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EuPTCVHe1647-21602015000100018

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variedadeEu
ano2015
fonteScielo

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Prioridades de investigação em saúde mental e a transformação do modelo

Introdução Nas duas últimas décadas o Brasil passou por um processo de transformação do seu modelo de atenção em saúde mental, caracterizado pelo redirecionamento de um cuidado antes centrado na internação hospitalar para uma lógica de atenção focada em serviços de base comunitária. Esse processo de mudança de modelo implica um conjunto de desafios para investigação científica, reforçando a importância da inclusão do tema saúde mental na Agenda de Prioridades de Pesquisa para o Sistema Único de Saúde (SUS). A Política Nacional de Saúde Mental no Brasil é essencialmente baseada na Declaração de Caracas (OMS, 1991), e prevê, sobretudo: o processo de desinstitucionalização do portador de transtorno psíquico, a reorientação da assistência na saúde mental para um modelo descentralizado e de base comunitária, a partir da redução gradual dos leitos psiquiátricos e com a progressiva ampliação da rede extra-hospitalar.

Neste sentido, os novos dispositivos de saúde mental que vêm sendo utilizados no Brasil são: os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS); ações da saúde mental na Atenção Básica; os Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT); os Centros de Convivência e Cultura; alguns Leitos de atenção integral em Hospitais Gerais e nos CAPS III (que funcionam 24 horas); o auxílio financeiro do Programa de Volta para Casa; e os Consultórios de Rua.

Dentre os dispositivos disponíveis, o principal deles tem sido o CAPS, o qual constitui  a principal estratégia do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil. De acordo com a Portaria 336/GM de 2002, os CAPS são instituições destinadas a acolher os pacientes com transtornos mentais, estimular sua integração social e familiar, apoiá-los em suas iniciativas de busca da autonomia, oferecer-lhes atendimento médico e psicológico. Sua característica principal é a de buscar integrar o portador de sofrimento psíquico a um ambiente social e cultural concreto, designado como seu "território", o espaço da cidade onde se desenvolve a vida cotidiana desses usuários e de seus familiares (Brasil, 2002).

Os principais objetivos destes serviços tem sido: oferecer cuidados intermediários (entre o regime ambulatorial e a internação hospitalar) com ênfase na abordagem compreensiva e com suporte educacional, social, recreacional, reabilitação psicossocial e reinserção profissional; estimular a melhoria da qualidade de vida dos usuários e seus familiares através do autocuidado; e intervir junto à comunidade com ações educativas em saúde como forma de reduzir os danos sociais, psíquicos e físicos conseqüentes do uso de drogas.

Metodologia Buscou-se informações contidas em artigos, em língua portuguesa indexados em, bases de dados e Bibliotecas Virtuais em Saúde (BVS) como BIREME, SCIELO, MEDLINE, LILACS e BDENF a partir do descritor "Enfermagem Psiquiátrica". Usou- se como critérios de seleção os artigos estarem disponíveis na íntegra, escritos por brasileiros e cujos resumos evidenciassem concretamente que o foco principal de abordagem do artigo fosse relacionado à enfermagem psiquiátrica. O período considerado para a busca foi de janeiro de 2009 a julho de 2014.

Realizou-se uma análise dos 54 artigos científicos encontrados, levando-se em consideração as prioridades propostas pela agenda para pesquisas em saúde mental no Brasil. Dos artigos encontrados destacam-se os estudos desenvolvidos por Camatta (2009), Filizola, Teixeira, Milioni e Brechesi (2011), Mari, Bressan, Almeida-Filho, Gerolin, Sharan e Saxena (2006), Miranda, Clementino, Santos, Silva e Costa (2010), Moreira e Loyola (2010), Muniz, Tavares, Souza, Pacheco e Figueiredo (2014), Oliveira, Silva e Silva (2009), e Oliveira, Kestenberg e Silva (2013).

Para contextualizar o tema, realizou-se um levantamento da distribuição dos serviços de saúde mental no Brasil, comparando-se regiões do país, serviços hospitalares e extra-hospitalares e desenvolvimento de pesquisas em enfermagem.

Resultados e Discussão O atual cenário da saúde mental no Brasil tem apresentado como tendências: a  reversão do modelo hospitalar para uma ampliação significativa da rede de atenção extra-hospitalar, de base comunitária; o entendimento das questões de álcool e outras drogas como problema de saúde pública e como prioridade no atual governo; e a ratificação das diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) nas ações de saúde mental através da Lei Federal 10.216/01 e da III Conferência Nacional de Saúde Mental.

Atualmente, 12% da população necessitam de algum atendimento em saúde mental, seja ele contínuo ou eventual, e 2,3% do orçamento anual do SUS são destinados para a Saúde Mental (Ministério da Saúde, 2012).

Neste sentido, alguns desafios precisam ser enfrentados, sobretudo no sentido de  fortalecer às políticas de saúde voltadas para grupos de pessoas com transtornos mentais de alta prevalência e baixa cobertura assistencial, bem como implementar uma política de saúde mental mais eficaz no atendimento às pessoas que sofrem com a crise social, a violência e desemprego - determinantes sociais da saúde impactantes atualmente no Brasil.

Para isto, o país tem apontado para a necessidade de consolidação e ampliação da rede de atenção de base comunitária e territorial (Gráfico_1) visando à promoção da reintegração social e cidadania. Portanto, o aumento dos recursos do orçamento anual do SUS para a Saúde Mental também deve ser encarado como importante desafio, a fim de se tornar factível o alcance das metas estabelecidas.

As regiões do Brasil não demonstraram um equilíbrio na distribuição deste crescimento no número de CAPS. É mais expressivo o indicador da cobertura assistencial nas regiões Sul e Nordeste, que vêm apresentando os maiores indicadores de cobertura. A expansão do número de CAPS nas regiões Centro-oeste e Norte permanece como desafio a ser enfrentado nos próximos anos. Com relação à questão específica da expansão destes serviços na região Norte, o Ministério da Saúde (2012) aponta que, para melhor compreensão do problema é necessário que se ajuste o indicador CAPS/100.000 habitantes, devido às peculiaridades demográficas desta região. a região Sudeste, tem apresentado um ritmo de crescimento semelhante ao das regiões Centro-oeste e Norte, apesar de ter apresentado um patamar mais alto de cobertura no início do recorte histórico.

Este recorte pode ser melhor compreendido a partir da interpretação do gráfico 2, que mostra em seu comportamento a expansão dos CAPS em cada região do país.

Os SRT também apresentaram um movimento de expansão considerável no país, havendo um crescimento acentuado em 2011 devido ao processo de fechamento de grandes hospitais neste período (gráfico_3). O mesmo ocorreu com o Programa de Volta para Casa. O Ministério da Saúde aponta que em 2012 o Programa havia alcançado mais de 4 mil beneficiários em folha de pagamento (gráfico_4). Porém, tanto os SRT quanto o Programa de Volta para Casa precisam ampliar significativamente sua curva de crescimento, pois ainda muitos usuários que não têm acesso a essas estratégias para a Reabilitação Psicossocial.

Neste sentido, pode-se destacar a inversão que houve dos investimentos na atenção Psicossocial por parte do Ministério da Saúde. Se em 2002 aplicava-se apenas 24% dos gastos na saúde mental em serviços extra-hospitalares, em 2011 essa porcentagem atingiu 71%, contra 29% investidos em serviços hospitalares (Brasil, 2012).

No entanto, verifica-se a partir da interpretação dos gráficos, que as novas modalidades terapêuticas apresentaram um ritmo de crescimento importante de 2002 a 2006. E de pra passaram a atingir ritmo de crescimento mais lento.

Este fato relaciona-se com o próprio processo de discussão em torno da Reforma Psiquiátrica no Brasil que precisa ser reaquecido, retomando o debate a respeito da importância da ampliação de novas modalidades terapêuticas. Nesse contexto a presença da universidade é também requerida. É consenso que existe a necessidade de produção de conhecimentos que gerem mais saúde mental para a população, que auxiliem nas ações de expansão da rede de serviços, na melhora na qualidade da atenção e na redução da lacuna assistencial com ênfase na atenção primária, levando em conta os determinantes sociais e o enfrentamento do estigma na sociedade.

Neste sentido, propõe-se que os enfermeiros busquem sintonizar suas pesquisas às temáticas priorizadas na agenda de Saúde Mental. A articulação em torno da Agenda é a ação mais importante na legitimação deste instrumento na Política Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação em Saúde no Brasil, e permitirá que prioridades de pesquisa em saúde estejam em consonância com os princípios do SUS. Para isto, tem-se como pressuposto que as pesquisas visem respeitar as necessidades nacionais e regionais de saúde e estimular a produção de conhecimentos e bens materiais e processuais, sobretudo,  nas áreas prioritárias, para o desenvolvimento das políticas sociais.

Destacam-se como tópicos a serem contemplados nas pesquisas que apresentam um potencial para suprir as lacunas de conhecimento identificadas na área de saúde mental: intervenções que possam reduzir a carga global da doença mental; estratégias mais eficientes de ampliar a oferta de serviços em saúde mental; atenção primária; bioética e direitos humanos das pessoas com transtornos mentais.

A produção de pesquisa em enfermagem de saúde mental no Brasil é marcada por uma produção desigual nas diferentes regiões do país, acompanhando o grau de desenvolvimento ecônomico e social dessas regiões. O gráfico_5 apresenta o total de artigos produzidos pelos pesquisadores em enfermagem do Brasil, exemplificando as disparidades regionais mencionadas.

O foco das pesquisas realizadas por enfermeiros, segundo análise do material encontrado nas bases de dados investigadas, relaciona-se de um modo geral à agenda de pesquisa prioritárias em saúde mental no Brasil, predominando as pesquisas sobre as demandas de cuidado de enfermagem em saúde mental. A abordagem metodológica predominante é a qualitativa, desenvolvida em 74,1% dos estudos, seguida da quantitativa 24,1% e da quanti-qualitativa 1,8% (Quadro_1).

O Quadro_2 apresenta os itens de prioridade da agenda para pesquisa em saúde mental pesquisados em menor número pelos enfermeiros.

Conclusão A mudança do modelo assistencial em saúde mental no Brasil desencadeou um conjunto de desafios para investigação científica, culminando com a inclusão do tema saúde mental na Agenda de Prioridades de Pesquisa para o SUS. Até o momento, a despeito dos enfermeiros desenvolverem pesquisas coadunadas com a agenda nacional de prioridades, persiste a necessidade de novos estudos serem realizados de forma mais equanime em todas as regiões do país. Ressalta-se a necessidade de mais estudos de avaliação, para comparar o custo-benefício dos modelos de cuidados alternativos ' uma forma de melhorar a cobertura pelo uso da própria pesquisa como um instrumento para a mudança.

Os estudos analisados indicam importantes avanços nos cuidados desenvolvidos com a pessoa portadora de sofrimento mental, o significado que assume a doença mental junto à família e a relação com os novos dispositivos assistenciais em saúde. Contudo, é  necessário que a sociedade, o governo e a universidade ampliem o debate em torno de novas estratégias de atenção em saúde mental e também possa investigar sua eficácia.

Tangente a isto, concluiu-se a relevância dos enfermeiros contemplarem a temática dos desafios enfrentados na clínica e na política de saúde mental. Por isto, recomenda-se que os serviços de saúde e as universidades intensifiquem parcerias para que conjuguem formas de cuidar que atendam ao imperativo ético da Reforma Psiquiátrica, e que se qualifique a infra-estrutura para apoio à pesquisa no país.


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