XIII Congresso da SPACV: Coimbra, 13-15 de Junho de 2013
POSTERS
XIII Congresso da SPACV
Coimbra, 13-15 de Junho de 2013
Sessão 1
P01. FALSO ANEURISMA DA ARTÉRIA FEMORAL PROFUNDA: A PROPÓSITO DE UM CASO
CLÍNICO
C. Lobo Mendes, R. Vale Pereira, V. Carvalheiro, A. Matos
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra.
Introdução: Os falsos aneurismas da artéria femoral profunda são raros, podendo
no entanto, ocorrer como complicação tardia de diversos tipos de trauma. Os
sintomas mais frequentes são dor ou hematoma da coxa, de origem súbita, em
relação com evento hemorrágico. A experiência no tratamento dos falsos
aneurismas da artéria femoral profunda é limitada, sendo classicamente
cirúrgica. Actualmente as técnicas endovasculares assumem uma boa alternativa
de tratamento.
Caso clínico: Doente de 73 anos de idade, hipertensa e obesa, apresentava
queixas álgicas ao nível da raíz da coxa direita. Realizou ecografia que
demonstrou massa pulsátil, pelo que foi pedida uma Angio TC dos membros
inferiores. Confirmada a presença de falso aneurisma da artéria femoral
profunda direita com aproximadamente 9 cm de maior diâmetro por 9 cm de
extensão. Eco-Doppler realizado no Serviço, para melhor caracterização da
lesão. Foi proposta para tratamento endovascular. Realizou-se punção femoral
esquerda com colocação de Amplatz/Plug no colo do volumoso falso aneurisma, na
dependência do primeiro ramo da artéria femoral profunda. Sem registo de
complicações peri-procedimento e sem preenchimento do falso aneurisma no final
da intervenção.
Discussão: Os falsos aneurismas geralmente ocorrem na sequência de iatrogenia,
trauma, infecção, uso de drogas endovenosas ou até prática desportiva. No caso
apresentado a etiologia é desconhecida, havendo como único possível factor
desencadeante uma queda ocorrida há 15 anos. A apresentação clínica mais comum
é uma massa pulsátil com expansão durante a sístole e sopro audível à
auscultação. Por compressão podem ainda surgir sintomas de dor, parestesia,
oclusão venosa por trombose e edema. O diagnóstico de falso aneurisma da
artéria femoral profunda nem sempre é fácil, devido em grande parte à sua
localização. Os métodos de diagnóstico mais frequentes incluem o Eco-Doppler,
TC, RM e angiografia. O tratamento poderá ser por cirurgia convencional ou por
método endovascular, com utilização de agentes embólicos como coils, ocluders,
PVA ou NBCA, dependendo da sua localização e acessibilidade.
P02. SÍNDROMA DO MARTELO HIPOTENAR ANEURISMA DA ARTÉRIA CUBITAL
P. Pinto Sousa, S. Braga, J. Vasconcelos, R. Gouveia, J. Campos, P. Monteiro,
J. Meira, G. Vaz
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de
Gaia/Espinho.
Introdução: Apesar de raro, o aneurisma da artéria cubital é uma das principais
causas de isquemia digital isolada. Considerada uma doença ocupacional, ocorre
quase sempre no membro dominante de pessoas que utilizam a eminência hipotenar
em movimentos repetitivos como puxar, empurrar, de rotação ou traumáticos.
Neste caso descreve-se uma doente de 65 anos, trabalhadora durante 18 anos numa
linha de montagem de uma fábrica de enchidos.
Caso clínico: Doente do sexo feminino, 65 anos de idade, com antecedentes de
diabetes mellitus, hipertensão arterial e dislipidemia. Referenciada à consulta
externa de Angiologia e Cirurgia Vascular por tumefação pulsátil no punho
esquerdo com seis meses de evolução. Referia dor persistente e aumento da
sensibilidade na eminência hipotenar. Negava parestesias ou arrefecimentos dos
dedos. Ao exame físico apresentava pulso radial e cubital palpáveis, este
último de amplitude aumentada. Sem cianose, atrofia muscular, hemorragia
subungueal ou úlceras. Realizou-se teste de Allen que foi inferior a três
segundos, o que confirmou permeabilidade da arcada palmar. Foi realizado eco
Doppler arterial do membro superior esquerdo que identificou aneurisma sacular
da artéria cubital esquerda com 10 × 6 × 11 mm parcialmente trombosado.
Posteriormente confirmado por ressonância magnética e definida a sua
localização a 9 mm do osso pisiforme. Foi proposta correção cirúrgica e a
doente submetida a aneurismectomia total com anastomose topo a topo. O
procedimento decorreu sem intercorrências. Teve alta no primeiro dia pós-
operatório. Um mês depois, na consulta de follow up, mantinha permeabilidade
vascular com pulso cubital palpável e ausência de queixas álgicas ou alterações
da sensibilidade.
Discussão: O primeiro caso de aneurisma de artéria cubital foi descrito em 1934
por Van Rosen. Posteriormente Conn et al atribuiu o nome de síndroma de martelo
hipotenar a vasospasmo, trombose ou aneurisma das artérias cubital ou digitais
associados a história repetitiva de trauma da região hipotenar. O aneurisma da
artéria cubital tem maior incidência em doentes do sexo masculino com idade
inferior a cinquenta anos. Ocorre, geralmente, na porção superficial da artéria
quando esta passa o canal de Guyon até à aponevrose palmar. O trauma repetido
da artéria cubital nesta área vulnerável causa degeneração mural. Quando ocorre
lesão isolada da íntima o resultado é um processo trombótico local, enquanto se
a lesão for na camada média desenvolve-se um aneurisma. É necessário sempre
ponderar a doença de Buerguer e fenómeno de Raynaud como diagnósticos
diferenciais. Alguns autores questionam a etiologia traumática equacionando a
hipótese de se tratar duma manifestação de displasia fibromuscular cubital ou
que o aparecimento da doença pressupõe uma anomalia preexistente. Apesar de a
angiografia se manter como método gold standard para o diagnóstico de aneurisma
da artéria cubital, este pode ser diagnosticado e caracterizado com recurso a
ecodoppler arterial, apresentando-se actualmente a angioressonância magnética
como alternativa à angiografia no diagnóstico e caracterização do aneurisma bem
como do leito distal. O tratamento desta patologia é cirúrgico: aneurismectomia
e laqueação arterial, aneurismectomia com reconstrução anastomose topo-a-topo
ou interposição de enxerto venoso. Se eventualmente o doente se apresentar sem
sinais e sintomas de isquemia com aneurisma trombosado pode não ser necessária
revascularização. Apesar de não haver uma clara evidência de qual a melhor
alternativa de tratamento, a aneurismectomia com reconstrução vascular é
recomendada pela maioria dos autores. Este procedimento elimina a fonte
tromboembólica, a massa aneurismática dolorosa e adiciona os benefícios de uma
simpaticectomia periarterial local. Todos estes doentes deverão ser
aconselhados, no futuro, a evitar movimentos que causem trauma da região
hipotenar e cessação tabágica.
P03. ESTENOSE DA ARTERIA RENAL EM DOENÇA AORTO-ILIACA OCLUSIVA
A.S. Ferreira, D. Azevedo, A. Cerqueira, A. Rocha Silva, J. Teixeira
Centro Hospitalar de S. João do Porto.
Introdução e objetivo: A estenose da artéria renal é uma patologia
maioritariamente aterosclerótica afectando o óstio renal. Enquadra-se num
quadro de aterosclerose generalizada, sendo que na doença aorto-iliaca está
presente em até 40% dos casos. Pretende-se a apresentação sob a forma de poster
de um caso clínico de tratamento de estenose renal direita por angioplastia com
colocação de stent em doente com doença aórtica oclusiva infra-renal.
Caso clínico: Paciente de 47 anos, grande fumadora, dislipidémica e com uma
hipertensão com 4 anos de evolução, refratária ao tratamento médico, complicada
em último de edema agudo do pulmão. Clinicamente tinha ainda uma claudicação
intermitente que evoluiu favoravelmente sob tratamento conservador. O
diagnóstico de estenose renal direita foi efetuado por ecografia, sendo
confirmado angiograficamente onde se observou oclusão aórtica infra-renal
concomitante. A estenose renal foi corrigida com sucesso através de acesso
braquial esquerdo, com a colocação de stents metálicos expansíveis por balão.
Discussão: As indicações mais frequentes para o tratamento endovascular de uma
estenose renal incluem: hipertensão refratária ao tratamento médico,
insuficiência renal em progressão, descompensação cardíaca com ICC ou angina
instável. A angiografia permanece o gold-standard de diagnóstico sendo que nos
doentes com estenose renal bilateral ou rim único o benefício do tratamento
endovascular parece ser mais evidente quando comparado ao tratamento médico
isolado.
P04. HEMORRAGIA GASTROINTESTINAL EM DOENTE COM PRESENÇA DE AR EM PRÓTESE
VASCULAR
L. Borges, E. Dias, F. Oliveira, I. Cássio
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital do Divino Espírito Santo de
Ponta Delgada, EPE.
Introdução: As fístulas aorto-entéricas secundárias complicam menos de 1% das
intervenções cirúrgicas aórticas, mas são frequentemente fatais. A localização
entérica mais frequente é a terceira ou quarta parte do duodeno e a
manifestação clínica mais comum é a hemorragia gastrointestinal. A etiologia
destas fístulas pode ser infeciosa, por pressão pulsátil contínua da prótese ou
por lesão duodenal, podendo desenvolver-se por comunicação direta entre o lúmen
intestinal e o aórtico, através da anastomose aorto-protésica, ou entre o lúmen
intestinal e a prótese, por erosão desta. A investigação diagnóstica deve
basear-se em esofagogastroduodenoscopia e TC, quando o doente encontra-se
estável, e na arteriografia para planeamento cirúrgico. O tratamento é
cirúrgico e variado e cada vez mais se têm vindo a publicar casos bem sucedidos
de terapêutica por via endovascular.
Caso clínico: Homem de 66 anos, submetido a laqueação de aneurisma ilíaco comum
e interno esquerdo por rutura do mesmo e bypass aorto-ilíaco externo, em 2006,
e extensão do mesmo à femoral comum, em 2007, por falso aneurisma anastomótico
distal, o qual foi ressecado. Em 2008, necessidade de ressecção parcial da
prótese do bypass aorto-femoral e construção de bypass femoro-femoral direito-
esquerdo, por infecção da prótese com abcesso do psoas e fistulização cutânea a
nível inguinal. Ainda em 2008, o doente foi submetido a transversostomia por
fístula entre o cólon descendente, a loca da prótese removida e a parede
abdominal. A reconstrução do trânsito intestinal foi subsequentemente protelada
por evidência de persistência da fístula nos exames de reavaliação. Em 2013,
recorre à urgência por hemorragia através do estoma e retorragia, apresentando-
se hemodinamicamente estável. O doente foi submetido a investigação diagnóstica
por suspeita de fístula aorto-entérica. A TC abdominopélvica inicialmente
levantou suspeita de fístula protésico-entérica, pela presença de ar
intraluminal em local de adjacência com ansa de delgado. No entanto, este
achado corresponde ao segmento protésico proximal excluído após ressecção
parcial da prótese do bypass aorto-femoral, o qual apresentava os topos
trombosados com presença de ar residual no seu interior. O doente foi submetido
a colonoscopia que revelou hemorragia do estoma e hemorragia difusa do cólon
excluído, sem outras alterações. Após internamento no Serviço de
Gastrenterologia para vigilância, o doente teve alta sem recidiva de
hemorragia.
Discussão: A hemorragia gastrointestinal é uma manifestação com diversas
etiologias, no entanto, num doente com antecedentes de cirurgia aórtica tem que
ser sempre considerada a possibilidade de fístula aorto-entérica secundária.
P05. 10 ANOS DE SEGUIMENTO DE EVAR E 3 ENDOPRÓTESES COLOCADAS IMPORTÂNCIA DO
SEGUIMENTO E DA AVALIAÇÃO
L. Loureiro, R. Machado, C. Pereira, C. Vaz, T. Loureiro, D. Silveira, S.
Teixeira, D. Rego, V. Ferreira, J. Gonçalves, R. de Almeida
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital de Santo António-Centro
Hospitalar do Porto.
Introdução: Desde 1991 com o aparecimento do EVAR os riscos do tratamento do
aneurisma aórtico diminuíram, mas a importância do seguimento destes doentes
aumentou. A necessidade de re-intervenções para tratamento das complicações é
considerada um dos grandes problemas desta técnica. Apresentamos o caso de um
doente que ao longo de 10 anos de seguimento necessitou de colocar 3
endopróteses na aorta abdominal.
Caso clínico: Doente de 83 anos, seguido em consulta externa de Angiologia e
Cirurgia Vascular por AAA de 63 mm. Apresentava como co-morbilidades doença
cardíaca isquémica, ICC e DPOC. Em 2002 foi submetido a EVAR com endoprótese
Gore+ Excluder, sem intercorrências. Em angioTC de controlo em 2005 é
detectado uma endofuga tipo Ia associada a oclusão de ramo assintomática, com
crescimento do saco aneurismático para 84 mm. Dadas as características
anatómicas foi submetido a tratamento da endofuga com colocação de endoprótese
Medtronic® Talent aorto-uni-ilíaca associada a pontagem femoro-femoral cruzada
com ePTFE de 8 mm. Em 2009 em angioTC de seguimento é detectada nova endofuga
tipo Ia com crescimento de novo do saco aneurismático apresentando agora 98 mm.
É submetido a tratamento da endofuga com colocação de nova endoprótese
Medtronic® Endurant aorto-uni-ilíaca, sem intercorrências. O doente foi
seguido em consulta externa com angioTC anual até 2011, sem qualquer evidência
de endofuga e com regressão do saco aneurismático para 85 mm. O doente faleceu
em Fevereiro de 2012 com 94 anos de causa não relacionada com o aneurisma.
P06. ANEURISMA DE ARTÉRIA CIÁTICA PERSISTENTE COMO CAUSA DE ISQUEMIA AGUDA NÃO
DIAGNOSTICADA PRIMARIAMENTE
L. Loureiro, R. Machado, C. Pereira, C. Vaz, T. Loureiro, D. Silveira, S.
Teixeira, D. Rego, V. Ferreira, J. Gonçalves, R. de Almeida
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital de Santo António-Centro
Hospitalar do Porto.
Introdução: A persistência da artéria ciática é uma anomalia congénita rara da
árvore arterial dos membros inferiores, estando associada a graus variáveis de
hipoplasia do sector femoral.
A degenerescência aneurismática é uma das formas de diagnóstico desta anomalia,
sendo a manifestação clínica de isquemia aguda uma causa extremamente rara.
Caso clínico: Doente 82 anos de idade, submetida a tromboembolectomia
transpoplítea do membro inferior direito por isquemia aguda em 2011. No estudo
realizado não foi encontrada causa etiológica para a embolia. Um ano depois é
internada com dor em repouso no membro inferior direito, realiza arteriografia
que mostra doença obstrutiva infra-poplítea difusa com más condições para
revascularização. É submetida a simpacticectomia lombar direita com resolução
da dor em repouso. Durante a intervenção é constatada tumefacção pulsátil e
expansível na região nadegueira direita com cerca de 7 cm de diâmetro. Realiza
angioTC que revela a aneurisma com 7 cm de diâmetro em artéria ciática direita
persistente. A doente é submetida a tratamento cirúrgico, tendo realizado
pontagem femoral comum - poplítea supragenicular com prótese de ePTFE e
simultaneamente embolização retrógrada, proximal e distal, do aneurisma da
artéria ciática, seguida de laqueação distal da artéria ciática. Constatou-se
hipoplasia da artéria femoral femoral superficial sem ligação à artéria
poplítea. O pós-operatório decorreu sem intercorrências. A doente encontra-se
em seguimento na consulta externa há 7 meses, estando neste momento
assintomática, sem tumefação pulsátil e o angioTC mostra o aneurisma
trombosado.
P07. ROTURA DE AAA TRATADO POR VIA ENDOVASCULAR EM 2003 A IMPORTÂNCIA DE
SOLUÇÕES TÉCNICAS ALTERNATIVAS
L. Loureiro, R. Machado, C. Pereira, M. Salazar, C. Vaz, T. Loureiro, D.
Silveira, S. Teixeira, D. Rego, V. Ferreira, J. Gonçalves, R. de Almeida
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital de Santo António-Centro
Hospitalar do Porto.
Introdução: O EVAR apresenta-se como uma modalidade de tratamento com risco
mais baixo, mas necessita de seguimento a longo prazo. A repressurização do
saco aneurismático por endofuga é a causa de rotura dos aneurismas tratados por
EVAR. As técnicas endovasculares tem limitações técnicas e anatómicas difíceis
de ultrapassar e que podem exigir soluções de recurso.
Caso clínico: Doente de 86 anos transferido de outra instituição para o nosso
SU por dor abdominal e imagem em angioTC de rotura aneurismática de AAA. À
entrada referia dor abdominal intensa no mesogastro, apresentava tumefação
abdominal pulsátil e expansível com cerca de 20 cm de diâmetro de predomínio no
mesogastro e hipocôndrio direito, estava hemodinâmicamente estável e
apresentava uma hemoglobina de 8,2 g/dl. No angioTC observa-se AAA com 17cm de
diâmetro associado a hematoma peri-aneurismático em doente com prótese aorto-
bi-ilíaca com endofuga tipo Ia de grande dimensão por provável migração da
endoprotese (diâmetro da aorta infra- renal variando entre 32 e 38 mm e
endoprótese coberta a cerca de 2 cm das artérias renais). Nos antecedentes do
doente realça-se o tratamento em 2006 de endofuga tipo II com laqueação de
artérias lombares e mesentérica inferior por laparotomia, tratamento em 2012 de
endofuga tipo Ib com colocação de extensor ilíaco esquerdo e como
comorbilidades HTA, EAM em 1996, AVC em 1999, IRC e síndrome ventilatório
restritivo grave. Em face da debilidade do doente opta-se pela colocação de
extensor aórtico Medtronic® Endurant II com 36 mm de diâmetro em posição
justa-renal sob anestesia geral, tendo desaparecido a dor abdominal e a
pulsatilidade da tumefação no pós-operatório, O doente é mantido em vigilância
na unidade de cuidados intermédios. Durante este período apresenta agravamento
da função renal com necessidade de iniciar hemodialise ao 4º dia pós op.
Realiza angioTC de controlo 1 semana depois que mostra endofuga tipo Ia de
menor dimensão. Opta-se por realizar nova intervenção, com dilatação forçada do
extensor aórtico com balão expansor de 46 mm de diâmetro insuflado com 50 ml. O
procedimento decorre sem intercorrências, mantendo-se o doente assintomático.
Realiza angioTC de controlo 1 semana depois, não apresentando evidência de
endofuga. Tem alta ao 30º dia de internamento, assintomático em programa
regular de hemodiálise.
P08. FÍSTULA ARTÉRIO-VENOSA CONGÉNITA, A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
J. Tiago, V. Manuel, C. Martins, J. Fernandes e Fernandes
Serviço de Cirurgia Vascular I, Hospital de Santa Maria, Centro Hospitalar
Lisboa Norte.
Introdução: Descritas pela primeira vez em 1757 por William Hunter as fístulas
arterio-venosas (FAV) correspondem a uma comunicação anómala entre uma artéria
e uma veia. As FAV podem ser congénitas ou primárias, traumáticas ou
secundárias ou ainda adquiridas cirurgicamente como acesso vascular para a
hemodiálise.
Caso clínico: Doente de 16 anos, encaminhado para observação por cirurgia
vascular devido a quadro de dor, tumefacção pulsátil e edema do membro superior
direito com 5 anos de evolução, sem história de traumatismo prévio. Na
observação clínica todo o exame objetivo era normal à exceção do aumento do
diâmetro circunferêncial do membro superior direito, presença de massa pulsátil
com cerca de 3 cm de diâmetro no terço médio do braço, sobre a qual era
palpável frémito e audível sopro. Não eram visíveis nevus de dimensão
aumentada, angiomas ou telangiectasias, não existiam assimetrias dos membros
inferiores. Os exames complementares realizados, ecodoppler e angio-TC,
revelaram a presença de uma fístula artério-venosacom 2,2 cm de maior diâmetro
entre a artéria umeral e a veia umeral no seu terço médio, a mesma condicionava
erosão do úmero. Face aos sintomas do doente e aos sinais clínicos compatíveis
com FAV congénita os autores decidiram proceder à laqueação da fístula por
abordagem cirúrgica, realizando o isolamento da artéria umeral desde a sua
origem até à fossa antecubital. Foram isolados todos os ramos colaterais da
artéria umeral e uma volumosa fistula artério-venosa no terço médio do braço
entre a artéria umeral e a veia umeral. O pós-operatório decorreu sem
intercorrências e o doente teve alta às 48h sem queixas. Aos 3 meses do pós-
operatório não existiam evidências de FAV a nível umeral, contudo na avaliação
clínica constatou-se o aparecimento de novo de frémito ao nível da veia
cefálica.
Discussão: As FAV congénitas isoladas são uma entidade rara, devem ser
corrigidas sempre que condicionem sintomas. Apresentam elevadas taxas de
recidiva, uma vez que a exclusão de FAV proximais não impedemo aparecimento de
novas FAV distais.
P09. FAILING GRAFT E ENDO SALVAGE A PROPÓSITO DE CINCO DOENTES
P. Martins, T. Ferreira, A. Ministro, J. Tiago, A. Evangelista, C. Martins, J.
Silva Nunes, J. Fernandes e Fernandes
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital Santa Maria.
Introdução: O conceito de enxerto em falência hemodinâmica (failing graft)
evoluiu nos anos 90 associado aos programas de vigilância dos procedimentos de
revascularização. O doente com failing graft identificado está em risco de
trombose do bypass e isquémia iminente, sendo prioritário o tratamento precoce
das lesões responsáveis, intrínsecas do bypass ou das artérias de inflow/
outflow, para manter a permeabilidade. Os autores apresentam cinco casos
clínicos de tratamento endovascular de failing graft.
Métodos: Cinco doentes com failing graft foram identificados em programa de
vigilância clínica eeco-doppler; dois por estenose na artéria ilíaca dadora de
crossover femoro-femoral, um por estenose no segmento médio de bypass venoso
femoro-popliteu infra-genicular, um por estenoses múltiplas no segmento médio e
anastomótico distal de bypass venoso femoro-popliteu infra-genicular e um por
estenose anastomótica distal em bypass venoso femoro-tibial anterior. Foram
utilizadas as vias femoral anterógrada/retrógrada, umeral ou dissecção
cirúrgica do enxerto. Em três doentes procedeu-se a angioplastia com balão e em
dois doentes a implantação de stents auto-expansíveis. Resultados: O sucesso
técnico, clínico e hemodinâmico foi de 100% em todos os doentes, sem
morbilidade associada, nomeadamente, oclusão ou ruptura de bypass. No followup
detectou-se um caso de re-estenose aos seis meses na anastomose distal em
bypass venoso femoro-tibial anterior submetido a re-intevenção endovascular com
sucesso.
Conclusões: O followup dos procedimentos de revascularização é fundamental para
manter a permeabilidade dos enxertos. O tratamento endovascular de failing
graft é uma opção segura e eficaz em doentes selecionados e lesões favoráveis,
com baixa morbilidade e reduzido tempo de internamento. No entanto, parece
estar associado a maior frequência de re-estenose, que neste grupo, foi
possível tratar por via endovascular.
P10. PARAGANGLIOMA CERVICAL CASO CLÍNICO
L. Antunes, J. Varino, C. Mendes, A. Marinho, G. Anacleto, A. Matos
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra EPEHUC.
Objectivo: Apresentação de caso clínico de um doente com volumoso paraganglioma
cervical. Caso clínico: Doente do sexo masculino, 75 anos, com queixas de massa
cervical direita não pulsátil de crescimento súbito nos últimos meses, sem
défices neurológicos centrais ou periféricos, seguido em consulta de cirurgia
após realização de hemicolectomia por perfuração do cólon. Apresentava
antecedentes de fibrilação auricular e hipertensão arterial. A angio-TAC
cervical mostrou formação nodular de limites bem definidos, com captação
heterogénea de contraste, com 6,4 cm localizada à bifurcação carotídea direita
sugestiva de paraganglioma, e vários gânglios cervicais, o maior com 7 mm. Foi
submetido a cirurgia com ressecção do tumor do corpo carotídeo (Shamblin tipo
II) e de adenopatias cervicais. Durante a cirurgia procedeu-se ao isolamento do
nervo hipoglosso e glossofaríngeo e secção do ventre posterior do músculo
digástrico. O resultado anatomo-patológico confirmou o paraganglioma da
bifurcação carotídea com 33 g e 5,5 × 4 × 2,2 cm. Os gânglios linfáticos
mostraram hiperplasia folicular. No pós-operatório o doente desenvolveu ligeira
disfonia, que mantém aos 6 meses de follow-up.
Discussão: Os paragangliomas cervicais são tumores raros, a maioria localizadas
no corpo carotídeo e com evolução benigna (95%). O tratamento cirúrgico é opção
terapêutica de primeira linha, sendo as lesões neurológicas periféricas a
complicação mais frequente (variável conforme a extensão do tumor). A maioria
das lesões neurológicas são secundárias a estiramento dos nervos durante a
cirurgia, e resolvem a médio prazo. O exame anatomo-patológico é fundamental
para excluir a invasão ganglionar.
P11. SÍNDROME DE ROUBO DA ARTÉRIA SUBCLÁVIA A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
L. Antunes, A. Marinho, J. Varino, C. Mendes, G. Anacleto, O. Gonçalves, A.
Matos
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar e Universitário de
Coimbra EPEHUC.
Objectivo: Apresentação de caso clínico de um doente com oclusão da artéria
subclávia e que teve AVC (acidente vascular cerebral) do território cerebral
anterior ipsilateral secundário a hipoperfusão.
Caso clínico: Doente do sexo masculino, 73 anos, com antecedentes de AVC (há 11
e 15 anos com hemiparesia esquerda sequelar) que teve episódio súbito de
disartria e assimetria facial após refeição, da qual recuperou parcialmente. Ao
exame objectivo tinha parésia facial de tipo central e hemiparesia esquerda
grau 4. Não tinha pulso umeral à direita e tinha TA na braço esquerdo de 87/63
mmHg. Apresentava antecedentes de HTA, dislipidémia e prostatectomia. A TAC-CE
mostrou discreta hipodensidade lenticulo-capsular direita com extensão à cabeça
do caudado e corona radiata ipsilaterais sugestiva de lesão vascular em
evolução. Pequenas lesões vasculares sequelares. O eco-doppler carotídeo
vertebral mostrou estenoses carotídeas bilaterais sem significado hemodinâmico
e inversão do fluxo na artéria vertebral direita. O Doppler transcraniano
mostrou múltiplas estenoses intracranianas (artéria cerebral média (ACM)
direita, cerebral anterior (ACA) esquerda, vertebral esquerda e artéria
basilar). Angio-TAC cervical mostrou arco aórtico bovino, com oclusão da
artéria subclávia pré-vertebral, artéria carótida interna (ACI) direita com
calibre reduzido, circulação anterior direita de pequeno calibre e estenoses da
ACM direita. O doente foi submetido a cirurgia sob anestesia geral,
monitorização da oximetria cerebral e anti-agregação plaquetar, realizando-se
bypass carótido-subclávio direito com prótese PTFE 8 mm com 1,5 cm de
comprimento. Pós-operatório sem intercorrências, com recuperação do pulso
radial. Teve alta ao 3º dia pós-operatório.
Discussão: O síndrome de roubo da subclávia é uma quadro clínico raro, na
maioria das vezes sem necessidade de abordagem invasiva. Nas situações em que
se desenvolvem sintomas de isquémia neurológica ou do membro, está indicada a
revascularização. A existência de isquémia neurológica está associada a
alterações da circulação intra-cerebral ou do território carotídeo que podem
ser desencadeadas pelo esforço físico do membro superior ipsilateral. A
abordagem cirúrgica tem bons resultados com baixa morbi-mortalidade e patências
superiores relativamente ao tratamento endovascular. Os condutos protéticos têm
patência superiores.
P12. TRATAMENTO CIRÚRGICO DE MALFORMAÇÃO DIGITAL CONGÉNITA
N. Oliveira, L. Ferraz, L. Borges, E. Dias, F. Oliveira, I. Cássio
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Serviço de Cirurgia Plástica e
Reconstrutiva, Hospital do Divino Espírito Santo, EPE.
Introdução: As malformações arteriovenosas (MAV) podem ter uma apresentação
clínica e evolução imprevisíveis. Por isso, o seu tratamento é ainda um desafio
entre as várias patologias vasculares. MAV's das extremidades de localização
muito periférica podem não ser amenizáveis por emboloterapia devido ao risco
elevado de necrose. Os autores apresentam um caso clínico de uma malformação
arteriovenosa congénita do membro superior que foi abordado exclusivamente por
Cirurgia.
Caso clínico: Mulher de 27 anos sem antecedentes pessoais relevantes, seguida
em consulta por malformação do 5º dedo, com agravamento progressivo de queixas
de dor, impotência funcional e deformidade do dedo da mão. Submetida a
ressecção da malformação arteriovenosa e laqueação da artéria palmar digital
própria medial do 5º dedo. Após um seguimento de 8 meses, a doente apresenta a
ferida cirúrgica cicatrizada, sem impotência funcional do dedo e sem evidência
clínica de recidiva.
Discussão: O tratamento cirúrgico das malformações arteriovenosas digitais do
membro superior pode ser realizado de forma curativa com conservação do dedo,
com resultados estéticos e funcionais favoráveis.
P13. EXTRAPOLAR INDICAÇÕES A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
N. Duarte, A. Gonçalves, G. Marques, P. Barroso, A. González, A. Afonso, M.J.
Ferreira
Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital Garcia de Orta (HGO).
Objectivo: O objectivo deste poster é apresentar um caso de um doente submetido
a uma primeira cirurgia de revascularização cuja indicação não é a mais
consensual, tendo ocorrido falência da mesma após 6 anos, com necessidade de
reintervenção por isquémia grau III. Caso clínico: Doente de 51 anos, do sexo
masculino, com antecedentes de tabagismo activo, HTA, CABG e status pós-
angioplastia + stentingilio-femoral bilateral, com implantação de 2 stents
auto-expansiveis em cada lado, desde a origem da AIP até justa-bifurcação
femoral bilateral em 2004. É internado com queixas compatíveis com isquémia
grau III MIE, referindo sintomas de isquémia grau IIB bilateral com início há 2
anos. Objectivamente sem pulsos dos membros inferiores, sem alterações
sensitivo-motoras e com indices sistólicos de 0,36 à esquerda e 0,65 à direita.
Eco-doppler e Angio-TC revelaram trombose da aorta distal e stents ocluídos
bilateralmente, com reabitação na AFC, existindo estenoses de 50% justa-
bifurcação. È então submetido a bypass aorto-bifemoral com prótese de Dacron,
sem intercorrências no intra ou pós-operatório e com recuperação dos pulsos
distais bilateralmente, com alta no 5º dia pós-operatório.
Discussão: No tratamento da doença ilio-femoral, a endarterectomia femoral +
stenting ilíaco surge como alternativa à abordagem tradicional do bypass aorto-
bifemoral (ABF). Esta abordagem híbrida tem ganho aceitação pelos resultados
favoráveis a longo prazo e diminuição da mortalidade comparando com o ABF.
Embora a terapêutica endovascular tenha a sua maior indicação em lesões TASC A
e B, a verdade é que cada vez mais se alargam indicações, no entanto, em
doentes com doença obstructiva aorto-ilíaca difusa (lesões TASC C e D), como
era o caso deste doente, a permeabilidade é francamente inferior quando usados
bare stents, relativamente ao bypass ABF e o uso desses stents a nível da
femoral comum têm uma franca diminuição da permeabilidade quando comparado com
endarterectomia do mesmo território.
P14. EMBOLIA SÉPTICA POR ENDOCARDITE BACTERIANA A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
N. Duarte, A. Gonçalves, G. Marques, P. Barroso, A. González, A. Afonso, M.J.
Ferreira
Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital Garcia de Orta (HGO).
Introdução: A isquémia aguda dos membros inferiores tem múltiplas etiologias
possíveis, sendo a embolização séptica por endocardite bacteriana um
diagnóstico pouco frequente desde a generalização da ecocardiografia e
terapêutica com antibióticos. No entanto, existem grupos de doentes em risco,
incluindo usuários de drogas intravenosas, doentes com linhas arteriais ou
venosas e os imunocomprometidos.
Caso clínico: Doente de 53 anos, do sexo feminino, com antecedentes pessoais de
cirurgia cardíaca com 3 anos de idade por doença congénita da válvula aórtica
que não sabe especificar, referindo ter sido feita plastia com material
biológico; doença crónica de dismotilidade digestiva desde a juventude
submetida a gastroenterostomia aos 26 anos por ptose gástrica e 2
reintervenções com ressecção intestinal; múltiplos episódios de sub-oclusão
intestinal, tendo o último há 5 meses motivado internamento para lise de bridas
e colocada PEG para drenagem nos períodos de oclusão. Por síndrome de
malabsorção, iniciou nutrição parentérica domiciliária (por catéter cental na
subclávia direita), acompanhada de nutrição oral fora dos períodos de oclusão e
gastrostomia derivativa. Recorre ao serviço de urgência com isquémia aguda do
pé esquerdo com cerca de 6h de evolução, referindo desde há 9 dias aparecimento
de febre (39 oC). A doente realiza, além do ecodoppler que confirma trombo na
popliteia e ausência de fluxo distal, um ecocardiograma transesofágico que
revela endocardite da válvula mitral com vegetação de grande dimensão,
iniciando de imediato antibioterapia empírica. É então submetida a embolectomia
anterógrada via popliteia infragenicular, com saída de êmbolo com aspecto
cefalóide, com recuperação dos pulsos distais. Enviado o êmbolo para
microbiologia. Por síndrome compartimental, foi necessário proceder a
fasciotomia no dia seguinte. As 3 hemoculturas e o êmbolo revelaram
Staphylococcus lugdunensis sensível à Penicilina, pelo que foi iniciada
antibioterapia dirigida associada a Gentamicina (cessando o último ao fim de 5
dias). Foi substituído o catéter venoso central no 9º dia de internamento. No
16º dia pós-operatório, quadro de HDA com origem em úlcera gástrica, tendo sido
realizada terapêutica local com adrenalina que se repetiu no dia seguinte com
repercussão hemodinâmica. Realizou EDA que revelou neoplasia gástrica adenoma
tubulo-viloso com displasia focal de alto grau com ulceração da mucosa, tendo
ficado com mucosectomia agendada para pós-alta. ETE 54 dias pós-operatório
revelou ausência de vegetações.
Discussão: Dada a vegetação de grandes dimensões e a agressividade conhecida do
S.lugdunensis, com habitual necessidade de cirurgia e a presença de fenómenos
embólicos, trata-se de uma doente de alto risco.A prevalência desta bactéria é
baixa, variando de 0,6% a 13%, sendo um dos principais agentes causadores de
endocardites nos doentes imunocomprometidos, com taxa de mortalidade até 70%.
Será assim relevante o envio sistemático do trombo para bacteriologia.
P15. ATEROEMBOLISMO PROVOCADO POR LESÃO ESTENÓTICA NA ARTÉRIA POPLÍTEA
J. Vidoedo, M. Maia, J. Almeida Pinto
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Tâmega e Sousa,
EPE.
Objectivo: Apresentação de caso clínico de embolização periférica provocada por
estenose acentuada da artéria poplítea e discussão desta forma de apresentação
de doença arterial periférica.
Caso clínico: Doente de 48 anos, antecedentes de dislipidemia não tratada,
história pregressa de hipertensão arterial até colocação de stent renal
esquerdo 2 anos antes. Referenciado à consulta de cirurgia vascular com
diagnóstico de causalgia do pé esquerdo. Queixava-se de dor no ante-pé esquerdo
que teve início de forma súbita 10 meses antes. Desde essa altura referia
alteração da coloração do ante-pé esquerdo e dor intensa intermitentes, com
exacerbação em decúbito, renitente a analgesia. Negava história prévia de
claudicação, no entanto desde o início das queixas referia claudicação no ante-
pé para curtas distâncias. Trazia RM do pé sem alterações e cintigrafia óssea
que revelou alterações tipo inflamatório localizadas no ante-pé (hipótese de
causalgia pouco provável). Ao exame objectivo apresentava áreas de livedo de
tom púrpura circunscritas na face posterior da perna, ante-pé e dedos do pé à
esquerda. Apresentava pulsos dos MI palpáveis e simétricos. Sem edema ou outros
sinais sugestivos de doença venosa crónica. Efectuou TAC toraco-abdominal para
exclusão de lesões proximais, RM para exclusão de entrapment, ecocardiograma,
Holter e ECG para exclusão de eventual etiologia embolígena cardíaca. Ao eco-
Doppler detectou-se uma lesão irregular de aspecto iso-ecogénico no segmento
retro-articular da artéria poplítea esquerda, com cerca de 1,5-2 cm de
extensão, que condicionava turbilhonamento e aceleração importante do fluxo
(11×), sugerindo estenose significativa. Não foram detectadas outras alterações
a nível dos eixos principais e distais até ao pé.
Discussão: O ateroembolismo refere-se à oclusão de artérias resultante do
destacamento e embolização de resíduos ateromatosos como fibrina, plaquetas,
cristais de colesterol e fragmentos de cálcio, que ocluem arteríolas e pequenas
artérias. A origem mais frequente é aórtica sendo mais rara a origem em
artérias periféricas como neste caso. A maioria dos doentes é do sexo
masculino, com mais de 60 anos e com evidência de aterosclerose, o que terá
influenciado o adiamento de diagnóstico no caso apresentado. O tipo de
tratamento deverá ser considerado caso a caso através de exclusão/remoção da
lesão embolígena.
P16. ANEURISMA DA ARTERIA CUBITAL
C.J. Rodrigues, A. Santos Simões
Unidade de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Tondela Viseu.
Introdução:A primeira referencia a aneurismas envolvendo a artéria cubital
remonta ao século XVIII, mas a 1ª descrição clínica desta patologia é de Van
Rosen, em 1934. Embora seja uma patologia rara, constituem os aneurismas mais
frequentes no membro superior. São mais frequentes no sexo masculino, até à 6ª
década de vida e associam-se frequentemente a movimentos repetitivos durante a
atividade profissional ou de lazer do doente, daí a designação de síndrome do
martelo hipotenar.Causam uma miríade de sintomas desde queixas ligeiras de dor,
parestesias ou arrefecimento digital até quadros graves de ulceração e necrose
digital com impotência funcional.
Caso clínico: Os autores analisaram o quadro clínico de um doente, sexo
masculino, 63 anos, com antecedentes de hipertensão arterial controlada, dextro
e jardineiro de profissão. É referenciado à consulta de Angiologia e Cirurgia
Vascular devido ao aparecimento de uma formação nodular a nível da eminência
hipotenar esquerda, indolor, levemente pulsátil, com varias semanas de
evolução. Apresenta queixas de parestesias do 5º dedo que não valoriza. Realiza
um ecodoppler que confirma a presença de um aneurisma, permeável da artéria
cubital com cerca de 2 cm de maior diâmetro. A pletismografia confirma que a
perfusão digital se encontra preservada mas é reduzida significativamente a
nível do 5º dedo com a compressão seletiva da artéria cubital. O doente foi
submetido a ressecção do aneurisma e anastomose topo-a-topo da artéria cubital
e retomou a sua atividade profissional às 3 semanas de pós-operatório. A
permeabilidade da artéria cubital encontra-se preservada aos 12 meses de
cirurgia, como confirmado pelo ecodoppler de controlo. Discussão: Os aneurismas
da artéria cubital incluem-se nas lesões vasculares de origem profissional. São
frequentemente induzidos por movimentos repetitivos e podem afectar
negativamente a capacidade funcional do doente e o exercício da sua atividade
laboral, se não forem detectados e tratados precocemente. O seu tratamento
cirúrgico inclui a trombose seletiva, a laqueação e a resseção associada a
procedimentos de revascularização.
P17. ANEURISMA DA VEIA ILIACA COMUM
C.J. Rodrigues, A. Santos Simões
Unidade de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Tondela Viseu.
Introdução: Os aneurismas venosos são uma patologia rara e envolvem
maioritariamente veias superficiais dos membros superiores e veias centrais
torácicas. Na literatura científica mundial encontram-se descritos menos de 20
casos de aneurismas isolados envolvendo as veias ilíacas. Cerca de 50%
associam-se a traumatismos ou a fístulas arteriovenosas distais ao aneurisma
mas os restantes casos têm uma etiologia obscura. Podem ser assintomáticos mas
habitualmente associam-se a episódios recorrentes de trombose venosa profunda e
embolia pulmonar (EP), mesmo sob hipocoagulação.
Caso clínico: Os autores analisaram o quadro clínico de um doente, sexo
feminino, 73 anos, sem antecedentes médicos relevantes. Realiza uma ecografia
abdomino-pélvica de rotina para consulta de Ginecologia, que coloca o
diagnóstico de suspeição de aneurisma da veia ilíaca esquerda. É referenciada à
consulta de Angiologia e Cirurgia Vascular e realiza ecodoppler arterial e
venoso dos membros inferiores normal e angioTAC e ilio-cavografia que
confirmam o diagnóstico de aneurisma da veia ilíaca comum esquerda, sem
trombose mural. A doente foi submetida a ressecção do aneurisma e
revascularização pela interposição de prótese PTFE 10 mm anelada entre a veia
ilíaca comum e a ilíaca externa com laqueação da hipogástrica. Encontra-se
assintomática, sob hipocoagulação oral e com o enxerto permeável aos 3 meses de
pós-operatório.
Discussão: Os aneurismas da veia ilíaca têm uma história natural pouco
esclarecida. Ainda assim, extrapolando os conhecimentos adquiridos pelo estudo
de aneurismas venosos noutras localizações e atendendo aos sintomas que causam,
têm indicação cirúrgica uma vez detectados. A incidência de embolia pulmonar em
doentes com aneurismas da veia ilíaca é de 25-35%, constatando-se que uma
correta hipocoagulação e a ausência de trombose mural não são protetoras. A 1ª
opção terapêutica é de resseção do aneurisma associada a revascularização quer
por anastomose topo-a-topo, quer pela interposição de um segmento protético.
Caso não seja possível, deve proceder-se pelo menos, à sua laqueação para
reduzir a incidência de EP.
P18. SÍNDROME DE DESFILADEIRO TORÁCICO EM ADOLESCENTE VIOLINISTA CASO CLÍNICO
J.P. Gonçalves, C. Pereira, C. Nogueira, C. Vaz, L. Loureiro, T.Loureiro, D.
Silveira, S. Teixeira, D. Rego, V. Ferreira, R. Almeida
Serviço Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital de Santo António, Centro
Hospitalar do Porto.
Objectivo: Descrever um caso clínico de síndrome de desfiladeiro torácico com
apresentação atípica numa jovem violinista, tratado no nosso serviço de
Cirurgia Vascular do Hospital de Santo António.
Caso clínico: Menina de 16 anos, com dor local cervical/supraclavicular
esquerda quando toca violino. Sem clínica de patologia arterial ou venosa.
Pulsos distais presentes. Sem sintomas neurológicos no membro superior
esquerdo. Costela cervical palpável. Submetida a Rx de tórax e angioTC.
Submetida a costectomia parcial supraclavicular esquerda. Alta assintomática.
Evolução favorável aos 2 meses pós-op.
Discussão: A síndrome de desfiladeiro torácico é uma entidade muito rara em
jovens até aos 18 anos, com um quadro clínico diferente daquele habitual nos
adultos. Habitualmente, divide-se a apresentação clínica em neurológica,
arterial ou venosa. No entanto, por vezes, existem apresentações atípicas. Os
métodos de diagnóstico estão relativamente bem definidos, exceto para a
apresentação neurológica, a qual ainda levanta alguns problemas de diagnóstico.
Devido á maior variabilidade de apresentação nos jovens, é fundamental uma
mente arguta e questionar sempre uma apresentação atípica desta síndrome nesta
faixa etária. Relatamos o nosso caso, com resolução extremamente satisfatória.
P19. TROMBOSE AÓRTICA SUBAGUDA COM ENVOLVIMENTO SUPRA-RENAL EM DOENTE COM
SÍNDROME DO ANTICORPO ANTIFOSFOLIPÍDEO: CASO CLÍNICO
E. Silva, A. Evangelista, A. Ministro, J. Fernandes e Fernandes
Clínica Universitária de Cirurgia Vascular, Hospital de Santa Maria-CHLN.
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa. Centro Académico de Medicina
de Lisboa.
Introdução:A síndrome do anticorpo antifosfolípideo é definida pela associação
entre a demonstração laboratorial da presença de anticorpos antifosfolipídeos,
trombose arterial ou venosa e perdas gestacionais recorrentes na mulher. A
presença de anticorpos antifosfolípideo está associada também a um risco
aumentado de fenómenos tromboembólicos, como tromboflebite, tromboembolismo
pulmonar, acidente vascular cerebral, oclusão da artéria da retina, enfarte do
miocárdio, trombose placentária e síndrome de Budd-Chiari.
Caso clínico:Os autores apresentam o caso clínico de um homem de 40 anos, com a
síndrome do anticorpo antifosfolípideo e trombose aórtica com envolvimento
supra-renal, suspeitada pela presença de hipertensão arterial refratária e
insuficiência renal crónica de agravamento progressivo e confirmada por angio-
TC. O doente foi submetido a cirurgia de revascularização visceral, renal e dos
membros inferiores que consistiu em tromboendarteriectomia da aorta para-renal
e origem das artérias mesentérica superior e renais e bypass aorto-ilíaca
primitiva direita-femoral comum esquerda. O pós-operatório foi complicado por
hemorragia para-renal direita subsequente a lesão iatrogénica de ramo polar
superior da artéria renal direita. O follow-up atual de 5 meses mostra uma
normalização dos valores tensionais sem necessidade de terapêutica
farmacológica hipotensora. O doente foi tratado conservadoramente para a
síndrome do anticorpo antifosfolípideo com terapia anticoagulante oral
permanente.
Discussão:Este caso evidencia uma complicação rara desta síndrome, a
importância da decisão cirúrgica rápida e adequada, que permitiu recuperar a
função renal, sem necessidade de tratamento dialítico, controlar a hipertensão
arterial e proporcionar qualidade de vida e retoma da vida profissional activa.
P20. TRATAMENTO ENDOVASCULAR DE ANEURISMAS SACULARES DA AORTA ABDOMINAL E DA
ARTÉRIA ILÍACA ISOLADOS CASO CLÍNICO
J. Almeida Lopes, D. Brandão, P. Barreto, A. Mansilha
Unidade de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital CUF, Porto.
Introdução:Os aneurismas da aorta abdominal (AAA) são os aneurismas abdominais
mais frequentes, por sua vez os aneurismas isolados da artéria ilíaca comum
(AIC) representam menos de 2% de todos os aneurismas intra-abdominais. Quando
os AAA são saculares a sua reparação é frequentemente recomendada dada existir
uma perceptível predisposição para a rotura apesar da pouca evidência
ciêntifica.
Caso clínico: Neste contexto os autores propõem-se apresentar um caso clínico
de um doente de 72 anos, com antecedentes de hipertensão arterial, que
apresentava em simultâneo dois aneurismas saculares isolados. Um aneurisma da
AIC esquerda de 3 cm que envolvia a bifurcação ilíaca, foi corrigido por via
endovascular através embolização com diversos coils da artéria ilíaca interna
(AII) ipsilateral com a subsequente colocação de uma extensão ilíaca de
endoprótese Endurant II (Medtronic Inc, Minneapolis, Minn) de 13 × 80 mm. No
mesmo procedimento foi também corrigido um AAA sacular de 3,8 cm, igualmente
por via endovascular, com a colocação de uma endoprótese tubular Endurant II de
23 × 70 mm. O procedimento teve a duração de 130 minutos, tendo o doente tido
alta no dia seguinte à intervenção, sem intercorrências. Durante o seguimento o
doente apresentou queixas transitórias de claudicação nadegueira esquerda,
porém sem outras queixas de isquemia pélvica como disfunção eréctil. O angio-TC
de controlo revelou integridade e permeabilidade das endopróteses colocadas,
ausência de endoleaks e redução do volume dos sacos aneurismáticos.
Discussão: A embolização com coils da AII é frequentemente usada para a
correção de aneurismas ilíacos que envolvem a sua bifurcação, de modo a colocar
com segurança, uma endoprótese para exclusão dos referidos aneurismas evitando
assim o endoleak tipo II. Este procedimento porém, não está isento de
complicações que estão decorrentes da diminuição do aporte sanguíneo para a
região pélvica que nas embolizações unilaterais apresentam taxas de claudicação
nadegueira de cerca de 31% e de 17% de disfunção eréctil. Serve este caso para
documentar o tratamento simultâneo e singular de 2 aneurismas saculares
intraabdominais isolados, com recurso às técnicas endovasculares, prestigiando
esta abordagem como acto de menor invasibilidade e morbi-mortalidade.
Sessão 2
P21. EXCLUSÃO ENDOVASCULAR DE ANEURISMA DA ARTÉRIA RENAL A PROPÓSITO DE UM
CASO CLÍNICO
J. Almeida Lopes, D. Brandão, P. Barreto, A. Mansilha
Unidade de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital CUF, Porto.
Introdução: Os aneurismas da artéria renal são entidades patológicas
extremanente raras, apresentando uma incidência estimada de 0,01-0,09% na
população e estando a sua rotura associada a elevada mortalidade.
Caso clínico: Doente do sexo masculino de 33 anos de idade, sem antecedentes
médicos de relevo, a quem na sequência de uma ecografia de rotina, lhe foi
detetado um aneurisma da artéria renal direita. De seguida realizou um angio-TC
de rotina que confirmou a presença de um aneurisma sacular da bifurcação da
artéria renal direita com 2,1 cm de diâmetro máximo. Dado a localização distal
do aneurisma na artéria renal direita envolvendo já a primeira artéria renal
segmentar e de modo a manter a perfusão de todo o rim, o tratamento proposto e
realizado passou pela exclusão aneurismática através da colocação de um stent
de nitinol auto-expansível Xpert (Abbott Vascular Devices, Abbott Park, IL) de
células abertas de 5 × 20 mm na região do aneurisma e embolização com a
libertação de um coil tridimensional e vários coils bidimensionais no saco
aneurismático através da malha do stent. O procedimento demorou cerca de 160
minutos, sem intercorrências, tendo o doente tido alta no dia seguinte ao
procedimento, assintomático, com um débito urinário normal e sem se ter
verificado deterioração da função renal. Durante o seguimento do doente, este
manteve uma adequada função renal e perfil tensional e o angio-TC de controlo
aos 7 meses revelou total exclusão aneurismática, assim como permebilidade das
duas artérias renais segmentares, integridade do stent colocado, sem sinais de
enfarte ou atrofia renal.
Discussão: Serve este caso clínico para documentar um tipo raro de tratamento
endovascular na literatura anglo-saxónica desta patologia e a experiência
crescente do nosso Hospital como tratamento de primeira linha na correção de
aneurismas de artérias viscerais por via endovascular. A abordagem endovascular
selecionada demonstrou portanto ser uma técnica tanto eficaz como segura,
evitando assim as possíveis comorbilidades decorrentes da utilização de outros
meios de tratamento endovasculares e da tradicional abordagem cirúrgica
inevitavelmente mais complexa, demorada e invasiva. Manter a perfusão do rim é
vital na escolha da melhor opção endovascular para a exclusão aneurismática.
Desta forma, a opção por nós selecionada teve em vista a manutenção da perfusão
renal, minurando as possíveis complicações decorrentes do tratamento
endovascular causadas pela embolização com coils ou pela colocação de um stent
coberto. Discutimos também o nível de evidência que suporta a opção
endovascular por nós selecionada e os riscos inerentemente associados.
P22. FÍSTULAS AORTO-CAVA A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
J. Almeida Lopes, A. Mansilha, J. Fernando Teixeira
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular do Hospital de S. João, Porto.
Introdução: As fístulas aorto-cava (FAC) são uma complicação rara que envolvem
menos de 1% de todos os aneurismas da aorta abdominal (AAA) e estão
frequentemente associados a significativa mobi-mortalidade.
Caso clínico: Doente do sexo masculino de 68 anos, com antecedentes tabágicos,
etílicos, HTA, DM, dislipidemia, IRC, EAM, cirurgia de revascularização do
miocárdio, DAP com claudicação intermitente não incapacitante e AAA de 5 cm,
recorre ao SU do nosso hospital queixando-se de dor lombar intensa, febre e
tosse produtiva, tendo tido alta medicado com amox/ac. clavulânico 875/125 mg.
Dois dias depois entra na Sala de Emergência com queixas de agravamento da dor
lombar e astenia, com estabilidade hemodinâmica, hiperlactacidémia, edema e
sinais de isquemia dos MIs, leucocitose, IRC agudizada e hematúria. Efectuou um
angio-TC abdominal que revelou um AAA de 6,9 cm e uma fístula aorto-cava
associada. Foi realizada a sua correção cirurgica urgente por via clássica, com
a construção de enxerto de interposição aorto-aórtico com uma prótese tubular
de Dacron® de 20 mm onde se observaram perdas hemáticas significativas, com
necessidade de ser politransfundido. No dia seguinte por isquemia do MIs é
realizada trombectomia ilio-femoro-distal bilateral, tendo o MID evoluído para
isquemia irreversível e sido necessário a posteriori realizar uma amputação
acima do joelho. Após um internamento prolongado de 30 dias, que cursou com
quadro de disfunção multi-orgânica inicial e infeção do trato urinário tardio
tratados com sucesso, o doente teve alta hospitalar. O doente protetizou,
tornando-se autónomo para as actividades de vida diária. Três anos após esta
cirurgia, morre vítima de neoplasia esofágica metastizada.
Discussão: Pelo seu potencial de devastação e de fatalidade, as FAC devem ser
abordadas com alto nível de suspeição, tendo sempre em consideração que a
sobrevida destes doentes depende grandemente do seu estado clínico na admissão,
diagnóstico assertivo e pronta resposta cirúrgica.
P23. CASO CLÍNICO ANEURISMAS SÍNCRONOS DAS ARTÉRIAS RENAIS E MESENTÉRICA
SUPERIOR
L. Castro e Sousa, G. Sobrinho, G. Queiroz de Sousa, J. Vieira, P. Amorim, K.
Ribeiro, T. Vieira, N. Meireles, J.A. Pereira Albino
Serviço de Cirurgia Vascular 2, Centro Hospitalar Lisboa Norte/ Hospital Pulido
Valente.
Introdução: Os aneurismas viscerais são entidades clínicas muito raras
sobretudo em idades jovens. Podem apresentar-se em qualquer dos ramos viscerais
abdominais, sendo que os da mesentérica superior correspondem a 5,5% do total.
Mais rara ainda, é a presença de doença aneurismática concomitante das artérias
renais e da mesentérica superior.
Caso clínico: Doente do sexo masculino, de 27 anos, hipertenso, insuficiente
renal crónico, que recorreu à urgência com quadro de hipertensão maligna e
agudização da insuficiência renal com necessidade de hemodiálise. O estudo
realizado identificou a presença de aneurismas síncronos das artérias renais e
mesentérica superior. A artéria renal esquerda já se encontrava ocluída e o rim
atrofiado. Após cuidada avaliação das hipóteses de tratamento possíveis, foi
submetido a nefrectomia direita e ressecção de aneurisma mesentérico com
interposição de enxerto protésico. O doente teve um pós-operatório sem
intercorrências, tendo tido alta cerca de 15 dias após o procedimento, devido
ao facto de ter havido necessidade de realizar um acesso de hemodiálise.
Discussão: O caso que apresentamos é uma situação clínica muito pouco
frequente, única em Portugal, que foi tratada por via cirúrgica convencional.
Os autores finalizam analisando as hipóteses etiológicas em presença com base
nos achados histológicos encontrados e a analise de casos semelhantes da
literatura.
P24. SÍNDROME DE BOCKENHEIMER A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
D. Rego, I. Silva, P. Almeida, C. Nogueira, C. Vaz, L. Loureiro, T. Loureiro,
D. Silveira, S. Teixeira, J. Gonçalves, V. Ferreira, R. Almeida
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto-Hospital
de Santo António.
Introdução: A síndrome de Bockenheimer caracteriza-se por uma extensa
malformação venosa das extremidades associada a veias, ingurgitadas e
irregularmente dilatadas, presentes na derme profunda e superficial, geralmente
do membro superior (mais frequente) e inferior podendo envolver o tronco. A
bilateralidade é rara, mas está descrita. Trata-se de uma síndrome rara também
denominada de flebectasia difusa genuína. A sua apresentação clínica é
congénita demonstrando evolução progressiva ao longo da vida podendo complicar-
se por dor nos membros afetados e ulceração cutânea. O eco-doppler, angioTAC,
RMN e flebografa são importantes no diagnóstico diferencial com as síndromes de
Parkes-Weber e Klippel-Trenaunay excluindo a existência de fístulas arterio-
venosas (FAVs) e as assimetrias do desenvolvimento esquelético. O diagnóstico
definitivo advém da análise histológica de biópsia que revela ectasia venosa,
diminuição da quantidade de elastina e células musculares na parede da veia e
frequentemente presença de flebolitos. As opções de tratamento incluem a
resseção cirúrgica, embolização, escleroterapia e compressão elástica.
Caso clínico: Descrevemos o caso clínico de uma criança de 8 anos, sexo
masculino, referenciada a CE de Cirurgia Vascular, sem qualquer outro
antecedente médico ou cirúrgico, que apresentava, desde o nascimento, manchas
de coloração azulada, confluentes e de evolução progressiva, envolvendo os
membros superiores e inferiores, tronco e regiões peri-orbitárias. História de
flebólitos de repetição nos membros e pescoço. O restante exame físico é
normal. A avaliação ecográfica demonstrou ausência de refluxo venoso profundo
ou superficial (safenas, cefálica e basílica) e fluxo de baixa velocidade nas
lesões. O estudo com angioTAC e angioRMN revelou ectasias venosas difusas e
irregulares, ausência de assimetrias ósseas e de preenchimento venoso precoce
compatível com a existência de FAVs. Dada a ausência de incapacidade física ou
de sintomas optou-se pelo tratamento conservador com contenção elástica dos
membros inferiores e vigilância da evolução. Pelo mesmo motivo, atendendo á
idade do doente, e por não se esperar alteração da estratégia terapêutica, não
se realizou biópsia.
P25. DRUG-ELUTING BALLOON NO TRATAMENTO DE RESTENOSE CAROTÍDEA INTRA-STENT
S. Figueiredo Braga, D. Brandão, J. Vasconcelos, R. Gouveia, P. Pinto Sousa, J.
Campos, M. Lobo, P. Brandão, A. Guedes Vaz
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de
Gaia/Espinho, EPE. Departamento de Anatomia, Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto.
Introdução: O stenting carotídeo (CAS) é uma alternativa válida à
endarteriectomia carotídea com indicações bem definidas, tais como a restenose
carotídea e após irradiação cervical. A restenose intra-stent (RIS) é uma
complicação possível, ocorrendo entre 3-20% dos casos. A RIS > 70% em
ecodoppler (PSV > 300 cm/s) é uma indicação para revascularização. As opções
terapêuticas são múltiplas, tais como re-stenting, angioplastia simples (PTA)
ou com cutting balloon. No entanto, apesar de elevadas taxas de sucesso
imediato, a recorrência de RIS foi documentada em até 50% dos casos. O uso de
drug-eluting balloons (DEB) tem evidência crescente como nova terapêutica
endovascular em casos de RIS após CAS. Os autores descrevem um caso clínico de
DEB PTA por RIS recorrente.
Caso clínico: Doente de 67 anos, ex-fumador, dislipidémico, hipertenso,
submetido a radioterapia por carcinoma da laringe em 2006. Em 2007, apresentou
AVC no território da artéria carótida interna (ACI) direita. O ecodoppler
demonstrou oclusão ACI direita e estenose ACI esquerda > 70%. Foi submetido a
CAS da ACI esquerda com protecção cerebral (stent 7 × 40 mm), sem complicações
e com bom resultado imagiológico. Seguido em consulta externa, mantido sob best
medical therapy (clopidogrel + rosuvastatina), com recuperação quase completa
dos défices à esquerda. Em 2009, o ecodoppler revelou RIS > 70%, pelo que foi
submetido a re-stenting (stent 8 × 30 mm + 7 × 30 mm), com protecção cerebral,
sem estenose residual e sem intercorrências. Em 2012, documentada por
ecodoppler recorrência de RIS > 70% (PSV = 453 cm/s), pelo que foi submetido a
PTA sequencial (3 × 40 mm + 4 × 40 mm + 5 × 20 mm) e PTA com DEB (6 × 40 mm)
com protecção cerebral, bom resultado imagiológico e hemodinâmico (PSV = 158
cm/s)e sem intercorrências. O doente apresenta 6 meses de seguimento, sem
complicações e sem RIS documentada por ecodoppler.
Discussão: O uso de DEB no tratamento de RIS após CAS é uma estratégia
emergente, com resultados promissores a curto e médio prazo.
P26. REVERSÃO DE EXTENSÃO ILÍACA DE ENDOPRÓTESE MEDTRONIC®: TÉCNICA OFF-LABEL
PARA CONTORNAR O MISMATCH DE DIÂMETROS NO TRATAMENTO ENDOVASCULAR DE ANEURISMA
ILÍACO
S. Figueiredo Braga, D. Brandão, J. Vasconcelos, R. Gouveia, P. Pinto Sousa, J.
Campos, P. Brandão, A. Guedes Vaz
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de Vila Nova de
Gaia/Espinho, EPE. Departamento de Anatomia, Faculdade de Medicina da
Universidade do Porto.
Introdução: O tratamento de aneurismas ilíacos configura um desafio
terapêutico. A cirurgia convencional associa-se a taxas de morbi-mortalidade
elevadas, o que conduziu ao desenvolvimento de alternativas menos invasivas,
tais como técnicas endovasculares. É, por vezes, necessária alguma criatividade
para aplicar os dispositivos actualmente disponíveis a configurações anatómicas
desfavoráveis, sobretudo quando o risco cirúrgico é proibitivo para cirurgia
convencional. No tratamento endovascular de um aneurisma da artéria ilíaca
comum (AIC) é fundamental garantir boas landing zones, o que pode obrigar a
estender a landing zone distal à artéria ilíaca externa (AIE), geralmente menor
que a AIC. Para colmatar esta diferença de diâmetros entre as landing zones
proximal e distal foi descrita a técnica off-label de reversão de extensão
ilíaca cónica de endoprótese. Os autores descrevem um caso clínico de
tratamento endovascular de aneurisma AIC, aplicando esta técnica.
Caso clínico: Doente de sexo masculino, 74 anos, antecedentes de dislipidemia,
HTA, doença coronária e DPOC graves, IRC e aneurisma AIC esquerda com 3,6 cm e
extensão à bifurcação ilíaca (AIC = 22 mm; AIE = 14 mm). Proposto para
tratamento endovascular. Foi realizada a libertação extracorporal de extensão
ilíaca cónica de endoprótese Medtronic® 16 × 24 mm, reversão e reinserção no
dispositivo de entrega. O doente foi submetido a abordagem percutânea femoral
bilateral tendo-se procedido à embolização da artéria ilíaca interna. Realizou-
se a libertação da endoprótese pela abordagem ipsilateral após reversão,
permitindo adequada compatibilidade de diâmetros (proximal 24 mm e distal 16
mm). Foi efectuada compressão da punção femoral direita (6F) e encerramento da
punção femoral esquerda (16F) com 2 dispositivos Proglide®, colocados no início
do procedimento. A arteriografia de controlo mostrou bom resultado
imagiológico. Teve alta ao 2º dia pos-procedimento, sem intercorrências. Um mês
após tratamento, o doente apresentou queixas de claudicação gemelar esquerda. A
angio-TC de controlo mostrou deposição de trombo intra-endoprótese, que
condicionava, na origem da AIE, uma estenose > 70%. Foi submetido a colocação
de stent expansível por balão intra-endoprótese,sem estenose residual e sem
intercorrências. Teve alta ao 1º dia, hipocoagulado por 1 mês. Decorridos 6
meses após a intervenção inicial, apresenta-se sem queixas e sem endoleaks,
estenoses ou outras complicações na angio-TC de controlo.
Discussão:A técnica de reversão de extensão ilíaca cónica de endoprótese é uma
opção viável em doentes com aneurisma AIC e discrepância significativa de
diâmetros das landing zones proximal e distal. A aplicação da técnica descrita
permite alargar o espectro de abordagens endovasculares disponíveis para tratar
os aneurismas ilíacos.
P27. SÍNDROME DA VEIA CAVA SUPERIOR: A PROPÓSITO DE UM CASO CLÍNICO
S. Figueiredo Braga, D. Brandão, J. Vasconcelos, R. Gouveia, P. Pinto Sousa, J.
Campos, A. Canedo, P. Brandão, A. Guedes Vaz, J.C. Mota, L. Vouga
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Serviço de Cirurgia Cardiotorácica,
Centro Hospitalar de Vila Nova de Gaia/Espinho EPE. Departamento de Anatomia,
Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Introdução: A síndrome da veia cava superior (SVCS) surge quando há diminuição
ou obstrução do fluxo de sangue através da veia cava superior (VCS) e pode
cursar com manifestações clínicas muito debilitantes. Embora classicamente
associada a etiologias malignas, o aumento do número de procedimentos
endovenosos (cateteres venosos centrais, pacemakers, cardio-desfibriladores)
fez aumentar a percentagem de casos de etiologia benigna, que actualmente
correspondem a 27%. O tratamento endovascular tem ganho crescente popularidade,
mas nem sempre é exequível ou conduz a melhoria clínica a longo prazo, pelo que
por vezes o tratamento cirúrgico é necessário. Os autores descrevem um caso
clínico de SVCS tratado cirurgicamente.
Caso clínico: Doente de sexo masculino, 65 anos, com antecedentes de DM, HTA,
dislipidemia, tromboses venosas superficiais (TVS) e tromboses venosas
profundas (TVP) de repetição do membro superior direito após colocação de pace-
maker ipsilateral em 2010. O estudo protrombótico demonstrou défice de proteína
S. Seguido em Consulta externa e hipocoagulado cronicamente desde 2011. Em
2012, iniciou quadro de edema progressivo da face e do pescoço, com posterior
desenvolvimento de circulação colateral no tórax, alterações visuais,
cefaleias, apneia do sono, disfagia e ortopneia. Realizou angioTC que
demonstrou trombose das veias subclávia e jugular direitas e oclusão com
atrofia da VCS e das veias braquiocefálicas. O restante estudo imagiológico e
analítico excluiu malignidade. O doente foi submetido a tentativa de tratamento
endovascular, sem sucesso por incapacidade de transpor quer a oclusão
braquiocefálica esquerda pela abordagem braquial, quer a oclusão da VCS pela
abordagem femoral. Por apresentar sintomatologia extremamente limitante, foi
submetido a cirurgia, por esternotomia mediana. Foi realizado bypass
confluência das veias jugular e subclávia esquerdas para o apêndice auricular
direito, com prótese de ePTFE aramado de 14 mm. O pós-operatório decorreu sem
complicações e o doente teve alta ao 7º dia, com melhoria franca e gradual da
sintomatologia. Aos 3 meses de pós-operatório apresenta bypass permeável, sem
recorrência dos sintomas, mantendo hipocoagulação crónica.
Discussão: Embora várias técnicas cirúrgicas de reparação da VCS estejam
descritas, as próteses de ePTFE externamente reforçadas constituem uma boa
opção, pois estão facilmente disponíveis para utilização off-the-shelf. A
cirurgia pode ser realizada com baixa morbi-mortalidade, conduzindo a alívio
sintomático da SVCS, com boas taxas de permeabilidade a longo prazo.
P28. TRATAMENTO ENDOVASCULAR DE UM CASO DE DISSECÇÃO AÓRTICA TIPO B CRÓNICA
R. Fernandes e Fernandes, L. Mendes Pedro, L. Silvestre, P. Garrido, J.
Fernandes e Fernandes
Instituto Cardiovascular de Lisboa. Clínica Universitária de Cirurgia Vascular,
Hospital de Santa Maria-CHLN, Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa.
Centro Académico de Medicina de Lisboa.
Introdução:A introdução da cirurgia endovascular para o tratamento da patologia
da aorta torácica tem vindo a revolucionar a abordagem terapêutica da dissecção
aórtica tipo B, sobretudo em casos agudos com complicações. No entanto a sua
aplicação em casos não complicados de evolução crónica (> 1 ano) é ainda
controversa.
Caso clínico: Doente do sexo masculino, de 49 anos, fumador e com hipertensão
arterial mal controlada, que teve episódio de dissecção aórtica do tipo B não
complicada tratada medicamente. Observado em consulta 3 meses depois, realizou
estudo por angioTC que mostrou dissecção confinada à aorta torácica descendente
com trombose parcial do falso lúmen. Um ano depois, em nova angioTC comprovou-
se expansão do falso lúmen com dilatação sacular pelo que, se procedeu a
tratamento endovascular com colocação de endoprótese Zenith TX2 (Cook, Inc) sem
complicações e exclusão do falso lúmen.
Discussão: O presente caso ilustra a possibilidade de tratamento endovascular
da dissecção tipo B crónica com exclusão do falso lúmen, prevenindo a sua
expansão futura e promovendo remodelling activo da aorta.
P29. TRATAMENTO ENDOVASCULAR DE UM CASO DE FÍSTULA ARTERIOVENOSA TRAUMÁTICA
PLANTAR POR FERIDA PENETRANTE
R. Fernandes e Fernandes, J. Fernandes e Fernandes, L. Mendes Pedro, A.
Evangelista, P. Sousa, M. Cachita
Instituto Cardiovascular de Lisboa.
Introdução: A cirurgia endovascular abriu novas perspectivas no tratamento do
trauma vascular, mediante procedimentos menos invasivos e com igual eficácia.
Caso clínico: Descreve-se um caso de uma doente de 35 anos que sofreu acidente
com ferida punctiforme da face plantar do pé e que uma semana depois
desenvolveu um quadro clínico de dor, eritrocisanose e edema do pé, com
ingurgitamento venoso do pé e terço inferior da perna com agravamento na
posição ortostática e sopro sisto-diastólico audível no pé. O estudo por
Triplex Scan demonstrou a presença de volumosa fístula arteriovenosa dependente
de ramos da artéria plantar interna e arcada plantar. Foi tentada compressão
ecoguiada sem sucesso, pelo que se decidiu proceder a tratamento endovascular
por via femoral comum ipsilateral, cateterização selectiva das artérias da
perna. Verificou-se que a fístula era dependente da artéria plantar interna
(ramo terminal da tibial posterior) pelo que se procedeu à cateterização
superselectiva da artéria plantar, localização precisa da comunicação
arteriovenosa e encerramento da mesma com colocação de coils. O procedimento
decorreu sem intercorrências e a doente teve alta bem 24h depois. 6 meses
depois encontra-se clinicamente bem e o exame Triplex Scan confirma a exclusão
da fístula.
Discussão: O tratamento endovascular permitiu tratar com sucesso esta doente,
evitando um procedimento cirúrgico convencional mais invasivo.
P30. FÍSTULA ARTERIO-VENOSA RENAL DE ALTO DÉBITO CASO CLÍNICO
G. Queiroz de Sousa, G. Sobrinho, J. Vieira, P. Amorim, L. Castro e Sousa, K.
Ribeiro, T. Vieira, N. Meireles, J. Gouveia, C. Sousa, M. Carmo, H. Bento, R.
Palma dos Reis, P. Albino
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular II; Unidade de Cuidados Intensivos
Médico-Cirurgicos; Serviço de Cardiologia II do CHLN; Serviço de
Anestesiologia, Hospital Pulido Valente.
Introdução e objetivo: As fístulas arterio-venosas (FAV) renais são raras,
sendo divididas em congénitas e adquiridas, e podem ter repercussão clínica
exuberante. Dentro do grupo das adquiridas, as traumáticas são as mais
frequentes, correspondendo a cerca de 70% de todas as FAV renais.
Caso clínico: Doente com uma fístula arteriovenosa renal de alto débito, de
provável etiologia iatrogénica num doente previamente submetido a
hemicolectomia direita, já com insuficiência cardíaca de alto débito e vários
internamentos de urgência por descompensação da mesma. O doente foi
inicialmente submetido a tentativa de tratamento (embolização) da fístula por
via endovascular, sem sucesso. Optou-se então por abordagem cirúrgica, sob
hipotensão controlada, com laqueação da artéria renal e da fístula a que se
associou um bypass retrógrado ilio-artéria polar inferior (justa-hilo renal). O
procedimento cirúrgico decorreu sem complicações. No pós-operatório verificou-
se melhoria progressiva da função cardíaca, e consequentemente da qualidade de
vida do doente.
Discussão:As complicações vasculares decorrentes de cirurgia intra-abdominal
são raras, mas com consequências potencialmente graves para o doente. Devem ser
tratadas sempre que o caso clínico assim o justifique, e o tratamento das FAV
de alto débito é imperativo pelo riso inerente e por permitir a melhoria da
qualidade de vida. A escolha da técnica a utilizar e a resolução destes casos
implica um desafio tanto para a via endovascular como para a abordagem
cirúrgica clássica, sendo o bom resultado só possível através de uma abordagem
multidisciplinar.
P31. FÍSTULA AORTO-ENTÉRICA PRIMÁRIA EM RELAÇÃO COM FALSO-ANEURISMA AÓRTICO
P. Almeida, J. Costa Lima, M. Vieira, L. Machado, G. Faria, A. Taveira Gomes,
J. Teixeira
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular; Serviço de Cirurgia Geral do Centro
Hospitalar S. João
Caso clínico: Doente do sexo masculino, 80 anos, com antecedentes de infecção a
Micobacterium bovis em 2012 (isolamento do microorganismo na urina), de
carcinoma urotelial (submetido a tratamento trans-uretral) e de dois episódios
recentes de hemorragia digestiva de causa obscura visível (hematoquézias) sem
identificação de ponto de partida hemorrágico. Admitido na sala de emergência
em Setembro de 2012 por hemorragia digestiva (hematoquésias), com dor abdominal
difusa, instabilidade hemodinâmica e presença de sangue digerido na sonda
nasogástrica. Analiticamente apresentava anemia (Hb 7,3 g/dL). Realizou
endoscopia digestiva alta e ileo-colonoscopia que não mostraram lesões
hemorrágicas. Realizou angio-TAC que revelou falso aneurisma da parede anterior
da aorta abdominal, em contiguidade com a 3ª porção do duodeno e achados
compatíveis com fístula aorto-entérica (achados inexistentes em TAC realizada
em 2011). Neste contexto foi submetido a bypass axilo-femoral direito e a
bypass cruzado femoro-femoral com origem no ramo do bypass axilo-femoral. Na
laparotomia verificada fístula aorto-entérica em relação com falso-aneurisma da
aorta infra-renal, tendo sido realizada laqueação da aorta-infra-renal e das
artérias ilíacas comuns e reparação duodenal. Ausência de complicações intra-
operatórias. Boa evolução clínica imediata e a 30 dias. Sem isolamento de
micobactérias nos exames anatomo-patológico e microbiológico da peça cirúrgica
ou em hemoculturas.
Discussão: A fístula aorto-entérica primária é uma causa rara de hemorragia
digestiva, nem sempre detectada em exame endoscópico, sendo necessário um
elevado nível de suspeição para o seu diagnóstico e tratamento atempado.
P32. ANEURISMA VENOSO POPLITEO CASO CLÍNICO
L. Machado, I. Vilaça, J. Teixeira
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de S. João.
Introdução: Apresentação de caso clínico de aneurisma sacular da veia
poplitea,tratado cirurgicamente.
Caso clínico: Doente de 46 anos de idade, apresentava uma história desconforto
na região poplitea esquerda com cerca de 2 anos de evolução. No último ano
referiu episódios de parestesias na face posterior da perna que associou à
prática de exercício físico. Sem história de traumatismo ou outros antecedentes
relevantes. Recorreu a uma consulta de Ortopedia para despiste de patologia
osteoarticular do joelho, tendo realizado uma RM, que detectou um aneurisma
sacular da veia poplitea esquerda com dimensões de 31 × 27 × 23 mm, que se
apresentava permeável mas com trombo endoluminal. Foi encaminhado para Cirurgia
Vascular, tendo realizado ecoDoppler que confirmou o achado prévio e revelou
competência do sistema venoso profundo e superficial. Iniciou hipocoagulação e
foi proposto para correcção cirúrgica do aneurisma. Foi submetido a cirurgia,
por abordagem posterior com isolamento da veia poplitea e controlo distal e
proximal ao aneurisma. Procedeu-se a aneurismectomia tangencial com venorrafia
lateral. Durante a cirurgia foi possível visualizar que o aneurisma se
encontrava em contacto como nervo ciático. O procedimento decorreu sem
complicações. O doente não apresentou qualquer complicação, nomeadamente
nervosa ou tromboembólica, no período pós-operatório. Teve alta hipocoagulado e
com compressão externa do membro com meia elástica.
Discussão: Os aneurismas venosos poplíteos são raros, geralmente
assintomáticos, mas podem causar complicações tromboembólicas potencialmente
fatais. Em cerca de 75% dos casos são saculares, associados em 40% a trombo
endoluminal. Dado o risco de fenómenos tromboembólicos graves, optou-se pelo
tratamento cirúrgico com aneurismectomia e venorrafia lateral, procedimento com
baixa taxa de complicações.
P33. SINDROME DE ENTRAPMENT POPLITEO
M. Vieira, P. Dias, J. Teixeira
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar de São João, EPE.
Introdução: Apresentação de um caso clínico de entrapment poplíteo bilateral,
com especial ênfase na apresentação clínicoimagiológica e tratamento.
Caso clínico:Doente de 43 anos, sexo feminino, operária fabril, sem
antecedentes pessoais relevantes e medicada apenas com anticoncepcionais orais,
recorreu à consulta por queixas de claudicação gemelar direita, progressiva,
com 1 ano de evolução. Ao exame físico, destacava-se a ausência de pulsos
poplíteo-distais no referido membro, com pulsos em repouso normais
contralateralmente. Realizou eco-Doppler arterial, angiografia e Angio-TC com
ausência de significativas calcificações ateroscleróticas, oclusão da segunda
porção da poplítea direita na sua posição normal, associada a estenose não
significativa e dilatação pós-estenótica na poplítea esquerda, com oclusão após
manobras de flexão plantar, sugestivo de síndrome de entrapment poplíteo. O
estudo pró-trombótico foi negativo. A doente foi proposta para revascularização
arterial à direita e miotomia com avaliação da poplítea à esquerda. Realizou-se
exploração cirúrgica, evidenciando inserção da cabeça do gémeo medial entre
veia e artéria poplítea, condicionando entrapment poplíteo do tipo II.
Procedeu-se à libertação da cabeça gemelar bilateralmente, preservação arterial
esquerda por ausência de sinais de lesão parietal ebypass poplíteo-popliteo com
veia pequena safena invertida à direita, via posterior. O procedimento decorreu
sem complicações, apresentando-se a doente assintomática à data de alta.
Discussão: A verdadeira incidência do síndrome de entrapment poplíteo está
ainda por determinar, sendo raro em mulheres com mais de 30 anos e sem história
de actividade física intensa. 30% dos doentes referem sintomas bilaterais, 12%1
apresentam dilatação poplítea pós-estenótica, cursando pouco frequentemente com
oclusão arterial. O tratamento pode passar por miotomia isolada ou reconstrução
arterial, dependendo do grau de lesão parietal ou oclusão arterial. Estudos
recentes revelam taxas de patência de bypass de 80,9% no 1º ano, sendo superior
em lesões poplíteas curtas, com enxerto venoso curto e utilizando a artéria
poplítea proximal como artéria de inflow.
P34. DO ISTMO AÓRTICO À FEMORAL CASO INCOMUM DE ISQUEMIA AGUDA
J. Vasconcelos, V. Martins, S. Braga, R. Gouveia, P. Sousa, J. Campos, A.
Guedes Vaz
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/
Espinho, EPE.
Introdução:Os trombos aórticos murais podem surgir em qualquer localização da
aorta e são causas importantes de embolização distal.
Caso clínico: Doente de 44 anos, do sexo feminino que recorre ao Serviço de
Urgência por dor súbita e arrefecimento do membro inferior direito com cinco
horas de evolução. À entrada apresentava quadro de isquemia aguda do membro
inferior direito com palidez, arrefecimento, sem pulsos femoral ou distais
homolateralmente, com alterações sensitivo-motoras do pé. Tendo sido observado
trombo hipoecogénico a nível da bifurcação femoral ao eco-doppler, foi
submetida a trombectomia e fasciotomia por síndrome compartimental, sem
intercorrências. Durante estudo etiológico foi identificada placa
aterosclerótica ulcerada no istmo aórtico que foi excluída com a colocação
percutânea de uma endoprótese Valiant Captivia 28 × 100 mm. Ao nono mês de
follow-up a doente apresenta pulsos pedioso e tibial posterior direitos
palpáveis, com quase total recuperação das alterações sensitivo-motoras do pé.
Discussão: No estudo etiológico de quadros de embolização distal deve ser
excluída patologia mural aórtica, por forma minimizar danos subsequentes, daí
decorrentes.
P35. CORREÇÃO ENDOVASCULAR DE ANEURISMA DA ARTÉRIA HEPÁTICA COMUM A PROPÓSITO
DE UM CASO CLÍNICO
J. Vasconcelos, V. Martins, P. Monteiro, S. Braga, R. Gouveia, P. Sousa, J.
Campos, A. Guedes Vaz
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/
Espinho, EPE.
Introdução: Os aneurismas da artéria hepática representam cerca de 20% dos
aneurismas esplâncnicos e apesar de diagnosticados maioritariamente em
pacientes assintomáticos, têm a mais alta taxa de rotura dentro do grupo dos
aneurismas esplénicos (44%) e frequentemente se tornam sintomáticos (60%).
Caso clínico: Doente de 68 anos, do sexo masculino, com história de hábitos
tabágicos prévios e DPOC grave. Em TAC, foi observado achado de aneurisma da
artéria hepática comum próximo da bifurcação hepática com diâmetro máximo de
2,5 cm, com indicação para correção. Foi efetuada exclusão do aneurisma da
artéria hepática comum através da seletivação do tronco celíaco com colocação
osteal de bainha Flexor® Check-Flo® 8F por acesso na artéria femoral comum
direita. Colocada endoprótese Gore® Viabhan® 7 × 50 mm desde a origem da
artéria hepática comum até à sua bifurcação. Foi efetuado controlo imagiológico
final que demonstrou exclusão do aneurisma, permeabilidade dos sectores
arteriais a montante e a jusante, sem evidência de endoleaks.
Discussão:O uso generalizado de meios auxiliares de diagnóstico levou ao
crescente diagnóstico de aneurismas viscerais. Procedimentos endovasculares,
como o neste trabalho apresentado, são uma opção terapêutica que se torna mais
pertinente naqueles pacientes de alto risco cirúrgico.
P36. AUTOTRANSPLANTE RENAL POR ANEURISMAS DA ARTÉRIA RENAL: A PROPÓSITO DE UM
CASO CLÍNICO
T. Loureiro, A. Matos, J. Martins, I. Silva, C. Nogueira, C. Vaz, L. Loureiro,
D. Silveira, S. Teixeira, D. Rego, J. Gonçalves, V. Ferreira, R. Almeida
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar do Porto-Hospital
Geral de Santo António.
Introdução: Os aneurismas da artéria renal são uma entidade rara (0,3-1,3%) e
controversa do ponto de vista terapêutico. O tratamento cirúrgico está
preconizado nos aneurismas sintomáticos, nos que expandem rapidamente e, embora
não esteja descrita uma correlação direta entre o tamanho máximo e o risco de
rotura, a literatura argumenta a favor da cirurgia para aneurismas com
dimensões superiores a 1,5-2 cm.
Caso clínico:Mulher de 55 anos com história de múltiplas cirurgias abdominais
por doença de Crohn com atingimento íleo-cólico. Submetida em dezembro de 2011
a hemicolectomia direita, complicada por deiscência de anastomose e peritonite
tendo realizado ileostomia derivativa. Reconstrução de trânsito realizada em
agosto de 2012. Em TAC de controlo constatado aneurisma da arteria renal
esquerda com 17 × 15 mm. Em Março de 2013 realizada nefrectomia esquerda por
lombotomia e reparação arterial extracorpórea com resseção do aneurisma que se
situava na primeira bifurcação da artéria renal. Constatado
intraoperatoriamente na segunda bifurcação da artéria renal um outro aneurisma
de menores dimensões, igualmente ressecado com concomitante reparação arterial
simples. O rim foi em seguida transplantado na fossa ilíaca esquerda, com
anastomoses à artéria e veia ilíacas externas, sem intercorrências. Pós-
operatório com boa recuperação da função renal, sem eventos inesperados.
Discussão:Os aneurismas complexos da artéria renal, envolvendo ramos
secundários ou terciários, excluem os tratamentos por técnicas in situ ou com
recurso à terapêutica endovascular. Os resultados publicados na literatura e a
experiência acumulada com estes casos raros tornam a nefrectomia (por via
clássica ou laparoscópica), a reparação arterial extracorpórea e o
autotransplante uma opção eficaz e segura no tratamento desta patologia.
P37. RUPTURA DE ANEURISMA ILÍACO ISOLADO COM ANGULAÇÃO AÓRTICA EXTREMA
A. Quintas, A. Garcia, G. Rodrigues, H. Rodrigues, N. Oliveira, R. Abreu, S.
Eufrásio, M.E. Ferreira, L. Mota Capitão
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital de Santa Marta CHLC.
Introdução: Os aneurismas ilíacos isolados são raros, apresentando uma
incidência estimada na população de 0,03%. Os aneurismas ilíacos associam-se
habitualmente a aneurismas da aorta, coexistem com estes em 10 a 20% dos casos,
e partilham a mesma etiologia e população. A sua apresentação sob a forma
isolada na ausência de doença aneurismática noutras localizações é rara,
representando 0,4 a 1,9% de todos os aneurismas arteriais. A degeneração
aneurismática envolve mais frequentemente a artéria ilíaca comum, e é bilateral
em mais de metade dos casos. A sua história natural habitualmente indolente,
envolve um risco significativo de ruptura quando se atinge dimensão
considerável (> 5 cm). São frequentemente assintomáticos e o seu diagnóstico é
elucidado habitualmente como achado em exames de imagem ou quando se verifica a
sua ruptura. A mortalidade perioperatória da cirurgia convencional dos
aneurismas iliacos em ruptura pode atingir os 60%. Reporta-se caso clínico de
ruptura de aneurisma ilíaco isolado associado a angulação aórtica
significativa.
Caso clínico: Relata-se caso clínico de doente do sexo masculino com 89 anos,
admitido no serviço de urgência com quadro súbito de dor abdominal intensa e
hipotensão. Realizou angio-TC que evidenciou ruptura de aneurisma sacular da
artéria ilíaca comum esquerda isolado com 10 cm de maior diâmetro, associado a
distorção da morfologia aórtica típica. No seu segmento distal a aorta
apresentava angulação extrema, distribuindo-se até à bifurcação ilíaca com
segmento horizontal. Atendendo às características anatómicas pouco favoráveis a
intervenção endovascular, optou-se pelo tratamento cirúrgico convencional
através de aneurismectomia e interposição ilio-ilíaca in lay com prótese de
Dacron 12 mm. O período pós-operatorio decorreu sem intercorrencias
verificando-se exclusão aneurismática com manutenção de perfusão do eixo
ilíaco.
Discussão:Os aneurismas da artéria ilíaca na sua forma de apresentação isolada
são raros correspondendo a menos de 2% da doença aneurismática. Associam-se a
elevada taxa de mortalidade quando o seu diagnóstico é elucidado em contexto de
ruptura. O caso apresentado distingue-se pela sua relativa raridade e pela
particularidade da configuração anatómica aórtica pouco usual.
P38. MALFORMAÇÃO ARTERIOVENOSA DA ARTÉRIA HIPOGÁSTRICA. A PROPÓSITO DE UM CASO
CLINICO
A. Afonso, P. Barroso, G. Marques, A. Gonçalves, A. Gonzalez, N. Duarte, M.J.
Ferreira
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Hospital Garcia de Orta, Almada.
Introdução: As malformações arteriovenosas (MAV) congénitas representam a
persistência de elementos vasculares primitivos e podem ocorrer em qualquer
território vascular. A sua localização pélvica é rara e representam um desafio
terapêutico difícil.
Caso clínico: Doente do sexo masculino, de 72 anos de idade, sem antecedentes
pessoais relevantes, referenciado à consulta de Cirurgia Vascular após achado
em TC de MAV com origem na artéria hipogástrica esquerda e com drenagem para a
veia ilíaca interna. Clinicamente apresentava um quadro de disúria e
desconforto pélvico vago. Objetivamente sem alterações. Foi proposto o
tratamento da malformação por via endovascular com embolização. Foi então
realizada angiografia via femoral esquerda e procedeu-se à embolização seletiva
de pequenos vasos arteriais com coils e do ramo principal artéria hipogástrica.
No follow-up, após 6 meses foi repetida a angio-TC que mostrou persistência da
MAV. Foi então realizada novamente embolização com coils da malformação e na
angio-TC de controlo, realizada 3 meses depois, verificou-se uma redução
substancial das dimensões da MAV. O doente permanece assintomático.
Discussão: O tratamento das MAVs é indicado para lesões sintomáticas, com
expansão ou crescimento progressivo e compressão de estruturas adjacentes. A
correção cirúrgica é difícil devido à presença de múltiplas comunicações
vasculares e que podem envolver os órgãos locais e fica reservado para as
lesões de pequenas dimensões e que requerem irradicação completa. O tratamento
endovascular via embolização seletiva é eficaz e seguro. O princípio do
tratamento é encerrar as conexões arteriais primárias que alimentam a
malformação com embolização de substâncias que obstruem, de forma mecânica,
estas conexões. O sucesso do tratamento é medido através da erradicação total
da lesão ou melhoria dos sintomas. Os doentes necessitam de vigilância
periódica para se identificar a recorrência de sintomas e/ou sinais e através
de exames de imagem.
P39. FLEGMASIA CERÚLEA DOLENS: UM CASO RARO DE UMA COMPLICAÇÃO GRAVE DA
TROMBOSE VENOSA
R. Gouveia, A. Canedo, D. Brandão, S. Braga, J. Vasconcelos, P. Sousa, J.
Campos, A. Vaz
Serviço de Angiologia e Cirurgia Vascular, Centro Hospitalar Vila Nova de Gaia/
Espinho.
Introdução: A trombose venosa profunda dos membros inferiores é uma entidade
clínica comum, sendo múltiplos os contextos em que pode surgir (coagulopatias
hereditárias, traumatismos vasculares, síndromes paraneoplásicos, imobilização
prolongada, entre outros). Com o tratamento adequado cursa habitualmente sem
complicações major, embora possa deixar sequelas importantes como a claudicação
venosa. A flegmasia cerúlea dolens corresponde a uma complicação rara da
trombose venosa com elevada morbi-mortalidade complicações tromboembólicas,
gangrena venosa dos membros ou morte. Parece estar associada a uma obstrução do
outflow venoso por trombose oclusiva dos eixos venosos profundos e possíveis
vias de colateralização, extravasamento de líquido para o espaço intersticial,
síndrome de compartimento e distensão tecidular, pelo que se apresenta
habitualmente por dor e edema, cianose fixa da extremidade do membro e por
vezes necrose. O tratamento desta complicação, assim como na trombose venosa,
tem por objectivo evitar a progressão do trombo e consequentemente o
agravamento isquémico implica o início precoce da hipocoagulação sistémica
assim como o posicionamento dos membros em drenagem. Em casos selecionados
poderá ser necessária a fasciotomia para alívio do síndrome compressivo, ou
ainda trombólise selectiva por cateter ou trombectomia cirúrgica.
Caso clínico: Procedeu-se a uma revisão do tema no contexto de um caso clínico
de uma situação de flegmasia cerúlea dolens com atingimento bilateral dos
membros inferiores. Trata-se de um doente do sexo masculino, 85 anos de idade,
com antecedentes de neoplasia prostática submetido a cirurgia e um episódio
recente de trombose venosa gemelar unilateral para o qual iniciou
hipocoagulação com HBPM em dose terapêutica. Foi trazido ao serviço de urgência
por quadro de dor abdominal, hipotensão e cianose fixa dos pés e metade distal
das pernas bilateralmente, associada a edema exuberante dos membros. Ao exame
objectivo constatou-se a presença dos pulsos femorais e poplíteos, amplos e
simétricos, sem pulsos distais palpáveis. Ausência de fluxos doppler audíveis
distalmente, arteriais ou venosos. O ecodoppler revelou sinais sugestivos de
trombose venosa aguda oclusiva dos territórios ilio-femoro-poplíteo
bilateralmente. Realizou-se uma angiotomografia toraco-abdomino-pélvica que não
demonstrou progressão proximal da trombose para a VCI mas identificou a
presença de múltiplas lesões pulmonares e hepáticas sugestivas de metástases,
assim como espessamento parietal da transição rectosigmóide (neoplasia de
novo?). Atendendo ao estado geral débil do doente e à clínica compatível com
flegmasia cerúlea dolens bilateral em provável contexto paraneoplásico, optou-
se por manter a hipocoagulação terapêutica com HBPM e proceder à amputação
fisiológica major dos membros inferiores. Verificou-se o agravamento
progressivo do estado geral do doente e este acabou por falecer ao quarto dia
de internamento.