O Balanced Scorecard como instrumento de medida de desempenho das forças
policiais - estudo de casos
INTRODUÇÃO
O conjunto de reformas da New Public Management (NPM) introduzidas durante as
últimas décadas, essencialmente nos países da OCDE, vem impor uma nova gestão
no seio das organizações públicas. Este processo de mudança é desencadeado pelo
contexto de globalização e pela era do conhecimento e da informação que
caracterizam a sociedade actual. O ambiente extremamente competitivo e em
contínua mudança impõe a qualquer organização, pública ou privada, uma direcção
estratégica e a capacidade de decidir oportunamente, de modo a dar resposta às
necessidades do mercado e da sociedade.As organizações públicas e as
organizações sem fins lucrativos têm sido fortemente pressionadas no sentido de
se tornarem mais competitivas, responsáveis e transparentes, de produzirem um
serviço público com maior qualidade e de melhorarem os índices de eficiência,
eficácia e economia. Consequentemente, a introdução da gestão estratégica dos
recursos públicos e da medida e avaliação de desempenho torna-se fundamental,
onde a melhoria do serviço prestado aos clientes, através de uma maior
eficiência na realização das despesas e na cobrança das receitas, constituem a
base das decisões públicas.
O Balanced Scorecard (BSC) é um sistema de gestão estratégica desenvolvido na
década de 1990, cuja aplicação no sector público, nomeadamente na Administração
Local, na administração da saúde e na administração da educação, começa a ser
cada vez mais significativa, como consequência das reformas introduzidas pela
NPM. A implementação deste instrumento de gestão nas forças policiais é já uma
realidade em alguns países como o Reino Unido, a Suécia, a Escócia, o Canadá e
a Holanda. Em Portugal, destaca-se o caso da Polícia Municipal de Matosinhos
por ter sido a primeira instituição policial a implementar este modelo de
gestão estratégica. Face ao interesse que o mundo académico tem manifestado no
estudo da medida e avaliação de desempenho do sector público, apresentam-se
neste artigo estudos de casos sobre a aplicação do BSC aos serviços policiais e
desenvolve-se um modelo de aplicação para o caso português.
O PARADIGMA DA NEW PUBLIC MANAGEMENT
Durante as décadas de 1980 e 1990 emergiu, na generalidade dos países
desenvolvidos, o modelo da NPM que visa promover a inovação e a modernização da
Administração Pública e, consequentemente, melhorar os índices de eficácia,
eficiência e economia. Osborne e Gaebler (1993) deram um importante contributo
no arranque destas reformas ao introduzirem novos conceitos de governação a que
eles chamaram de «reinvenção do governo». Com a introdução de um novo modelo de
gestão nas organizações públicas é urgente dotá-las de um sistema de informação
capaz de apoiar o processo de tomada de decisão, permitir uma melhor
racionalização dos recursos, promovendo um serviço público de melhor qualidade,
com menores custos. Os conceitos de autonomia, descentralização dos serviços,
responsabilidade baseada em outputs e outcomes, racionalização dos recursos,
preocupação com os clientes e qualidade do serviço público ascendem com o novo
paradigma da gestão pública (Hood, 1991 e 1995; Osborne e Gaebler, 1993;
Dunleavy e Hood, 1994).
Os princípios básicos subjacentes à NPM implicam uma mudança na forma como os
serviços públicos estão organizados e no modo como são geridos. O foco deixa de
ser unicamente a lei e o seu cumprimento, passando a defender-se uma maior
aproximação aos cidadãos e às suas necessidades e a promoção da accountability
e da transparência. Assiste-se, deste modo, à decadência do modelo burocrático
da administração tradicional, e à ascensão do novo modelo de gestão pública
(Dunleavy e Hood, 1994; Raine e Willson, 1995; Rocha, 2000; Fernandes, 2004). A
introdução de critérios empresariais e de princípios de gestão pública, como a
concorrência entre os serviços prestados, o aumento de poder e de participação
dos cidadãos, a medida e avaliação de desempenho baseada em outputs e outcomes,
a descentralização das responsabilidades, a introdução do value for money e de
outros mecanismos de mercado parece vir substituir a «velha» burocracia
(Osborne e Gaebler, 1993). Contudo, o processo de mudança não pode negligenciar
as especificidades e as diferenças do sector público, relativamente ao sector
privado, para que se obtenha o sucesso desejado destas medidas.Sem abandonar a
preocupação com a legalidade e com a regularidade financeira, o modelo da NPM
introduz a necessidade de adequar as acções e as iniciativas desenvolvidas aos
objectivos estabelecidos «avaliando o conteúdo e a oportunidade do gasto
público em função dos resultados e, desta forma, identificando a competência
técnica, o rigor e a ética dos gestores públicos em quem se delega a capacidade
para tomar decisões» (Fernandes, 2004, p. 114).
Em Portugal, a adopção deste novo modelo de gestão pública tem sido um processo
faseado, com relativo atraso comparativamente aos países anglo-saxónicos e aos
países escandinavos, devido à grande influência do direito romano nos países da
Europa continental (OCDE, 2005). A Reforma da Administração Financeira do
Estado (RAFE) e da contabilidade pública, levada a cabo na década de 1990,
constituiu o primeiro passo na concretização destes objectivos. Contudo,
continuamos a ter um conjunto de serviços extremamente centralizados, sem a
autonomia, a flexibilização da gestão e o poder de decisão característicos das
agências governamentais do Reino Unido e dos EUA.
APLICAÇÃO DO BALANCED SCORECARD AO SECTOR PÚBLICO
No início da década de 1990, Kaplan e Norton (1992) desenvolveram um sistema de
medida de desempenho e de gestão estratégica, como resposta às necessidades de
um novo modelo de informação contabilística, que contemplasse informação
financeira e não financeira. Só assim seria possível considerar, no processo de
tomada de decisão, a informação relativa ao valor dos activos intangíveis, como
a qualificação dos recursos humanos, a satisfação dos clientes, a flexibilidade
dos processos, entre outros. A estrutura do BSC desenvolvida inicialmente para
o sector privado assenta em quatro perspectivas fundamentais: a perspectiva
financeira, a perspectiva dos clientes, a perspectiva dos processos internos e
a perspectiva da aprendizagem e crescimento. Apesar da estrutura definida por
Kaplan e Norton, o modelo é flexível, devendo ser aplicada a estrutura mais
indicada a cada organização.
Niven (2003) verificou que cerca de 50% das empresas cotadas no Fortune 10001,
obteve sucesso na implementação do BSC. Face ao cenário positivo no sector
privado, o autor procurou analisar a sua aplicabilidade às organizações
públicas e às organizações sem fins lucrativos. Niven (2003) defende que o
modelo desenvolvido por Kaplan e Norton (1992 e 1996) assume um papel relevante
para organizações de grande e pequena dimensão, sejam públicas, privadas ou sem
fins lucrativos.
O aumento da competitividade, as restrições orçamentais, o aumento das
expectativas da sociedade, a rápida mudança tecnológica e a necessidade de
sobrevivência exigem uma rápida capacidade de adaptação das organizações do
sector público (Kasurinen, 2002; Wisniewski e Olafsson, 2004) e a utilização de
novas fontes de financiamento. A difícil conjuntura que se faz sentir justifica
a adopção desta ferramenta de gestão também em organizações onde o lucro não é
o principal objectivo.
O BSC foi inicialmente desenvolvido como um sistema de gestão adequado ao
sector privado, baseado na estratégia e nos objectivos definidos. Contudo,
Kaplan (2001) e Niven (2003) referem que o BSC é um modelo dinâmico e flexível
susceptível de ser aplicado a qualquer organização, nomeadamente em entidades
onde o lucro não é o principal fim a atingir. Na realidade, qualquer
organização, seja pública ou privada, necessita de comunicar a sua estratégia e
os seus objectivos, bem como as medidas de desempenho em todos os níveis da
organização. Logo, o BSC é um modelo aplicável também ao sector público, desde
que devidamente adaptado à realidade de cada organização.
O estudo da utilidade e da implementação do BSC tem crescido significativamente
nos últimos anos, existindo já várias investigações sobre a sua aplicação ao
sector público (Ho e Chan, 2000 e 2002; Kaplan, 2001; Johnsen, 2001; Carmona e
Grönlund, 2003; Niven, 2003; Wilson et al., 2003; Zelman et al., 2003; Chan,
2004; Wisniewski e Olafsson, 2004; Gomes et al., 2008). As quatro perspectivas
do modelo inicial desenvolvido por Kaplan e Norton continuam a ser a base do
BSC aplicado ao sector público, havendo algumas alterações introduzidas.
Os clientes/cidadãos e a satisfação das suas necessidades fazem do sector
público um sector específico, com uma missão essencialmente de cariz social e
política, que se distingue da do sector privado. Assim, Niven (2003) defende
algumas alterações ao modelo original. A Figura 1 representa a estrutura do BSC
para o sector público na opinião do autor, sendo esta representada pelas
perspectivas dos clientes, dos processos, das finanças e da aprendizagem e
crescimento.
FIGURA 1
Estrutura do BSC no Sector Público
O topo da estrutura do BSC é ocupada pela missão organizacional, estando todas
as perspectivas de desempenho interligadas de modo a concretizá-la. Assim, o
primeiro passo é perceber a razão da existência da organização e quem é que ela
serve. Consequentemente, e tendo em conta a missão destas organizações, dá-se
uma maior importância à perspectiva dos clientes, em detrimento da perspectiva
financeira, devido ao facto do foco não ser colocado nos investidores e na
maximização do seu valor, mas sim na satisfação das necessidades dos seus
clientes (Ellingson e Wambsganss, 2001; Niven, 2003). Ao alinhar a perspectiva
dos clientes com a estratégia está-se a dar voz às suas expectativas e à
introdução das suas necessidades na definição dos serviços públicos a prestar.
Deste modo, a posição da perspectiva financeira no modelo original de Kaplan e
Norton é ocupada pela perspectiva dos clientes devido à missão destas
organizações. Como refere Pagsibigan, numa entrevista sobre a organização
pública que dirige, «nós colocamos a perspectiva do cliente no topo. A mensagem
é a de que tudo o que fazemos relativamente às finanças, retornos, e outras
coisas é para sustentar e satisfazer os nossos clientes» (citado por Niven,
2003, p. 34). Apesar das alterações analisadas, a perspectiva financeira
continua a existir no BSC para o sector público. Niven (2003) defende que não
há BSC sem a perspectiva financeira, pois nenhuma organização pode operar com
sucesso sem recursos financeiros. Por outro lado, com a introdução das medidas
de eficiência, eficácia e economia, é necessário que a perspectiva financeira
esteja presente na estrutura do BSC para o sector público devido à necessidade
de racionalizar o uso dos recursos públicos e aumentar a transparência das
contas públicas.
No sector público, a perspectiva financeira foca essencialmente os custos com a
actividade pública e a forma como lidar com a escassez de recursos, e não a
obtenção do lucro como no sector privado. O desempenho financeiro, no sector
público, não é um objectivo em si mesmo, mas sim um meio através do qual se
concretizam os fins, como a satisfação dos clientes e da comunidade em geral
através da produção de bens e serviços (Wisniewski e Dickson, 2001).
Relativamente aos processos internos é importante introduzir melhorias e uma
maior flexibilização nos processos existentes de forma a criar valor para os
clientes, logo esta perspectiva também deve integrar a estrutura do BSC para o
sector público. Os processos desenvolvidos devem estar directamente
relacionados com os objectivos e medidas escolhidas para a perspectiva do
cliente, de forma a melhorar os seus outcomes. Por exemplo, o tempo médio de
resposta a um pedido de um cliente passa, necessariamente, por uma melhoria nos
processos internos e na sua gestão.
A perspectiva da aprendizagem e do crescimento também integra o modelo do BSC
adaptado ao sector público, pois também estas organizações necessitam de ter
pessoas devidamente qualificadas, capazes, informadas e orientadas para o
alcance da missão organizacional. A qualificação dos trabalhadores e as infra-
estruturas organizacionais representam a base do BSC, pois a melhoria dos
processos internos, o desempenho financeiro e a satisfação das necessidades dos
clientes vai depender, em grande parte, das capacidades dos trabalhadores e dos
instrumentos que estão à sua disposição. Esta perspectiva é, por vezes,
ignorada, pondo em causa o sucesso na implementação do BSC. «Trabalhadores
motivados, com adequadas aptidões e ferramentas, operando num clima
organizacional sustentável, são os ingredientes chave para melhorar os
processos, trabalhar com limitações financeiras e, finalmente, satisfazer os
clientes e conduzir ao sucesso da missão» (Niven, 2003, p. 35).
A comparação da ordenação das perspectivas de desempenho entre o sector público
e o sector privado são também analisadas por Wisniewski e Olafsson (2004). As
diferenças verificadas baseiam-se no facto da maximização do lucro constituir o
principal objectivo no sector privado e a satisfação dos clientes a principal
motivação do sector público (cf. Tabela 1). A informação sobre a satisfação do
cliente e o impacto dos serviços prestados na comunidade é mais relevante para
o sector público pois, na maioria das vezes, os bens e serviços são produzidos
em regime de monopólio, não havendo alternativa para os cidadãos. A
aprendizagem e crescimento, bem como o sucesso dos processos internos, são
meios essenciais para o alcance dos objectivos, em qualquer um dos sectores
(Niven, 2003; Wisniewski e Olafsson, 2004).
TABELA 1
Ordenação das perspectivas do BSC: Sector Público vs Sector Privado
Apesar dos indícios da utilização do BSC em várias organizações do sector
público, na literatura são identificadas algumas dificuldades na implementação
deste instrumento que podem pôr em causa o seu sucesso. A falta de recursos e
de uma cultura estratégica, a politização da Administração Pública, a reduzida
participação dos cidadãos, as barreiras culturais e a corrupção na aplicação
dos fundos públicos constituem limitações importantes (Holmes, et al., 2006).
Por outro lado, a necessidade de um sistema de informação altamente
desenvolvido para suportar o BSC, a falta de apoio do executivo, a necessidade
de se interligar o BSC com o sistema de recompensas dos trabalhadores, a
elevada formação exigida e ainda o processo de mudança subjacente ao BSC podem
também constituir barreiras significativas (Chan, 2004).
Wisniewski e Dickson (2001) referem que o tempo e os esforços necessários, a
diferença entre a terminologia utilizada e a cultura de gestão da organização e
a falta de competências específicas dificultam a implementação bem-sucedida do
BSC. Por outro lado, em organizações com actividades e funções muito
específicas, como é o caso das forças policiais, pode correr-se o risco de não
se estar a medir o que realmente constitui a actividade desta organização
quando a missão não é claramente definida e os indicadores utilizados não
abarcam todas as actividades desenvolvidas (Carmona e Grönlund, 2003). Por
exemplo, há um conjunto de factores externos que determina o desempenho
policial, como a participação da população, o comportamento da sociedade
relativamente ao crime, a taxa de desemprego, a imigração, entre outros. A
avaliação do desempenho requer alguns cuidados, para que os resultados não
sejam enviesados.
Apesar das limitações apontadas, a literatura refere que o BSC é um instrumento
de gestão com utilidade para o sector público, podendo conduzir à melhoria do
desempenho organizacional, quando devidamente implementado. O envolvimento das
chefias e dos executivos, a vontade própria para implementar o BSC no terreno
e, essencialmente, a mudança da cultura relativamente à medida e avaliação do
desempenho constituem factores essenciais para se introduzirem, com sucesso, as
reformas pretendidas.
REFORMA DOS SERVIÇOS POLICIAIS NO ÂMBITO DA NPM
A Administração Pública em geral, e os serviços policiais em especial, têm
sofrido um conjunto de mudanças estruturais e culturais em consequência das
reformas da NPM. O aumento da eficiência, da eficácia e da qualidade do
serviço, a responsabilização e a transparência, a medida e a avaliação de
desempenho e o value for money são conceitos que também se pretendem incutir
nas forças policiais. A reforma levada a cabo nos serviços policiais de países
como o Reino Unido, a Austrália, a África do Sul, a Grécia, a Suécia e
Portugal, despertou o interesse de vários investigadores para estas matérias
(Loveday, 1995; Collier, 2001 e 2004; Carmona e Grönlund, 2003; Lambropoulou,
2004; Hoque et al., 2004; Gomes, 2007).
Hoque et al. (2004) defendem dois propósitos essenciais que estão subjacentes
às reformas da NPM levadas a cabo nos serviços policiais: primeiro, legitimar a
actividade policial perante o eleitorado e a comunidade em geral; segundo,
aumentar a eficiência na utilização dos recursos. É na concretização destes
propósitos que são desenvolvidas novas ferramentas e técnicas contabilísticas e
adequados sistemas de informação para melhorar o processo de tomada de decisão,
tal como aconteceu com a polícia australiana. Por outro lado, a informação
produzida deve ser utilizada para legitimar os serviços prestados perante o
eleitorado, de forma a aumentar a transparência e a accountability.
Do mesmo modo, Leishman et al. (1995) defendem que a reforma da polícia em
particular, e do sector público em geral, passa pela adopção de instrumentos de
gestão privada, profissionalização da gestão, clarificação das normas e das
medidas de desempenho, ênfase no controlo e na medida do output,
descentralização das unidades policiais e aumento da competitividade, tendo
sempre por base os objectivos estratégicos definidos e as necessidades da
comunidade. A introdução da gestão por objectivos e do planeamento estratégico,
nos serviços policiais, contribui para o aumento da sua eficiência uma vez que
a alocação de recursos é feita com base nas actividades chave de prevenção e
redução do crime e de aumento da segurança (Sepp, 2002).
A inconsistência, imprecisão, multiplicidade e ambiguidade dos objectivos e das
actividades das forças policiais e a existência de diferentes stakeholders, com
interesses divergentes, dificulta o processo racional de tomada de decisão.
Isto conduz, necessariamente, ao desenvolvimento de sistemas de informação e de
controlo que reflectem e gerem a medida, o relato e a monitorização do
desempenho (Collier, 2001). Por outro lado, a falta de planeamento e de um
modelo de gestão mais pró-activo conduz a uma dispersão na afectação de
recursos, sendo estes, por vezes, direccionados para actividades secundárias.
Loveday (1995) e Collier (2001) verificaram que, durante a década de 1990,
apenas 25% da actividade policial britânica estava orientada para a actividade
central de prevenção e redução do crime (policiamento de proximidade),
resultando num aumento do número de crimes em cerca de 100%, num período de 15
anos. Assim, a má gestão dos recursos é uma causa da ineficiência e da baixa
qualidade dos serviços.
Deste modo, a contabilidade de gestão surge no sentido de melhorar o processo
de tomada de decisão de uma organização complexa, como é o caso da polícia, de
forma a melhorar o seu desempenho. Estes sistemas de controlo de gestão devem,
contudo, desempenhar a sua função económico-racional e não se transformarem num
elemento económico-político com o único objectivo de tornar visível os
interesses dos políticos e governantes (Collier, 2006). Este é o risco dos
sistemas de controlo quando não são devidamente implementados, isto é, quando
são utilizados meramente com a função de legitimar a actividade política
perante o eleitorado e garantir a reeleição, a que Collier (2006) chama de
«politização» da contabilidade.
Com o processo de globalização e internacionalização as elevadas taxas de crime
e de violência passaram a ser um comportamento habitual nos últimos anos,
constituindo mesmo um indicador de desenvolvimento em alguns países
(Lambropoulou, 2004). Esta situação conduziu a um conjunto de reformas
implementadas nos serviços policiais de vários países, no sentido de reduzir os
custos com a segurança e a justiça criminal, por um lado, e aumentar a
qualidade dos serviços prestados, com melhores índices de eficiência, eficácia
e economia, por outro. A orientação para o cliente é uma condição fundamental
para melhorar a qualidade dos serviços policiais, tal como acontece no sector
privado, de forma a reduzir a lacuna existente entre as expectativas dos
cidadãos e o serviço prestado. Este é o princípio básico da reforma de qualquer
sistema policial.
APLICAÇÃO DO BSC AOS SERVIÇOS POLICIAIS ' ESTUDO DE CASOS
O desenvolvimento de um sistema de medida e avaliação de desempenho nos
serviços policiais enfrenta imensas restrições e limitações por se tratar de
organizações caracterizadas por um elevado secretismo, hierarquia e disciplina
e devido ao conjunto de factores externos que afectam o desempenho policial.
Contudo, com o aumento da criminalidade e, consequentemente, da actividade
policial nos últimos anos, é fundamental obter informação financeira e não
financeira, qualitativa e quantitativa para avaliar o seu desempenho (Carmona e
Grönlund, 2003; Gomes, 2007).
Holmes et al. (2006) referem que a aplicação do BSC é especialmente apropriada
em organizações complexas, transparentes e maduras, com diversos stakeholders,
logo também este modelo é susceptível de aplicação nos serviços policiais. Para
identificar as perspectives adequadas, e garantir o sucesso da implementação do
BSC, é fundamental a articulação entre o planeamento estratégico e as
necessidades e objectivos específicos de cada organização. De forma a
demonstrar o modo como este modelo pode aplicar-se aos serviços policiais,
apresentam-se de seguida alguns casos em que o BSC foi implementado, com base
na revisão de literatura efectuada. Para cada caso analisado, é feita a
descrição do processo de implementação bem como a apresentação da estrutura do
modelo implementado.
a) National Police Board ' Suécia
A adopção de um sistema de medida de desempenho adequado e com foco na
prevenção do crime e na proximidade à comunidade implicou uma reorganização dos
serviços policiais da Suécia, a nível local e distrital. Esta reorganização
originou, em primeiro lugar, a identificação das actividades centrais como o
policiamento de proximidade, a manutenção da ordem pública e a investigação
criminal. Para cada uma destas actividades centrais são desenvolvidas
iniciativas que permitirão alcançar os objectivos definidos (cf. Tabela 2).
TABELA 2
Actividades Centrais e Iniciativas dos Serviços Policiais
A definição de um novo modelo de medida de desempenho para o serviço policial
da Suécia, conduziu à introdução do BSC, em 1998, em seis unidades locais da
polícia sueca. A implementação desta ferramenta de gestão teve como objectivos
melhorar a comunicação, horizontal e vertical, da estratégia organizacional e
complementar o sistema formal de estatísticas do crime com um sistema de
planeamento e de controlo de gestão
2
. A ideia subjacente à estrutura do BSC desenvolvido neste sistema policial é a
de incorporar informação sobre a opinião pública, relativamente ao desempenho
da actividade policial, numa óptica tripartida ' passado, presente e futuro,
informação que é negligenciada pelos tradicionais sistemas de avaliação
(Carmona e Grönlund, 2003).
Assim, o BSC da polícia sueca baseia-se em quatro perspectivas de desempenho: a
perspectiva dos recursos, a perspectiva dos cidadãos, a perspectiva do sucesso
e, ainda, a perspectiva do pessoal. A perspectiva dos recursos refere-se ao
conjunto de recursos financeiros, materiais e humanos de que o Governo deve
dispor para levar a cabo a missão organizacional. Na perspectiva do cidadão, a
atenção é colocada na obtenção da opinião pública sobre os problemas locais,
qualidade de vida e segurança, bem como a percepção da população relativamente
ao serviço prestado. Quanto à perspectiva do sucesso, esta constitui a
principal inovação do modelo, sendo considerada a dimensão estratégica crucial,
pois permite responder a questões como, o que é que queremos alcançar, quando
alcançamos os nossos objectivos e como devemos medir o nosso progresso. Para
avaliar o sucesso do desempenho do serviço policial, Carmona e Grönlund (2003)
consideram que há quatro factores essenciais: o tráfico rodoviário, a ordem
pública, os crimes de drogas e a investigação criminal.
Por último, na perspectiva do pessoal, estão representados os trabalhadores e
os seus objectivos; ou seja, esta perspectiva está relacionada com o ambiente
organizacional interno. O foco é direccionado para os trabalhadores e para a
sua motivação no local de trabalho, sendo este um factor com elevada influência
sobre o alcance dos resultados. É ainda efectuada uma avaliação pró-activa da
actividade policial, com base em questionários efectuados aos cidadãos e ao
pessoal. Os dados obtidos nestes questionários fornecem às autoridades
policiais informação sobre as necessidades, preocupações e percepções acerca da
qualidade do trabalho da polícia. Assim, o BSC da polícia sueca mede a
satisfação de dois grupos fundamentais: os cidadãos e o pessoal.
A Tabela 3 mostra a estrutura do BSC da polícia sueca para medir o desempenho
da perspectiva do sucesso, segundo quatro factores críticos: o tráfico
rodoviário; a ordem pública; o crime de drogas e a investigação criminal. Para
cada um destes factores, é desenvolvido o objectivo central a atingir, os
indicadores a utilizar, a unidade de medida e a metodologia de avaliação mais
adequada. Uma estrutura idêntica é desenvolvida para cada uma das restantes
perspectivas que compõem o BSC.
TABELA_3
O Balanced Scorecard do Sistema Policial da Suécia para a Perspectiva do
Sucesso
b) Esquadras Policiais de Dumfries e Galloway ' Escócia
O processo de implementação do BSC em duas divisões da polícia escocesa,
Dumfries e Galloway, começou, de forma gradual, em 1997. Iniciou-se na unidade
de serviços operacionais, cuja missão é reduzir o vandalismo sem aumentar os
custos operacionais. O processo foi desenvolvido em cinco fases sequenciais
(Wisniewski e Dickson, 2001, p. 1061): primeiro, a definição dos objectivos
estratégicos; segundo, a identificação das acções/iniciativas chave para cada
objectivo; terceiro, o agrupamento das acções/iniciativas dentro perspectivas
do BSC; quarto, a determinação das medidas adequadas para cada acção/
iniciativa; quinto, a medida dos resultados por acção/iniciativa. O seguimento
destas fases permite elaborar o mapa estratégico que constitui a essência do
BSC e o principal meio para comunicar a estratégia e avaliar o desempenho
alcançado.
Relativamente às perspectivas de desempenho utilizadas mantém-se a base do
modelo original de Kaplan e Norton. Assim, elas são o foco nos clientes/
cidadãos, a melhoria dos processos internos, a aprendizagem e, ainda, o
desempenho financeiro (ver Figura 2).
FIGURA 2
Estrutura do BSC das esquadras de Dumfries e Galloway
A estrutura do BSC foi desenvolvida com base na missão de reduzir o vandalismo,
sem aumentar os custos operacionais. A identificação das acções e das medidas
de desempenho a utilizar em cada perspectiva do BSC é feita com base na missão
organizacional, constituindo esta tarefa o quarto passo no processo de
implementação do BSC. O processo termina com a avaliação dos resultados em cada
acção definida para cada perspectiva.
A implementação do BSC nas duas esquadras da polícia escocesa foi bem sucedida,
não apenas porque o BSC providenciou um conjunto de medidas de desempenho
estratégico e operacional, mas porque providenciou também uma estrutura de
gestão estratégica (Wisniewski e Dickson, 2001). Conseguiu-se uma melhor
compreensão das perspectivas do desempenho financeiro e operacional, tendo sido
introduzidas iniciativas para aumentar o controlo financeiro. O BSC produzido
reflecte a estratégia da unidade policial em análise, tornando-se num adequado
instrumento de trabalho para qualquer iniciativa a desenvolver, em qualquer
unidade da polícia escocesa (Wisniewski e Dickson, 2001).
O sucesso na implementação deve-se essencialmente à motivação e entusiasmo das
equipas de trabalho e ao envolvimento de todos os funcionários bem como do
chefe da unidade policial em estudo. Estes são considerados, na literatura,
factores importantes para a implementação bem-sucedida do BSC.
c) Royal Canadian Mounted Police - Canadá
A polícia nacional canadiana adoptou o BSC no ano 2000, no sentido de a
transformar numa «organização de excelência com orientação estratégica»
4
. Tornar a polícia canadiana numa organização com foco na estratégia e na
gestão e avaliação de desempenho constituiu o principal objectivo neste
processo de mudança.
O processo de desenvolvimento do modelo iniciou com a definição de uma visão
estratégica para o corpo nacional de polícia, que passa por se tornar mais pró-
activa e menos reactiva e actuar com base no planeamento estratégico. Isto
requer uma melhor compreensão do contexto de mudança, a informação ao público
sobre a agenda policial e a afectação dos recursos necessários para desenvolver
o programa delineado.
Baseado na visão estratégica, o serviço nacional de polícia do Canadá definiu
dois objectivos essenciais a seguir: a excelência operacional e a excelência
organizacional. Assim, com base nestes objectivos a estrutura do BSC da polícia
canadiana assenta em três perspectivas básicas: os clientes e stakeholders; os
processos (inclui as operações, a integração do policiamento e a excelência de
gestão) e as pessoas (aprendizagem e mudança), como mostra a Figura 3.
FIGURA 3
Estrutura do BSC da polícia canadiana
A implementação bem-sucedida do BSC implica a interligação das perspectivas de
desempenho com os objectivos estratégicos da polícia, como a redução do crime
organizado, a redução do terrorismo, a prevenção e redução da criminalidade
infantil e juvenil, a garantia e a segurança das comunidades e, por fim, o
apoio às operações e iniciativas internacionais. A inexistência desta
interligação conduz à implementação de um simples key performance indicators e
não do BSC como um sistema de gestão estratégica (Kaplan e Norton, 1996).
De forma a garantir o sucesso na implementação do BSC na polícia canadiana,
este seguiu três fases importantes: o desenvolvimento dos mapas estratégicos,
devendo ser desenvolvido um mapa estratégico para cada um dos objectivos
estratégicos; o desenvolvimento dos scorecards ou das matrizes de objectivos,
no sentido de identificar as iniciativas a desenvolver pelas unidades
operacionais e, finalmente, a divulgação periódica do desempenho alcançado. O
processo de implementação do BSC ficou totalmente implementado no ano de 2002-
2003, constituindo este um caso de sucesso da implementação do BSC numa
organização policial. A avaliação dos primeiros resultados permitiram já aferir
sobre um aumento da satisfação dos stakeholders e, em simultâneo, uma maior
economia de recursos financeiros.
d) West Mercia Constabulary e Criminal Records Bureau - Reino Unido
A reforma do sistema policial britânico tem merecido bastante destaque em
estudos prévios devido à grande preocupação que os governantes têm atribuído à
medida de desempenho deste serviço público (Collier, 2001 e 2006). Esta
preocupação dos governantes tem sido motivada por uma onda de críticas
relativamente ao desempenho da polícia britânica nos últimos anos, devido ao
aumento significativo da taxa de criminalidade. O processo de mudança foi
desencadeado pelas Local Financial Management Iniciatives, desde a década de
1980, resultando num novo modelo de gestão financeira e de transferência de
poderes para as autoridades locais. Passou a defender-se um modelo de gestão
mais proactivo e assistiu-se a uma mudança dos sistemas de informação e de
controlo de gestão (Collier, 2001).
Em consequência destas reformas, o desenvolvimento dos sistemas de medida de
desempenho da polícia britânica seguiu dois passos distintos: primeiro, o
desenvolvimento de um sistema de informação financeira com o objectivo de se
relacionarem os custos das actividades com os outputs; segundo, o
desenvolvimento de um sistema de indicadores de desempenho distribuídos pela
estrutura organizacional, detecção do crime, procedimentos criminais, tráfico,
reabastecimento e desperdícios, prevenção do crime, reclamações, ordem pública,
drogas e civilização. Estes indicadores permitem efectuar comparações a todo o
tempo, a nível nacional e entre as forças policiais.
Este contexto de mudança constituiu o ponto de partida para a adopção do BSC
como um sistema de gestão estratégica na West Mercia Constabulary. Esta é uma
das maiores unidades policiais do Reino Unido, sendo responsável pela segurança
das cidades de Herefordshire, Worcestershire e Shropshire. O processo de
implementação do BSC na West Mercia Constabulary iniciou com uma clara
definição da missão organizacional que se resume na seguinte expressão «Um
melhor lugar para viver» (Wilson 1999, p. 20). A falta de uma cultura
estratégica e de interligação das medidas de desempenho com os objectivos
definidos e a inexistência de informação qualitativa da actividade policial
fomentaram o desenvolvimento do modelo nesta organização policial. O principal
propósito é melhorar o desempenho organizacional, aumentar os índices de
eficiência e de eficácia e a satisfação das pessoas relativamente aos serviços
prestados.
Depois de clarificada a missão organizacional, definiram-se os factores
críticos de sucesso, as medidas target que permitem avaliar o desempenho e os
indicadores chave devidamente articulados com a missão organizacional,
integrados nas quatro perspectivas do BSC de Kaplan e Norton: os clientes, as
finanças, os processos internos e a aprendizagem e crescimento. A definição das
actividades básicas e prioritárias da West Mercia Constabulary tornou-se mais
eficaz. Por outro lado, o BSC permitiu a obtenção de informação quase em tempo
real, facilitando a gestão estratégica e operacional. «O Balanced Scorecard
permite-nos ver as relações e as implicações e, consequentemente, promove o
alinhamento organizacional» (Wilson, 1999, p. 22).
Por outro lado, o Criminal Records Bureau (CRB)5 constitui outro serviço
britânico relacionado com a segurança e a criminalidade onde a aplicação da
metodologia do BSC constitui uma realidade. Este organismo, ao contrário do
anterior, dedica-se essencialmente à recolha de informação sobre a actividade
desenvolvida pelas forças policiais e à emissão de relatórios sobre o
desempenho da actividade policial. O CRB define três objectivos essenciais com
base nos quais desenvolveu a metodologia do BSC: aumentar o atendimento/
satisfação do cliente; melhorar a qualidade do serviço e fornecer um serviço
mais eficiente. A estrutura do BSC desenvolvido é composta por cinco
perspectivas, como a qualidade e segurança, os clientes, o sucesso, a
eficiência e finanças e ainda a inovação e desenvolvimento, tal como se
apresenta na Figura 4. A missão está na base de toda a estrutura. A preocupação
com a qualidade e com a satisfação dos clientes é evidente nesta estrutura,
constituindo o fim a atingir. A aposta nas pessoas, a promoção do value for
money e o uso das novas tecnologias constituem os meios que determinam o fim a
atingir.
FIGURA 4
Estrutura do BSC para o Criminal Records Bureau
e) Polícia Municipal de Matosinhos ' Portugal
A Polícia Municipal (PM) constitui uma força policial em Portugal, tendo
resultado de uma reestruturação do sistema policial levada a cabo nos últimos
anos, dando cumprimento ao preceito constitucional da aproximação dos serviços
policiais junto dos cidadãos. A Lei n.º 19/2004 define as actuais atribuições
da PM, bem como a forma de organização e constituição desta força policial.
Após aplicação de um inquérito por questionário a todas as forças policiais que
integram o sistema de segurança Português, Gomes (2007) constatou que a Polícia
Municipal de Matosinhos constitui uma referência na adopção da metodologia do
BSC como um sistema de medida de desempenho e de gestão estratégica.
A PM de Matosinhos actua na área territorial do respectivo concelho, sob a
tutela do Presidente de Câmara, e constitui um serviço municipal integrado no
Departamento de Segurança e Protecção Civil. A missão desta instituição engloba
a promoção das condições de segurança e da ordenação social do concelho, a
prevenção de actos contra a lei, o apoio, informação e sensibilização das
populações em matérias de segurança e, ainda, colaborar com as restantes forças
de segurança. A visão estratégica consiste em tornar a PM de Matosinhos «uma
polícia pró-activa, eficiente e eficaz que interaja com a sociedade e assegure
um serviço público de elevada qualidade». «Matosinhos uma cidade arrumada» é
definido como o objectivo estratégico a prosseguir.
De forma a melhorar a execução e a comunicação da estratégia e a avaliação do
desempenho, a PM de Matosinhos desenvolveu, em 2005, um sistema de avaliação de
desempenho com base no modelo do BSC desenvolvido por Kaplan e Norton, onde a
perspectiva dos clientes ocupa o topo da estrutura, seguindo-se a perspectiva
dos processos internos, inovação e aprendizagem e, por fim, a perspectiva das
finanças. A estrutura do BSC assenta na missão definida para esta organização,
tal como defende Niven (2003). Logo de seguida, aparece a perspectiva dos
clientes cuja satisfação constitui o fim a atingir, seguindo-se a perspectiva
dos processos internos, inovação e aprendizagem e a perspectiva das finanças
que constituem os determinantes para atingir o fim (cf. Figura 5).
FIGURA 5
Perspectivas do BSC da Polícia Municipal de Matosinhos
A Tabela 4 apresenta a estrutura do BSC da PM de Matosinhos para a perspectiva
dos clientes. Nesta estrutura apresentam-se os objectivos de curto prazo
definidos no ano de 2005 (ano da implementação), os indicadores mais adequados
para cada objectivo, as metas sugeridas para medir o desempenho e, por fim, as
iniciativas a desenvolver para concretizar esses objectivos. Por exemplo, para
reduzir a venda ambulante definiu-se como iniciativa o aumento da visibilidade
e da presença da polícia nos locais de maior incidência. O número de autos
registados é o indicador mais adequado para medir este objectivo e a redução
desse número em 50% constitui a meta atingir para o exercício de 2005. Uma
estrutura idêntica é utilizada para as restantes perspectivas.
TABELA_4
O BSC da Polícia Municipal de Matosinhos para a Perspectiva dos Clientes
Passados alguns anos após o início da implementação deste modelo, seria
pertinente avaliar o impacto na eficiência organizacional, o sucesso percebido
e as principais limitações sentidas em todo o processo. O estudo aprofundado
deste caso constitui uma oportunidade de investigação a curto prazo.
ANÁLISE COMPARATIVA DOS CASOS ESTUDADOS
Em síntese, os casos analisados mostram que, apesar da complexidade e
ambiguidade subjacente à actividade policial, o BSC revela-se um instrumento
útil para melhorar o desempenho organizacional destes serviços. A satisfação
dos clientes e o aumento da qualidade do serviço prestado constituem a base da
estrutura deste modelo. A Tabela 5 sintetiza os casos identificados na
literatura sobre a aplicação do BSC nos serviços policiais, evidenciado a
instituição em causa, o país, bem como as perspectivas do BSC utilizadas.
TABELA 5
A utilização do BSC nas Forças Policiais: Análise Comparativa
CONCLUSÃO
O sector público da generalidade dos países desenvolvidos tem sofrido mudanças
profundas nas últimas décadas, como consequência da introdução dos princípios
da NPM. Assistiu-se à decadência dos modelos burocráticos de gestão, por um
lado, e à aplicação dos mecanismos de gestão privada, da medida de desempenho
baseada em outputs e outcomes, do conceito do value for money e da
racionalização dos recursos, por outro.
Na sequência dessas reformas tem-se defendido a introdução de novos sistemas de
informação e de avaliação de desempenho na Administração Pública. Assim, a
difusão e a implementação das novas práticas da contabilidade de gestão,
nomeadamente o BSC, suscitaram o interesse do mundo académico, nas últimas
décadas. A investigação já realizada evidencia um forte impacto da NPM na
mudança e no desempenho organizacional e na implementação de novos sistemas de
informação e de controlo de gestão. O envolvimento das chefias de topo, a
escassa difusão e formação acerca das funcionalidades deste instrumento de
gestão estratégica e da forma como se deve utilizar a informação por ele
produzida, a falta de vontade de introduzir a mudança e os custos associados ao
seu desenvolvimento são algumas das limitações apontadas à introdução do BSC,
no sector público.
Relativamente aos serviços policiais, estes caracterizam-se por desenvolver uma
actividade complexa e ambígua o que dificulta também a medida e avaliação do
seu desempenho. Como a polícia prossegue objectivos muito diversificados e
serve grupos de interesse distintos, sente-se uma grande dificuldade na
definição de um rumo estratégico e na afectação de recursos centrada na
actividade central de prevenção e de proximidade à comunidade. A polícia
constitui um sector bastante complexo, onde a avaliação de desempenho e o
controlo de gestão enfrenta algumas barreiras, devido ao conjunto de factores
externos e incontroláveis, à complexidade de funções, à diversidade de
stakeholders e à ambiguidade de objectivos que afectam a sua actividade e
desempenho. Por outro lado, o contexto político em que esta instituição actua,
conduz a uma contínua mudança de iniciativas e de objectivos políticos, pondo
em causa a comparabilidade da informação dos indicadores definidos. Contudo, o
aumento da dimensão da actividade policial, em consequência do aumento da
criminalidade e do terrorismo, justifica a adopção deste instrumento de gestão
neste serviço público tão específico.
O estudo de casos apresentado revela que o BSC se tornou um instrumento de
gestão adequado à organização e filosofia deste tipo de serviços, podendo
contribuir para a melhoria do desempenho organizacional. Apesar de se estar
ainda a dar os primeiros passos, começa a ser significativa a implementação,
com sucesso, do BSC neste tipo de serviço público em Portugal. Contudo, o
sucesso na implementação do BSC vai depender, entre outros factores, da forma
como se define a missão e os objectivos estratégicos e da sua interligação com
os objectivos de curto prazo a alcançar e as medidas de desempenho a utilizar,
dentro de cada perspectiva. O desenvolvimento de um estudo aprofundado sobre o
caso da PM de Matosinhos constitui uma oportunidade de investigação a curto
prazo que se pretende desenvolver para uma melhor clarificação do processo de
implementação do BSC nas forças policiais.