O Rendimento Social de Inserção e os beneficiários ciganos: o caso do concelho
de Faro
Introdução
As sociedades modernas fundam-se nos valores da igualdade, nomeadamente nos
princípios da igualdade de oportunidades, sendo esta um dos pilares da
cidadania. Mas mesmo nas sociedades desenvolvidas, a verdadeira igualdade de
oportunidades parece não ter sido ainda totalmente alcançada, pois não apenas
continuam a existir grupos extremamente vulneráveis à pobreza e à exclusão
social, como essas situações tendem, com persistência, a reproduzir-se no
tempo.
Apesar de a pobreza constituir a privação de recursos e a exclusão social a
rutura entre o indivíduo e a sociedade, nem sempre as duas situações coexistem.
Por um lado, há situações de pobreza integrada, como, por exemplo, em meio
rural, onde os indivíduos vivem situações escassez de recursos materiais e
simbólicos, embora continuem relativamente integrados socialmente. Por outro
lado, existem também situações de exclusão que não dependem da condição de
pobreza. Um dos exemplos clássicos é o da exclusão racista ou homofóbica; os
indivíduos são excluídos da participação na sociedade por reunirem outras
características que não a pobreza. Todavia, nos meios urbanos e periurbanos
típicos das sociedades modernas, a pobreza arrasta sempre consigo um
determinado grau de exclusão social a qual, por seu turno, contribui para
manter e amplificar as situações de carência. Ou seja, a escassez de recursos
materiais típica da pobreza implica normalmente a escassez de recursos
simbólicos que permitam aos indivíduos a plena participação na sociedade. Por
outras palavras, na maior parte dos casos, a pobreza está associada a situações
de défice de participação na vida coletiva.
Em Portugal, as políticas públicas parecem não ter sido inteiramente capazes,
até ao momento, de combater com eficácia a pobreza e a exclusão, nem de prever
o seu aparecimento (Rodrigues, 2010a). Contudo, um dos mecanismos de
minimização das consequências da pobreza extrema tem sido as políticas sociais
de rendimento mínimo, cuja filosofia visa precisamente garantir um padrão de
vida condigno àqueles que mais necessitam. No nosso país, o Rendimento Social
de Inserção (RSI) veio, em 2003, substituir o seu percursor, o Rendimento
Mínimo Garantido (RMG). Esta última medida, legalmente criada em 1996, foi,
numa fase experimental, posta em prática através de um conjunto de projetos-
piloto que duraram cerca de um ano. No ano de 1997, a implementação plena do
RMG foi acompanhada por um forte dispositivo de avaliação dos seus efeitos.
O Rendimento Social de Inserção constitui uma prestação pecuniária mensal que é
concedida às famílias e aos indivíduos que vivam em situação de grave carência
económica e que façam prova de que possuem determinadas condições de
atribuição. Cabe aos beneficiários o cumprimento de um Programa de Inserção
Social pré- estabelecido, que tem como objetivo proclamado romper o ciclo
vicioso da pobreza (Instituto da Segurança Social, 2013). Trata-se de uma
medida que visa criar as condições mínimas para o acesso às necessidades
básicas e, ao mesmo tempo, gerar oportunidades de inserção social.
É claro que estas medidas também têm limitações e alguns efeitos perversos.
Entre os problemas que têm vindo a ser apontados às políticas de rendimentos
mínimos destacam-se: a dependência que podem provocar nos seus beneficiários, o
fraco envolvimento destes nos projetos de inserção, a precaridade dos contratos
de trabalho que lhes são oferecidos, a falta de motivação para frequentarem as
ações de formação profissional devido à ausência de expectativas de futuro, a
excessiva burocracia destes processos, a que se vem aliar o efeito identitário
negativo e a estigmatização social de certos grupos de beneficiários (Diogo,
2007; Pacheco, 2009; Rodrigues, 2010b).
Apesar das diversas tentativas de assimilação de que, ao longo dos séculos, têm
sido objeto, os ciganos portugueses têm conseguido manter certos traços
culturais que lhes têm permitido manter as fronteiras da identidade étnica. São
exemplos desses traços, a forte coesão familiar e de grupo, a grande
valorização da endogamia, a capacidade de resolução de conflitos internos
através de um sistema de normas interior ao grupo, os vincados papéis de
género, a importância dada à socialização primária no seio familiar, a
intensidade na vivência do luto, etc. (Mendes, 2005; Bastos, Correia e
Rodrigues, 2007; Marques, 2006 e 2007; Casa-Nova, 2009).
Um estudo realizado sobre os processos de integração e de exclusão de uma
comunidade cigana no Porto concluiu que estes dois processos alternam criando
situações ambíguas. Por um lado, existe uma manifestação de integração através
da sedentarização (e das melhores condições de habitação); por outro lado, as
famílias ciganas resistem à mudança e à assimilação na sociedade dominante, ao
preservarem alguns dos seus traços culturais (Magano e Silva, 2002).Esta
resiliência identitária até hoje demonstrada pelos ciganos portugueses acaba
também por ilustrar até que ponto a integração desejada pela maioria e
posta em prática através das políticas públicas nem sempre é exatamente aquela
que é desejada pelos próprios ciganos.
Atualmente uma grande parte da sociedade parece manifestar uma certa
hostilidade relativamente aos ciganos. Estes são com demasiada frequência
acusados de abusarem dos subsídios sociais do Estado-Providência, o que
constitui, é certo, uma consequência dos ancestrais preconceitos de que têm
sido vítimas (Marques, 2006 e 2013; Mendes, 2005 e 2012), mas também,
claramente, de uma insatisfatória aplicação das políticas sociais.
Com efeito, diversos estudos têm vindo a demonstrar que, quer em virtude dos
processos de discriminação étnica de que tem sido vítimas ao longo do tempo,
quer como resultado de um certo afastamento voluntário que cumpre propósitos
identitários, quer ainda devido a fatores estruturais de reprodução social da
pobreza, os ciganos constituem uma categoria social particularmente exposta às
situações de carência de recursos e de défice de participação cidadã (Almeida
et al., 1992; Marques, 2006, 2013; Mendes e Magano, 2013). A pertinência do
estudo que aqui se apresenta prende-se com essa situação de vulnerabilidade dos
ciganos portugueses à pobreza, mas também com os efeitos de estigmatização
social que esta medida tem implicado.
1. Os ciganos e o RSI. Uma relação tensa
Hoje em dia, na sociedade portuguesa, em diversos contextos do quotidiano, os
ciganos são difusamente acusados de viverem do RSI e de não se esforçarem para
trabalhar nem para se inserirem na sociedade. Segundo esta visão do senso
comum, seriam os membros deste grupo que tirariam os maiores proveitos da
aplicação do RSI (Branco, 2003: 119), havendo mesmo quem suspeite de uma certa
etnicização invertida (Branco, 2003: 119), isto é, uma certa discriminação
positiva por parte do Estado associada ao aproveitamento ilegítimo por parte
dos indivíduos. A investigação efetuada pela ERRC/Númena, por seu turno,
indicou que existe uma discriminação institucional e uma desconfiança geral em
relação aos beneficiários ciganos da parte dos trabalhadores dos serviços
sociais, ao serem preconceituosos e ao adotarem uma posição de controlo
excessivo à fraude (ERRC/Númena, 2007: 54).
Um estudo realizado pelo Instituto da Segurança Social relativo a dezembro de
2008 estimou que existiam 5 275 famílias ciganas beneficiários do RSI, o que
correspondia a 21 100 beneficiários, perfazendo um peso de apenas 3,9%
relativamente ao total das famílias beneficiárias do subsídio (CPESC, 2008). Em
todo o caso, as políticas sociais, principalmente o RSI, ao assegurarem um
rendimento mensal às famílias mais pobres, têm sido de extrema importância para
as famílias ciganas. Os motivos para que muitas recorram ao RSI devem-se às
dramáticas situações de pobreza ou de doença grave em que vivem.
Os Contratos de Inserção preveem um conjunto de ações que obrigam os
beneficiários que tenham capacidades para tal a procurar trabalho, a completar
a escolaridade ou a frequentar ações de formação, num processo que tenta criar
oportunidades de inserção no mercado laboral. No entanto, no atual contexto de
crise económica, o aumento do desemprego e as baixas qualificações escolares e
profissionais, agravam as possibilidades para se obter trabalho e os ciganos
acabam por ser o grupo mais fustigado na área do emprego. Ou seja, algumas
análises têm vindo a mostrar que o RSI não é muito eficiente na promoção da
inclusão social dos beneficiários ciganos (ERRC/Númena, 2007: 52) e que muitos
se tornaram dependentes da medida, devido à falta de reais possibilidades de
integração.
É, pois, necessário discutir e analisar a relação entre o RSI e os ciganos, de
modo não só a desmistificar alguns preconceitos que têm vindo a ser construídos
e reproduzidos em torno deste assunto, como a observar como os próprios vivem
esse efeito identitário negativo.
2. Metodologia e contexto territorial da investigação
As principais questões que se colocaram na investigação que aqui se apresenta
foram as seguintes: i) Como vivem as famílias ciganas o facto de serem
beneficiárias do RSI?; ii) Quais são as suas perceções relativamente a este
tipo de prestação?; iii) Como lidam com o estereótipo da maioria por serem
beneficiários do RSI?; iv) Quais são as suas representações relativamente aos
direitos e deveres de solidariedade?; v) Como é que os técnicos de trabalho
social percecionam o combate à pobreza, através do RSI?
A metodologia utilizada consistiu numa aproximação às duas categorias de
intervenientes principais: os beneficiários ciganos do RSI e os técnicos da
Segurança Social e das Instituições Privadas de Solidariedade Social (IPSS) que
trabalham direta ou indiretamente com as famílias ciganas. As conversas
informais e as entrevistas semiestruturadas foram as principais técnicas de
recolha de informação, mas o trabalho de terreno intensivo com recurso à
observação participante permitiu vivenciar de modo mais intenso as dinâmicas e
os problemas das famílias ciganas e, ao mesmo tempo, interagir com elas por
forma, não apenas a compreender a sua realidade, mas também, de certo modo,
desenvolver a sua capacidade crítica relativamente ao tema em análise.
O contacto direto com os atores sociais, entre outubro de 2010 e outubro de
2011, contribuiu para percebermos como estes percecionam o apoio que lhes é
atribuído pelo Estado, ao mesmo tempo que permitiu dar voz àqueles que, com
demasiada frequência, são criticados e mesmo excluídos pela maioria.
Tendo como principal objetivos complementar a observação etnográfica e
aprofundar as respostas às perguntas de investigação mencionadas, foram
realizadas quinze entrevistas, nove a beneficiários ciganos e seis a técnicos
sociais, cuja duração se situou entre os 40 e os 90 minutos. A escolha dos
entrevistados ciganos teve em conta dois critérios: ser beneficiário do RSI e
ter estabelecido uma relação de confiança com os investigadores. Os critérios
de seleção dos técnicos sociais prenderam-se com as funções exercidas quer na
Segurança Social, quer nas Instituições Particulares de Solidariedade Social.
Alguns trabalham diretamente com os beneficiários, através, por exemplo, da
fiscalização do cumprimento dos protocolos de RSI, enquanto outros intervêm de
forma mais indireta, através, por exemplo, da atribuição do subsídio ou do
acompanhamento social pontual. Por forma a garantir o anonimato dos
intervenientes, todos os nomes apresentados neste artigo são fictícios.
No concelho de Faro, as famílias ciganas ocupam três tipos de
habitatrelativamente distintos: acampamentos instalados em baldios nas zonas
rurais da periferia; habitações degradadas ou com precárias condições de
habitabilidade situados em zonas desvalorizadas da cidade; bairros de habitação
social resultantes de projetos de realojamento. O estudo que aqui se apresenta
incidiu principalmente nestes dois últimos contextos: no bairro de habitação
social da Avenida Cidade Hayward e no bairro de habitações degradadas da Horta
da Areia. Ambos se caracterizam por uma forte desqualificação territorial e
social.
De acordo com o Relatório Semestral da Instituição que detém o protocolo de
RSI, o Grupo de Apoio a Toxicodependentes (GATO), de junho a novembro de 2012,
foram acompanhadas 710 famílias, sendo que 550 são referentes ao protocolo de
RSI, o que equivale a 1 515 beneficiários. Os dados referentes aos agregados
familiares ciganos são de 145, que corresponde a 599 beneficiários (39,5% do
universo de beneficiários) (GATO, 2012). A equipa técnica do protocolo do RSI é
constituída por oito técnicas de áreas complementares, nomeadamente: Serviço
Social, Educação Comunitária e Psicologia Clínica e seis ajudantes de Ação
Direta que efetuam atendimento sistemático, diagnóstico social, visitas
domiciliárias, acompanhamento psicossocial, elaboração e acompanhamento dos
Planos de Inserção, bem como a articulação com outras entidades envolvidas
direta ou indiretamente nos processos de inserção (GATO, 2012).
3. A perspetiva dos beneficiários ciganos relativamente ao RSI
A maioria dos beneficiários entrevistados diz-se pobre, nunca tendo conhecido
outro modo de vida. Tendo a pobreza sido uma constante no percurso destas
pessoas, também a prevêem para o seu futuro, pois não têm expetativas
positivas, nem para si, nem para os seus filhos.
Olha sou pobre porque tenho a noite e o dia e não tenho nada, quero
jogar a mão a qualquer coisinha. Pois ´atão´?
(Coelho, 54 anos)
Pôs' ê' já, ê' já nasci assim, os mês' pais e os mês' irmãos
nã' dexaram' nada, nã' é?
(Reis, 44 anos)
Acho que sou pobre porque às vezes quero comprar uma coisa e não
tenho. Às vezes preciso comprar algumas coisas prós moços, os moços
querem aquela, aquele brinquedo e não tenho dinheiro para comprar
aquele brinquedo, querem comprar um, uma roupa, um sapato como deve
ser, oh pá, em tudo coisas para a casa faz-me falta em tudo.
(Ivone, 22 anos)
Sou uma mulher pobre, porque não tenho dinheiro como os outros têm
porque vivemos só do rendimento.
(Esperança, 34 anos)
Quando interrogados sobre a utilidade do RSI, todos referiram que este é
apenas uma ajuda, principalmente para as necessidades básicas como os
medicamentos ou a comida para os filhos. A maioria é beneficiária da prestação
de RSI há muito tempo e requereram-na, manifestamente, por falta de outros
recursos.
(O RSI serve) para dar aos pobres, que têm falta, para dar de comer
aos moços, pra queles que não trabalham.
(Ivone, 22 anos)
Mas os próprios beneficiários mostram-se algo céticos relativamente às reais
capacidades do RSI no combate à pobreza. Este subsídio, dizem, não tira
ninguém da pobreza, mas ajuda a melhorar algumas coisas, principalmente a
combater a fome. Ser beneficiário, segundo os próprios, não muda a vida de uma
pessoa, apenas ajuda nalguns aspetos e cria algumas oportunidades, como a de
frequentar o sistema de ensino. Alguns acham mesmo que vão receber o RSI
durante muitos anos, porque não encontram trabalho, porque não têm uma casa com
as condições mínimas ou ainda porque não vislumbram modo algum de saírem da
pobreza. Outros, no entanto, têm a clara noção de que viver da prestação não
constitui um bom futuro para os filhos, nem para a sua autoestima.
Eu acho que (o RSI) foi criado para combater a pobreza. Porque eu
penso que isto não é para vida toda, eu penso que foi uma ajuda que o
Estado deu às pessoas para sair da pobreza.
(Maria, 29 anos)
É uma ajuda económica. Mas ao receber o rendimento mínimo sinto-me
inútil. ( ) Eu quero que os meus filhos vivam a vida de cigano, mas
não quero que eles sejam pobres e vivam do rendimento, porque isto
não é vida para ninguém.
(Fátima, 28 anos)
Tal como muitos outros aspetos relacionados com os seus modos de vida, as
atitudes dos ciganos perante o trabalho parecem estar a mudar rapidamente. A
enorme valorização do trabalho por contra própria e da autonomia, as atividades
económicas fora das regras e ritmos da produção capitalista que têm sido
constatadas noutras investigações (Magano e Silva, 2002) parecem estar a
esbater-se, pelo menos no que diz respeito aos ciganos do Algarve. Talvez por
isso, os ciganos com quem falámos tendem a atribuir mais importância ao emprego
propriamente dito, seja ele de que tipo for, do que aos cursos de formação
profissional ou à frequência do ensino regular que lhes são impostos nos
Contratos de Inserção.
Mandaram-me fazer essas competências básicas, eu tenho o sétimo não
acabado, e eu disse lá à senhora: ouça, eu não vou andar de cavalo
para burro, arranjem-me pra eu fazer o nono ano e eu venho', mas a
senhora entendeu que assim não devia de ser. ( ) Eu disse doutora
para quê eu ir pra uma formação dessa se depois eu nem sequer vou
desfrutar disso? Vocês deviam de fazer formações, cursos, qualquer
coisa mas depois, olha, nem que seja estagiar um tempo'...
(Fátima, 28 anos)
Com efeito, a maioria dos beneficiários ciganos, depois de terminadas as ações
de formação a que foi obrigada contratualmente, não conseguiu trabalho e
permaneceu na situação em que estava, o que naturalmente os leva a desvalorizar
estas atividades. O sentido de compromisso e progresso que deveria estar
presente nos Contratos de Inserção, na prática não se verifica porque o
processo de inserção social é bloqueado pelo próprio mercado de emprego. Alguns
beneficiários relataram, que aquando da assinatura do Contrato de Inserção, não
lhes foi pedida qualquer opinião e que as obrigações lhes tinham sido impostas
pelos técnicos. Estas situações levaram, nalguns casos, ao cancelamento da
prestação por quebra de contrato, pois as pessoas sentiram-se controladas e
obrigadas a fazer coisas que não queriam. Naturalmente a importância dada ao
cumprimento das obrigações diminui quando a prestação cessa ou é suspensa ou
quando o seu valor baixa.
Cortaram (o RSI). Eu nunca fui saber, mas penso que elas propuseram-
me uma formação, mas eu não quis porque achei que não tinha o direito
de ir porque já que só recebia só cinquenta euros. Tudo bem, era para
aprender, mas era a minha maneira se calhar de manifestar contra o
(pouco) dinheiro que me estavam a dar, então eu não quis ir e penso
que fosse por isso que me tivessem cortado.
(Fátima, 28 anos)
Era a escola para fazer a quarta classe, que eu já tenho, e era ir à
escola de noite e ir à escola (formação profissional) durante o dia.
E eu disse ou venho à noite ou venho durante o dia'. E elas não,
você tem que fazer estas coisas' e eu: então não vou'. Foi assim que
eu disse e acabou (o RSI foi cancelado). Tinha o meu direito e elas
obrigaram-me a fazer essas coisas e eu disse: não vou. Ou vou à
noite ou vou durante o dia'. Porque se fosse um trabalho durante o
dia tudo bem. Eu posso exigir qual é que eu quero.
(Carlos, 42 anos)
Como que a confirmar toda a literatura atual sobre os comportamentos de racismo
que quotidianamente atingem os ciganos portugueses (Bastos, Correia e
Rodrigues, 2007; Marques, 2007; Mendes, 2012), a maioria dos entrevistados
afirmou explicitamente que já se sentiram discriminados na procura de trabalho,
no acesso à habitação e nos serviços públicos, não apenas por serem ciganos,
mas também por serem ciganos beneficiários do RSI. Na área do emprego, segundo
a experiência dos beneficiários, a maior parte dos patrões não tem qualquer
interesse em ter empregados ciganos. Muitas vezes dizem-lhes que a vaga já foi
preenchida ou inventam requisitos que, à partida, sabem que o candidato não
possui.
Malta cigana para trabalhar? Eles chegam lá veem que é ciganos
mandam embora. Tem acontecido isso com a gente.
(Esperança, 34 anos)
O meu marido recebeu uma carta do fundo de desemprego para ir a um
trabalho, ali nas bombas ao pé do aeroporto. Quando chegou lá, o
patrão viu que ele era cigano e disse que já não precisava.
(Antónia, 37 anos)
(Fiquei) mesmo triste foi no chinocas' (loja de chineses). Eu à
procura de trabalho e ele disse-me: Não!'. E eu perguntei-lhe:
Então não, porquê?'. E ele diz-me: Tu cigana'.
(Maria, 29 anos)
A vida que nós temos, uma vida de pobres e as pessoas sem ser a
etnia cigana, encaram (os ciganos como) pessoas diferentes, porque
não temos acesso a trabalhos nenhuns. Mesmo que o cigano que tenha
toda a razão, eles conseguem tirar sempre a razão às pessoas, porque
não nos consideram ser Portugueses como eles pensam. Ou somos uns
bichos? Isto é uma vida, é uma coisa que nós temos, quando nascemos
já vemos logo com esse selo, com essa sina, somos pobres uma vida
inteira.
(Sr. Carlos, 42 anos)
Os serviços de saúde, como o hospital e os centros de saúde são referenciados
como os locais onde os ciganos beneficiários do RSI se sentem mais
discriminados, principalmente pelos funcionários.
Olha, há dias eu fui ao hospital e o meu tio, estava lá uma senhora
a atender e ela disse-me assim, apontou-me o dedo: Um dia tu vais-te
a ver, tu vais ter que trabalhar para pagar isto tudo que tá aqui'. E
não sei quê não sei que mais e eu disse Oh minha senhora acalme-se,
não me grite assim porque eu não estou a gritar consigo'. É assim,
elas vêem a gente como uma ameaça à sociedade: eu (funcionária) estou
a trabalhar estou a descontar para ti. Não é? E cada vez que uma
pessoa pensa isso, contagia as outras todas e às vezes não nos dão
mais entrada por causa disso.
(Maria, 29 anos)
Estas pessoas sentem-se vítimas de preconceitos em quase todos os serviços,
como nos correios, quando vão levantar a prestação pecuniária do RSI, ou na
Segurança Social, quando o vão requerer. Até mesmo nos espaços públicos, como
nos cafés, experimentam o sentimento de serem atendidos de forma diferente dos
outros clientes.
Quando vou buscar o cheque, fica logo toda a gente a olhar e a dizer
Lá vai ela buscar o dinheiro. Eu ando a trabalhar para ela não fazer
nada'.
(Antónia, 37 anos)
Outro dos temas mais problemáticos na relação do RSI com os ciganos prende- se
com a conciliação dos deveres a que ficam obrigados através dos Programas de
Inserção e as suas tradições culturais ou aquilo que dizem ser a lei cigana.
Trata-se de uma situação tensional e ambígua, na qual, por um lado está a
submissão ao Estado para receber algum dinheiro e, por outro lado, o desejo de
preservação da cultura e da identidade. As situações mais problemáticas estão
relacionadas, como é sabido, com a obrigatoriedade da permanência das raparigas
ciganas na escola depois da puberdade. Tal permanência fora da vigilância
familiar poderia fazer perigar a sua honra e, assim, pôr em risco a
possibilidade de um valorizado casamento intraétnico. Foi o caso de Maria, a
quem o pai proibiu a frequência na escola, o que provocou revolta na
beneficiária. O facto de a sua escolaridade ser baixa não lhe permitiu o acesso
ao mercado de trabalho, obrigando-a a ser dependente da família e do subsídio.
Por outro lado, Maria revê neste apoio dado pelo RSI a possibilidade de voltar
a estudar, para vir a adquirir mais competências e, por conseguinte, encontrar
trabalho e contrariar as tradições do grupo.
Eu culpo sempre o meu pai porque ele não me deixou ir para a escola
não é? Não tou a dizer que o Estado é o que tem que me sustentar
Porque quem sabe se fosse feito (o RSI) há mais tempo já ele me tinha
deixado estudar portanto, ser pobre foi opção do meu pai, não é?
Porque não nos deixou ter futuro, ter melhores condições de vida. ( )
Acho que com o que eles (Segurança Social) tão a fazer agora, a
(possibilitar) tirar o nono ano, ( ). Por exemplo, na FAGAR (empresa
municipal) se eu tiver o nono ano já consigo setecentos euros não é?
É muito melhor do que duzentos euros.
(Maria, 29 anos)
A virtude da mulher cigana é um dos valores mais protegidos (Casa-Nova,
2009), pois é dela que depende a possibilidade da endogamia e, por seu turno, é
desta que depende, em grande parte, a manutenção da identidade étnica. Trata-se
de defender a honra familiar e a manutenção da boa imagem das raparigas para
quando estas forem pedidas em casamento. Mas também há quem não desvalorize as
vantagens da escolaridade ou de outro tipo de aprendizagens com mulheres não
ciganas, embora realçando a importância de preservar certos traços culturais,
principalmente no que respeita às raparigas.
Sobre isso tenho dois pontos de vista, uma pela etnia e outro pela
Lei (do RSI). Nós somos cidadãos normais temos que respeitar as
nossas leis portuguesas, não é? Se eu sou cigano e respeito, eu acho
que tinha que haver uma coisa em que o Estado também tinha que
respeitar as nossas tradições. Porque é muito bonito, sim senhora,
uma cigana andar a estudar, saber ler, escrever, ter um curso se for
o caso, mas também é bonito um dia mais tarde, a minha filha casar e
nunca ser discriminada pelo marido e pela sogra principalmente.
(Fátima, 28 anos)
Por outras palavras, as famílias ciganas afirmam querer continuar a preservar
aquilo a que chamam as suas leis, embora haja quem defenda claramente que se
estas acompanhassem os tempos atuais isso poderia ser um fator de facilitador
de uma maior aproximação e compreensão entre ciganos e não ciganos.
Vou-lhe dizer uma coisa: eu não concordo com nenhumas decisões
dessas nossas leis (tradições ciganas), porque muitas coisas são
horríveis, não têm sentimento nenhum, porque já estamos num tempo
muito avançado. (Se acabassem) era conveniente, porque havia mais
ligação entre a etnia cigana e as pessoas sem ser ciganas.
(Carlos, 42 anos)
4. A perspetiva dos técnicos sociais
As opiniões dos técnicos relativamente ao modo como os ciganos vivem a situação
de subsidiariedade são variadas, dependendo da relação que têm com a medida, do
grau de envolvimento de cada um deles e da proximidade com os beneficiários. A
aplicação do RSI é vista como positiva, principalmente na educação e no
emprego. As ações possibilitam novas experiências de vida e, muitas vezes,
mudanças com consequências satisfatórias, apesar de serem observáveis apenas a
longo prazo. Contudo, na perspetiva de alguns técnicos, os beneficiários
ciganos demonstram alguma resistência no que diz respeito ao seu processo de
inserção, o que, de algum modo, atualiza a ideia de que a integração
preconizada pelas políticas públicas não é exatamente a mesma que os atores
sociais desejam.
Eles, a meu ver, não a vêm como provisória e também não têm assim
muitas razões para isso. É uma medida que acaba por ser mais ou menos
definitiva, não é definitiva porque basta eles não cumprirem uma
parte do acordo que é suspenso. Não é? É quase como uma obrigação do
Estado, que o Estado tem para com eles. ( ) Penso que na maior parte
das vezes o que eles pretendem é o lado pecuniário, nem tanto o lado
que tenha a ver com o processo de integração. Portanto, a partir do
momento em que se diga que sim, que foi aceite, o resto fica de lado.
O que interessa é que o dinheiro venha ao fim do mês.
(Orlando, Técnico de IPSS)
Das experiências relatadas, sobressaem dois exemplos: o facto de este subsídio
ser, com frequência, visto pelos beneficiários menos como uma via de saída da
pobreza e mais como uma recompensa pelo bom comportamento social das pessoas
ciganas; a história da atribuição de RSI a um jovem casal ter sido percebida
como uma espécie de prenda de casamento.
Isto já é um ordenado para eles. ( ) Por exemplo, achei engraçado
(quando um beneficiário cigano) veio dizer-me olha eu quero tirar o
meu filho do agregado!'. ' Então mas porquê?', ' Porque ele vai
casar e depois quer requerer o RSI'. É quase como se fosse uma prenda
de casamento do Estado, ele ia casar, não ia trabalhar, mas ia
receber o Rendimento Social de Inserção. ( ) Muitos deles até têm
usado o dinheiro em termos de comércio, comércio dos cavalos.
(Teresa, Técnica da Segurança Social)
Segundo os técnicos entrevistados, a crise económica que se vive no país veio
prejudicar ainda mais este grupo étnico, agravando as situações de pobreza e de
discriminação, principalmente na procura de emprego e/ou de uma casa.
Eu acho que são um bode expiatório ( ) quando se fala de Rendimento
Social de Inserção fala-se obviamente dos ciganos. E se bem que eles
sejam uma minoria dos beneficiários a nível nacional. A principal
virtude (do RSI) é a questão económica. É óbvio que quando falamos em
ciganos, existem dois problemas, um é a pobreza, em que a maior parte
está afetada pela pobreza e depois a questão da discriminação étnica
não é? Portanto eles vivem um duplo drama a nível social. O que eu
acho é que essa questão, a nível económico o RSI veio dar algum
contributo, a nível da integração propriamente dita não se vêem assim
grandes resultados.
(Orlando, 36 anos)
Há ciganos com grandes sonhos, que gostavam de ser, ter a sua
profissão, muitos veem-nos bater à porta a dizer que, realmente, para
as ofertas de emprego que lhes chegam, nunca são selecionados ( ) e
nós temos dois fatores, o fator crise e o fator discriminação.
(Alice, 39 anos)
Durante as entrevistas, os técnicos tiveram ocasião de explicitar os principais
motivos para as penalizações nas prestações nos beneficiários ciganos. Estas
prendem- se, normalmente, com o abandono escolar por parte das crianças do sexo
feminino. O facto de a legislação não prever a diferença cultural coloca os
beneficiários ciganos em igualdade de tratamento e de cumprimento do Programa
de Inserção relativamente aos outros cidadãos.
Os motivos de suspensão são os mesmos para todo e qualquer tipo de
beneficiário, no entanto, nas famílias ciganas os motivos de
suspensão concentram-se na frequência escolar das jovens
adolescentes, uma vez que estes estão em idade de casar para esta
cultura. ( ) A etnia cigana chega aos 12, 13 anos e casam ( )
automaticamente quando essas jovens se casam deixam de estar num
agregado familiar e têm que passar para outro. Na teoria, na prática
não pode ser: é menor e pela lei portuguesa ( ) continuam a ficar
nesse agregado. Mandamo-las para a escola, e começam então com as
tais regrazinhas: ' O meu marido não me deixa ir para a escola'. '
Então se não te deixa ir para a escola sabes quais são as regras,
não vais para a escola és ( ) admoestada'. Não é penalizada logo,
existem admoestações até chegar à penalização.
(Alice, 39 anos)
Embora reconhecendo que o RSI pode contribuir, de alguma forma, para a mudança
das atitudes e dos modos de vida, os técnicos acabam por assumir o défice no
acompanhamento das famílias, devido, principalmente, ao elevado número de
processos com que têm de lidar. A falta de recursos humanos e materiais provoca
deficiências no trabalho executado, o que dificulta o efetivo combate à
pobreza.
O que acontece é que não existem respostas, aí é um grande obstáculo
para conseguires trabalhar a inserção, por muito que tu tentes. ( ) O
que acontece muitas vezes é que o acompanhamento que existe não é o
acompanhamento que é realmente necessário, é insuficiente.
(Mariana, Técnica de IPSS)
Eu acho que falhou logo no início, à partida com a questão da
fiscalização e depois também a falta de alguma criatividade para
criar alternativas a esse rendimento.
(Orlando, Técnico de IPSS)
Há famílias que são acompanhadas por instituições sociais durante muitos anos,
mas os processos de mudança são muito lentos. Segundo os técnicos, o RSI
permite efetivamente mudar comportamentos, autonomizar famílias e contribuir
para a sua integração social.
Muitos ciganos têm vindo a alterar os seus modos de vida ( ) as
famílias ciganas que acompanho no que respeita ao RSI, já não são
nómadas, nem residem em barracas. Têm as suas casas de alvenaria,
carros e respetiva carta de condução, os filhos menores frequentam o
ensino e eles próprios frequentam o ensino noturno, têm a sua
inscrição ativa no IEFP e marcam presença com regularidade.
(Alice, Técnica de IPSS)
Considerações finais
O RSI é visto, frequentemente, como um subsídio cuja atribuição tem maior
incidência entre os ciganos, o que não passa de mais um preconceito
relativamente ao grupo étnico com o maior défice de cidadania em Portugal e um
dos mais vulneráveis à pobreza. Nos testemunhos que recolhemos, os problemas
mais focados pelos beneficiários ciganos de RSI foram, por um lado, a falta de
emprego e, por outro, a discriminação sentida em vários domínios da vida e por
vários motivos, inclusive, pelo facto de receberem esta prestação social.
Atualmente o mercado de trabalho tornou-se mais competitivo e exigente e está
mais fechado aos grupos estigmatizados. Ao contrário da perceção popular e de
alguma literatura sociológica sobre este tema, muitos ciganos manifestam um
forte interesse em trabalhar por conta de outrem, mas poucos são os
empregadores que os contratam e essa recusa é vivida como uma manifestação da
discriminação étnica. Para muitas famílias, o ingresso na economia paralela
constitui a única forma de superar uma forte escassez de recursos, uma vez que,
na maior parte das vezes, o dinheiro proveniente do RSI não é suficiente para
suprir as necessidades quotidianas. Mas os biscates e os trabalhos sazonais a
que se dedicam como forma de complementar o RSI ' no caso Algarvio, a recolha
de sucata, a apanha da amêijoa e do caracol, a respiga, a venda ambulante
destes produtos ' apenas reforçam um pouco a economia familiar e, ao contrário
do que se possa pensar, também não lhes permitem organizar uma vida decente.
Na perspetiva dos técnicos sociais, o RSI nem sempre cumpre os objetivos para
que foi concebido. Estes referem que os beneficiários fazem, com frequência,
uma má gestão do dinheiro e nem sempre satisfazem em primeiro lugar as suas
necessidades básicas. É um facto que alguns beneficiários se acomodam e se
tornam dependentes do subsídio, ao acreditarem que este vai durar muitos anos e
ao não construírem quaisquer expectativas de futuro sem ele. Esta atitude de
acomodação e dependência dificulta claramente a saída da pobreza, mas não é, de
modo algum, generalizada entre os ciganos.
É bom relembrar que, quando um beneficiário (cigano ou não) recebe ajuda
através do RSI, fica sujeito a determinados deveres definidos nos Programas de
Inserção que são assinados, no início do processo, por todos os intervenientes.
Mas, na verdade, a maioria dos entrevistados durante a investigação que aqui
apresentámos, não tinha sido informada e não sabia ao certo o que constava no
seu próprio Programa de Inserção.
Esta medida tem permitido, sem dúvida, alcançar resultados positivos na área da
educação e da formação profissional, nomeadamente através da obrigatoriedade da
frequência das crianças e dos adultos em ações de ensino ou de formação.
Efetivamente, para alguns beneficiários, a frequência da escola ou das
formações constituiu um benefício que lhes permitiu adquirir escolaridade e
conhecimentos que podem ser uma vantagem para a inserção profissional. Todavia,
o problema principal reside no facto de a maioria dos cursos de formação
profissional oferecidos pelo Instituto do Emprego e Formação Profissional não
corresponderem às necessidades, às expectativas ou às motivações dos
beneficiários ciganos (MSST, 2002).
A imposição, nos Programas de Inserção, da frequência escolar para as raparigas
ciganas é muitas vezes motivo de discussão entre os técnicos e as famílias, que
acham esta obrigação desajustada às expectativas e aos valores culturais que
defendem para as suas filhas. A necessidade de receber o apoio social para
garantir a sobrevivência da família entra em conflito com as questões da
honra e da imagem da rapariga cigana, situação que divide as opiniões dos
beneficiários acerca do cumprimento da obrigação das raparigas frequentarem a
escola depois da puberdade. Apesar de se registarem algumas mudanças de atitude
no sentido da igualdade de género ' embora lentas e pouco percetíveis pela
sociedade em geral ', algumas famílias persistem em tentar preservar as
tradições neste campo.
No que respeita ao cumprimento do Programa de Inserção, os técnicos têm a
perceção de que há beneficiários que cumprem as ações que foram programadas
apenas para não perderem o apoio social, mas que há também aqueles que querem
ter sucesso no desenvolvimento das ações, principalmente na área da educação e
formação, porque adquirem competências que lhes facilitarão a inserção social.
Apesar de se identificarem claramente como cidadãos portugueses, os ciganos
reconhecem que não têm as mesmas oportunidades e o mesmo tratamento que os
restantes cidadãos, principalmente se forem beneficiários do RSI. A
discriminação é vivida pelos ciganos nos vários domínios da vida social, mas é
principalmente relatada na procura de emprego e nos serviços públicos (Marques,
2007; Mendes, 2012). Os técnicos têm clara a perceção de que os beneficiários
ciganos são vítimas de preconceitos por receberem a prestação social e
discriminados na procura de emprego, o que prejudica a sua inserção social.
Nestas situações, alguns técnicos assumem a frustração relativamente ao seu
trabalho e as dificuldades que sentem em trabalhar com grupos vulneráveis.
Pelas constatações anteriores pode-se afirmar que o combate à pobreza das
famílias ciganas portuguesas se tem revelado particularmente difícil. São
manifestamente poucas as respostas para a sua inserção social e profissional,
como poucos são os casos de sucesso na inserção social, se os avaliarmos em
todas as dimensões. Porém, este subsídio contribuiu indubitavelmente para
atenuar as consequências das situações de pobreza absoluta de muitas famílias e
minimizar um pouco o muito sofrimento quotidiano.