Propagandas e blogues como narrativas de políticas urbanas na cidade de Almada
Almada Terra Pensada. Terra Amada, Almada Nascente. Cidade
da Água. O Ontem pensado o amanhã desejado. (Texto
difundido em propagandas da Câmara Municipal de Almada).
Este país e esta Almada são um colosso! Anda tudo a fazer
pouco, da gente! (Frases publicadas no final dos textos do
blogue Triângulo da Ramalha).
Introdução
As epígrafes acima apresentam narrativas divergentes no contexto da definição
de políticas urbanas. Essas descrições fazem sentido no âmbito dos diferentes
discursos e imagens referentes a processos de intervenção nas cidades.
Denominados pelos decisores políticos como projetos de requalificação, esses
planos são executados especialmente em centros históricos, em áreas
degradadas ou em antigas zonas industriais e se baseiam, predominantemente,
na construção de novas edificações e nas apropriações do espaço urbano como
lugar de contemplação e de lazer.2 No contexto urbano atual, a divulgação de
propagandas oficiais desses planos de intervenção em outdoors, em revistas e em
eventos com a apresentação de maquetes de visualização tridimensional, para
além de informar, está a revelar processos sociais pertencentes à própria
cultura urbana contemporânea.3 São narrativas que estão a difundir uma conceção
de política urbana assente na valorização estética da arquitetura por meio do
planeamento estratégico.4 Porém, a propagação da ideia de transformação no
espaço urbano, como forma de estabelecer novos usos e apropriações tem gerado
muitas polémicas entre os discursos dos políticos e dos praticantes5 da
cidade. Está a existir um certo conflito simbólico no tocante à definição do
processo de requalificação urbana em diferentes meios de comunicação social.
No campo dessa disputa a respeito da definição de políticas urbanas atuais
destaco o antagonismo entre as narrativas das propagandas oficiais e dos
blogues sobre as cidades. Estes meios de comunicação manifestam diferenças na
descrição de um mesmo fenómeno. Enquanto as propagandas oficiais são utilizadas
pelos decisores políticos para divulgar a ideia da intervenção urbana como uma
boa estratégia para o desenvolvimento da urbe, os blogues são usados pelos
habitantes como um fórum de discussão com críticas e reflexões a respeito desse
processo de transformação da cidade. Estes fornecem pistas de como os discursos
dos agentes envolvidos nos projetos de transformação, especialmente dos
decisores públicos e dos arquitetos, são compreendidos pelos utilizadores dos
espaços urbanos.
Adotei essa temática como objeto de pesquisa a partir da observação de
outdoorscom imagens dos projetos de intervenção na cidade de Almada, em
Portugal, e do exame de diferentes blogues que criticam esses planos.6 O
referencial empírico para esta reflexão foram também revistas, distribuídas
pela Câmara Municipal de Almada, com informações que visam apresentar, divulgar
e explicar a implementação de programas de reformas urbana.
Os decisores políticos de Almada estão a apresentar diversos planos de
intervenção, tendo retido, para a reflexão que elaboro neste artigo, dois
projetos. O primeiro é denominado Almada Nascente Cidade da Água, elaborado por
um consórcio de três ateliês de arquitetura: Atkins, Santa Rita Arquitectos e
Richard Rogers Partnership. Esse plano está contemplado no projeto de
urbanização Arco Ribeirinho Sul e as suas imagens têm sido amplamente
divulgadas nas principais avenidas de Almada. O segundo programa analisado foi
Almada a um metro do futuro, que corresponde à instalação de uma linha de
metropolitano de superfície (Metro Sul do Tejo ' MST), que está integrado no
plano de requalificação do Largo de Cacilhas (Largo Alfredo Dinis). Essa obra,
bastante noticiada nos meios de comunicação, foi inaugurada em novembro de
2008.
Após a identificação e uma criteriosa avaliação dos blogues que discorrem a
respeito da cidade de Almada, a seleção de Emalmadae Triângulo da Ramalha, como
referência às reflexões deste artigo, obedeceu aos seguintes critérios: tecer
comentários sobre os projetos de intervenção na cidade de Almada e não assumir
vínculos com partidos políticos.
Partindo da premissa de que a relação entre imagem e texto constitui um melhor
significado para a comunicação (Chaplin, 1994), o suporte de análise para o
entendimento dessa problemática foi um exame das descrições e das
representações gráficas presentes nas propagandas dos projetos Almada Nascentee
Almada a um metrodo futuro e nos blogues Emalmada e Triângulo da Ramalha.7
Com base nessa investigação empírica, este artigo apresenta a seguir uma
articulação entre os conceitos de gentrification e de espetáculo, a partir
de estudos da Sociologia Urbana e da Arquitetura. A ênfase para essa reflexão
recai na ideia de cidade imaginada e de cidade observada. Em seguida, são
expostas, como suporte de observação, algumas narrativas das propagandas
oficiais e dos blogues referentes à política urbana na cidade de Almada. Por
fim, teço algumas considerações sobre os conflitos presentes nos discursos
veiculados por decisores políticos versusautores dos blogues, sendo relevante
assinalar que estes últimos se autointitulam como observadores da cidade.
Destaco, ainda, que a opção da cidade de Almada como objeto de estudo não
distancia esta análise de apreciações mais amplas sobre as narrativas de
políticas urbanas a partir da divulgação de projetos de requalificação em
outros contextos. O desafio aqui proposto foi o de investigar o conflito
simbólico que está a existir entre as propagandas oficiais e os blogues
enquanto diferentes compreensões das políticas de intervenção nas cidades.
1. A cidade requalificada
No âmbito dos estudos urbanos contemporâneos há um amplo debate a respeito dos
conceitos que explicam o processo de transformação urbana comummente designado
por requalificação. A socióloga britânica Ruth Glass, em London: aspects of
change(1964), foi pioneira na conceitualização desse processo ao adotar o termo
gentrification. Glass identified gentrification as a complex urban process
that included the rehabilitation of old housing stock, tenurial transformation
from renting to owning, property price increases, and the displacement of
working-class residents by incoming middle classes (Less, Slater e Wyly, 2008:
5).
Entretanto, a preponderância de numerosas práticas de enobrecimento urbano
com características distintas fez emergir outras formas de conceitualização.8
Para autores como Harvey (1992), Featherstone (1995) e Jameson (1997), a
espetacularização da arquitetura e a utilização do espaço como mercadoria é uma
expressão pós-moderna de planeamento das cidades.
Para Harvey (1992), a diferença entre a arquitetura modernista e a pós-
modernista está nos planos: enquanto os modernistas desenvolviam planos urbanos
em larga escala, os pós-modernos recortavam a cidade, viam o tecido urbano como
algo fragmentado, um palimpsesto de formas passadas, superpostas, uma
colagem de usos correntes, muitos dos quais eventualmente efémeros. Ou seja,
o projeto urbano pós-modernista ambiciona apropriar-se das tradições vernáculas
e das histórias locais, ou mesmo dos desejos, necessidades e fantasias
particulares, gerando formas arquitetónicas especializadas ( ) que podem variar
dos espaços íntimos e personalizados ao esplendor do espetáculo, passando pela
monumentalidade tradicional (Harvey, 1992: 69).
Um exame sucinto da história da arquitetura contemporânea nos permite perceber
que o modernismo não contemplava esse modelo de personalização e
espetacularização arquitetónica que caracteriza as intervenções urbanas
atuais. Nesse sentido, o arquiteto italiano Aldo Rossi, em 1966, já afirmava
que o projeto modernista matou as cidades, tornando-as internacionalizadas
e fazendo com que o cidadão perdesse todas as suas referências de identidade
numa cidade homogénea. Esse estilo internacional ' termo introduzido por
Henry-Russell Hitchcock e Philip Johnson, em 1932 ' tem sua origem relacionada
com a construção do Bairro Weißenhof, em Estugarda, na Alemanha, em 1927. Vale
salientar que a grande divulgação dessa obra de urbanização projetada por
Ludwing Mies van der Rohe e realizada por um grupo de arquitetos
internacionais, incluindo nomes como Peter Behrens, Walter Gropius e Le
Corbusier, impulsionou a organização, pela primeira vez em 1928, dos
CongrèsInternational d'Architecture Moderne (CIAM). Esse evento, que pode ser
definido como um marco da arquitetura moderna, contou, até ao ano de 1956, com
dez versões, e teve como principais temas: a habitação mínima, a arquitetura
racional e a cidade nova. O betão, o aço e o vidro foram os elementos que
mais contribuíram para a internacionalização da imagem das cidades e dominaram
o desenvolvimento arquitetónico até ao final dos anos 1960.
A rutura com esse international styletem como marco simbólico a polémica
exposição Strada Novíssimana Bienal de Veneza de 1980. Com o subtítulo A
presença do passado, a mostra fez um apelo à história com um destaque para a
frase: É de novo possível aprendermos com a tradição e vincularmos nosso
trabalho à finura e à beleza do passado. Ressalto que a importância histórica
desse evento foi expor pela primeira vez a arquitetura pós-moderna, que se
distinguia por uma crítica à universalização das formas.
A emergência dessa tendência na arquitetura tem dois nomes que se destacam: o
estado-unidense Richard Venture, autor deComplexity and Contradiction in
Architecture, publicado em 1966, e Learning from Las Vegas, de 19729; e o
italiano Aldo Rossi, autor de L'architettura della città, publicado em 1966,
traduzido para o português em 1977. Nos livros, assim como na obra de Venture,
encontramos um apelo à valorização da arquitetura vernácula ou mesmo ao kitsch.
Para esses autores, os gostos estéticos das pessoas deveriam ser respeitados.
Porém, como informa Harvey (1992), o problema é que o gosto não é uma categoria
estética. Segundo esse autor, o capital simbólico só se mantém como capital na
medida em que os caprichos da moda o sustentam (Harvey, 1992: 82). Assim, os
processos de gentrificationsão favorecidos por forças poderosas que
estabelecem novos critérios de gosto para a cidade. Atualmente está na moda a
recuperação da história, muitas vezes em forma de monumentos espetaculares,
simulacros ou pastiches. Nas palavras de David Harvey: Dar determinada imagem
à cidade através da organização de espaços urbanos espetaculares tornou-se um
meio de atrair capital e pessoas (do tipo certo) num período de competição
interurbana e de empreendimentismo urbano intensificados (Harvey, 1992: 92).
Para Zukin (1995), esse modelo arquitetónico caracterizou-se por uma
transformação do espaço vernacular em paisagem de poder.
A apresentação dos processos de requalificação de Almada é exemplar da adoção
desse paradigma. Por meio do sloganO ontem pensado, o amanhã desejado, os
decisores políticos dessa cidade estão a apresentar projetos de renovação que
se destacam pela revitalização de zonas histórias, retorno ou construção de
réplicas de monumentos antigos e transformação de áreas degradadas em zonas de
contemplação para atrair turistas e visitantes.
O arquiteto Rem Koolhass (2006) critica a visão historicista herdada dos pós-
modernistas e apoiada por alguns decisores políticos. Para esse autor, as
intervenções que as urbes vivenciam atualmente estão levando à construção de
uma cidade genérica. Nesse novo modelo de cidade nem sempre o passado se
reflete no futuro: a urbe está a emergir com uma nova identidade.
Nesse contexto, a cidade imaginada é projetada por meio de políticas de
requalificação e apresentada em revistas, fóruns e outdoorsde forma
fragmentada. Como é típico do paradigma de arquitetura pós-moderna, são ruas,
margens de rios, praças ou centros históricos que são redesenhados com linhas e
cores que os tornam mais belos. A partir das palavras de Debord (1997), é
possível afirmar que estamos a vivenciar a sociedade do espetáculo, em que a
imagem vem substituindo a realidade. Nesse sentido, tudo é instantaneamente
relacionado à imagem e à mercadoria, inclusive os novos espaços urbanos.
O arquiteto Neil Leach (2005), por meio de uma profunda crítica ao mundo
embriagante da imagem (Leach, 2005: 83), afirma que a estética da arquitetura
pode transformar-se na anestética ou anestesia da arquitetura. O mais grave,
como é salientado por esse autor, é que questões arquitetónicas com
ramificações importantes a nível social e político são frequentemente decididas
apenas numa base estética (Leach, 2005: 53).
É exatamente este desfasamento entre a cidade dos praticantes e dos projetos
que vem gerando um conflito simbólico. As imagens de planos arquitetónicos e
também os espaços da cidade requalificados estão a ser consumidos, muitas
vezes, a contragosto (Barreira, 2007; Bezerra, 2009; Leite, 2004). Nessa
disputa, que tem os meios de comunicação como cenário, os novos espaços são
apresentados de forma espetacularizada e são analisados, questionados e
criticados nos blogues. É um cenário de conflito entre as narrativas da cidade
imaginada e da cidade observada.
2. A cidade imaginada
Os argumentos explicitados nas propagandas da Câmara Municipal de Almada para
justificar as transformações na cidade baseiam-se nos seguintes indícios: uma
articulação com o estuário do Tejo e o incremento das suas complementaridades
com Lisboa; a transformação de espaços de trânsito automobilístico em áreas
pedonais para fins de lazer; a implementação de equipamentos turísticos,
culturais e de investigação; a preservação do meio ambiente; e o aproveitamento
das antigas estruturas industriais. Como pode ser visto a seguir, os projetos
Almada Nascentee Almada a um metro do futurosão, recorrentemente, apresentados
como planos que irão contribuir para a construção de uma nova cidade. Esta
ideia do futuro também é percetível nas imagens que projetam um novo estilo
arquitetónico a ser construído na margem Sul do Tejo.
O exame das representações gráficas, presente nas publicidades, permitiu
perceber que, antes dos novos lugares se consolidarem, a divulgação dos
planos arquitetónicos está a desempenhar o papel de apresentar aos potenciais
utilizadores os espaços projetados, e também está a ser utilizada pelos
decisores públicos como uma figura de linguagem que fetichiza a estética da
arquitetura e a transforma num meio de manifestar uma ideia de cidade e de uma
política urbana.
Na edição de novembro de 2008 da revista Almada informasão apresentadas algumas
simulações da futura Cidade da Água, acompanhadas de um texto com a seguinte
explicação a respeito do Plano de Urbanização Almada Nascente ' Cidade da Água:
Este projecto tem como objectivo reabilitar um conjunto de terrenos da Margem
Sul do Tejo outrora ocupados por grandes instalações industriais, agora
desactivadas, como é o caso da Lisnave, da Siderurgia Nacional e da
Quimiparque.
A análise das representações gráficas desse projeto revelou a busca de um
ordenamento e de uma disciplina no espaço urbano. Esse facto pode ser notado
nas imagens que apresentam uma perfeita sintonia entre as pessoas, os
automóveis, os transportes públicos e os espaços reabilitados. O aspeto de
gentrification, percetível em diversas figuras do projeto, é decorrente,
também, da inexistência de ocupações irregulares nos espaços públicos (figura
1).
É importante enfatizar que os projetos apresentam uma valorização da
permanência, ou mesmo ao retorno, de alguns elementos da paisagem do passado da
cidade. Como, por exemplo, a permanência do guindaste do antigo estaleiro naval
da Lisnave, do retorno do Farol e da construção de uma réplica do Chafariz de
Cacilhas. A valorização desses elementos, por parte do poder público, pode ser
interpretada como uma ideia de que a história e a memória da cidade devem estar
fixadas nas edificações. Ressalto, ainda, que os monumentos passam a ter um
sentido exclusivamente estético e podem ser definidos como estratégias para a
construção de ícones da cidade de Almada por meio do enaltecimento de símbolos
emblemáticos.
Dentre as diversas matérias publicadas na revista da Câmara Municipal de
Almada, em que é descrito passo a passo o processo de construção das linhas do
Metro Sul do Tejo (MST), selecionei as edições dos meses de abril, maio e
outubro de 2008. A matéria de abril de 2008, intitulada Espaço moderno e
funcional: largo de Cacilhas recebe terminal MST, descreve a construção do
terminal do MST em Cacilhas como um processo de requalificação.
Classificando-o como o novo Largo Alfredo Dinis, a matéria explica que o
terminal proporcionara um acesso mais rápido e confortável entre o barco e o
metro e acrescenta que o trânsito será disciplinado (figura_2).
Na revista de maio de 2008 há uma explicação do projeto Almada a um metro do
futuropor meio de uma matéria cujo título é: Uma cidade que se renova. De
forma resumida, há um destaque para as transformações da cidade, afirmando que
aos poucos, almadenses e visitantes começam a usufruir dos novos espaços que
vão sendo concluídos. Passeios mais largos, novas árvores e novo mobiliário
urbano renovam a cidade.
Na edição de outubro de 2008 há um destaque para a nova praça da Portela que
irá nascer em decorrência das obras do MST. Neste sentido, é afirmado que a
praça da Portela, no centro da freguesia do Laranjeiro, vai ser totalmente
requalificada; a nova praça ficará dotada de novas árvores, novo mobiliário
urbano e novo pavimento. A matéria é concluída com a informação de que a água
será um importante elemento, com uma fonte que proporcionará frescura a este
novo espaço público.
Outro objetivo dos decisores políticos de Almada é um apelo à diminuição do
trânsito automobilístico e à preservação do meio ambiente, como pode ser visto
nas narrativas dos outdoorsque divulgam o projeto Almada a um metro do futuro.
As publicidades do MST estabelecem uma relação entre a palavra metro de
metropolitano e a unidade de medida, fazendo nesse caso uma referência ao
encurtamento de distâncias dentro da cidade: Almada a um metro das compras,
Almada a um metro do trabalho, Almada a um metro de tudo ou Vais ter um
amigo no metro, um amigo do ambiente.
Outro dado importante refere-se à renovação e qualificação dos visitantes e
especialmente dos residentes. Esse facto está presente nos discursos que se
referem à implementação de equipamentos culturais voltados para o conhecimento,
como museus, universidades e centros de interpretação. As narrativas das
propagandas oficiais assinalam para a cidade imaginada a construção de novos
espaços para o lazer, o turismo e as indústrias criativas como justificativa
para as transformações humanas e espaciais.
3. A cidade observada
Se, nas propagandas oficiais, a política urbana de Almada é narrada por meio de
uma valorização dos projetos de requalificação que beneficiam o turismo e o
meio ambiente e, também, pela implementação de grandes obras, como a instalação
do metropolitano, que, por sua vez, é associada à modernização e ao futuro, nos
blogues as iniciativas urbanísticas da Câmara Municipal são narradas mediante
críticas e ironias aos diversos planos de intervenção.
A partir de uma rigorosa leitura nos blogues Emalmadae Triângulo da Ramalha,
com publicações desde janeiro de 2007, identifiquei como ponto de partida para
entender a relação entre esse meio de comunicação e as narrativas de políticas
urbanas na cidade de Almada os seguintes conteúdos: desaprovações ao
planeamento estratégico e à opção da Câmara Municipal pelo turismo; associação
dos projetos de requalificação com a destruição da cidade; definição dos Fóruns
de Participação como uma mentira; identificação das propagandas oficiais como
publicidade virtual, e críticas à política ambiental e ao MST como sendo os
responsáveis pela desertificação do centro de Almada.
Os textos publicados nos blogues são acompanhados de fotografias e comentários.
Emalmadaapresenta uma maior generalidade nos assuntos abordados e insinua a
falta de oposição à atual administração, enquanto que o Triângulo da Ramalhatem
como foco de suas críticas o MST e as consequências das obras de instalação do
metropolitano para a cidade. Como fonte de interpretação para o entendimento do
conflito entre as narrativas de políticas urbanas selecionei, a seguir, algumas
publicações relacionadas aos temas mais recorrentes em ambos os blogues.
Um dos principais aspetos desse meio de comunicação são as críticas à execução
dos planos de requalificação e a associação desses projetos à destruição da
cidade, como pode ser lido nesse texto de julho de 2010, do blogue Emalmada:
Quando os autarcas de Almada falam em requalificação', estão a referir-se à
destruição ( ). As pessoas desistiram de vir a Almada graças à requalificação'
parva a que a cidade foi sujeita com a criação física de obstáculos à
mobilidade e acessibilidades. Almada está morta.
O texto intitulado O Pacote de Visão Estratégica da CMA, publicado em outubro
de 2007, no blogue Emalmada, faz uma crítica à divulgação dos projetos de
intervenção que visam redesenhar a cidade. O autor defende a existência de um
descaso por parte da Câmara, gerando uma degradação, para, em seguida, surgirem
diversos planos relacionados a um melhor futuro por meio do planeamento
estratégico. Em... Almada é preciso esta Câmara não ter vergonha para aparecer
agora a intoxicar os almadenses com tantos projetos para o futuro, quando em 30
anos de gestão deixou o concelho degradar-se e perder competitividade
turística. Os projetos, inclusive o Almada Nascente Cidade da Água, são
definidos como muita visão estratégica e muito fogo de vista (sic) em tão
pouco tempo, depois de 30 anos de miopia política urbana, imobilismo e de vazio
de ideias para requalificar e desenvolver essas zonas e o concelho. Alguns
comentários a esse texto acusam ilegalidades no planeamento urbano.
O tema do turismo é focado no blogue Emalmadaem associação à questão do
planeamento estratégico; são feitas abordagens sarcásticas como nessa
publicação de dezembro de 2010, intitulada O Turismo Maravilha da Câmara de
Almada. Esse assunto é também relacionado à propaganda virtual,
especialmente quando se refere à venda de uma imagem que não existe na cidade,
como pode ser visto nessa publicação de agosto de 2010: Em...Almada a falta de
vergonha dos autarcas leva-os a vender gato por lebre a incautos, através de
propaganda artificial, falsa e enganadora. Muitos textos deste blogue chamam a
atenção dos leitores para que não confundam a imagem virtual, apresentada nas
propagandas oficiais da CMA, com o estado e as imagens reais da cidade. Esta
acusação pode ser lida numa publicação de outubro de 2007, intitulada
Vendedores de Ilusões:
Em...Almada vive-se um período de alta excitação municipal com a
apresentação de vários projectos... projectos... planos... planos e
mais projectos que se arrastam há muito no tempo e que têm
provavelmente, o único objectivo de fazer os almadenses esquecerem o
fracassado projecto MST, liquidatário da cidade de Almada.
Numa publicação de fevereiro de 2011, com o título A conversa fiada de
sempre, o autor denuncia que os projetos de requalificação não apresentaram
bons resultados, como pode ser visto nesta afirmação: Estranhamente, ainda há
quem acredite na mesma conversa da treta da CM, quando fala em requalificação;
o texto ironiza o facto de haver pessoas que acreditam no discurso dos
decisores públicos a respeito desse tema: Muitas pessoas parece que não sabem
ou fingem não saber no que deu o trabalho da requalificação urbana' levado a
cabo pela mesma gente da autarquia em Almada centro.
Sobre os Fóruns de Participação, alguns textos relatam que esta iniciativa não
está a cumprir o papel de ouvir as sugestões dos utilizadores do espaço urbano.
Em tom de denúncia, a publicação de fevereiro de 2011, intitulada A mentira
total, explica que o editorial Almada Território de Participação, da revista
Almada Informado mês de fevereiro, defendendo a participação nos fóruns, é uma
inverdade. Segundo o autor do blogue Emalmada, que classifica essa revista como
Pasquim Municipal, não há diálogo nas reuniões, havendo, inclusive,
represálias aos participantes que emitiam opiniões divergentes das ideias dos
decisores públicos: quem participou de algum fórum sabe que isso é mentira
pois eles não ouvem a população ( ). Os almadenses não esquecem os insultos de
que foram alvo quando qualquer um criticava as opções da presidente ou do
executivo ou opinava de maneira diferente do poder instalado.
Quanto à política ambiental, esta surge nos blogues por meio de textos, imagens
e comentários associados aos projetos de intervenção na cidade. Algumas
publicações denunciam também a falta de limpeza em algumas zonas de Almada, a
falha no cuidado das árvores e nos jardins do Concelho e na reposição do
sistema dunar da Costa da Caparica.10 Dentre os muitos textos que apresentam
essas abordagens críticas, destaquei a publicação de maio de 2010, Semana da
Verdura ' Semana da Lixeira, em que relaciona os erros da política ambiental
com os planos de requalificação. O texto também ironiza a opção do turismo como
forma de atrair pessoas para o Concelho:
Esqueceram-se até hoje, 26 de Maio de 2010, de fazer o corte,
limpeza e aparo do matagal onde era suposto existirem pequenos
canteiros a parecerem zonas devidamente cuidadas como a presidente
prometeu quando vendeu aos almadenses o barrete da requalificação
urbana com a chegada do Futuro, chamado MST, a Almada. Este verde
lindo', ao longo do trajecto do vanguardista MST, é para os milhares
de turistas captados pela CMA admirarem e sentirem como uma autarquia
defende e preserva o ambiente e ganha prémios internacionais.
Outra acusação recorrente é o facto de a implementação do MST ter levado ao
encerramento de muitas lojas. Por meio de fotografias do centro da cidade, em
horário comercial, os autores denunciam a desertificação do centro e criticam
as restrições ao trânsito de automóveis com a pedonalização de algumas ruas '
nomeadas nos blogues como ex-ruas. Como pode ser visto nas imagens abaixo, as
dificuldades de estacionamento levam os motoristas a estacionar em ruas
pedonalizadas. A falta de segurança para os pedestres e as despesas no
investimento desse meio de transporte são outras queixas registadas nos blogues
(figura_3 e 4).
No blogue Triângulo da Ramalhaessas questões são amplamente debatidas por meio
de publicações cujos títulos denunciam equívocos na política urbana, como, por
exemplo: MST obstáculo na cidade, janeiro 2011; O pedonal carnaval da Câmara
Municipal, fevereiro, 2011; Outro acidente mortal, agosto 2010; A tormenta
do comboio do futuro, fevereiro 2010; O comboio que desgraçou Almada,
janeiro 2010; e O caos instala-se, janeiro 2008. Frente a essa diversidade de
textos que refletem sobre esse fenómeno, segue abaixo uma publicação de abril
de 2010 intitulada Um Comboio no DESERTO. O texto destaca, mais uma vez, o
tema da destruição da cidade:
A Câmara de Almada, por pura cretinice municipal, subjugou todas as
críticas, ideias e sugestões de almadenses e munícipes a uma
orientação municipal controlada nas palas e rédeas direccionadas pela
presidente da Câmara de Almada. E assim Almada foi destruída, e hoje
é o deserto humano que todos os almadenses, munícipes e visitantes
conhecem.
A partir da análise das descrições dos blogues é possível perceber que
seguintes expressões ' degradar-se, falta de vergonha, propaganda artificial,
imagem virtual, Almada está morta, destruição, obstáculo à mobilidade,
requalificação parva, mentira ' podem ser interpretadas como um questionamento
sobre a legitimidade das narrativas das propagandas de políticas urbanas de
Almada. São classificações negativas que, ao enfatizarem o caráter virtual dos
planos de transformação e os erros na execução de algumas políticas, estão a
divulgar o que seriam narrativas legítimas e ilegítimas a respeito de
processos de intervenção urbana.
4. As narrativas e os indícios do conflito
A ênfase nos léxicos requalificação, reabilitar, novo, renovar, moderno,
disciplinadoe futuroe nas imagens de projetos arquitetónicos, muito divulgados
nas propagandas oficiais, demonstra que a descrição de cenários futuros é uma
característica da política urbana difundida pelos decisores públicos na cidade
de Almada. Originário do planeamento empresarial, o método dos cenários se
caracteriza pela configuração de imagens de futuro. Em 1988, com o surgimento
da Global Business Network (GBN) ' empresa de prospeção criada por Schwartz e
Wack ', teve início a popularização do emprego dos cenários como instrumento de
gestão estratégica.
A análise de cenários implica num método estruturado para lidar com as
incertezas e apoiar o planeamento empresarial. Porter (1990) define os cenários
como uma visão inteiramente consistente daquilo que o futuro poderia vir a ser.
Segundo esse autor, o surgimento da análise de cenários permitiu uma abordagem
mais completa das incertezas que afetam o ambiente industrial e muitas empresas
estão adotando esta técnica no planeamento estratégico.
No caso de Almada, a descrição prospetiva de novos espaços urbanos legitima,
para os decisores políticos, a apresentação de projetos que têm como base a
ideia de construção de uma cidade moderna e voltada para o futuro. Mas é
exatamente essa conceção, característica do planeamento estratégico aplicado
nas empresas e na administração pública, o indício do conflito simbólico entre
as narrativas das propagandas oficiais e as narrativas dos blogues.
A exposição de projetos de novos espaços acompanhados de uma valorização
estética da arquitetura está a ser questionada nas narrativas dos blogues. Na
verdade, a prospeção de cenários vai de encontro à ideia de cidade para os
praticantes. Como pode ser notado nas exposições dos blogues, as críticas
assentam numa inconformidade com a idealização de futuro das propagandas
oficiais. Baseando-se numa descrição dos espaços urbanos observados, ou seja,
em áreas que se encontram degradadas, sujas ou vazias, os autores desse meio de
comunicação estão a demonstrar a existência de um conflito simbólico entre uma
narrativa prospetiva e outra etnográfica.
Enquanto as propagandas oficiais explanam uma política urbana que prediz o
futuro através da visualização de imagens que geram cenários alternativos para
a realidade atual, os blogues estão a relatar uma política urbana que está a
destruir a cidade, criando obstáculos à mobilidade e implementando
requalificações parvas. Ou seja, as narrativas dos blogues manifestam uma
discordância com as propagandas e consideram ilegítima a idealização de uma
cidade requalificada, reabilitada, renovada, disciplinada e moderna.
Entretanto, é importante ressaltar que esse conflito simbólico está na base do
debate em torno da relação entre a gestão urbana e o planeamento estratégico,
nos moldes do projeto empresarial. Segundo essa compreensão, as cidades estão
submetidas às mesmas condições e desafios que as empresas (Bouinot &
Bermils, 1995). Nesse sentido, autores como Borja & Castells (1997) definem
o planeamento estratégico como uma necessidade da gestão urbana e que os
decisores públicos devem pensar a cidade como uma mercadoria a ser vendida. Foi
exatamente essa ideia que fez surgir o marketing urbanoou city marketing.
Como parte desse fenómeno, diferentes cidades da América e da Europa vêm
adotando esse projeto como política urbana. Assim sendo, posso concluir que as
disputas simbólicas que estão a existir entre as narrativas das propagandas e
dos blogues assemelham-se à disputa entre a citye a polis, descrita por Vainer
(2002: 101). Para este autor, a mercantilização do espaço público está a ser
contestada e os citadinos investidos de cidadania politizam o quotidiano e
quotidianizam a política. De um lado está a cityou a cidade dos decisores
públicos, impondo-se como sujeito de negócios, ou seja, a cidade das imagens
dos projetos arquitetónicos que apresentam cenários futuros; e, de outro, a
polisou os citadinos.
Nesse entendimento de urbanidade são anunciados novos produtos para a cidade,
como, por exemplo, espaços de lazer, projetos culturais e requalificação de
zonas históricas. Enquanto defensores dessa conceção de gestão, Castells &
Borja (1996) afirmam que os decisores políticos devem insistir na atração de
investidores, visitantes e usuários solventes. Mas, do outro lado desse
conflito, está a polis, ou seja, a cidade dos praticantes que é descrita nos
blogues a partir de uma observação do espaço habitado e que busca a
possibilidade da urbe como espaço de encontro e dos usos e práticas sociais
quotidianas.
Considerações finais
Após desenvolver os objetivos propostos na introdução deste artigo, as
considerações finais permitem realizar algumas ponderações a respeito da
disputa simbólica entre as propagandas e os blogues enquanto narrativas de uma
política urbana. O melhor percurso para esta análise é ir além do debate em
torno das denúncias e críticas negativas dos blogues. É importante demonstrar
que o conflito emerge da diferença entre uma descrição prospetiva ou uma
descrição etnográfica da cidade.
O conflito simbólico em torno das narrativas traduz a necessidade de
refletirmos sobre alguns indícios que compõem o cenário das intervenções
urbanas na atualidade. Nesse sentido, os pontos de partida para entendermos as
descrições das propagandas oficiais são os seguintes: primeiro, a questão da
valorização estética da arquitetura, ou seja, os projetos dos arquitetos estão
a ser apropriados pelos decisores políticos para apresentar a cidade ideal,
limpa, bem planeada e com atributos de beleza e harmonia. O segundo ponto é a
ideia de futuro, que está na essência dos projetos de requalificação; neste
caso, as narrativas das intervenções ostentam novos espaços especialmente
relacionados ao lazer, turismo e atração de novos visitantes e habitantes. Em
terceiro lugar, é percetível nas descrições oficiais a ideia da prospeção de
cenários futuros, facto que revela a implementação do planeamento estratégico
na gestão urbana, o que explica a existência de uma competição entre cidades
para atrair equipamentos, empresas e usuários solventes e, assim, a
consequente necessidade do city marketingpara vender a nova cidade.
Quanto aos blogues, o aspeto principal a ser destacado é o processo realizado
para a elaboração das críticas. Neste caso percebo que a observação
participante e a descrição detalhada dos espaços urbanos, com a recolha de
imagens fotográficas, são um importante caminho utilizado pelos autores desse
meio de comunicação. Ou seja, está a existir um emprego de técnicas
características do método etnográfico. E é exatamente essa aproximação entre os
praticantes e os espaços urbanos, in loco, que fundamenta as narrativas sobre
a política urbana que está a ser implementada na cidade de Almada.
Entretanto, discorrer sobre as narrativas de políticas urbanas, especificamente
no tocante às intervenções na cidade, pressupõe perceber o significado das
prioridades na definição dessas políticas, embora estas preferências sejam
objeto de constantes conflitos simbólicos. As explanações do que deve ser
mantido, modificado e construído na urbe são inseparáveis dos diversos
interesses dos atores sociais. Nesse sentido, a legitimidade das narrativas das
propagandas e dos blogues está relacionada com os seus diversos protagonistas,
ou seja: os decisores políticos, os arquitetos, os designers, os publicitários,
os jornalistas e os diferentes autores e comentadores dos blogues que se
autointitulam observadores da cidade.
Por fim, posso reafirmar que as descrições das propagandas oficiais, com a
apresentação de espaços requalificados, e dos blogues, com as denúncias de
uma cidade destruída, fazem o panorama da disputa simbólica em torno da
legitimidade das narrativas de políticas urbanas. Essas exposições estão a ser
produzidas em meio à tensão entre a cidade imaginada e a cidade observada.
Notas
1 Doutora em Sociologia pela Universidade Federal do Ceará (Ceará, Brasil) e
pós-doutoranda do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra
(Coimbra, Portugal), bolseira da Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT). E-
mail: lane.bezerra@hotmail.com
2 Alguns estudos revelam que esse fenómeno refere-se ao aumento das políticas
de património como parte do planeamento estratégico para expandir o mercado de
captação de recursos (Fortuna, 1997; Leite, 2004; Ferreira, 2005; Arantes,
2009; Peixoto, 2009).
3 Para alguns críticos dessa multiplicação de projetos de intervenção urbana,
como o antropólogo Franco La Cecla (2011), a estética se sobrepõe às
necessidades dos utilizadores dos espaços urbanos. Nas palavras desse autor,
nunca como hoje a arquitetura esteve tão na moda. Para Neil Leach (2005), a
arquitetura encontra-se comprometida com o lado estético e tudo se resume a
imagens.
4 O plano estratégico é inspirado em conceitos e técnicas oriundos do
planeamento empresarial e, segundo seus defensores, deve ser adotado pelos
governos em razão das cidades serem submetidas às mesmas condições e desafios
que as empresas. É definido, também, como um projeto de urbanidade que se
baseia na competição entre cidades e na mobilização e cooperação de diferentes
atores sociais urbanos (Sánchez, 2003, 1999; Borja & Castells, 1997;
Bouinot & Bermils, 1995).
5 Michel de Certeau (1994) define como praticantes os utilizadores do espaço
que, na condição de consumidores, imprimem marcas pessoais e sentidos para além
das determinações arquitetónicas.
6 Almada, no início dos anos 2000, tornou-se a sexta cidade mais populosa de
Portugal, com cerca de 160 mil habitantes. Pertence ao distrito de Setúbal e
está subdividida nas freguesias de Almada, Cacilhas, Cova da Piedade, Pragal,
Laranjeiro, Feijó, Caparica, Charneca da Caparica, Costa da Caparica, Sobreda e
Trafaria. Está limitada a leste pela cidade do Seixal e a sul por Sesimbra.
Possui uma longa costa a oeste para o Oceano Atlântico e a norte e nordeste
abre-se para o Estuário do Tejo em frente aos municípios de Lisboa e de Oeiras.
7 Por estarem em causa as observações de um processo de requalificação urbana a
partir de meios de comunicação, o presente artigo não se centra na análise da
questão do espaço público virtual.
8 Rubino (2003; 2009) denomina essa prática, no Brasil, como enobrecimento
urbano e explica que esse léxico deixou de ter um significado descritivo para
tornar-se uma categoria analítica. Leite (2004; 2009) opta por não traduzir
esse conceito e classifica como gentrification um tipo específico de
intervenção que modifica a paisagem urbana por meio de um forte apelo visual,
adequando-a às demandas de valorização imobiliária, de segurança, de
ordenamento e de limpeza urbana. O autor português Paulo Peixoto (2009) informa
que os vocábulos requalificação e reabilitação urbanas, estando enquadrados por
uma retórica pluridisciplinar, adquirem alguma ambiguidade e oscilam entre o
caráter descritivo e analítico do seu significado. Fortuna (1997) denomina como
destradicionalização as intervenções urbanas contemporâneas que se voltam
para a revalorização da cultura e do património com vista à adequação das
cidades no contexto de concorrência intercidades.
9 Ambos os livros estão disponíveis em português com os títulos: Complexidade e
Contradição em Arquitetura (2004), editora Martins Fontes, e Aprendendo com Las
Vegas (2003), editora Cosac & Naify.
10 Os textos do blogue Emalmada que abordam essas questões estão presentes em
diferentes publicações. Porém, destaco as edições de dezembro de 2010 e de
fevereiro e março de 2011.