Comunicação terapêutica em saúde mental
EDITORIAL
Comunicação terapêutica em saúde mental
Carlos Sequeira*
*Doutor em Ciências de Enfermagem; Presidente d' A Sociedade Portuguesa
de Enfermagem de Saúde Mental; Diretor da Revista Portuguesa de Enfermagem de
Saúde Mental; Professor Coordenador na Escola Superior de Enfermagem do Porto,
Rua Dr. António Bernardino de Almeida, 4200-072 Porto, Portugal. E-mail:
carlossequeira@esenf.pt
A comunicação é importante em qualquer contexto de saúde, no entanto, em saúde
mental, assume uma importância acrescida quer pela natureza dos problemas, quer
pelo potencial de impacte que tem.
No campo da comunicação proliferam vários léxicos, por vezes, com semânticas
similares. Por isso, encontramos termos como: comunicação, comunicação
interpessoal, relacionamento interpessoal, comunicação em saúde, relacionamento
terapêutico, comunicação clinica, comunicação terapêutica, (...), pelo que
procuraremos fornecer alguns contributos para a clarificação dos conceitos e
salientar a sua importância quer ao nível do rigor diagnóstico, quer ao nível
da efetividade da clinica.
A comunicação assume um papel fundamental na relação entre um profissional e
uma pessoa, grupo, família ou comunidade, (vulnerável pela situação de saúde/
doença) alvo de atenção e de cuidados, na medida em que, a comunicação é o
contexto em que se desenvolve a relação e é, ou pode ser, uma ação terapêutica,
por si só ou completar a ação terapêutica de outra intervenção. É a comunicação
que permite o desenvolvimento da relação e por conseguinte, pode, criar um
contexto favorável ou desfavorável, daí a sua importância.
É através da comunicação que um profissional de saúde tem acesso ao outro, à
sua história, ao seu contexto, e às suas necessidades. `
É através da comunicação que um profissional de saúde fornece orientações que
possibilitam à pessoa, família ou comunidade, uma melhor gestão da sua situação
de saúde/doença.
É através da comunicação que se toma consciência do estado de saúde, se
processa a tomada de decisão e se promove uma gestão adequada de um determinado
regime terapêutico, muitas vezes complexo.
É fundamental que os profissionais de saúde sejam detentores de conhecimentos,
habilidades e recursos que lhes permitam utilizar a comunicação como estratégia
de ajuda ao outro, de forma a maximizar os ganhos em saúde.
Existe uma significativa discrepância grande entre o que eu quero dizer; o que
eu digo; o que o outro quer ouvir; o que o outro ouve e o que o outro
compreende. Daí a importância da escolha das palavras, do contexto e da forma
como são transmitidas. Por isso, é importante "trabalhar" a questão do léxico,
do significado, do contexto, dos fatores promotores da eficiência da
comunicação e dos ruídos/ barreiras na comunicação
Nesse sentido abordam-se alguns conceitos que permitem compreender as
diferenças entre a comunicação e a comunicação terapêutica.
Comunicação - toda a interação que ocorre num determinado contexto, quer seja,
intrapessoal, interpessoal, intergrupal e/ou comunicação pública. Esta
interação rege-se por regras sociais e está dependente essencialmente do tipo
de relação existente, do "status" social, e das necessidades dos
intervenientes.
A comunicação em saúde, refere-se à comunicação que ocorre num contexto de
prestação de cuidados de saúde e rege-se por regras próprias, em função dos
profissionais em interação e do tipo de intervenção. Os profissionais tem a
obrigação de conhecer diferentes modalidades de comunicação, tem códigos de
ética e deontológicos, como o sigilo, a confidencialidade da informação, a
necessidade de privacidade, etc. Os utentes e os profissionais de saúde, tem um
conjunto de direitos e deveres que também se aplicam à comunicação.
A comunicação clínica refere-se à comunicação contida num ato clinico, ou seja
a comunicação que os profissionais utilizam para avaliarem uma situação, para
efetuarem uma intervenção, para documentarem os cuidados prestados, para
planearem os próximos contatos e para partilharem experiências clinicas entre
os diferentes elementos da equipa de saúde. Utiliza habitualmente uma linguagem
própria que facilita a comunicação entre os diferentes profissionais. Recorre a
taxonomias para a uniformização dos léxicos e dos conceitos.
Comunicação clinica remete-nos para a utilização de estratégias de comunicação,
que nos permitem avaliar as necessidades das pessoas; que facilitem a
transmissão de informação sobre o estado de saúde das pessoas, de modo a
promoverem a sua saúde e orienta para uma estratégia de intervenção que resolva
ou minimize o seu problema.
O Institute for Healthcare Communication (2011), faz referência a dados de
investigação que indicam que há fortes relações positivas entre a capacidade de
comunicação de um membro da equipa de saúde e a capacidade do utente seguir as
recomendações médicas e adotar comportamentos preventivos em saúde.
São igualmente diversos os estudos que evidenciam os benefícios de uma boa
comunicação entre os profissionais de saúde e os doentes, que se traduzem numa
melhoria do estado geral de saúde do doente, numa melhor capacidade de
adaptação aos tratamentos e na recuperação mais rápida.
A Comunicação clinica é um elemento chave de todo o processo de atuação em
saúde, destacando-se o seu potencial ao nível de: i) minimização do erro
diagnóstico; ii) impacte terapêutico; iii) promoção de estilos de vida
saudáveis ' promoção da saúde/prevenção da doença.
A comunicação terapêutica é um tipo singular de comunicação inserida na
comunicação clinica e comunicação em saúde, utilizada por profissionais de
saúde para apoiar, informar, educar e capacitar as pessoas no processos de
transição de saúde doença, e/ou na adaptação a dificuldades. Refere-se ao
conjunto de intervenções efetuadas pelos profissionais de saúde que de forma
autónoma ou complementar tem um potencial "terapêutico no processo de
recuperação das pessoas.
Adicionalmente, na comunicação terapêutica, o profissional de saúde utiliza um
conjunto de técnicas/habilidades para ajudar as pessoas a resolverem os seus
problemas, a se relacionarem melhor consigo e com os outros, a adaptarem-se a
sua condição de saúde e contexto de vida.
Por isso a comunicação terapêutica, é orientada para um objetivo especifico,
tem uma intencionalidade dirigida para a situação da pessoa, requere
determinadas competências do profissional, como a capacidade de escuta,
disponibilidade, aceitação, (..), necessita de um "setting" com características
especificas para a sua operacionalização e pressupõe a utilização de um
conjunto de técnicas/habilidades de comunicação verbal e não verbal, nas quais
a empatia e a assertividade desempenham um papel central.
Podemos dizer que a comunicação terapêutica é uma meta comunicação na medida em
que, implica a consciencialização de todas as componentes comunicativas e
pressupõe a sua utilização com uma finalidade terapêutica, na relação com as
pessoas.
Salienta-se que a interação em saúde é sempre uma interação complexa e que, por
vezes, os resultados não são lineares pelo que é necessário utilizar a "escuta
ativa" para promover a consciencialização das variáveis que concorrem para a
comunicação terapêutica e minimizar o impacte das variáveis dificultadoras.
Principais técnicas de comunicação verbal e não-verbal a utilizar na
comunicação terapêutica
Escuta
O Toque
Distancia
O Posicionamento
O Olhar
A Informação
Aceitação
Silêncio
Parafraseamento ou acentuação
Questionamento/questões
Explicitação/clarificação
Focalização
Confrontação
Assertividade
Empatia
Humor
Validação
Sumarização/síntese
Anamnese associativa
A reformulação
A exploração
A interpretação
Orientação
Feedback
Uma comunicação adequada, centrada na pessoa e no seu contexto, deve ser
considerada como um dever ético e uma responsabilidade de qualquer profissional
de saúde que trabalhe em contato direto com pessoas, de forma a garantir que os
cuidados prestados para além da competência técnica, também tenham uma
competência relacional e humana. Por isso é necessário melhorar a formação e a
consciencialização dos profissionais de saúde para a necessidade de promoverem
a utilização e o potencial da comunicação terapêutica.
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