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EuPTCVHe1647-21602015000100005

EuPTCVHe1647-21602015000100005

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioLife Sciences
Great areaHealth Sciences
ISSN1647-2160
ano2015
Issue0001
Article number00005

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Conceção do programa de intervenção em enfermagem Melhorar competências com os outros

Introdução As competências sociais são consequência de uma aprendizagem comportamental e relacional positiva e um dos determinantes de trajetórias de vida. A adolescência é uma fase em que o relacionamento interpessoal sofre grandes modificações, em que se estabelecem novas relações e em que as relações com o grupo de pares se intensificam tornando-se mais relevantes. É esperado que os adolescentes, adquiram as habilidades, atitudes e comportamentos que lhes permitam crescer de forma saudável, a realizarem-se quando chegarem a adultos e a tornarem-se socialmente competentes. É consensual hoje em dia a importância da intervenção precoce na área da saúde mental da infância e adolescência através de estratégias de prevenção e promoção da saúde. As diretrizes internacionais e nacionais convergem no sentido de uma preocupação crescente acerca da promoção da saúde e de estilos de vida saudáveis.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (WHO, 2001) certos tipos de perturbações mentais e comportamentais, como a ansiedade e a depressão, podem ocorrer em consequência da incapacidade de fazer face adaptativamente a uma ocorrência vital stressante. Torna-se assim necessário que os profissionais de saúde adquiram novas competências ou competências complementares, que lhes permitam uma crescente capacitação para a promoção de estilos de vida saudáveis na escola (Loureiro, 2013).

Por isso, deve ser dada prioridade a novas áreas de formação como as metodologias de intervenção ativas-participativas, o trabalho interpares, e a promoção de competências pessoais e sociais, pelo potencial de comunicação interpessoal que promovem. Enquanto profissionais de saúde, cabe aos enfermeiros organizar, coordenar, executar e avaliar intervenções de enfermagem aos vários níveis de prevenção e sendo a enfermagem uma profissão que tem como objetivo prestar cuidados de enfermagem às pessoas, sãs ou doentes, ao longo do ciclo vital, entende-se que o desenvolvimento de programas de intervenção para a promoção/desenvolvimento das competências sociais dos adolescentes fará sentido. O principal objetivo desta investigação é a conceção de um programa de treino de competências sociais concetual e metodologicamente fundamentado, com o propósito de modificar e/ou melhorar competências dos adolescentes.

Metodologia O programa de treino de competências sociais, denominado 'Melhorar competências com os outros', assenta numa abordagem preventiva e educacional em contexto escolar, colocando a ênfase na pessoa, enquanto agente ativo da sua aprendizagem e mudança. Considera-se o aspeto motivacional fundamental para o desenvolvimento e aprendizagem das competências sociais individuais e de grupo.

Da presente investigação fizeram parte dois estudos prévios: o primeiro, com uma abordagem quantitativa, permitiu identificar que cerca de 50% dos adolescentes inquiridos apresentavam algum tipo de dificuldades ao nível das suas competências sociais; o segundo estudo, com uma abordagem qualitativa, permitiu perceber que as dificuldades identificadas no desenvolvimento das competências sociais estavam relacionadas com o défice no conhecimento sobre como ser socialmente competente e o défice no conhecimento sobre como fazer para ser socialmente competente (Loureiro, Frederico-Ferreira, & Santos, 2013).

Referencial Teórico e Objetivos do Programa 'Melhorar Competências com os Outros' Relativamente à identificação das dificuldades/constrangimentos dos adolescentes ao nível das competências sociais que se pretendem modificar ou melhorar, os modelos teóricos explicativos escolhidos foram, o Modelo de Perceção Social de Argyle (1983), o Modelo Cognitivo (McFall, 1982), o Modelo do Condicionamento Operante de Skinner (1978), o Modelo da Assertividade (Wolpe & Lazarus, 1966) e o Modelo da Aprendizagem Social de Bandura (1977). Estes modelos têm uma explicação essencialmente fundamentada na área da psicologia do desenvolvimento cognitivo e psicossocial, e propõem estratégias de intervenção focalizadas para os défices identificados.

Optou-se, portanto, por uma abordagem eclética, uma vez que é aquela que adota as técnicas e procedimentos que melhor respondem às dificuldades e défices identificados, consonante com  uma intervenção mais efetiva (Del Prette & Del Prette, 1999).

Utilizou-se o sistema de classificação das competências sociais de Gresham e Elliot (1990), que considera as quatro competências sociais empatia, assertividade, cooperação e autocontrolo. A Enfermagem, enquanto ciência e profissão fundamenta a sua prática num vasto leque de conhecimentos, onde se incluem os modelos e teorias de enfermagem. Ao ponderar sobre o papel do enfermeiro enquanto terapeuta/formador em Treino de Competências, centrou-se esta abordagem em três teorias de enfermagem - Teoria da Relações Interpessoais, Teoria do Cuidar e Teoria das Transições por serem as mais relevantes para um quadro de referência estruturante de uma prática de cuidados num processo que se espera dinâmico, de desenvolvimento e de crescimento pessoal.

Com a implementação do programa, pretendeu-se: ajudar os adolescentes a tomarem consciência dos comportamentos e atitudes que desenvolvem com os outros no dia- a-dia, diminuir as dificuldades de comunicação em aspetos particulares da interação social, desenvolver a comunicação interpessoal, praticar a assertividade, aprender habilidades sociais e ser capaz de resolver problemas sociais, em suma, aumentar o repertório de classes de resposta através do desenvolvimento e aprendizagem de novas competências sociais. Manter e generalizar os comportamentos aprendidos a outros contextos de interação social, permitirá aos adolescentes enfrentar e adaptar-se a novas situações de uma forma mais saudável.

Metodologia do Programa 'Melhorar Competências com os Outros' O programa foi desenhado tendo por referência as orientações teóricas de Gresham e Elliot (1990), Del Prette e Del Prette (1999) e Caballo (2008) e existiu particular preocupação com as exigências metodológicas que uma intervenção deste tipo impõe, nomeadamente, os aspetos éticos e deontológicos, as características do grupo, o tipo de informação a transmitir, a estrutura, dinâmica, os conteúdos das sessões, as técnicas utilizadas, o local onde as sessões decorreram e os tipos de avaliação do programa.

Relativamente aos princípios éticos e deontológicos assumiu-se como uma necessidade que todos os elementos do grupo, participantes e formador, conhecessem orientassem a sua conduta de forma a garantir a confiança de todos na participação no programa. Impôs-se o desenvolvimento de atitudes de respeito, compreensão e dos princípios éticos, dos quais se destacam, a responsabilidade (todos os elementos devem assumir a responsabilidade dos seus atos e manter uma relação autêntica com todos), a confidencialidade (toda a informação obtida no decorrer do programa pode ser transmitida publicamente com autorização expressa da pessoa a quem a informação diz respeito), o relacionamento profissional (no decorrer do programa o formador deve manter com os participantes uma relação estritamente profissional), o compromisso por parte do formador de fornecer informação no final do programa, aos participantes que a solicitarem.

A escolha do grupo ' estudantes que frequentavam o 12º ano de escolaridade e que não apresentavam perturbações graves do desenvolvimento. Optou-se pelo formato grupal misto dadas as vantagens inerentes. Considerou-se o grupo fechado, mantendo sempre os mesmos participantes de forma a manter um clima de amizade e confiança. A informação sobre o programa: objetivos e constituição do programa, competências sociais abordadas, conteúdos, metodologia de trabalho proposta, número de sessões, desenvolvimento de cada sessão, local onde vão decorrer, a importância da motivação pessoal e do envolvimento de cada um para o crescimento de todos, assunção de um compromisso de participação e de cumprimento do horário estabelecido para as sessões operacionalizado em documento assinado por cada participante na primeira sessão. Relativamente à dinâmica das sessões, existe alguma diferença consoante se trate da primeira, da última ou das sessões intermédias. Estas têm uma estrutura organizada em torno de uma determinada ordem sequencial de momentos que asseguram a coerência interna de cada sessão.

 A operacionalização do programa baseou-se numa abordagem cognitivo- comportamental, em que o roleplaying, o reforço, o feedback, e a modelação foram algumas das técnicas e procedimentos preconizados. A modelação pode ser maximizada em formato grupal, pois é transformada num processo contínuo, uma vez que os participantes ao observarem os comportamentos dos colegas e do formador a um nível mais molecular de intervenção têm a possibilidade de confrontar e reestruturar as suas ideias e expetativas (Olaz, 2009).

Em termos documentais foi elaborado um conjunto de materiais necessários à operacionalização das sessões (lista de presenças, compromisso de participação, fichas para o trabalho de grupo, ficha de avaliação da sessão e certificado de participação) e criado um ficheiro pedagógico. Quanto à avaliação, seguiram-se as orientações teóricas que consideram a existência de quatro momentos sequenciais de avaliação deste tipo de programas (Caballo, 2008), a avaliação antes, durante e depois da implementação do programa e num período de acompanhamento pós-programa (folow-up). Quanto à forma de avaliação, foram utilizados escalas, questionários, guião de entrevista, fichas de registo e registo de observação de ocorrências (Lemos & Menezes, 2002; Spence, 2003).

Conteúdos do Programa Os conteúdos temáticos que deram corpo ao programa inserem-se nas quatro competências sociais referidas. A partir dos resultados relativos aos dois estudos prévios foi possível identificar as situações consideradas pelos estudantes como mais difíceis em situação de interação social e que se relacionam, de um forma geral, com a falta de conhecimento para lidar com as situações do dia-a-dia de forma socialmente competente, com a incapacidade para gerir emoções, com o medo da avaliação negativa pelos outros e com uma baixa autoestima. Concretamente, as habilidades sociais referidas como mais deficitárias foram 'responder apropriadamente a provocações', 'manifestar opinião', 'dizer não', 'lidar com as críticas', 'mediar conflitos', 'falar em público', 'encerrar relacionamento' e 'apresentar-se/ iniciar/finalizar uma conversa' que correspondem às competências assertividade e autocontrolo e por isso foram os conteúdos mais trabalhados no programa. Esta avaliação prévia foi um indicador importante para a intervenção.

Programa de curta duração, integrou 12 sessões de 55 minutos, realizadas com uma frequência semanal. Constituído por quatro módulos, o número de sessões variou em cada módulo, sendo proporcional às dificuldades identificadas para cada competência. A conceção dos módulos baseou-se nas orientações de Jardim e Pereira (2006) e Rijo et al. (2006).

Resultados e Discussão

Módulo 1 ' Comunicação Humana O início do programa realizou-se de uma forma mais lúdica no sentido de captar o interesse e motivação dos participantes facilitar a sua integração, quer no grupo quer na metodologia do programa. O programa progrediu trabalhando a importância de se prestar mais atenção ao outro, de desenvolver a escuta ativa e o respeito, de compreender a perspetiva das outras pessoas quando se encontram em situação de interação social. Discutiu-se a importância de correção das crenças irracionais, de autoconhecer-se e de aprender a autovalorizar-se desenvolvendo uma autoestima saudável. Pretendeu-se levar os participantes a compreender a complexidade da comunicação humana, a necessidade de contar com o ponto de vista dos outros e a importância de interpretar corretamente as mensagens (Tabela_1).            

Módulo 2 ' Comportamento Assertivo Abordou-se a assertividade enquanto competência social, descreveram-se os vários estilos comunicacionais (assertivo, agressivo, passivo e manipulativo), aos diversos níveis (comportamental, padrões de pensamento, sentimentos e emoções, consequências para o próprio). O objetivo principal foi a aprendizagem de conteúdos e o treino de competências que permitisse aos participantes sentirem-se bem consigo próprios e com os outros, entender as vantagens da assertividade e conseguindo aderir a este estilo de comportamento em contextos interpessoais específicos (Tabela_2).

Módulo 3 ' Cooperação Focalizou-se essencialmente na mediação e resolução de conflitos e coordenação de grupo. O objetivo foi trabalhar em conjunto para um fim comum assumindo diferentes papéis no grupo, valorizaram-se as atitudes de partilha e de compromisso, o respeito pelas regras e normas e a expressão de apoio e solidariedade (Tabela_3).

Conclusão O treino de competências sociais nas escolas, através da implementação deste tipo de programas, contribui para o autoconhecimento dos adolescentes, para o estabelecimento de relações interpessoais positivas e para a valorização pessoal, aspetos que podem ajudar a levar a cabo as tarefas desta etapa da vida, como a construção da identidade pessoal, através do desenvolvimento de um autoconceito positivo e de uma autoestima saudável. O conhecimento acerca da relação entre os processos de aprendizagem, o desenvolvimento das competências sociais e fatores determinantes, nos adolescentes, ajuda os enfermeiros a compreenderem os mecanismos que podem influenciar o desenvolvimento adequado dessas competências. Neste sentido, as intervenções de enfermagem devem incluir a avaliação das competências e identificação de necessidades e posteriormente o planeamento e implementação de intervenções significativas de transmissão de conhecimentos e treino de competências, sustentadas em conhecimento cientificamente testado.

Implicações para a Prática Clínica O exercício profissional dos enfermeiros insere-se num alargado contexto de atuação. Para além das intervenções de prevenção da doença e de promoção dos processos de readaptação da doença, o enfermeiro deve, assumir um papel inovador e empreendedor no sentido de criar oportunidades de intervenção, formação e investigação no contexto dos determinantes da saúde e em diversos setores de ação estratégica. Sabe-se que a adolescência é uma fase da vida em que a maioria dos jovens não procuram os serviços de saúde por terem uma perceção positiva acerca do seu estado de saúde e porque subestimam a necessidade de ajuda de outros pela convicção de serem capazes de lidar sozinhos com os seus problemas (WHO, 2010).

Neste sentido, o programa de intervenção concetualizado pode colmatar esta necessidade conduzindo os profissionais numa prática que vai também de encontro a um dos valores definidos no Plano Nacional de Saúde Mental 2007/2016 (Resolução do Conselho de Ministros, n.º 47/2008) nomeadamente, a proteção dos grupos especialmente vulneráveis, onde se incluem as crianças e os adolescentes pela implementação de programas de desenvolvimento pessoal e social. Este estudo contribui para o conhecimento dos enfermeiros na área das competências sociais integrando os aspetos teóricos inerentes à sua própria formação sendo portanto um contributo inovador e complementar. Acresce que se apresenta uma ferramenta que os enfermeiros podem utilizar como suporte ao desenvolvimento de políticas promotoras da saúde dos adolescentes nas escolas. Contudo, porque o contexto escolar é complexo e dinâmico importa caraterizá-lo ao nível da identificação de necessidades específicas para a implementação deste tipo de programas, direcionando a intervenção aos problemas detetados.


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