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EuPTCVHe1647-21602015000100003

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variedadeEu
ano2015
fonteScielo

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Avaliação da eficácia de um programa de desenvolvimento de competências em adolescentes com vista à promoção da saúde mental

Introdução A promoção de saúde mental refere-se a uma intervenção com vista ao aumento das capacidades pessoais para adotar comportamentos saudáveis. Promover intervenções de prevenção em crianças e jovens poderá reduzir 25 a 50% das desordens mentais na idade adulta (Kim-Cohen et al., 2003).

O Instituto de Medicina (IOM) recomenda a inclusão da promoção da saúde mental nas estratégias de prevenção nos adolescentes, focando-se essencialmente no bem-estar, e não na prevenção da doença, embora estas estratégias possam por si diminuir a incidência de doença mental. Os objetivos da prevenção da doença mental passam por capacitar os indivíduos de competências necessárias para atingir positivamente as metas desenvolvimentais, bem como para promover o desenvolvimento adequado de autoestima, mestria, bem-estar e inclusão social (Tusaie, 2008).

Competência foi definida como sendo a "capacidade para operacionalizar um conjunto de conhecimentos, de atitudes e de aptidões, numa situação concreta, de modo a ser bem-sucedido"(Jardim, 2007, p. 79). Atualmente a promoção de competências e capacidades deve ser realizada a todas as crianças, para que, quando enfrentem a adversidade num momento posterior das suas vidas, tenham desenvolvidas as competências necessárias para lidar com a situação (Tusaie, 2008).

A evidência científica sugere que quanto mais reduzidos forem os riscos na adolescência, menos vulnerável fica a criança a uma saúde mental pobre e a problemas sociais e emocionais. As intervenções adequadas devem incluir atividades para ensinar conhecimentos, atitudes e competências às crianças (Blank et al., 2010).

Perceção de si próprio positiva (autoconhecimento, locus de controlo e autoestima), autocontrole, capacidade de tomada de decisão (resiliência e autonomia, perspetiva e temperamento ou autocontrolo), sistema moral de crenças e capacidades de comunicação pró-social são as cinco principais competências para a promoção da capacidade de se desenvolver positivamente. As competências encontram-se interligadas, sendo possível desenvolvê-las de forma estrutural, a partir de programas de prevenção baseados na evidência, como os programas de treino de competências (Guerra & Bradshaw, 2008).

Uma meta-análise acerca de programas de prevenção em sexualidade, alimentação e consumo de drogas, permitiu concluir que os programas focados apenas num domínio comportamental são mais eficazes do que os programas que discutem os temas de forma geral e os que são baseados em teoria também surtem mais efeito do que os não baseados em teoria. Constatou-se ainda que o treino de competências pessoais e sociais revelou surtir efeito (Peters, Kok, Dam, Buijs & Paulussen, 2009).

Resiliência define-se como a capacidade do indivíduo em alcançar resultados positivos, partindo de situações adversas, como sejam situações de maior stresse, que aumentam por si , a probabilidade de ocorrência de doença mental, doença física ou dificuldades de adaptação social (Wolchik, Schench & Sandler, 2009).

O Programa "Strong Kids" foi aplicado e avaliado com vista ao desenvolvimento de resiliência nos adolescentes. Este programa engloba 12 sessões (de 45 a 50 minutos) de treino de competências em ambiente escolar. A intervenção decorreu em 139 estudantes do sexto ano de escolaridade, sendo a avaliação realizada com base num estudo quase-experimental com grupo de controlo. Para além de outros resultados, foi possível verificar que após a implementação da intervenção, existiam diferenças estatisticamente significativas em relação aos conhecimentos e competências acerca de comportamentos promotores de saúde social e emocional, sendo superior no grupo experimental (Gueldner & Merrell, 2011).

Para Vaz Serra (1986), citado por Teixeira (2010, p. 7), o autoconceito consiste na "perceção que um indivíduo tem de si próprio nas mais variadas facetas, sejam elas de natureza social, emocional, física ou académica".

Um estudo quase experimental com 104 participantes de idades compreendidas entre os 14 e os 17 anos, com vista a promover o nível de autoestima, autoconceito, bem-estar psicológico e satisfação com a vida, com 8 sessões de 90 minutos cada, demonstrou ser eficaz, promovendo um aumento de autoconceito (a média aumentou 2,77) (Araújo, 2011).

Quando se fala de fatores de risco, relativamente à capacidade de adaptação e de resiliência, perante situações adversas, entre as crianças e adolescentes, parecem existir diferenças, nomeadamente entre o sexo masculino e feminino, sendo que o processo de adaptação social parece variar entre sexos. Parecem também existir outros fatores contribuintes, tais como a estrutura monoparental e o nível socioeconómico, apesar de ser necessário, nestes casos, distinguir entre os efeitos reais do evento (Costa e Bigras, 2007).

Metodologia Este estudo apresentou um caráter longitudinal, quase-experimental, com pré- teste e pós-teste e com grupo de controlo. Pretendeu-se responder à questão de investigação: "Qual a eficácia de um programa de intervenção psicoterapêutica para o desenvolvimento de resiliência e autoconceito dos adolescentes?" A população deste estudo compreendeu os estudantes adolescentes do 8.º ano de escolaridade de um Agrupamento de Escolas do distrito de Leiria (194 alunos). A amostra foi constituída por metade dos alunos de duas turmas (21 estudantes), uma turma para o grupo de teste (10 alunos) e outra para o grupo de controlo (11 alunos), o que corresponde a 11,34% da população, tendo sido selecionada por amostragem não probabilística por conveniência, tendo em conta o critério de facilidade de acesso por parte do investigador. Como critérios de inclusão, definiram-se pertencer às turmas selecionadas nas quais será aplicado o programa de intervenção e aceitar participar no estudo.

Para avaliar os resultados da intervenção foi utilizado um questionário de autopreenchimento aplicado aos estudantes da amostra antes e depois da intervenção. O questionário era constituído por duas partes: a primeira compreende questões de caracterização da amostra, e a segunda engloba duas escalas de avaliação de competências.

Para avaliar o autoconceito, foi utilizada a PIERS-HARRIS Children's Self- Concept Scale 2 (PHCSCS-2), elaborada por Piers & Herzberg (2002) traduzida e validada para a população portuguesa por Veiga (2006). A avaliação do autoconceito por esta escala é realizada com base em seis fatores: o aspeto comportamental, o estatuto intelectual, a aparência física, a ansiedade, a popularidade e a satisfação e felicidade, sendo que quanto mais elevada a pontuação, mais positivos os níveis de autoconceito.

A escala Califórnia Healthy Kids Resilience Assement Module (Versão 6.0) (HKRAM-6), foi elaborada por Benard (1991, 1995), e traduzida e validada para a população portuguesa por Martins (2007). Avalia 11 fatores protetores (recursos externos), a partir de 3 grupos de itens: "Relações afetivas, "Expectativas elevadas" e "Participação significativa", com base nos recursos família/casa, envolvimento escolar, comunidade, e grupo de pares. Avalia também 8 traços de resiliência (recursos internos), reunidos em 3 grupos "Competência social, "Autonomia e Sentido do Eu e "Objetivos e Aspirações. Para além dos recursos internos e externos, a escala avalia ainda 7 indicadores do desenvolvimento e promoção de resiliência. Quanto mais elevada a pontuação, maior o nível de resiliência.

A Intervenção realizada teve como objetivo o desenvolvimento destas competências e foi aplicado num total de 7 sessões semanais, com a duração de 45 minutos. Foi realizada em sala de aula, em horário definido de acordo com a disponibilidade da turma. As intervenções, baseadas em alguns programas realizados (Araújo, 2011; Carvalho, 2012; Gueldner & Merrell, 2011), foram estruturadas por sessões, tendo sido dedicadas 4 sessões à promoção do autoconceito e 3 sessões à promoção da resiliência. Foram respeitados todos os procedimentos éticos inerentes a este tipo de estudo.

Resultados A amostra selecionada foi constituída por 10 alunos no grupo de teste e 11 alunos no grupo de controlo, sendo que todos apresentaram idades compreendidas entre os 13 e os 15 anos, tendo a maioria 13 anos (50% no grupo de teste e 63,6% no grupo de controlo). Em relação ao sexo, 70% dos alunos do grupo de teste é do sexo masculino, enquanto no grupo de controlo, a maioria é do sexo feminino (72,7%). Em relação à prática de atividades extracurriculares, apenas 40% dos alunos no grupo de teste e 54,5% no grupo de controlo praticavam, sendo a sua maioria desportos de competição (futebol, ténis, entre outros). 70% do grupo de teste e 72,7% do grupo de controlo referem ter um amigo ou grupo de amigos da mesma idade fora da escola, mencionando os restantes que não têm.

Apenas 20% dos alunos no grupo de teste e 9,1% no grupo de controlo consideram não ter um melhor amigo, respondendo os restantes elementos de forma afirmativa.

No grupo de teste, a maioria (60%) refere viver com ambos os pais e 80,5% refere ter irmãos a viver com eles, enquanto no grupo de controlo a maioria dos alunos (54,5%) refere viver apenas com a mãe e não ter irmãos a viver com eles (63,6%). Dos inquiridos, 90% dos alunos no grupo de teste e 72,7% no grupo de controlo referem ter irmãos, que são, na sua maioria, mais velhos (1 ou 2 irmãos).

Considerando as diferenças entre as variáveis sociodemográficas e as diferenças entre os grupos, estas são estatisticamente significativas (p=0,049) no facto de terem ou não irmãos a viver com eles.

Tendo em consideração os resultados dos níveis de autoconceito e resiliência antes e depois da intervenção, foram encontradas diferenças estatisticamente significativas entre os dois grupos. Antes da intervenção foram encontradas diferenças estatisticamente significativas no autoconceito (bem como nos seus fatores aparência física e satisfação/felicidade), e no recurso externo participação significativa na escola da escala de resiliência (Tabela_1). Os valores mais elevados pertencem ao grupo de teste.

Após a intervenção, verifica-se que os grupos apresentam diferenças estatisticamente significativas, nos fatores de aparência física e satisfação/ felicidade do autoconceito, bem como no valor total de autoconceito. Os recursos externos de resiliência em que se encontraram diferenças estatisticamente significativas foram a participação significativa na escola e as elevadas expectativas dos adultos em casa. Também aqui os valores mais elevados pertencem ao grupo de teste.

Comparando os dois momentos em cada grupo, antes (T1) e após (T2) a intervenção, foi considerado um p<0,10 para erro Tipo I e II, pois trata-se de grupos de pequenas dimensões. Desta forma, foram encontradas algumas diferenças estatisticamente significativas, sugerindo um efeito positivo da intervenção.

Desta forma, no grupo de teste, encontraram-se diferenças estatisticamente significativas na perceção da aparência física (aumento) e nas elevadas expectativas pelos adultos na escola (redução). no grupo de controlo, as diferenças estatisticamente significativas encontradas foram na popularidade e nas elevadas expectativas dos adultos me casa e dos pares e pró-sociais, tendo em todos os casos ocorrido um decréscimo das pontuações (Tabela_2).

Discussão Selecionar um grupo de participantes, considerando o seu nível de autoconceito, pode tornar-se vantajoso pelo facto de que a intervenção foi aplicada nos alunos com valores mais baixos e portanto, com maior necessidade de trabalhar esta competência. No entanto, pode levar à constituição de grupos pouco homogéneos em relação a outros aspetos, o que poderá inviabilizar a comparação entre grupos. Em termos sociodemográficos, apesar de existirem algumas diferenças entre os grupos, apenas a diferença entre o facto de ter irmão a viver ou não com eles é significativa. O tamanho dos grupos para a intervenção era o adequado, de acordo com Yalom (2008), que preconiza que os grupos tenham 5 a 10 elementos.

Diferenças estatisticamente significativas foram encontradas, nomeadamente entre o autoconceito e os seus fatores aparência física e satisfação/ felicidade, bem como no recurso externo participação significativa na escola da escala de resiliência. Estes resultados demonstram haver algumas diferenças à partida entre os dois grupos, sendo os valores mais elevados pertencentes ao grupo de teste. No final, após a intervenção, as diferenças estatisticamente significativas em relação ao autoconceito mantiveram-se, embora em relação aos seus fatores, essas diferenças passassem a ser na aparência física e satisfação/felicidade. Também a diferença estatisticamente significativa se manteve em relação à participação significativa na escola, tendo-se encontrado também diferenças entre as elevadas expectativas dos adultos em casa, no que concerne aos recursos externos.

Pode então perceber-se que poderá ter havido algum efeito da intervenção ao nível da aparência física e satisfação/felicidade, bem como ao nível das expectativas dos adultos em casa. Isto porque existem diferenças entre os grupos, sendo que no grupo de teste, os níveis destes fatores são significativamente superiores.

Em relação às diferenças estatisticamente significativas entre os momentos pré e pós intervenção, o grupo de teste aumentou os seus níveis de perceção da aparência física, o que significa uma melhoria. No entanto, parece ter ocorrido um decréscimo nas elevadas expectativas pelos adultos na escola. No grupo de controlo, as diferenças estatisticamente significativas encontradas foram na popularidade e nas elevadas expectativas dos adultos em casa e dos pares e pró- sociais, havendo sempre um decréscimo dos seus valores.

O facto de ter ocorrido um aumento num dos fatores do autoconceito no grupo de teste e uma diminuição dos níveis em três fatores no grupo de controlo pode indicar eficácia da intervenção, nomeadamente na promoção da perceção positiva da aparência física, na popularidade e nas elevadas expectativas dos adultos em casa e dos pares pró-sociais.

Estudos semelhantes obtiveram resultados mais significativos, o que se poderá dever, quer ao tempo de intervenção ser demasiado curto, quer ao número de sessões não ter sido suficiente, não permitindo desenvolver determinados fatores das competências trabalhadas (Araújo, 2011; Gueldner & Merrell, 2011). Desta forma, seria pertinente, tal como nos estudos encontrados e que revelaram maior eficácia nas intervenções, prolongar as sessões para cerca de 90 minutos, bem como aumentar o número de sessões para cerca de 8 a 12 (Araújo, 2011; Costa e Bigras, 2007; Gueldner & Merrel, 2011; Teixeira, 2010).

Conclusão Promover intervenções como a que foi desenvolvida mostra-se eficaz, considerando o desenvolvimento de determinadas competências específicas nesta população. Nos adolescentes, a necessidade de desenvolvimento de competências é importante para a realização de escolhas saudáveis no futuro. No entanto, afirmar que estes resultados se devem à intervenção exige uma aplicação da mesma numa amostra mais ampla, como forma de obter resultados estatisticamente mais significativos. Resultados mais significativos estatisticamente permitiriam demonstrar uma evolução entre os dois momentos no grupo de teste e uma efetiva eficácia da intervenção realizada.

Implicações para a Prática Clínica Este estudo apresenta relevância na determinação de intervenções de enfermagem de saúde mental e psiquiatria eficazes. Percebendo-se a eficácia da intervenção realizada, poderá ser aplicada em amostras semelhantes, constituídas por adolescentes com necessidade de intervenção ao nível da promoção de competência.


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