Rituais familiares: práticas e representações sociais na construção da família
contemporânea
Introdução
Sou sociólogo. Especializado no estudo da família. Tento desvendar os segredos
deste domínio íntimo que acreditamos conhecer profundamente, porque nele
vivemos diariamente2. Estas palavras de Jean-Claude Kaufmann (1989: 7) são
particularmente reveladoras do desafio que enfrentamos no momento em que nos
interessa, também a nós, a compreensão da família contemporânea3. Se é certo
que o ofício do sociólogo se constrói sobre a operacionalização do imperativo
que nos impele a tornar estranho aquilo que nos é familiar, certo é que este
imperativo é tanto mais difícil de operacionalizar quanto o objeto sobre o qual
nos detemos é de tal forma familiar que recai, precisamente, sobre a família.
Ora, como captar, empiricamente, a família contemporânea? Por um lado, a
família contemporânea não existe senão como construção social (Berger e
Luckmann, 1999; Saraceno, 1997); por outro, não existe uma família
contemporânea, do mesmo modo que não existe uma família do passado, da
Antiguidade Clássica ou do Antigo Regime. Ainda assim, é possível identificar
no plano da abstração teórica traços que de um modo mais ou menos global
procuram enfatizar as principais características da família num determinado
momento histórico-social, construindo, assim, o modelo dominante em termos de
teorização sociológica. A literatura está, aliás, repleta de exemplos do
trabalho de sociólogos que se preocupam com o estudo, a análise e a compreensão
da família contemporânea, objetivos e projetos intelectuais visíveis
inclusivamente nos títulos escolhidos para as suas obras4. Mais de cem anos
volvidos sobre a lição Introduction à la sociologie de la famille5, move-nos
exatamente o mesmo móbil de Durkheim, o de estudar não a família do passado ou
a família do futuro, mas a família contemporânea, aquela que existe atualmente
aos nossos olhos e no seio da qual vivemos (Durkheim, 1975: 7).
Com base nos resultados obtidos a partir de uma investigação que tomou como
objeto empírico o estudo dos rituais familiares na contemporaneidade (Costa,
2011), procuramos neste texto questionar e discutir o alcance das teorias da
desinstitucionalização, individualização e risco enquanto chave explicativa
para a compreensão sociológica do que é, hoje, a família.
1. Desinstitucionalização, individualização e risco. A família líquida?
O campo de estudos coberto pela Sociologia da Família tem sido um laboratório
de ensaio das teorias desenvolvidas pelos grandes pensadores sociológicos,
acompanhando-as epistemológica e temporalmente. Estudar a família é, por isso,
estudar também o modo como esta, enquanto objeto científico, tem sido
perspetivada na relação (e associação) com forças sociais mais amplas, como a
industrialização, o capitalismo ou o patriarcado (Smart, 2007).
Na atualidade, são as teses da individualização, desinstitucionalização e
risco, hegemónicas no pensamento social contemporâneo a partir dos anos 90 do
século XX e já nos anos 2000 (Brannen e Nielsen, 2005), que fazem a ligação
entre a ordem social mais ampla e a mudança na família, nomeadamente a
explicação para o conjunto de mudanças radicais a que assistimos na sociedade
ocidental contemporânea6. É nas agendas de trabalho de autores como Anthony
Giddens (1996; 2000a; 2001), Ulrich Beck (1992), Ulrich Beck e Elisabeth Beck-
Gernsheim (1995; 2002), Beck-Gernsheim (2002) e Zygmunt Bauman (1999; 2001;
2006) que, partindo do indivíduo, se discutem agora questões como as das
funções, contornos e até o futuro da família. Nestas teses, a mudança na
família justifica-se por processos gerais de mudança social (como a maior
igualdade, escolarização, globalização, etc.), donde resultou uma
individualização crescente que confere aos indivíduos o poder (e dever)
para moldar a sua biografia (Beck, Giddens e Lash, 1994).
A nível macro, esta meta-teorização sugere grandes tendências e procede a um
conjunto de generalizações sobre a direção da mudança na sociedade ocidental
(Brannen e Nilsen, 2005). As críticas que lhe são endereçadas insistem,
justamente, no modo como estas teses apresentam uma imagem demasiado homogénea
da família e das relações interpessoais contemporâneas. Uma visão
monocromática, para utilizar a expressão de Carol Smart e Beccy Shipman
(2004), retomada mais tarde por Déchaux (2007). Acusadas de insuficiente
ancoragem empírica (Brannen e Nielsen, 2005), alimentam por meio de um discurso
dedutivo e generalista a ideia de, senão desaparecimento, instabilidade,
diluição e fragilidade da família. De facto, a apresentação das coordenadas
espácio-temporais que nos ajudariam a compreender a contextualização das
afirmações é geralmente parca, vaga e as fontes empíricas muitas vezes
omitidas7. Apesar disso, esta teorização influência de modo notável a
representação da família contemporânea junto da comunidade de jovens aprendizes
de sociólogos ou leigos na matéria, cuja principal via de acesso à Sociologia
passa pela leitura de obras de alcance mais geral, como os manuais
especificamente desenvolvidos para o público universitário 8. Nestas obras, a
imagem que é dada da família e das relações íntimas na contemporaneidade é a de
uma realidade em mudança permanente. Também aí o ponto de partida é quase
sempre o debate sobre o (aparente) declínio da família e dos valores familiares
na sociedade pós-industrial. Num cenário atravessado pelo discurso penetrante e
sedutor das teses de individualização e risco, a família surge nestas obras
como uma categoria difusa, afastada da instituição e com uma ênfase muito
forte nas ideias de instabilidade, diluição e fragilidade.
A nível micro, as teses da desinstitucionalização, individualização e risco têm
sido, nos últimos anos, responsáveis por um ímpeto dado ao estudo e à
investigação de novos modos de intimidade não cobertos pelas definições cada
vez menos consensuais de parentesco, casamento ou coabitação heterossexual.
Prova disso é a forte atividade tanto de investigação, como editorial, donde
resulta uma recente, intensa e diversificada literatura ancorada em estudos de
micro ou grande escala, de índole mais qualitativa, quantitativa ou ambas, e de
corte mais transversal ou longitudinal (Smart e Shipman, 2004; Déchaux, 2007).
É certo que as novas famílias ou os novos estilos de vida9 não cabem nas
categorias pré-estabelecidas e qualquer tentativa para forçar a adequação
destas novas formas aos velhos recipientes iria, inevitavelmente, falsificar
a realidade (Beck-Gernsheim, 2002: 3). Mas o que estes estudos têm demonstrado
é que a família enquanto constructo social continua a existir para além das
categorias sociológicas que a dão como incrustada, zombie ou líquida. A
desinstitucionalização, a individualização e o risco de que falam Beck, Beck-
Gernsheim, Giddens e Bauman surgem, no campo específico da Sociologia da
Família, como traços de uma contemporaneidade objetivada no ideal da família
conjugal e relacional moderna, triplamente construída como um processo de
sentimentalização, privatização e individualização (Ariès, 1988; Shorter, 1995;
Burguière et al., 1995; Kellerhals, Troutot e Lazega, 1989; Singly, 1993 e
2001; Kaufmann, 2000 e 1993; Roussel, 1989). As afirmações segundo as quais os
indivíduos fazem escolhas fáceis, egoístas ou abandonam compromissos
estão, assim, a ser desafiadas e nalguns casos refutadas por um conjunto
crescente de estudos que, ao nível empírico, olham a contextos sociais
particulares, em espaços e tempos concretos (Brannen e Nilsen, 2005). Para lá
da retórica das imagens da família, estes estudos têm contribuído para trazer
para o discurso sociológico uma visão mais policromática e texturada das
famílias (Smart, 2005; 2007).
Não há dúvida que os conceitos de família e parentesco estão a ser
reinventados, exigindo uma elasticidade conceptual e redefinição (Beck e
Beck-Gernsheim, 1995:20). Mas independentemente do caráter mais ou menos
efémero e frágil das relações contemporâneas e apesar do contexto de
risco que as circunda, os mecanismos de atração ' e não apenas os de
repulsa ' continuam a existir. Depois de argumentarem inicialmente sobre o
modo como a lógica inerente ao processo de individualização estaria a produzir
uma sociedade sem famílias, feita apenas de indivíduos (Beck, 1992: 116),
estes autores viram-se mais tarde obrigados a assumir a existência de uma
família pós-casamento (Beck e Beck-Gernsheim, 1995: 145) e pós- familiar (Beck-
Gernsheim, 2002: ix). A conclusões semelhantes chegam outros, nomeadamente
Giddens (1996), para quem o compromisso é condição de revelação ao outro, e
Bauman (1999), que vê na ambivalência que caracteriza a contemporaneidade uma
ânsia e procura incessante pela ligação emocional. Ora, como assinala Théry
(1993), a família sobrevive à des-conjugalização e à des-coabitação e,
aparentemente paradoxal, a experiência de estilos de vida individualizados
afirma a procura pelo mundo da intimidade, segurança e proximidade (Crow,
2005). As famílias continuam, afinal, a existir e a afirmar-se na sua
pluralidade e diversidade.
Questionamo-nos, então, sobre o que constrói uma família mais do que aquilo que
a torna efémera, fluida e frágil. Vejamos como.
2. Do sagrado à vida de todos os dias: práticas, rituais familiares e
imaginação sociológica
Na esteira de David Morgan (1996, 1999, 2011), propomo-nos olhar e
conceptualizar as famílias não por aquilo que são ou para que servem, mas
pelo que fazem. Optámos por analisar as práticas familiares,
especificamente os rituais familiares, reconhecidos por vários autores como uma
das portas de entrada para o estudo das representações e práticas na e da
família (Bossard e Boll, 1950; Imber-Black e Roberts, 1993; Neuburger, 2003;
Gillis, 1996).
As dificuldades associadas à definição de ritual familiar tornam-se mais
complexas no quadro de uma paisagem caracterizada pela diversidade de áreas
disciplinares de origem dos investigadores atraídos pelo estudo deste objeto
desde que, em 1950, James Bossard e Eleanor Boll publicaram Ritual in Family
Living(Bossard e Boll, 1950).Não obstante, as origens do estudo do ritual
confundem-se com a própria origem da Antropologia e Sociologia. Foi, aliás,
associado ao estudo da religião, do sagrado, da magia ou do divino que os
rituais começaram por ser cientificamente construídos como objeto de estudo. De
salientar o trabalho indelével de Émile Durkheim em Les Formes Élémentaires de
la Vie Religieuse(2002), cuja abordagem aproxima rito e religião, e enfatiza,
no domínio do sagrado, a função social do ritual, ausente na esfera do profano.
A Antropologia viria, ela própria, a estar inextricavelmente associada ao
estudo dos rituais, inicialmente por força das origens já enunciadas e, mais
tarde, pela mão de Arnold Van Gennep (1965), Edmund Leach (1954) e Victor
Turner (1980, 1995). Mas os desenvolvimentos na abordagem dos rituais passam
também pela própria Sociologia. Depois que em 1950 James Bossard e Eleanor Boll
publicaram Ritual in Family Living, os contributos de Erving Goffmann (1974) e
Pierre Bourdieu (1982) são, porventura, aqueles que mais se destacam nesse
domínio.
À medida que a perspetiva antropológica e sociológica caminhou do sagrado para
a vida de todos os dias, a aplicação da categoria ritual ao domínio
particular da sociologia da família conheceu avanços e retrocessos. A fim de
operacionalizar este conceito, definimos rituais familiares como práticas
prescritas que resultam da interação familiar, direcionadas para um fim
específico e das quais se pode retirar um significado simbólico.
Adicionalmente, partimos de uma classificação considerada clássica ' proposta
por Wolin e Bennett (1984) ' que distingue entre celebrações, tradições e
interações padronizadas, para designar esses dias, momentos ou acontecimentos,
considerados especiais na vida dos indivíduos e das famílias. Os primeiros '
as celebrações ' são simultaneamente os mais organizados e mais esporádicos
(e.g. associados ao nascimento, casamento ou morte), ao passo que os últimos '
as interações padronizadas ' são os mais espontâneos e frequentes (e.g.
práticas quotidianas associadas ao dormir, alimentação ou lazer). Entre um e
outro, as tradições afirmam-se por relação à idiossincrasia de cada família
(e.g. os modos particulares de festejar os aniversários, ocupar as férias de
verão ou celebrar o Natal).
O estudo dos rituais familiares convida-nos, assim, a relativizar o diagnóstico
atual de fluidez da família contemporânea. Através dos rituais a família
observa-se, percebe-se e sente-se (Kaufmann, 1997: 142), construindo-se quer
enquanto realidade objetiva, quer enquanto representação (Bourdieu, 1993;
Gillis, 1996).
Foi neste enquadramento que definimos a principal questão de investigação:
quais são, como se caracterizam e que lugar ocupam os rituais familiares na
construção da família contemporânea? Face a este enigma, estabelecemos como
objetivo último o de retratar e compreender, por dentro e na sua diversidade, o
modo como os rituais familiares ajudam à construção da família contemporânea,
já que sociólogos e antropólogos sugerem que os rituais constituem uma forma de
as famílias delimitarem as suas fronteiras, estruturarem a definição e a
atribuição de papéis, e criarem e reafirmarem uma representação e sentido sobre
elas próprias e a sua existência. Implicitamente avançámos na investigação com
a hipótese geral de que os rituais familiares constituem lugares de construção
da família contemporânea (para dentroe para fora) e que, acompanhando o
processo de modernização da família, são hoje tendencialmente privados,
individualizados e sentimentais, ao mesmo tempo que fortemente matizados por
estruturas e dinâmicas familiares, contextos sociais de pertença e dinâmicas de
género.
É justamente a explicitação do caminho metodológico que nos conduziu das
interrogações e intenções de partida ao artesanato intelectual (Mills, 1975)
' que, em última instância, a apresentação de resultados representa ' que
expomos na secção que se segue.
3. Das interrogações de partida ao artesanato intelectual
Se, como afirma Barbara Fiese, cada família define o que é importante para si
e dá significado às práticas diárias e celebrações especiais (Fiese, 2006:
3), teremos, necessariamente, de deixar às próprias famílias ' e aos seus
protagonistas ' a possibilidade de dizer o que constitui e não constitui um
ritual familiar e onde radica o caráter especial que lhe é atribuído ou
reconhecido. Ao encontro da tradição weberiana (Weber, 1947) privilegiámos uma
abordagem qualitativa, intensiva e em profundidade, com vista à compreensão dos
significados, interpretações e experiências subjetivas associadas aos rituais
enquanto práticas familiares.
Para o recorte da amostra optámos por um processo de amostragem teórica
(Glaser e Strauss, 1967), nele procurando estudar componentes não estritamente
representativas, mas características da população (Quivy e Campenhoudt, 1992:
164). De modo mais específico, seguimos um processo de amostragem por caso
múltiplo, a amostra por homogeneização (Pires, 1997). Neste tipo de amostra,
o controlo da diversidade não é realizado face a elementos externos ao conjunto
de indivíduos selecionados, mas internamente, procurando com isso as variáveis
mais pertinentes que fazem variar a posição do ator perante o objeto em estudo.
Reunindo as diversas pistas suscitadas a partir da revisão da literatura
selecionámos indivíduos a viver em contextos familiares diversificados,
especificamente os que derivam da morfologia familiar em presença e respetiva
duração da situação conjugal, e ainda do número e idade dos filhos. Sob pena de
cairmos na singularidade e especificidade de cada caso, o que nos
impossibilitaria de extrair para a análise algumas regularidades sociais,
optámos por circunscrever o recorte empírico a famílias bi-parentais e
monoparentais (materno e paternocêntricas). Desta forma, introduzimos na nossa
amostra um princípio de diversidade interna (Pires, 1997), central para o tipo
de amostra adotado e, simultaneamente, revelador e heurístico para a realidade
das famílias cujo quotidiano é alterado pela via do divórcio ou separação entre
parceiros (Imber-Black, Roberts e Whiting, 2003; Johnson, 1988; Whiteside,
1989; Pett, Lang e Gander, 1992; Lobo, 1995, 1996 e 2009). Para as várias
morfologias familiares, entrevistámos homens e mulheres (dado o interesse em
captar as narrativas masculina e feminina sobre os rituais familiares),
submetidos a um critério de duração, privilegiando-se a seleção de indivíduos
há pelo menos dois anos na situação conjugal atual10. Um segundo critério de
constituição da amostra contempla a situação dos indivíduos perante a
parentalidade. Neste domínio, e porque estudos anteriores apontam também para a
diversidade e complexidade de rituais familiares em função do número e idade
das crianças (Lueschen et al.,1971; Fiese et al., 1993; Churchill e Stoneman,
2004), privilegiámos a seleção de pais e mães de filhos com idade compreendida
entre os 3 e os 14 anos.
Diversificada a amostra em função da conjugalidade, parentalidade e género,
optámos por homogeneizar os meios sociais de pertença (definidos a partir do
capital escolar e profissional dos seus membros) e a origem geográfica dos
entrevistados. Uma vez que o objetivo geral se centra no estudo dos rituais na
família contemporânea, o nosso enfoque recaiu sobre indivíduos de classe média,
selecionados empiricamente a partir do nível de instrução mínimo que contempla
a conclusão do ensino secundário, e profissões centradas nos primeiros grupos
da Classificação Nacional das Profissões11.
Finalmente, quanto à delimitação espacial, a opção foi a de tomar uma cidade
como Évora, de média-dimensão, que, em contexto português, representa, de algum
modo, a norma dentro da exceção que constituem as duas únicas áreas
metropolitanas do país. Por outro lado, a opção por uma cidade de média
dimensão vem descentralizar a investigação sociológica em torno da família,
afastando-a da área metropolitana de Lisboa onde tem sido particularmente
profícua (Almeida, 1993; Torres, 1996 e 2002; Guerreiro, 1996), para avançar
para novos terrenos. À semelhança de outros estudos em profundidade (Wall,
1998; Lalanda, 2003; Dias, 2004), procuramos, assim, contribuir para o
aprofundamento do conhecimento científico e para a compreensão de um cenário
mais exaustivo sobre o quotidiano e as dinâmicas das famílias no Portugal
contemporâneo que já conhecemos (Wall, 2005). Em suma, entrevistámos para o
nosso estudo homens e mulheres de classe média, com pelo menos um filho com
idade compreendida entre os 3 e os 14 anos de idade, residentes na cidade de
Évora (Portugal) e que, independentemente da situação conjugal à data da
entrevista, nela estivessem há, pelo menos, dois anos.
Efetivamente procurámos construir uma amostra que desse conta da máxima
variabilidade dentro da tipicidade associada aos critérios estabelecidos à
partida.
Atendendo aos propósitos e aos contextos da investigação, a amostra final foi
empiricamente construída de modo intencional (não probabilístico) e os
entrevistados selecionados a partir da combinação de diferentes técnicas de
recrutamento, tanto a de conveniência (através das redes pessoais e
profissionais da investigadora), como em bola de neve (entrevistados acessíveis
a partir de outros entrevistados).
O recurso a uma entrevista qualitativa foi a forma que encontrámos para captar
a perspetiva interior sobre o indivíduo enquanto membro de uma família que
pretendíamos. Ao fazê-lo, identificamo-nos com a já longa tradição qualitativa
de análise dos rituais familiares (Bossard e Boll, 1950; Viere, 2001; Fiese et
al., 2002) e reconhecemos as suas mais-valias para os objetivos em presença,
sobretudo quando comparadas às metodologias quantitativas12. A solução
encontrada passou, então, por privilegiar a aproximação à entrevista de
episódio (Flick, 1997; 2005). Este tipo de entrevista parte do pressuposto que
as experiências dos indivíduos são armazenadas e recordadas na forma de
conhecimento semântico (conceitos e inter-relações entre conceitos) e de
narração de episódios (experiências, situações e circunstâncias concretas).
O trabalho de campo decorreu nos anos de 2008 e 2009. No final, obtivemos um
total de trinta entrevistas válidas, integralmente conduzidas pela
investigadora e registadas com recurso a gravador áudio. Após a transcrição
verbatimprocedemos à análise interpretativa dos dados através de uma análise de
conteúdo, tendo como pano de fundo a tradição sociológica de análise
qualitativa (Glaser e Strauss, 1967). As narrativas analisadas foram
perspetivadas não como um fim em si mesmo mas como uma janela para a
experiência humana (Ryan e Bernard, 2000: 769) em busca de significado e
compreensão e seguindo de perto as orientações de Laurence Bardin (1977) para a
análise categorial temática e estrutural. Do ponto de vista instrumental, a
análise de conteúdo foi efetuada com recurso a softwarepara análise qualitativa
de dados (NVivo, ©QSR International). Finalmente, para a apresentação dos dados
e para a análise e discussão de resultados, optámos pela reconstrução textual
de narrativas contextualizadas (Flick, 2005) 13. São justamente as principais
conclusões deste trabalho que apresentamos e discutimos nas páginas que se
seguem.
4. Pequenos e Grandes Dias
Perante o discurso dedutivo e generalista de boa parte das definições e aceções
aparentemente acabadas que, no domínio da teorização social contemporânea,
adjetivam a família de efémera, fluida e frágil (Brannen e Nielsen,
2005), pretendíamos, com este estudo, alcançar uma compreensão ampla, plural e
atual das inúmeras evidências pelas quais a família se nos apresenta na
contemporaneidade enquanto categoria realizada (Bourdieu, 1993). De modo
transversal ao modelo de análise, na recolha de dados e, por fim, na análise
que empreendemos, procurámos mapear a família nos seus múltiplos tempos e
espaços diurnos e noturnos, ritmos matutinos e vespertinos. No dia a dia, ao
longo da semana, do ano e no tempo das suas vidas, atentámos a pais e filhos,
adultos e crianças e as muitas famílias a que pertencem: bi- parentais,
monoparentais, nucleares e alargadas. Instigámos a linguagem silenciosa do
espaço e a dimensão oculta do tempo como dimensões simbólicas estruturantes
(Hall, 1986; 1996) e, por fim, encontrámos momentos iguais e banais, mas
também alguns outros diferentes e especiais.
Centrados nos rituais familiares e com a questão de partida em pano de fundo,
guiou-nos o conjunto de três sub-questões principais definidas ao início.
Procurámos, primeiro, a resposta para a identificação das celebrações,
tradições familiares e interações padronizadas que estruturam a constelação dos
rituais familiares; depois, a sua caracterização em termos de protagonistas,
espaços, tempos, sensações, símbolos e significados; por fim, a revelação das
relações que estabelecem e o modo como se articulam com as estruturas e
dinâmicas familiares, os contextos sociais de pertença e as dinâmicas de
género.
Inscritos no calendário familiar (Daly, 1996), simultaneamente construído a
partir do interior mas também pelo exterior (Imber-Black e Roberts, 1993),
concluímos pela existência de uma multiplicidade e diversidade de rituais
familiares. Centrados sobre a díade conjugal, a criança tomada individualmente
ou na sua interação com pais e pares, ou ainda na família como um todo, os
rituais ora envolvem o casal, ora mobilizam pais e mães a solocom os respetivos
filhos, ora envolvem toda a família, incluindo nalguns casos também não-
familiares.
Mas, o que confere a determinadas práticas a adjetivação de ritual familiar? Os
dados analisados destacam três dimensões como especialmente importantes.
Primeiro, o tempo. Distintos das rotinas nas dimensões de comunicação,
compromisso e continuidade (Fiese et al.,2002; Fiese, 2006), os rituais
familiares são momentos ou eventos que reservam para si um tempo protegido, que
alteram a normalidade e que no quotidiano, ao longo do calendário anual das
famílias ou do tempo de vida dos indivíduos que a elas se ligam, impõem um
tempo diferente e especial, que pode ser antecipado e, mais tarde, relembrado e
reinterpretado. Em segundo lugar, o espaço. A coordenada tempo funde-se no e
com o espaço e dá-lhe significado. O espaço condiciona, molda e transforma o
banal e a performancedos vários atores, ao mesmo tempo que define as fronteiras
entre quem faz e não faz parte da família, quem é anfitrião ou convidado,
protagonista ou destinatário. Finalmente, a emoção. Há um compromisso afetivo
que une os vários protagonistas do ritual e que é responsável por uma espécie
de colorido emocional que pincela tais ocasiões (Imber-Black e Roberts, 1993).
Essas emoções não são apenas momentâneas, já que, como vimos, os rituais deixam
vestígios emocionais quando cumpridos e mantêm significados em potência
passíveis de serem visitados, revisitados e, também por isso, reinterpretados
do ponto de vista da experiência afetiva e simbólica que consigo transportam.
Com vista à caracterização detalhada dos vários rituais familiares, retomámos e
desenvolvemos a classificação de Wolin e Bennett (1984) que distingue entre
celebrações, tradições familiares e interações padronizadas. Com base numa
lógica eminentemente indutiva, reorganizámo-la a partir de um novo ponto de
vista: o modo como os rituais servem os propósitos de construção social da
família, hipótese aliás subjacente à nossa análise. Na delimitação de
fronteiras, na definição e atribuição de papéis e ainda na criação e afirmação
de uma representação e sentido sobre si próprias e a sua existência, começámos
por distinguir os rituais que inscritos no dia a dia irrompem a normalidade do
quotidiano e ajudam a construir a família para dentro. São momentos quotidianos
ou semanais que acontecem tanto no espaço da casa como no espaço público e nos
quais pais, mães e filho(s) são simultaneamente orquestradores e protagonistas
de um conjunto de práticas que emergem como significativas. Os rituais que
fazem parte destes pequenos dias ' as rotinas de deitar que envolvem pais e
filhos (e.g. o momento de contar as histórias de dormir para as crianças) e os
dias e respetivas chegadas e partidas vividas semanalmente ou de quinze em
quinze dias entre pais divorciados e os filhos cuja coabitação alternam com os
ex-cônjuges ' surgem imbricados num quotidiano feito de dias normais,
diferentes e alternados.Compreender o modo como estes rituais ajudam a
construir a família na sua dinâmica interna obrigou, por isso, a olhar demorada
e exaustivamente as teias que a família tece14: pela manhã, de tarde e à
noite; nos dias de semana, Sábados e Domingos; na copa e na cozinha, no quarto
das crianças ou ainda na arena do supermercado.
Um outro conjunto de rituais ajuda, principalmente, à construção da família
para fora, isto é, perante o exterior. É certo que implicam também, de um ponto
de vista interno, uma redefinição de papéis familiares e ajustamentos
quotidianos vários. Apesar disso, agrupámo-los num todo por serem
tradicionalmente vistos como ritos de passagem, hoje reinterpretados, mas ainda
assim mantendo valor heurístico na conceptualização, definição e redefinição de
fronteiras, ao adicionar novos membros (e.g. através do casamento, formas
diversas de entrada na conjugalidade e nascimento de crianças) e subtrair
outros (e.g. pela separação, divórcio ou morte de familiares significativos,
aqui percecionada pelo momento do funeral e respetivas exéquias fúnebres).
Por fim, in media res,incluímos as festas de aniversário, as férias em família
e ainda as ocasiões familiares regulares como a celebração do Natal. Não apenas
operam ao nível da definição de valores de proximidade e pertença (para dentro,
portanto), como também abrem espaço à inclusão de outros membros da família
alargada ou do grupo de pares, e implicam, por vezes, deslocações no espaço e
mobilidades físicas, geográficas, mas também imagéticas entre famílias do
presente e do passado, reais e imaginadas.
Ao final, a análise e discussão dos resultados permite concluir de uma forma
simultaneamente nova e original que a família, enquanto realidade sociológica,
faz os rituais. A um mesmo tempo, estruturas e dinâmicas familiares, contextos
sociais de pertença e dinâmicas de género contribuem para definir, moldar e
estruturar a constelação de práticas adjetivadas como especiais. Porém, os
rituais familiares são também um lugar de construção da família. Isto acontece
justamente porque, pela conjugação das coordenadas tempo, espaço e emoção,
servem o propósito de afirmar a suspensão da realidade que as famílias
enfrentam: um tempo escasso, um espaço avulso e fragmentado, e uma ação que
obriga mais à injunção que à reflexão. Simultaneamente, ajudam a construir o
seu oposto: um tempo e espaço especial, atravessado pela emoção e memória. Ao
suspenderem o quotidiano, os rituais familiares constroem, consolidam e
reproduzem não apenas as famílias em que os indivíduos vivem, como também
aquelas pelas quais vivem (Gillis, 1996).
Conclusão
A opção por fixar a família a partir dos rituais familiares, isto é, das
práticas que empreendem (Morgan, 1996; 1999; 2011), permitiu, em suma,
estabelecer e ampliar o argumento principal aqui desenvolvido, o de que as
teorias da desinstitucionalização, individualização e risco são insuficientes
para a compreensão do que é, hoje, a família, e de que é necessária uma
abordagem mais texturada (Smart, 2005; 2008) que permita captar o seu
significado enquanto espaço simultaneamente físico, relacional e simbólico
(Saraceno, 1997).
Qual caleidoscópio, os rituais familiares permitem captar a um só tempo as
dinâmicas familiares internas e externas nas suas múltiplas tensões e
contradições. Para a construção da família enquanto espaço físico, contribuem
com a afirmação de fronteiras em fluxo permanente, que oscilam entre as
culturas da casa e da domesticidade (como se nota no momento que envolve o
deitar e adormecer as crianças pequenas ou no cuidado colocado na antecipação
das atividades dirigidas para os dias alternados que pais divorciados passam
com os filhos, por exemplo de quinze em quinze dias); e o modo como a economia
e cultura de consumo publicita e vende a possibilidade de encontrar uma família
longe da família (por exemplo, em férias, na praia ou em parques temáticos,
onde o cenário de diversão e fantasia ajuda a esbater as fronteiras que no dia
a dia separam pais e filhos).
Do ponto de vista relacional, os rituais familiares levantam o véu sobre os
vários modos e estruturas de relação que neles se jogam entre adultos e
crianças. Da família bi- parental à monoparental, e da nuclear à alargada,
afirmam os seus personagens centrais (a criança e também o casal), revelam
novos (o homem-pai, os pais e mães divorciados, mas também os avós, graças ao
prolongamento da esperança de vida e à melhoria generalizada da qualidade de
vida de que a terceira idade beneficia atualmente) e redescobrem os velhos (a
mulher-mãe e as famílias de origem e alargada, como bem comprovam as narrativas
em torno da pressão, importância ou simplesmente influência de pais e sogros em
esferas hoje aparentemente tão individualizadas quanto os modos de assinalar a
entrada na conjugalidade, o momento do nascimento das crianças ou ainda no
confronto com uma morte significativa e o direito à privatização da dor). Ao
mesmo tempo que (re)descobrem os vários elementos que compõem a família em
rede, os rituais familiares revelam também os enredos por detrás de cenários,
guiões e protagonistas tão diversificados, suas tensões e contradições.
Por último, inscrevem-se num universo de construção do simbólico ancorado nas
famílias imaginadas e na estética familiar que lhes subjaz, o que, por sua
vez, ajuda à construção da identidade e da memória familiar. Paradoxalmente, a
força da imagem da família enquanto espaço simbólico radica no irreal e na
efemeridade do ser família que os rituais encerram. O ritual suspende as
divergências e produz um sentido de unidade. A injunção e esforço canalizado
para a sua realização, manutenção ou continuidade são um sinal da própria
existência e continuidade da família: além da fluidez do dia a dia, como nas
rotinas de deitar as crianças, ao garantir as férias a que têm direito, ou
fazer a festa de aniversário para assinalar um dia especial; além da
distância espacial como nos momentos vividos entre filhos e pais divorciados ou
entre famílias aquando do Natal; além da fluidez das relações familiares, como
acontece na afirmação ritualista da entrada na conjugalidade ou no encontro de
familiares na visita hospitalar a mãe e bebé; e, por fim, além da própria
morte, com as reuniões em cerimónias fúnebres, mesmo que ' não raro ' essas
mesmas reuniões deixem nos indivíduos a sensação de que pertencem a uma
família de estranhos. Neste último caso, a injunção à celebração dos rituais
pode ser geradora de tensões familiares e obrigar a uma redefinição dos modos e
locais de celebração, mas a ideia ' e a prática ' da reunião familiar não
parece ser afetada. Estabilidade e mudança são, assim, condição obrigatória: o
facto de a família todase reunir novamente, apesar das contingências, obriga à
institucionalização da mudança, seja pela inclusão ou exclusão, à integração e
diluição do conflito e sua incorporação na renovação cíclica que garante a
continuidade da família. O ritual assume, desta forma, as funções de reificação
da família relativamente ao passado, de gestão dos recursos quanto ao presente
e de reprodução no que respeita ao futuro (Cheal, 1988) e à construção da
memória familiar (Muxel, 1996).
A concluir, vimos assim confirmada e ampliada a nossa hipótese de partida. Os
rituais constituem, efetivamente, lugares de construção da família
contemporânea enquanto espaço simultaneamente físico, relacional e simbólico,
tanto para dentro, quanto para fora: na delimitação de fronteiras, na definição
e atribuição de papéis e ainda na criação e afirmação de uma representação e
sentido sobre si próprias e a sua existência. Tendencialmente, são hoje
privados, individualizados e sentimentais, ao mesmo tempo que fortemente
matizados por estruturas e dinâmicas familiares, contextos sociais de pertença
e dinâmicas de género. A compreensão do modo como os rituais familiares
constroem a família contemporânea obriga a olhar à forma como as próprias
famílias os determinam, idealizam e estruturam, e é da imbricação entre estes
dois lados que resulta o seu caráter especial. É no prolongamento, mas também
na antítese entre o quotidiano dos pequenos dias e a exceção dos grandes,
que se forja, afinal, a família; tese que insignemente vem confirmar a
atualidade de Durkheim em torno da função social do rito, mais de cem anos
volvidos sobre As Formas Elementares da Vida Religiosa.
Notas
1 Professora Auxiliar na Escola de Ciências Sociais, Departamento de Sociologia
da Universidade de Évora (Évora, Portugal). Doutorada em Ciências Sociais,
Especialização Sociologia Geral. Investigadora do Centro de Estudos da
População, Economia e Sociedade (CEPESE) (Porto, Portugal). Endereço de
correspondência: Departamento de Sociologia, Escola de Ciências Sociais,
Universidade de Évora, Largo dos Colegiais 2, 7004-516 Évora, Portugal. E-mail:
rosalina@uevora.pt
2 Todas as citações extraídas de obras em língua estrangeira foram livremente
traduzidas para português pela autora.
3 Este texto adapta e sintetiza resultados de uma tese de doutoramento em
Ciências Sociais, Especialidade Sociologia Geral, intitulada Pequenos e Grandes
Dias. Os Rituais na Construção da FamíliaContemporânea (Costa, 2011), realizada
pela autora no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa (ICS-
UL), com orientação científica de Ana Nunes de Almeida e apoio da Fundação para
a Ciência e a Tecnologia (SFRH/BD/38679/2007).
4 Veja-se, a título de exemplo, Sociologie de la Famille Contemporaine(Singly,
1993); The New Family?(Silva e Smart, 1999) ou Reinventing the Family: In
search of New Lifestyles(Beck-Gernsheim, 2002), onde os adjetivos
contemporânea e nova(os) remetem precisamente para a dimensão de
contemporaneidade (nos vários presentes, obviamente) das reflexões
empreendidas.
5 Lição de abertura do curso de Ciência Social na Faculdade de Letras de
Bordéus, em 1888. Texto publicado primeiramente em Durkheim (1888).
6 Propositadamente evitamos utilizar as expressões segunda modernidade e
modernidade reflexiva (Beck, 1992), ou modernidade tardia (Giddens, 2001).
Em alternativa utilizamos sociedade contemporânea ou contemporaneidade, por
nos parecer um vocábulo simultaneamente mais neutro e menos implicado
teoricamente para nomear o tempo presente.
7 The Economist é frequentemente a principal fonte citada por Giddens quando
trata das mudanças na família (Giddens, 2000b). Já em Transformações da
Intimidade (Giddens, 1996), apoia-se sobremaneira em textos de autoajuda ou
guias de relacionamentos. Também Bauman insiste na recolha de informação
secundária, nomeadamente dos meios de comunicação, sobretudo as revistas
populares. Por exemplo, utiliza de forma recorrente o The Guardian Weekend como
uma das principais fontes empíricas para compreender a natureza das relações
contemporâneas (Smart e Shipman, 2004: 507).
8 Entre eles, inclui-se, a título de exemplo, Sociology, de Anthony Giddens,
best-selleratualmente na 7.ª edição (Polity Press, 2013; ed. portuguesa da
Fundação Calouste Gulbenkian), ou Sociology ' Exploring the architecture of
everyday life(Newman, 2010).
9 A instabilidade da família, não sendo característica da sociedade
contemporânea, distingue-se do passado precisamente porque não depende de
obstáculos ou imposições exteriores, nem de circunstâncias externas como a
doença, a morte ou as migrações forçadas por razões profissionais ou da guerra,
mas por uma decisão voluntária de si próprio (Beck-Gernsheim, 2002: 14), que
opta entre casar ou não casar, ter ou não ter filhos, viver ou não em conjunto.
Em última instância, trata-se de um entendimento próprio e individual do que é
normal e desviante, do que é a regra e a exceção.
10 Critério utilizado para reconhecimento das uniões de facto do ponto de vista
jurídico em Portugal (Art.º 1.º, 2.º da Lei n.º 23/2010 de 30 de agosto).
11 Em particular: o Grupo 2 ' Especialistas das Profissões Intelectuais e
Científicas; o Grupo 3 ' Técnicos e profissionais de nível intermédio; o Grupo
4 ' Pessoal administrativo e similares; e o Grupo 5 ' Pessoal dos serviços de
proteção e segurança da CNP/94 (IEFP, 2001).
12 Referimo-nos, em particular, à utilização de escalas para avaliar a
frequência e a importância dos rituais familiares: quer o FRI ' Family Routines
Inventory(Boyce et al., 1983; Jensen et al., 1983); quer o FRQ ' Family Ritual
Questionnaire(Fiese e Kline, 1993).
13 Perante as limitações de espaço a que o formato de artigo obriga, optámos
por não incluir aqui quaisquer excertos das entrevistas realizadas. Remetemos,
por isso, para o texto original de que partimos a leitura das narrativas
contextualizadas que, a um mesmo tempo, apresentam, analisam e discutem os
resultados obtidos (Costa, 2011).
14 Expressão tomada de empréstimo a João Arriscado Nunes (1992).