Deformaçőes em sedimentos finos năo Consolidados interpretadas como Sismitos
I. INTRODUÇÃO
Esta síntese surge na sequência de um trabalho sobre arqueossismologia
efectuado no âmbito de um projeto da FCT (POCI/CTEGIN/58250/2004) (Gomes et
al., 2008), que pretendeu referenciar, numa base de dados siG, todos os sítios
arqueológicos que pudessem ter sofrido deformação ou destruição sísmica. Este
tema, então inédito em Portugal, apoiou-se nas evidências diretas e indiretas
nos sítios arqueológicos, tendo-se recorrido à Paleossismologia como
instrumento de análise principal.
Embora não fosse despropositado introduzir definições gerais de
arqueossismologia e Paleossismologia, até porque explicaria melhor o contexto
deste trabalho, tal seria dispersante. Por isso começamos por um enquadramento
do estudo das deformações de estruturas sedimentares secundárias, partindo
depois para a proposta de listagem simplificada dessas deformações
interpretadas como sismitos.
Antes de começar pelos exemplos de sismitos, há que fazer a distinção entre
sismitos e deformações gerais de sedimentos: os sismitos ou sismoturbações são
um tipo de deformação sedimentar. Existe uma série infindável de tipos de
deformações, que não estão necessariamente associadas a uma origem sismogénica
embora, desde Charles Lyell (1838), muitas destas deformações sedimentares
tenham sido registadas e relacionadas com violentos episódios sísmicos. As
deformações sedimentares são, no seu significado geral e segundo Mills (1983),
deformações de uma unidade sedimentar não consolidada. A primeira está contida
na segunda, e não o contrário.
Por outras palavras, um sismito é uma deformação litológica de origem sísmica.
Só são aqui considerados sismitos as deformações em sedimentos finos não
consolidados, mais conhecidos como soft-sediment deformations (Malkawi e
Alawneh, 2000; Rodríguez-Pascua, 2000; Becker et al., 2002; Leroy et al., 2002;
Bowman et al., 2004; Migowski et al., 2004; Weidlich e Bernecker, 2004;
Schnellmann et al., 2005; Moretti e Sabato, 2007; Montenat et al., 2007; Deev
et al., 2009; Suter et al., 2011, Moretti e Ronchi, 2011; Santos et al., 2012)
que estejam diretamente relacionadas com a propagação de ondas sísmicas. Não
consideramos as deformações em material mais grosseiro (Huang e Yu, 2013).
Embora sejam diversos os contextos geológicos onde um sismito se pode
desenvolver, analisam-se aqui apenas os tipos de deformações sedimentares de
origem sismogénica, que ocorrem geralmente em contextos sedimentares não
litificados, pouco compactados e associados à presença de água (Montenat et
al., 1993).
A deformação de sedimentos diz respeito a materiais não litificados (Mills,
1983). Se houver mecanismos impulsionadores (escoadas, tempestades e sismos) -
reverse density gradient, slope failure, slumping or shear stress (Neuwerth,
2006: 81) -, suficientemente fortes para que o grau de compactação do sedimento
seja reduzido, iniciando-se um processo de fluidização (idem), formar-se-ão
testemunhos estruturais pós-deposicionais, que se podem reconhecer de uma forma
relativamente fácil. A interpretação dessas estruturas será porventura mais
difícil, pois as deformações sedimentares podem ser provocadas por diversos
processos de perturbação, que não apenas os de origem sísmica (sismoturbações).
No entanto, e antes ainda de serem dados exemplos de sismitos, deve apresentar-
se a definição dos que são já considerados genericamente como soft-sediment
deformation (SSD - Suter et al., 2011), muitos deles interpretados como
sismitos. Por soft-sediment deformation (doravante, SSD), entende-se uma
assinatura sedimentar epigenética de deformação cossísmica. Mais concretamente
é uma deformação pós-deposicional expressa por estruturas sedimentares
secundárias, usualmente desenvolvidas em sedimentos de granulometria
predominantemente fina, não consolidados e pouco compactados, e que, em grande
parte dos casos, estão saturados de água.
Normalmente quando são descritos SSD, estão-lhes associados fenómenos de
fluidização e liquefacção - veremos mais à frente o que são - nos quais a água
representa um papel fundamental. Uma longa lista de fenómenos de deformação
sedimentar deste tipo (pós-deposicional, ou de deformação singenética e
epigenética) vem sendo descrita em artigos de diversos investigadores, que se
debruçam sobre o tema de SSD. Se nos quisermos focar, por exemplo, no tema da
deformação de soft sediments interpretados como sismitos em ambientes
lacustres, temos uma série de exemplos de trabalhos relacionados com SSD (sims,
1973,1975, 1976; Ben‑Menahem, 1976; Hesse e reading, 1978; Hempton e Dewey,
1983; seilacher, 1984; Plint, 1985; Elisa e Mustafa, 1986; Anand e Jain, 1987;
Davenport e Ringrose, 1987; scott e Price, 1988; Ringrose, 1989; Beck et al.,
1992; Karlin e Abella, 1992; Van Loonet al., 1995; Beck et al., 1996; Alfaro et
al., 1997; Lignier et al., 1998; Malkawi e Alawneh, 2000; Rodríguez Pascua et
al., 2000; Becker et al., 2002; Leroy et al., 2002; Bowman et al., 2004;
Migowski et al., 2004; Weidlich e Bernecker, 2004; Schnellmann et al., 2005;
Mörner, 2005; Moreti e Sabato, 2007; Moretti e Ronchi, 2011).
Claro que há mais contextos, para além dos lacustres, onde este tipo de estudos
se pode fazer. Mas não é por acaso que a maior parte deles dizem respeito a
áreas costeiras, ou onde a presença de água é abundante porque, como veremos
mais à frente, a liquefação e a fluidização dos sedimentos são das principais
razões para que se forme este tipo de deformação. E isto acontece porque os
sedimentos mais suscetíveis a deformação são os de granulometria fina (siltes e
argilas), e em especial se tiverem disposição estratigráfica alternada de
areias, siltes e argilas. É por esta razão que os SSD interpretados como
sismitos se desenvolvem mais rapidamente em planícies aluviais, leitos de
cheia, planícies deltaicas ou estuarinas, baías e ambientes lacustres ou
palustres (Montenat et al., 2007: 9).
Grande parte dos cientistas que interpreta os SSD como sismitos, apesar de
algumas opiniões contrárias, considera que só um sismo com magnitude igual ou
superior a 4,5 na escala de Richter pode deixar registo de perturbação
sedimentar. Se referirmos como exemplo as análises sísmicas efetuadas na região
do vale de Cauca (formação de Zarzal na Colômbia), que indicam que os sismos
que afetaram esta região terão atingido magnitudes compreendidas entre 5 e 7,
verificamos que estão de acordo com as teorias de scott e Price, que sugerem
que uma magnitude sísmica inferior a 5 não é suficientemente forte para causar
liquefação para além da distância de 4 km do epicentro (Scott e Price, 1988).
No entanto, estes autores também afirmam, que uma magnitude de 7 na escala de
Richter não significa obrigatoriamente que os sedimentos situados a 20 km de
distância da fonte sísmica venham a apresentar sinais de sismoturbação
(Neuwerth et al., 2006).
Relacionando estes dados, por exemplo, com as possíveis falhas ativas afetando
a formação de Zarzal, observa-se uma grande concordância de resultados que
podem ser transpostos para análises e extrapolações de situações similares, em
que as deformações de estruturas sedimentares estejam próximas - menos de 20 km
- de falhas ativas (Neuwerth, 2006). A relação do sismito com a distância à
falha sismogénica e a magnitude do sismo é sempre tida em conta em estudos
sobre sismitos e SSD (Galli, 2000; Obermeier et al., 2005).
II. PRINCIPAIS TIPOS DE SSD INTERPRETADAS COMO SISMITOS
Não se pretende aqui uma análise detalhada dos mecanismos impulsionadores para
se efetuar uma classificação detalhada dos sismitos - embora trabalhos mais
recentes venham reforçar essa necessidade (Ghosh et al., 2012). Pretende‑se,
isso sim, a explanação tipológica dessas deformações de maneira a ficarmos com
a noção do que deve ser considerado como sismito, e do que deve ser
interpretado apenas como SSD de origem não sísmica.
As definições mais frequentes, a seguir apresentadas, dos tipos de deformação
sedimentar pós‑deposicional interpretadas como sismitos são uma lista de
sismoturbações que normalmente ocorrem em sedimentos não consolidados e
litificados, e que, de maneira nenhuma, pretendem representar o panorama global
de todos os tipos de SSD. Esta classificação apresenta-se como um sistema
aberto, dentro do qual serão certamente acrescentados novos exemplos de
assinaturas sedimentares deste género, à medida que crescer o número de
trabalhos sobre formações sedimentares não consolidadas.
Para além disso, os exemplos seguintes apenas serão referentes a tipologias de
deformações de sedimentos de idade relativamente recente. Estão pois excluídas
desta lista de SSD, não só os sismitos que se reportem a períodos anteriores
aos estudados pela Paleossismologia e neotectónica, mas também àqueles que não
se insiram num contexto de proximidade costeira.
Organizados a partir duma lógica crescente de grau de liquefação - veremos mais
à frente do que se trata - apresentaremos primeiro exemplos de sismitos sem
sinais de liquefação (normalmente associados a casos de microssismicidade ou de
sismos de magnitude inferior ou igual a 5 na escala de Richter), e depois os
que apresentem evidências de liquefação (casos de associação a sismos de
magnitude elevada, a partir da magnitude 6 na escala de Richter).
1. Estruturas sedimentares de deformação cossísmica sem liquefação de
sedimentos
Por estruturas sedimentares de deformação entendem‑se todas as modificações
estruturais das estratificações sedimentares que apresentem sinais de terem
sido induzidas por um agente externo suficientemente perturbador. Isto é, são
estruturas que não apresentam características de sedimentação normal e indiciam
episódios de perturbação mecânica.
1.1 Loop Bending (laços)
Pode entender-se o fenómeno de loop bending como uma curvatura das sucessivas
laminações estratigráficas de sedimentos não litificados, resultantes da
distensão dos sedimentos, induzida por pequenos e repetidos tremores de terra
(Rodríguez-Pascua et al., 2000). Por outro lado, os diferentes tipos de
"laços", para além de indicarem o tipo de deformação que as laminações adotaram
durante os tremores de terra, podem informar, por vezes, sobre a direção das
vibrações sísmicas (Rodríguez-Pascua et al., 2000). Este tipo de deformação é
de origem cossísmica direta, o que é o mesmo que dizer que foram as ondas
sísmicas e movimentos distensivos resultantes da sua ação que originaram a
deformação (fig._1a; fig._2a).
1.2 Perturbações laminares
São pequenas perturbações onduladas, em sedimentos finos laminados
anteriormente plano-paralelos, que podem atingir 10 cm de espessura. Este tipo
de SSD pode ser interpretado como sismito, mas pode ter outra origem para além
da sísmica (por exemplo, a ação gravítica de uma unidade suprajacente pode
também estar na origem destas estruturas sedimentares) (fig._1b; fig._2b).
1.3 Estratificações convolutas sem liquefação de sedimentos
Estas estruturas não são muito frequentes, mas podem ser visíveis em areias de
grão fino e médio, e a sua espessura pode chegar aos 20 cm. As dobras, muito
contorcidas, formam pequenos sinformas e antiformas, e estão associadas a
estruturas de carga, slumps, e intrusões de sedimentos (neuwerth et al., 2006,
fig. 8: 79). Como no exemplo anterior, também estas SSD podem ter outras
origens para além das sísmicas (fig._1c; fig._2c).
1.4 Slumpings sem liquefação de sedimentos
Visíveis normalmente em sedimentos finos (argilas, siltes, areias de grão fino
e médio) mais suscetíveis a perturbações gravíticas, estas deformações podem
atingir mais de um metro de amplitude. O plano axial das dobras causadas pelo
slumping (laminação convoluta) pode ter inclinações variadas (neuwerth et al.,
2006, fig. 8, p 80). Estão frequentemente associados a estruturas de carga
(load structures). Se analisados individualmente não constituem evidências
fidedignas de sismicidade (fig._1d; fig._2d).
2. Estruturas sedimentares de deformação com liquefação de sedimentos
The main coseismic geological effects which may damage buildings are
liquefaction, lateral spreading and landsliding. Liquefaction, with or without
lateral spreading, may occur many kilometres away from an epicentral area
(Galli, 2000), [e] may cause foundation displacement and buildings to collapse.
(Galadini et al., 2006: 400).
A liquefação corresponde à passagem de um sedimento do estado sólido ao estado
fluido, com consequente perda de capacidade de suporte, em resultado do
aumento, dinamicamente induzido, da pressão do fluido intersticial (Galadini et
al., 2006: 400).
A partir do momento em que um determinado local é violentamente perturbado,
quer por um forte abalo sísmico, quer por qualquer outro evento violento de
agitação terrestre, pode haver liquefação ou fluidificação dos sedimentos. Se
essa liquefação ocorrer poderá desencadear uma fluidização ou liquidização
sedimentar, o que é o mesmo que dizer a circulação de um determinado elemento
sólido através de um agente líquido de transporte ou seja, arraste das
partículas sedimentares por fluido sob pressão (tipicamente água), que circula
no sedimento em direção a zonas de menor pressão.
Há que explicar o sentido atribuído aos termos fluidização e fluidificação, bem
como liquefação e "liquidização" Entendemos que liquefação e fluidificação são
a mesma coisa, assim como fluidização e "liquidização" No entanto, liquefação
ou fluidificação não são o mesmo que liquidização ou fluidização. A primeira
origina a segunda.
Atendamos, por isso, ao facto de as próximas definições pressuporem sempre a
existência de fluidização sedimentar, uma vez que nos estamos a referir a
sedimentos anteriormente liquefeitos, ou fluidificados.
2.1 Figuras de carga (Load Structures)
As load structures ou load cast structures, estruturas (ou figuras) de carga,
são normalmente estruturas arredondadas, que se desenvolvem na vertical,
correspondendo a penetrações de sedimentos superiores, mais densos, em
sedimentos inferiores e menos densos (Rodríguez-Pascua, 2000; Becker et al.,
2002; Leroy et al., 2002; Bowman et al., 2004; Migowski et al., 2004; Weidlich
e Bernecker, 2004; schnellmann et al., 2005; Moretti e Sabato, 2007; Montenat
et al., 2007; Deev et al., 2009; Suter et al., 2011, Moretti e Ronchi, 2011).
Representam pequenas subsidências ou abatimentos nos sedimentos que, no caso de
um evento súbito de deformação pós-deposicional, prolongam verticalmente
pequenas ondulações pré-existentes. Podem estar associadas a duas origens:
gravítica simples, ou desencadeada por vibrações sísmicas (fig._1e; fig._2e).
2.1.1. Estruturas em pêndulo (Pendulous form Structures)
Frequentemente encontradas em sedimentos arenosos, assentes sobre argilas e
materiais mais finos e, por isso, menos densos, este tipo de estrutura tem a
base sub-planar e assemelha-se a um lóbulo convexo apontado para baixo
(Neuwerth et al., 2006: 74). São uma variante do exemplo anterior e têm a mesma
origem. Também esta deformação sedimentar pode ter a ação gravítica como
mecanismo impulsionador exclusivo, para além do sísmico (fig._1f).
2.1.2 Estruturas em chama (Flame Structure)
O tamanho varia entre os centímetros e os decímetros e, na maior parte dos
casos, são muito pouco nítidas num corte estratigráfico. Manifestam‑se
normalmente em siltes e materiais mais finos como a argila. Os sismos e a
gravidade promovida pelo peso das unidades superiores podem estar na origem
desta deformação (fig._1g).
2.2 Pseudo nódulos e nódulos (Pseudonodules - attached and detached)
Embora sejam mais raras, estas deformações sedimentares mostram, no seu
interior, material do sedimento suprajacente. Os pseudo nódulos correspondem a
estruturas de carga em vias de se destacarem, ou já destacadas, das unidades
sedimentares de origem, por avanço pronunciado da subsidência no interior do
nível sedimentar subjacente, menos denso (Neuwerth et al., 2006, fig. 8: 76;
Suter et al., 2011: fig. 7: 196). Revelam maior fluidez de sedimentos, ou seja
menor viscosidade, indiciando maior probabilidade de origem sísmica.
Tanto uns como outros se manifestam em areias de grão médio e fino intercaladas
por argila, ou em areias finas quando, por exemplo, os pseudo nódulos estão
associados a movimentos arenosos ascendentes ou de laminação convoluta
associados a fluidização (Neuwerth et al., 2006, fig. 8: 76-77) (fig._1h_e_i;
fig._2_e_i).
Trabalhos recentes efetuados na zona de Belém, Lisboa, mostram que também se
podem formar nódulos perfeitos através do processo de liquefação (Ramos-Pereira
et al., neste volume).
Estes SSD são excelentes indicadores sísmicos porque estão, como referimos,
associados outros tipos de sismitos. Isoladamente, contudo, são pouco claros
quanto à sua génese (fig._1g; fig._2j).
2.3 Estruturas de escape de água (Water Escape Structures)
O escape de água por ação sísmica em sedimentos, conduzindo ao arraste de
partículas e associado à fluidização, caracteriza-se por subidas repentinas de
água intersticial existente nesses sedimentos. Ao haver movimentos cíclicos do
material sedimentar, desencadeados pela passagem das ondas sísmicas, a água
existente na porosidade sofre um aumento de pressão por densificação do
material granular (desencadeando liquefação) e tende a ascender rapidamente,
deformando a componente sedimentar onde está inserida e a imediatamente
superior. Assim, se um sedimento for suscetível à liquefação, a água
intersticial pode ser expelida, deixando marcas desse fluxo repentino de
ejeção. As marcas de ejeção podem ser verticais ou oblíquas, isto é,
transversais em relação à estratificação, ou horizontais ou seja, paralelas à
estratificação (Ricci Lucchi, 1992: 147-148). Por vezes podem ser confundidas
com as estruturas de carga em forma de chama - flame structure. As estruturas
de escape de água podem apresentar também deformação interna, uma vez que são
provocadas pelo movimento ascendente da água. No entanto, estas não são
deformadas a partir de uma posição superior pelo enchimento ou abatimento dos
sedimentos sobrepostos.
2.3.1 Estrutura cúspida (Water escape cusp)
Na sua morfologia e aparência são semelhantes às estruturas de carga em flame
structure. Porém, como contêm sedimentos inferiores deformados pela expulsão de
água, são distintas e de formação diferente. (Neuwerth et al., 2006: 78) (fig.
2k).
2.3.2 Variações morfológicas e Pillar Structures
As pillar structures são definidas e classificadas pela sua morfologia. Isto é,
depois de ter havido ejeção de água, a orientação estratigráfica dos sedimentos
fica diretamente relacionada com o sentido do movimento da água ejetada -
movimento ascendente, dando à estrutura sedimentar um aspeto de coluna
(pillar).
Para além disso, este tipo de estrutura sedimentar pode originar outros tipos
de deformações. As mais frequentes são as associações de dish-and-pillar
structure (prato-coluna) e pocket-and-pillar structure (bolsa-coluna). Estes
dois exemplos estão por sua vez frequentemente associados às laminações de
estratificação convolutas (convolute laminations) e às intrusões de sedimentos
(fig._2l_e_m).
Estas deformações sedimentares estão associadas a eventos sísmicos cujo foco de
origem pode ser bem determinado. Consideramos por isso que são boas indicadoras
de deformação cossímica.
3. Estruturas de intrusão de sedimentos
3.1 Injeções de areia
As injeções de areia são indicadoras de um episódio de deformação intensa do
sedimento (observáveis em corte estratigráfico). Podendo assumir diversas
formas (diques verticais ou com pequenas derivações perpendiculares
entrecruzadas e atingir alguns metros de extensão ou e soleiras horizontais),
estas estruturas estão associadas a processos caracterizados por movimentações
ascendentes ou descendentes de areias mais grosseiras em sedimentos mais finos.
Quando correspondem a movimento de injeção ascendente, constituem-se como
estruturas pós-deposicionais indicadoras de fortes vibrações sísmicas.
Note-se que a presença de filões de areia em sedimentos mais finos subjacentes
pode ter origem em processos gravíticos, uma vez que os sedimentos arenosos
podem preencher fendas nos sedimentos (Galopim de Carvalho, 2005: 90). Segundo
Galopim de Carvalho, os fenómenos sísmicos podem não ser os principais
responsáveis por essa penetração de areia mais recente em sedimentos finos mais
antigos. Julgamos, no entanto, que a movimentação ascendente da areia, mais
antiga, para sedimentos mais recentes, só pode ser fruto de um violento abalo
terrestre. Por tudo isto, devemos entender o termo injeção como intrusão
ascendente de areia, seja ela fina ou grosseira, havendo casos em que essa
intrusão tem origem sísmica. (fig._1f; fig._2o).
3.2 Injeção de material mais grosseiro (areia e cascalho)
Neste tipo de intrusão sedimentar, o fenómeno observado é em tudo semelhante ao
da injeção de areias. A grande diferença é que a sua composição sedimentar é
variável, consisting of predominantly coarse-grained and lesser medium-grained
sands (Neuwerth et al., 2006, fig. 8: 78) (fig._2p).
3.3 Estruturas em almofada (Pillow Structures)
Este tipo de estruturas é representado por deformações côncavas em sentido
descendente, desencadeadas normalmente pela fluidização e ascenção de
sedimentos arenosos inferiores (Rodríguez-Pascua et al., 2000: 125-126) (fig.
1i; fig._2n).
III. OUTROS TIPOS DE SSD
Existem outros tipos de deformações sedimentares provocados pela fluidização,
com outras variáveis morfológicas. São fenómenos muito semelhantes de
fluidização ascendente, mas que se manifestam em sedimentos de granulometria
mais fina - silte - e em escala bastante mais reduzida. É;, por exemplo, o caso
de pequenas intrusões ascendentes de material fino em sedimentos plano-
paralelos laminados, que podem assumir formas bastantes peculiares (Deev et
al., 2009), como os mushroom-like silts (Rodríguez-Pascua et al., 2000) ou as
rolled-up structures (Suter et al., 2011).
É necessário ter em conta, portanto, que o mecanismo sísmico desencadeador
destas deformações de sedimentos não consolidados pode fazer variar o padrão de
deformação segundo a intensidade das vibrações no local. Contudo, o tipo de
deformação sedimentar não depende exclusivamente da intensidade sísmica que a
gera: depende também do próprio contexto sedimentar em que se insere,
nomeadamente o potencial de liquefação dos sedimentos presentes.
Há que atender a que as deformações sedimentares relacionadas com fracas
intensidades sísmicas, anteriormente referidas, nomeadamente as perturbações
laminares e as laminações dobradas sem liquefação, podem ser também geradas por
outros mecanismos (como por exemplo uma unidade estratigráfica mais densa
suprajacente). Por isso mesmo é precipitado classificar como sismito uma
deformação sedimentar deste género se for encontrada isolada numa determinada
camada estratigráfica sem mais deformações coevas associadas.
Para facilitar a compreensão global do tipo de deformação sedimentar
relacionada com a intensidade sísmica que lhe dá origem, por sua vez função da
magnitude do sismo e da distância à falha geradora, propõe-se um esquema
sinóptico de sismoturbações sedimentares (fig._1), onde simulámos o que
aconteceria se sedimentos iguais fossem deformados por sismos de magnitudes
diferentes (e consequentemente por diferentes intensidades). Alertamos para o
facto de a escala vertical do esquema não representar profundidade, mas a
relação entre a severidade das vibrações sísmicas (intensidade) e a
sismoturbação desencadeada. Para a construção deste esquema considerou-se
também a mesma distância epicêntrica teórica, pois sabe-se que a sismoturbação
não está apenas associada com a magnitude e a intensidade sísmica, mas também
com a distância ao epicentro sísmico.
IV. CONCLUSÃO
Nesta análise da deformação em sedimentos finos não consolidados interpretada
como sismitos, houve a consciência de existirem muitos mais exemplos de
deformações sedimentares aqui não referidos, ou não fosse esta uma tentativa de
reunir opiniões dos principais trabalhos realizados para o tema. De facto, há
uma grande diversidade de parâmetros contextuais que fornecem às deformações
deste género uma quase impossibilidade de repetição dimensional e tipológica. O
que aqui se abordou foram os principais padrões de SSD e a maneira como eles
são interpretados. Eles podem constituir-se como excelentes indicadores de
paleossismos - podendo informar não só da magnitude, mas também da intensidade
das vibrações sísmicas ocorridas e, consequentemente, colocar hipóteses
plausíveis à distância à fonte sísmica (falha ativa geradora) e à magnitude do
sismo.
Esta proposta de lista simplificada apenas aborda os artigos considerados
essenciais, para uma abordagem sedimentar inicial e não esconde o papel pouco
preponderante da novidade científica num plano internacional. Sabe-se, no
entanto e apesar da existência de alguns trabalhos recentes sobre evidências em
deformação de sedimentos (Dinis et al., 2007, Ressurreição et al., 2009,
Ressurreição et al., 2011), que no plano nacional pouco tem sido avançado
relativamente ao estudo das deformações de estruturas sedimentares não
consolidadas de origem sísmica.
Por isso mesmo, esta recensão pretende contribuir para a difusão bibliográfica
relacionada com a temática dos sismitos, fornecendo uma lista de mecanismos de
identificação sedimentar, a partir de casos estudados e reforça a importância
da multidisciplinaridade neste tipo de estudos.
Referiu-se a característica comum nos sismitos, que se prende com o papel
decisivo da água para a sua génese. Para além deste fator, viu‑se que é
necessária uma magnitude igual ou superior 5 para haver liquefação de
sedimentos, assim como os sismitos estarem normalmente associados a falhas
ativas próximas, para que a intensidade das vibrações sísmicas seja
suficientemente forte. Atribui-se, pois, aos sismitos um papel de extrema
importância nos estudos da Paleossismologia e neotectónica, bem como em
Geomorfologia, permitindo identificar e datar eventos sísmicos não registados
(paleossismos).
Seja num contexto lacustre, de planície aluvial, de zona estuarina ou até mesmo
de praia, a deformação epigenética de sedimentos, com origem sísmica, não será,
em princípio, uma manifestação isolada, nem terá apenas uma forma. Geralmente
vários tipos de SSD encontram-se associados entre si, embora circunscritos a um
conjunto sedimentar coevo e localizado. Por isso mesmo, devemos entender esta
catalogação sobretudo como instrumento indicador de sistema aberto e não como
ferramenta que permite incluir a análise de sismoturbações.
Embora seja feita uma tentativa de individualização dos vários tipos de
sismitos, os SSD só podem devem ser interpretados num contexto sedimentar
global e nunca individualizados na sua tipologia de análise (Ghosh et al.,
2012). Isto é, depois de analisados em pormenor, devem ser inseridos num estudo
contextual e preferencialmente multidisciplinar.
Um sismo com magnitude suficientemente forte para perturbar estruturas
sedimentares é provavelmente capaz de assinar (deformações) de várias maneiras,
dependendo do suporte (sedimentar) onde escreve.