modo, facilitada.
No caso clínico apresentado, ambas as artérias vertebrais apresentam um
segmento V1 muito extenso, o que as torna mais susceptíveis de lesão e
compressão extrínseca, que de momento não se verificam.
Embora a maioria das variações anatómicas não apresentem expressão clínica, o
seu conhecimento é fundamental para evitar lesões inadvertidas em abordagens
cirúrgicas ou no planeamento do tratamento endovascular de patologias da aorta
torácica.
Autor_para_correspondência:
Correio eletrónico: sandrinafigueiredo@portugalmail.pt (S. Figueiredo Braga).