Impacto(s) da gestão de recursos humanos na gestão do
1. Introdução
As ciências que focalizam o estudo do comportamento nas e das organizações permitem, actualmente,
perspectivar soluções organizacionais em gestão do conhecimento que intimam a um investimento
activo nas pessoas e das próprias pessoas. Com o eclodir de perspectivas integradas naquilo que
McElroy (2003) designou de segunda geração de investigação em gestão do conhecimento, esta passou a
caracterizar-se por ser uma disciplina que incrementa a utilização, o desenvolvimento e o processamento
do conhecimento através de mecanismos sociais. No âmbito da gestão do conhecimento advoga-se
actualmente, e de modo relativamente consensual, a crucialidade dos aspectos culturais, sociais e humanos
como potenciais alavancas dos processos de criação, transferência e aplicação do conhecimento (Carter
& Scarbrough, 2001; Hislop, 2003; Hwang, 2005; Oltra, 2005).
Focalizando as dimensões comportamentais e humanas da gestão do conhecimento o presente
estudo empírico visa contribuir para a análise da articulação conceptual, operacional e funcional da
gestão – ao nível dos recursos humanos e do conhecimento – numa óptica analítica da(s) dinâmicas
relacionais dos seus pressupostos e práticas.
2. Gestão de Recursos Humanos e Gestão do Conhecimento: Sentido para uma Abordagem
Convergente
Mudanças estruturais na forma de encarar o ser humano, o seu comportamento e o seu contributo organizacional ao longo do tempo e toda a transformação macro-social que instituiu o conhecimento como fonte de vantagem competitiva intimam a um esforço de aproximação, renovação e articulação
dinâmica entre práticas de gestão estratégica de pessoas e práticas de gestão do conhecimento (Hislop,
2003). O conhecimento existe nas e através das pessoas, é parte integrante e parcela da sua humanidade,
complexidade e imprevisibilidade (Davenport & Prusak, 1998). O conhecimento organizacional resulta
de um processo complexo e dinâmico que depende dos contextos e do relacionamento interpessoal
para a sua manutenção e desenvolvimento (Nonaka & Takeuchi, 1995).
A clarificação conceptual e a possibilidade de se alcançar um alinhamento estratégico (Shih
& Shiang, 2005) e uma maior convergência operacional nestes domínios constituem, na actualidade,
um campo de investigação complexo mas inquestionavelmente relevante no domínio do comportamento
organizacional, sendo já significativo o número de publicações académicas, especificamente a eles relativas
(e.g., Afees & Abdelmeguid, 2003; Afiouni, 2007; Carter & Scarbrough, 2001; Currie & Kerrin, 2003;
Despres & Hiltrop, 1995; Fernández, 2002; Gloet, 2006; Godbout, 2000; Haesli & Boxall, 2005;
Scarbrough, 2003; Svetlik & Stavrou-Costea, 2007; Oltra, 2005; López, Peón & Ordás, 2006; Pablos,
2004; Shih & Chiang, 2005; Soliman & Spooner, 2000; Thite, 2004; Yahya & Goh, 2002; Winkelen
& McKenzie, 2007).
Fernández (2002) considera esta associação evidente e uma opção de futuro. Gloet e Berrel
(2005) defendem a aproximação e reforço das ligações entre a gestão do conhecimento, gestão de
recursos humanos e o desenvolvimento organizacional como critério para o sucesso da primeira. Oltra
(2005) coloca a gestão de recursos humanos como condição para o sucesso da gestão do conhecimento.
Yahya e Goh (2002) consideram, mesmo, a gestão do conhecimento uma forma evoluída da gestão
de recursos humanos, afirmando que uma organização do conhecimento reclama uma abordagem de
gestão, em geral, e de recursos humanos, em particular, distinta das organizações que não valorizam
o conhecimento nem as suas práticas gestionárias.
Thite (2004) menciona que a questão central já não é tanto se existe uma relação entre estas
variáveis, mas sim, o modo como esta relação se opera, revelando-se a gestão de recursos humanos, e
a forma como esta se desenvolve, uma condição do sucesso e eficácia da gestão do conhecimento. A
gestão de recursos humanos jogará um papel nuclear na constituição de uma cultura organizacional
centrada no conhecimento crítico – “Knowledge-centric culture”, nas palavras de Evans (2003, p. 60).
O estudo da associação entre estas variáveis constitui um indicador claro da tendência actual para
que a gestão do conhecimento não seja conceptualizada, nem tão pouco operacionalizada, de forma isolada
ou desconexa face a um conjunto de políticas organizacionais estratégicas, sendo claros os esforços de
criação de sistemas e processos que suportem as actividades de potenciação do conhecimento, ancoradas
na estratégia, alinhadas e integradas nas operações nucleares da organização (Shih & Chiang, 2004). Das
características ambientais envolventes e qualidade deste alinhamento e da capacidade de ser aceite e
assimilada pela generalidade dos actores organizacionais dependerá, em muitos casos, a sua eficácia.
3. Evolução da gestão de recursos humanos e seu impacto na gestão do conhecimento
Diacronicamente, detectam-se diferenças significativas nas concepções dominantes do ser humano
na organização e na estruturação da actividade produtiva (Lerín, Martínez-Tur & Peiró, 2001). A
evolução da forma de gerir as pessoas tem acompanhado as mutações nas necessidades sociais, do
mundo do trabalho, dos trabalhadores e da organização (Lerín, Martínez-Tur & Peiró, 2001). Para Quijano
de Arana (2000) a evolução da gestão de pessoas assentou em três sub-sistemas diferenciados, desenvolvidos progressiva e sucessivamente, de acordo com as necessidades, no que concerne à relação
pessoa-organização e condicionados pelas diferentes concepções que a organização assumiu dos trabalhadores. Os três sub-sistemas são, na sua perspectiva, passíveis de ser denominados por administração
de pessoal, relações laborais e gestão e desenvolvimento de recursos humanos, a que presentemente e
nas suas formas mais avançadas se denomina gestão estratégica de recursos humanos.
As mudanças de nomenclatura, estruturas, papéis e responsabilidades na forma de lidar com
o sistema social e humano terão sido acompanhadas por gradativas rupturas evolutivas nas rotinas
e práticas organizacionais, sendo que estas poderão mesmo, nalguns casos, ter sido precursoras das
primeiras. Todavia, é certo que o ritmo da evolução conceptual e da investigação não é, habitualmente,
sincrónico da aplicação prática, referindo-se Ferris et al. (1999) ao “… gap between the science and
practice of HRM” (p. 385) e Fernández (2002) à fragmentação entre mundos académico e empresarial.
Conjugando este pressuposto com a contingencialidade competitiva da acção de cada organização,
mais do que um modelo dominante de gestão de recursos humanos, na era do conhecimento, os modelos
de gestão de pessoas vigentes nas organizações consistirão, em grande parte dos casos, em espécimes
híbridos, diferenciais e contingenciais, agregando influências ecléticas de múltiplos paradigmas organizacionais, criando abordagens distintas, em termos evolutivos e grau de sofisticação variável (Heffernan
& Flood, 2000). Para Lerín, Martínez-Tur e Peiró (2001) estas diferenças inter-organizacionais, na
visão da gestão de recursos humanos, estão patentes na forma como as organizações se relacionam com
os seus membros, sendo possível constatar diferenças significativas entre contextos que valorizam o desenvolvimento contínuo dos colaboradores e outras que, consciente ou inconscientemente, o impedem e tolhem.
As mudanças e variabilidade na e da gestão de recursos humanos poderão ser analisadas, em
termos globais, ou adoptando distintos níveis de análise da evolução, remetendo-se a análise para o
ritmo, sincronia e grau de integração das mudanças inter-níveis, sendo as práticas a revelação pela acção
de uma orientação ideológica mais profunda – os pressupostos. Lerín et al. (2001), sustentando-se
em trabalhos de Peiró (1999), distinguem as concepções de filosofias, práticas e técnicas ou ferramentas de recursos humanos. A filosofia refere-se às concepções basilares, sobre a pessoa humana,
sobre os grupos, sobre o trabalho e relações humanas. A filosofia matiza uma série de políticas de
recursos humanos que inspiram e orientam a acção organizacional no domínio da gestão de recursos
humanos. As práticas por sua vez são, em parte, a revelação pela acção de uma orientação ideológica
mais profunda. Constituem a faceta operativa e visível de uma visão cultural das pessoas num dado
contexto organizacional. As técnicas e ferramentas de recursos humanos são unidades instrumentais
básicas para as referidas práticas de recursos humanos. Desta decomposição resulta-nos a reflexão
de que a orientação filosófica e das políticas dominante, num dado contexto, se constituirá como
uma variável condicionante das práticas, e dos instrumentos ou ferramentas a adoptar. Para Lerin et al.
(2001), a eficácia organizacional depende, em larga medida, da capacidade manifesta em integrar
estes diferentes sub-sistemas. Do referido, importará perceber, também, se as relações e transformações
propaladas na e para a gestão de recursos humanos, na era do conhecimento, se estão a operar estruturalmente ao nível mais profundo das filosofias e núcleo de políticas ou, tão somente, no campo superficial
das suas práticas e técnicas. As quais se alteram, ou se adaptam, ao ritmo efémero das modas. Na verdade,
a era do conhecimento e os desafios da e para a gestão do conhecimento parecem reclamar transformações efectivas no domínio dos paradigmas e bases filosóficas da gestão de recursos humanos e não,
apenas, da sua face mais visível.
Em síntese, a compreensão da evolução e compreensão dos pressupostos teóricos da organização
e de gestão presentes nas organizações (ao nível da formação profissional, da avaliação de desempenho e dos sistemas de recompensa) assumem relevo, no presente trabalho, dado que se assume que
todas as acções realizadas, intencionalmente, possuem uma base cognitiva, condicionada por normas,
estratégias e pressupostos ou modelos interpretativos do mundo, na linha do conceito de “teorias de
acção” (declaradas e praticadas) em que as teorias determinam todo o comportamento humano deliberado.
As teorias constituem uma espécie de grelha de acção que engloba pressupostos relativos às conexões
entre acção, consequência e situação (Argyris & Schön, 1974, 1978; Sternberg, 1985). Hipotetiza-se,
neste quadro conceptual, que os modelos implícitos de concepção laboral, da pessoa e da organização
do trabalho assumidos, em cada organização, poderão constituir-se como elementos facilitadores ou
bloqueadores da adopção de determinadas políticas e práticas de gestão de pessoas e respectivo grau de
sofisticação, tendentes, por sua vez, a influenciar, ou não, o sentido e grau de aplicação de políticas e práticas
que valorizem o saber humano, a criação, partilha e aplicação de conhecimento organizacional crítico.
Embora o eixo de análise, privilegiado, e hipóteses principais desta investigação se centrem no
estudo relacional do impacto dos pressupostos da gestão de recursos humanos na aplicabilidade da
gestão do conhecimento, com ênfase na formação profissional, há autores (e.g., Godbout, 2000), cujas
investigações analisaram esta dinâmica no sentido inverso, ou seja, procuraram analisar o impacto
da gestão do conhecimento nas práticas de gestão de recursos humanos.
O grau de desenvolvimento das práticas de gestão de pessoas está longe de ser redutível à ideia
de algo adquirido e dependente da mera passagem do tempo, sendo antes algo inerente à construção cultural,
onde os pressupostos, as representações mentais dos gestores parecem orientar a cognição e as acções
relativas a escolhas estratégicas (McGregor, 1960). Esta ideia remete-nos para os conceitos de estruturas
de conhecimento ou de esquemas cognitivos, referentes ao conhecimento subjectivo, uma espécie de
grelha de leitura ou teoria a priori que orienta as interpretações que os indivíduos fazem daquilo que
os rodeia, utilizados para eficientemente interpretar e prever acontecimentos no seu meio envolvente.
Auxiliam não só a reduzir a complexidade do mundo informacional como a fazer escolhas. Considerando que teoria e prática são inseparáveis, McGregor (1960) admite que não será possível aos gestores
tomar uma decisão ou realizar uma acção que não seja influenciada por pressupostos, quer estes sejam
adequados ou não. A partir desta ideia assumiu-se, neste trabalho, que os pressupostos conceptuais na base
da acção da gestão de recursos humanos se poderão localizar num contínuo entre dois extremos teóricos,
sendo possível a determinação de uma orientação cultural, maioritariamente orientada para um dos extremos,
ora “X”, instrumentalista e caracterizada pelo constrangimento e racionalidade e um enfoque gestionário na direcção e hetero-controlo, ora “Y”, mais humanista, cuja assumpção do ser humano, sua acção
e gestão, será globalmente mais abrangente, humana e um enfoque da gestão no auto-controlo, participação
e integração entre objectivos individuais e organizacionais, numa analogia com os trabalhos precursores
sobre a natureza e motivação humanas de Douglas McGregor (1960).
As perspectivas teóricas que nortearam este trabalho de investigação permitiram, assim, assumir
um referencial analítico construído a partir dos pressupostos e quadros ideológicos datados e dominantes
em dois períodos históricos. Um primeiro, relativo às características-tipo da administração de recursos
humanos, num período industrial clássico, do início do século XX e, outro, relativo às características da
gestão de e com pessoas da actual era da informação e do conhecimento, do termo do século XX e
primórdios do XXI, confrontando-os ao nível dos pressupostos e práticas, das estratégias de operacionalização e concepções, do trabalho e do trabalhador, da forma de o gerir, desenvolver e avaliar, controlar
e recompensar. De acordo com trabalhos de Sparrow e Hiltrop (1994) até 1970, a literatura da gestão
de recursos humanos reflectiu uma visão dos recursos humanos como “custo”, durante a década de 1970 e
1980 emerge uma renovada visão que os passa a encarar já como “investimento”.
Em síntese, a variabilidade e diferenças evolutivas, significativas, nos graus de sofisticação da gestão
de pessoas reclamam aprofundamento teórico e empírico, pois poderão constituir-se como um factor determinante (facilitador ou inibidor) da operacionalização, eficácia e sentido da gestão do conhecimento.
4. Objectivos, hipóteses e variáveis consideradas
A presente investigação visa analisar dinâmicas relacionais (de facilitação ou inibição) entre
a gestão de recursos humanos e o grau de aplicação da gestão do conhecimento. Em particular,
explora a(s) influência(s) entre os pressupostos e sofisticação (na concepção e operacionalização)
da formação profissional, da avaliação de desempenho e dos sistemas de recompensa e o(s) seu(s)
impacto(s) no grau de valorização do conhecimento e aplicação da sua gestão, em organizações dos
diferentes sub-sectores da indústria cerâmica em Portugal. Em síntese, hipotetiza-se neste trabalho,
que as opções, os pressupostos e as orientações filosóficas de base cultural vigentes na(s) forma(s) de
exercer a gestão de recursos humanos poderão influenciar o sentido da e para a gestão do conhecimento.
No sentido de averiguar se as duas dimensões da formação profissional medidas possuíam poder
preditivo, estatisticamente significativo, em cada uma das dimensões da gestão de conhecimento, por
um lado, e por outro qual o poder preditivo, destas, conjuntamente com uma medida de avaliação de
desempenho e uma medida de sistema de recompensas, realizaram-se equações de regressão múltipla
hierárquica1 (Tabachnick & Fidell, 2007). Este procedimento de análise permite considerar um conjunto
de variáveis independentes (preditores) que conjuntamente possuem poder preditivo numa variável
dependente ou critério (cf. Quadro 1). Este cálculo apresenta a vantagem de possibilitar uma visão do
hipotético poder explicativo de cada uma das variáveis, através dos coeficientes de regressão, ou de
blocos distintos de variáveis (Tabachnick & Fidell, 2007). Assim, no primeiro bloco – Modelo 1 –,
foram introduzidas apenas as variáveis relativas à formação profissional (formação como investimento
e formação como constrangimento), analisando-se o seu impacto nos quatro factores: práticas de gestão
do conhecimento, orientação cultural para o conhecimento, gestão social e discursiva do conhecimento
e gestão estratégica do conhecimento. Num segundo bloco – Modelo 2 –, aduziu-se ao bloco inicial da
formação as variáveis de avaliação de desempenho e de sistema de recompensas, especificamente,
o primeiro factor retido na análise psicométrica dos instrumentos PPAD e PPSR (cf. Quadro 1).
Explicitam-se, de seguida, as hipóteses globais de investigação:
H.1. – O bloco de variáveis da formação (Modelo 1) constitui um preditor estatisticamente
significativo das quatro dimensões da gestão do conhecimento avaliadas.
H.2. – A integração do bloco de variáveis da formação com variáveis de avaliação de desempenho
e de sistema de recompensa (Modelo 2) constitui um preditor estatisticamente significativo das
quatro dimensões da gestão do conhecimento avaliadas.
H.3. – O bloco de variáveis do Modelo 2 constitui um preditor dos quatro factores de gestão
do conhecimento avaliados, positivo e estatisticamente significativo, superior, comparativamente ao
bloco de variáveis do Modelo 1.
5. Método
5.1. Amostra e Procedimentos
A selecção da amostra foi efectuada a partir do universo de empresas registado como activo
na base de dados de empresas cerâmicas, construída ao longo do tempo pelo sistema de informação de
clientes do Centro Tecnológico da Cerâmica e do Vidro (CTCV), que englobava, no final de 2006,
um total de 625 empresas. A partir desta população que se assumiu como activa, foi constituída uma
amostra aleatória por um procedimento estratificado proporcional. Nesta amostra utilizou-se como critério
de estratificação a pertença a cada um dos quatro subsectores da cerâmica: Cerâmica utilitária e decorativa; Cerâmica estrutural; Cerâmica de acabamentos; Extracção e comercialização de matérias-primas.
Este procedimento permitiu alcançar uma amostra final com um total de 55 empresas válidas com
cerca de 10% (n=50) do universo das empresas activas, relativas à Cerâmica Industrial Portuguesa.
Sendo 6635 o somatório do número total de trabalhadores das organizações presentes na amostra, a
análise deste estudo recaiu sobre um total de 1364 questionários recolhidos, correspondendo, portanto,
a 20,6% do total de colaboradores destas empresas. Uma amostra de base, cuja dimensão garante um
nível aceitável de fiabilidade dos resultados, na análise estatística das dinâmicas relacionais entre
pressupostos da gestão de recursos humanos e dimensões da gestão do conhecimento. A partir do número
global de trabalhadores das 55 empresas que compõem a amostra estudada 13 são grandes empresas
(23.6%), 16 são de média dimensão (29.1%) e 26 são pequenas empresas (47.3 %).
Os questionários anónimos começaram a ser enviados para as empresas (pré-seleccionadas a
partir de amostragem aleatória por um procedimento estratificado proporcional) e auto-administrados
em Janeiro do ano de 2007, solicitando-se o preenchimento pelos diversos sectores e níveis hierárquicos
de cada empresa. Considerou-se como satisfatória a devolução de questionários quando preenchidos
por um mínimo de 15% do total de colaboradores.
5.2. Medidas
Tendo em vista a medição dos constructos centrais do presente estudo, de acordo com a revisão
de literatura efectuada, desenvolveram-se acções conducentes à adaptação de um questionário de gestão
do conhecimento, construído e validado por Cardoso (2008), e à construção, validação e desenvolvimento de três novas escalas que permitissem aceder à percepção dos agentes organizacionais acerca
dos pressupostos, processos e práticas de gestão de recursos humanos característicos do seu contexto
laboral, nomeadamente, ao nível dos constructos de formação profissional, da avaliação de desempenho
e sistemas de recompensa. Na análise psicométrica do questionário de gestão do conhecimento “GC”
optou-se por verificar a adequação dos itens e a consistência interna da estrutura tetra-dimensional,
previamente validadas por Cardoso (2003). No que respeita às “práticas de gestão de conhecimento”,
enquanto primeiro factor desta escala, observa-se que todos os itens apresentam correlações positivas e
bastante expressivas, a variar entre .55 e .68. No segundo factor, relativo à “orientação cultural para o
conhecimento”, observam-se valores de correlação com o total da dimensão entre .57 e .65, o que indica
a elevada adequação dos itens na construção do factor. Quanto ao terceiro factor, “gestão social e
discursiva do conhecimento”, observamos um padrão semelhante de associação de cada item com
o resultado total, apresentando todas as correlações valores superiores a .52. A medida de “gestão estratégica do conhecimento”, patente no quarto e último factor revela, igualmente, níveis positivos de
associação de cada um dos seus itens bastante expressivos, variando entre .50 e .64. Em síntese, neste
primeiro instrumento, a análise dos valores de alfa de Cronbach permite afirmar um bom nível de
consistência interna em todas as quatro medidas do instrumento que avalia a gestão de conhecimento.
Na construção dos questionários de GRH foram respeitadas as etapas sugeridas por Hill e Hill
(2000), nomeadamente: a) realização de entrevistas; b) elaboração de uma versão prévia dos questionários e c) verificação da sua adequação numa amostra de sujeitos pertencentes à população do estudo
(pré-teste).
Na avaliação da dimensionalidade subjacente à Escala de Formação Profissional – PPFP –
efectuou-se uma análise em componentes principais, forçada a dois factores, na medida em que esta
solução se demonstrou como a mais adequada aos dados, bem como a mais interpretável do ponto de
vista teórico. A solução após rotação varimax revela dois factores extraídos que explicam 47.34% da
variância total. Todos os itens possuem saturações factoriais acima de .50. O primeiro factor retido
recebeu a designação de “formação como investimento”, adoptando o segundo factor a denominação
de “formação como constrangimento”. A apreciação global deste instrumento revela que a primeira
dimensão possui um valor de alfa de Cronbach considerado excelente (.91), sendo o valor deste indicador
na segunda dimensão mais reduzido e considerado como aceitável (.65), atendendo ao número de
itens que a compõem.
O estudo psicométrico da Escala de Avaliação de Desempenho – PPAD – iniciou-se com a
análise da dimensionalidade. Após estudar a solução inicial optou-se por realizar este procedimento
estatístico forçando a quatro factores através de uma rotação varimax. A solução extraída apresenta
a capacidade de explicar 63.90% da variância total. Todos os itens apresentam saturações factoriais
superiores a .45, valor considerado adequado por Tabachnick e Fidell (2007). O primeiro factor
apresenta uma “visão abrangente, evoluída e construtiva da avaliação de desempenho”. Uma perspectiva que apela à participação e envolvimento dos colaboradores. Por oposição, o quarto factor apresenta
uma “perspectiva do processo de avaliação de desempenho restritivo”, limitado, em termos da abordagem
e alcance do seu impacto. O terceiro factor focaliza o “grau de envolvimento e participação dos colaboradores” no processo de avaliação de desempenho. O segundo factor traduz a “aplicação ou instrumentalidade dos resultados” da avaliação de desempenho no quadro da gestão integrada de recursos
humanos. As quatro sub-escalas deste instrumento de avaliação revelam alfas de Cronbach de .90
(excelente), .88 (muito bom), .78 (bom) e .64 (aceitável), indicando uma adequada consistência interna
das quatro dimensões.
O estudo da solução inicial da Escala de Pressupostos dos Sistemas de Recompensas – PPSR –
sugere uma configuração de três componentes. A partir desta indicação realizou-se uma análise em
componentes principais com rotação varimax forçada a três factores. Da estrutura tridimensional emergente poderemos referir que o factor 1 traduz a “perspectiva do sistema de recompensas baseado
no conhecimento e mérito”, por oposição, o factor 3 traduz a “perspectiva do sistema de recompensas
baseado na função e recompensas económicas”. O factor 2 traduz a temática da “percepção de
justiça (com o sistema de recompensas)”. No primeiro factor verificam-se correlações com o total
da dimensão positivas e bastante expressivas com o total da medida, ou seja, no intervalo entre .52
e .77. O segundo factor: apresenta valores de correlações corrigidas a variar entre .40 e .70. O último
factor extraído: revela correlações corrigidas com valores situados entre .40 e .52. Em síntese, os dois
primeiros factores apresentam níveis de consistência interna bastante satisfatórios, enquanto o valor de
alfa de Cronbach calculado para o terceiro factor deverá ser considerado aceitável a este tipo de medida,
com o número de variáveis observadas que o compõe.
6. Resultados
No sentido de averiguar se as duas dimensões da formação profissional medidas pelo PPFP possuíam
poder preditivo em cada uma das dimensões da gestão de conhecimento, por um lado, e por outro qual o
poder preditivo, destas, concomitantemente, com uma medida de avaliação de desempenho e uma medida
de sistema de recompensas, realizaram-se equações de regressão múltipla hierárquica (Tabachnick & Fidell,
2007). Considerou-se este procedimento para cada uma das quatro dimensões da gestão do conhecimento.
No cálculo destes modelos de regressão consideraram-se dois blocos de variáveis.
A primeira equação pretendia explicar a variância das práticas de Gestão de Conhecimento.
Na análise dos resultados é possível observar que o primeiro bloco, constituído unicamente pelas duas
dimensões da formação profissional se revelou estatisticamente significativo [F(2, 50)=4.388; p<.001],
explicando apenas 14.9% da variância total. A introdução do segundo bloco, com as variáveis de avaliação
de desempenho e de sistema de recompensas, representou um aumento de 38.7% de variância explicada,
sendo esta mudança estatisticamente significativa [F(2, 48)=20.016; p<.001]. No seu conjunto esta equação
de regressão explica 53.6% da variância total na dimensão relativa às práticas de gestão de conhecimento [F(4, 48)=13.871; p<.001] (cf. Quadro 2).
A observação dos coeficientes de regressão, e nomeadamente dos coeficientes estandardizados
(valores Beta), torna possível perceber o valor preditivo de cada variável introduzida no modelo
calculado, atendendo a cada um dos dois momentos. Assim, verifica-se que no primeiro bloco a
segunda dimensão apresenta um coeficiente de regressão negativo e estatisticamente significativo
[β = -.362; t(52) = -2.664; p=.010]. Este valor indica que pontuações mais elevadas na perspectiva
de formação como constrangimento correspondem a pontuações mais reduzidas na dimensão práticas
de gestão de conhecimento (cf. Quadro 2).
A introdução do segundo bloco contemplando o conjunto de variáveis de gestão de recursos
humanos permite observar que as duas variáveis de Formação Profissional assumem um valor estatisticamente significativo, assim como a medida de sistema de recompensas. Ordenando os valores de Beta
observa-se a seguinte hierarquia: sistema de recompensas [β = .579; t(52) = -3.458; p=.001], formação
profissional constrangimento [β = -.289; t(52) = -2.782; p=.008] e formação profissional investimento
[β = .269; t(52) = 2.457; p=.008].
Na segunda equação pretendeu compreender-se a importância das variáveis de formação profissional, num primeiro momento, e das variáveis de gestão de recursos humanos, integradas no Modelo 2,
no global, na explicação da dimensão orientação cultural para o conhecimento.
No primeiro bloco a equação proposta não se apresenta estatisticamente significativa explicando
somente 7.5% da variância. No que diz respeito ao impacto, do Modelo 1, no factor de orientação cultural
para o conhecimento a sua magnitude é irrelevante, inferindo-se que as dimensões da formação profissional, quando tidas como variáveis isoladas, não revelam ter um impacto significativo na matriz
cultural de orientação para o conhecimento destas organizações.
A introdução das variáveis do segundo bloco representa um acréscimo substancial (R2=.517) e
estatisticamente significativo [F(2, 48)=30.387; p<.001]. A equação na globalidade passa a explicar
59.2% da variável critério, sendo este valor estatisticamente significativo [F(4, 48)=17.399; p<.001]
(cf. Quadro).
Numa observação mais fina aos coeficientes de regressão é possível perceber o valor preditivo
de cada variável introduzida no modelo calculado, tendo em conta os dois blocos da equação de regressão.
Deste modo, verifica-se que no primeiro caso nenhuma das duas dimensões da formação profissional se
revela como preditor estatisticamente significativo (cf. Quadro 3).
No segundo bloco, com a inclusão no cálculo das restantes variáveis independentes é possível observar que apenas a Avaliação de Desempenho apresenta um coeficiente de regressão com
valor estatisticamente significativo 2 [β = .479; t(52) = 2.992; p<.001].
O terceiro modelo de regressão hierárquica assume a explicação do critério gestão social e
discursiva do conhecimento. O primeiro bloco, onde se consideraram como preditores as duas dimensões
da formação profissional, isoladamente, revela-se estatisticamente significativo [F(2, 50) = 3.430; p=.040]
e explica 12.1% do total da variância. Com a introdução das variáveis de avaliação de desempenho e
sistema de recompensas, a equação acrescenta uma explicação de 33.2%, sendo este valor estatisticamente significativo [F(2, 48) = 14.556; p<.001]. No total, as quatro variáveis constituem um modelo
estatisticamente significativo [F(4, 48) = 9.923; p<.001] e capaz de explicar 45.3% da variância (cf.
Quadro 4).
Atendendo aos coeficientes de regressão observa-se que ao considerar as duas dimensões da
formação profissional, isoladamente, somente o primeiro factor se revela como preditor estatisticamente
significativo [β = .307; t(52) = 2.222; p=.031]. A formação profissional, no Modelo 1, apresenta-se como
preditora da gestão social e discursiva do conhecimento, apenas, na sua perspectiva de investimento. O
Modelo 1 permite explicar 12,1% da variância.
Após a introdução das variáveis que constituem o segundo bloco da equação, a leitura dos resultados
mantém-se, ou seja, apenas a dimensão formação profissional como investimento se apresenta estatisticamente significativa [β = .259; t(52) = 2.090; p=.042] (cf. Quadro 4).
O último modelo de regressão calculado apresenta-se estatisticamente significativo [F(4, 48) =
14.749; p<.001] e explica, na sua globalidade, 55.1% da variância da gestão estratégica do conhecimento.
Ao nível do impacto na gestão estratégica do conhecimento, no Modelo 1, ambos os factores se
revelaram estatisticamente significativos, explicando-se 26,5 % da variância. No primeiro bloco, no
qual se analisa o contributo individual das medidas de formação profissional, a equação revelou-se
estatisticamente significativa [F(2, 50) = 9.013; p<.001]. No segundo bloco, as quatro variáveis no
seu conjunto explicam mais 28.6% da variância, sendo esta introdução estatisticamente significativa
[F(2, 48) = 15.321; p<.001] (cf. Quadro 5).
Numa análise mais fina aos valores Beta verifica-se que as duas dimensões da formação
profissional, analisadas isoladamente, se apresentam como preditores estatisticamente significativos:
formação profissional constrangimento [β = -.474; t(52) = -3.748; p<.001] e formação profissional
investimento [β = .376; t(52) = 2.971; p=.005].
Após o cálculo do segundo bloco da equação, considerando as quatro variáveis em conjunto,
verifica-se que as duas dimensões da formação profissional se mantêm como preditores estatisticamente
significativos [FP1: β = .435; t(52) = 4.036; p<.001 – FP2: β = -.433; t(52) = -4.235; p<.001] e que a
estas duas medidas se junta o sistema de recompensas [β = .697; t(52) = 4.236; p<.001] (cf. Quadro 5).
7. Conclusões
No que diz respeito à primeira hipótese formulada, da análise das relações entre um primeiro
modelo testado (constituído unicamente pelas duas dimensões da formação profissional) e o impacto
no factor referente às práticas de gestão do conhecimento verifica-se que apenas o segundo factor
(formação como constrangimento) revelou ser um preditor estatisticamente significativo. Os resultados
indicam-nos, para esta relação, um sentido invertido. O sinal negativo que acompanha o coeficiente é
indicativo de um impacto negativo na gestão do conhecimento, suscitado pelo desenvolvimento da
formação entendida e vivida como constrangimento. Estes resultados chamam a atenção para a necessidade de uma maior reflexão, nas organizações, não só em termos quantitativos e temáticos mas, também,
em torno dos pressupostos e perspectivas da forma como concebem e realizam a formação, permitindo
repensar o que nela investem e o que dela retiram.
O potenciar do conhecimento organizacional não parece passível de um alinhamento com uma
visão da formação como constrangimento, dado que face a uma maior presença desta perspectiva
corresponderá uma menor presença de práticas de gestão de conhecimento. Este estudo dá, assim,
suporte empírico ao que já era um dado intuitivo, reforçando o carácter de inutilidade da formação,
quando é encarada pelas empresas como obrigatoriedade ou apenas mais um constrangimento.
No que diz respeito ao teste da segunda hipótese, a introdução do segundo bloco, que permite
analisar o impacto da formação nas práticas de gestão do conhecimento, quando esta está integrada
com uma variável independente de avaliação de desempenho e outra de sistema de recompensas,
permite observar que as duas variáveis de formação profissional passam a assumir valores estatisticamente significativos, assim como a medida relativa ao sistema de recompensas. Este resultado pode
ser interpretado nos seguintes termos: a adopção de uma perspectiva integrada de formação como
investimento (por contraposição a uma perspectiva de formação como constrangimento) e de um sistema
de recompensas (baseado no conhecimento e mérito) repercutir-se-á num incremento ao nível das
práticas de gestão do conhecimento, algo que a formação como investimento, quando entendida de
forma isolada, parece não permitir. Este resultado realça, desde já, a necessidade de uma gestão de
recursos humanos que integre as várias técnicas a ela adstritas no sentido de fomentar as práticas
de gestão do conhecimento, tal como é sugerido pela literatura.
Seguidamente, procurou compreender-se a importância das variáveis de gestão de recursos
humanos estudadas e analisar as hipóteses globais formuladas, no que diz respeito ao segundo factor da
gestão do conhecimento, relativo à orientação cultural para o conhecimento. O impacto das duas perspectivas
da formação profissional, quando tidas como variáveis isoladas (Modelo 1), não revelam ter um efeito
significativo na matriz cultural de orientação para o conhecimento das organizações da amostra.
A integração da avaliação de desempenho e do sistema de recompensas (Modelo 2) permite
concluir que apenas a variável relativa à perspectiva processual abrangente e participada da avaliação de
desempenho se revela um preditor estatisticamente significativo de uma cultura onde o conhecimento
constitui um elemento central no sentido do alcance da competitividade organizacional. Por outro lado,
o efeito do sistema de recompensas, embora não significativo, do ponto de vista estatístico, sugere
que esta dimensão seja também tida em consideração, uma vez que assume uma influência expressiva
na cultura para o conhecimento. Para além de ser um resultado que reforça a necessidade de existir,
nas empresas, um sistema integrado de gestão de recursos humanos, este é um resultado que sugere que a
formação profissional, por si só, não é passível de conduzir a uma cultura de conhecimento, ou seja,
não é por desenvolver acções de formação que uma empresa, sem mais, consegue promover este tipo
de cultura organizacional. Assim, a orientação cultural (para o conhecimento) é consolidada pela forma
como se avalia e se recompensa os colaboradores. Dito de outra forma, se uma empresa desejar que
exista uma cultura de aprendizagem e de conhecimento, mais do que desenvolver formação, deve
avaliar positivamente e recompensar quem aprende, quem adquire novos conhecimentos e novas
competências, quem partilha o que sabe, quem contribui com o seu conhecimento para a inovação
e o alcance dos objectivos organizacionais.
Relativamente ao teste das hipóteses, no referente ao impacto da formação como investimento
ou constrangimento nos processos de natureza informal relativos à construção social do conhecimento,
concluímos que apenas a primeira abordagem, formação como investimento, se revelou preditora.
Relativamente à segunda hipótese, após a introdução das variáveis que constituem o segundo bloco
da equação, a análise dos resultados manteve-se estável. Ou seja, uma vez mais, apenas a dimensão
relativa à formação profissional como investimento se apresenta estatisticamente significativa. Estes
resultados conduzem-nos à consideração de que quando as organizações levam a efeito acções de
formação numa lógica de investimento estão a facilitar a criação de redes de interacção que se repercutem
nas práticas e rotinas quotidianas. Resultam, assim, facilitadas as acções propiciadoras do diálogo,
da interacção social, da partilha e construção social de um conhecimento que pressupõe uma linguagem
que seja de todos conhecida e de todos resultante.
Na análise das duas primeiras hipóteses, ao nível do impacto na gestão estratégica do conhecimento, ambos os modelos se revelaram estatisticamente significativos. No primeiro bloco, no qual se
analisa o contributo individual das medidas de formação profissional, a equação revelou-se estatisticamente significativa. Na segunda hipótese e após o cálculo do segundo bloco da equação, considerando as quatro variáveis em conjunto, verifica-se que as duas dimensões da formação profissional
se mantêm como preditores estatisticamente significativos, mantendo o factor da formação constrangimento o sentido invertido já verificado na relação anterior. Às medidas de formação profissional
juntou-se, neste segundo modelo, a variável relativa ao sistema de recompensas baseado no conhecimento e no mérito. Exceptuando a dimensão da avaliação de desempenho, todas as variáveis preditoras
se revelaram estatisticamente significativas, apresentando contributos individuais muito próximos.
Em síntese, relativamente à primeira hipótese de estudo formulada sustenta-se empiricamente
que a formação profissional realizada nas empresas tem um impacto significativo ao nível da forma
como estas gerem estrategicamente os seus recursos de conhecimento. Tal é válido quer no que respeita
à formação desenvolvida numa perspectiva de investimento, quer de constrangimento. Contudo, se
na primeira situação o impacto constatado é inequivocamente positivo e instrumental, numa lógica de
gestão estratégica, o mesmo não pode afirmar-se nas circunstâncias em que a perspectiva dominante
ao nível da formação é aquela que a entende como um constrangimento (ou seja, uma perda de tempo,
de energias e de recursos). Nestes caso, urge introduzir alterações no rumo encetado ao nível da formação,
sob pena de não só não se retirarem quaisquer benefícios das acções empreendidas, como de correr
o risco de sofrer o impacto negativo decorrente dessas acções.
No que diz respeito à segunda hipótese, os resultados obtidos no que concerne ao efeito conjugado
das variáveis de gestão de recursos humanos consideradas na gestão estratégica de conhecimento,
permitem-nos evidenciar a influência marcada da perspectiva do sistema de recompensas baseado
no mérito e a ausência de influência de uma perspectiva abrangente e participada da avaliação de
desempenho. Salienta-se que o efeito anteriormente referido para as variáveis da formação profissional
volta a verificar-se nesta nova configuração. Pode-se inferir daqui que se uma organização considera
relevante caminhar no sentido da implementação de uma gestão do conhecimento de natureza estratégica,
então, deverá empreender esforços no sentido de desenvolver uma gestão de recompensas que parta de
e caminhe para a valorização do conhecimento (nos seus diferentes sub-processos). Ou seja, que valorize
e recompense (remunere) a aquisição, partilha e utilização de novos conhecimentos e competências e
que inequivocamente distinga o mérito daqueles que podem ser considerados genuínos trabalhadores do
conhecimento.
Por fim, no que diz respeito à terceira hipótese formulada, em todas as equações de regressão
testadas ficou patente uma maior capacidade explicativa do Modelo 2, comparativamente ao
Modelo 1. Este resultado leva-nos a afirmar, de uma forma que é empiricamente sustentada, que o impacto
da formação nas dimensões de gestão do conhecimento é influenciado, num sentido favorável, pela
sua integração com os processos e práticas de avaliação de desempenho e sistemas de recompensa,
indiciando que os pressupostos dominantes na formação influenciam, mas não de forma exclusiva,
o nível de aplicação da gestão do conhecimento, parecendo fundamental uma análise num quadro de
gestão integrada de recursos humanos.