Método do rendimento na avaliação imobiliária: uma revisão da literatura
INTRODUÇÃO
A avaliação imobiliária influencia grande parte das decisões financeiras nas
modernas economias desenvolvidas, onde o sector imobiliário se apresenta como
muito relevante para o crescimento económico, quer directa, quer
indirectamente. Num contexto de globalização, as crises financeiras passadas e
recentes demonstraram que os perigos de colapso financeiro são reais, sendo de
prever o seu contágio a outros mercados e a outras economias.
A avaliação imobiliária apresenta um carácter relevante sobretudo pela
utilização do método do rendimento que tem subjacente o método de actualização
das rendas futuras dos imóveis, que utiliza o valor actual das rendas futuras
que um imóvel produz ou é capaz de vir a produzir durante a sua vida útil
futura.
O valor presente de um bem é constituído pela soma de todas as rendas líquidas
futuras relacionadas com o mesmo. É necessário estimar os fluxos de caixa
futuros (proveitos menos custos) imputáveis até ao final da sua vida útil. Os
fluxos de caixa futuros devem ser previstos dentro do princípio da prudência,
associado à actividade a que o bem está destinado, atendendo aos rácios médios
actuais e com uma visão de futuro. Deve tentar prever-se o comportamento futuro
atendendo ao ciclo de vida normal do bem e à sua exploração no seu ciclo
económico, considerando ainda qualquer aspecto que possa influir no valor dos
proveitos e dos custos.
A avaliação consiste na utilização de um modelo, enquanto processo de
determinação do valor da propriedade influenciado pela quantificação da
compreensão do mercado, impacto legal, constrangimentos físicos do regime de
planeamento, disponibilidade financeira, procura para o produto, bem como do
modo como a conjuntura económica influencia o valor da propriedade.
A utilização do modelo do rendimento na avaliação imobiliária requer alguns
cuidados. Desde logo na periodicidade dos cash flows (anuais, semestrais,
trimestrais, mensais) e na taxa de ocupação dos imóveis. Projectar cash flows
futuros exige dados que, no mercado imobiliário, não são fáceis de obter, pois
as variáveis com influência são diversas (política fiscal, taxas de juro, entre
outras conjunturais). O processo de formação do preço no mercado imobiliário
reflecte, por vezes, valores sentimentais e pouco racionais. Cabe ao investidor
analisar, atendendo aos princípios de rentabilidade e risco enunciados por
Markowitz (1952).
O objectivo do presente trabalho é procurar, na medida do possível, efectuar
uma revisão bibliográfica sobre o modelo do rendimento aplicado na avaliação
imobiliária. Para tal, o artigo divide-se em cinco secções. Na primeira secção
é efectuada uma pequena introdução. Na segunda aborda-se o método do
rendimento, as suas variáveis, principais relações, vantagens e inconvenientes.
Enquanto a influência dos investidores fundamentais versus sentimentais é
analisada na terceira secção, alguns modelos de determinação dinâmica dos
preços dos imóveis através de
cap rates1
e principais variáveis são apresentados na quarta secção. Finalmente, na
quinta secção são apresentadas algumas considerações finais e as principais
conclusões.
O MÉTODO DO RENDIMENTO
O método do rendimento é um método de actualização das rendas futuras dos
imóveis. Neste método, a propriedade é encarada como um bem produtivo, capaz de
produzir uma renda, com determinado nível de proveito e, portanto, de
rendimento, podendo tratar-se de um prédio urbano ou de um prédio rústico. O
valor de mercado baseado na renda presente é interpretado como a soma máxima
que um investidor conhecedor das actuais condições do imóvel, especialmente
relacionadas com a sua ocupação presente e rendimento gerado com a renda
praticada, estaria disposto a desembolsar com a sua aquisição.
Segundo Ruback (1987), os modelos baseados no desconto de fluxos de rendimento,
baseados em fundos, partem da expressão:
Sendo que:
CFi: fluxo de fundos gerados no período i;
Vn: valor residual no ano n;
K: taxa de desconto exigida para o desconto de fluxos de fundos;
T: ano final de cash flows (pode ser infinito).
Embora, à primeira vista, possa parecer que a equação (1) está a considerar uma
duração temporal de fluxos, a realidade é diferente, já que o valor residual no
ano n (Vn) pode ser calculado descontando os fluxos futuros a partir desse
período.
Um procedimento simplificado, para considerar uma duração indefinida de fluxos
futuros a partir do ano n, é supor uma taxa de crescimento constante (g) dos
fluxos a partir desse período e obter o valor residual no ano n, aplicando a
fórmula simplificada de desconto de fluxos indefinidos com crescimento
constante (Ruback, 1987):
Apesar dos fluxos poderem ter uma duração indefinida, pode ser admissível
depreciar o seu valor a partir de determinado momento, dado que o seu valor
actual é menor quanto mais longínquo é o horizonte temporal. Por outro lado, a
vantagem competitiva de muitos negócios tende a desaparecer ao fim de alguns
anos.
Segundo Molina (2003), Rebelo (2002) e Schulz (2003), o valor de uma
propriedade imobiliária, capaz de produzir uma renda, é dado pelo quociente
entre o rendimento líquido periódico (Rta) e a respectiva taxa de actualização
(r).
Onde:
V: valor do imóvel;
Rta: renda líquida do período;
r: taxa de juro correspondente ao período.
Desta forma compara-se a renda de um imóvel com o valor que se obteria num
investimento seguro, como por exemplo em Obrigações do Tesouro, ou noutro
activo com risco baixo. De acordo com o princípio enunciado, o valor de algo é
proporcional à renda económica que gera, mas no caso dos imóveis este é apenas
uma hipótese de partida, pois existem outras variáveis que incidem sobre o bem
(Molina, 2003):
· No âmbito rural podem ter importância factores como a distância ao núcleo
urbano; sentimento de reconhecimento social pela posse da terra; expectativas
futuras de índole urbanística, empresarial, turística, etc.; perspectivas de
melhorias de rentabilidade futura, que podem derivar de diversas causas,
proximidade de vias de comunicação ou a empresas que laborem com produtos
agrícolas, apetência dos vizinhos pela aquisição de imóveis limítrofes;
· No âmbito urbano podem influir outros factores: necessidade de ampliação de
uma determinada actividade industrial num local adjacente; proximidade a um dos
locais de trabalho da actividade que se desenvolve; desejo de dispor de um
imóvel limítrofe à habitação por questões familiares ou de prestígio; número de
pessoas que circulam naquela parte da via e que está ligado ao local comercial,
entre outras;
· Complementarmente aos aspectos enunciados anteriormente, atendendo à natureza
do bem, existem outros que são comuns: tanto a segurança como a liquidez e a
rentabilidade dos imóveis são diferentes de outras aplicações financeiras. Os
motivos são múltiplos, mas o maior peso específico vai para a falta de um
mercado perfeito, sem comerciantes especiais, temporais e custos
administrativos que têm influência sobre o valor de venda.
Segundo Molina (2003), a inflação apresenta-se como um elemento de crucial
importância em todos os investimentos financeiros, bem como em qualquer
actividade relacionada com imobiliário.
Para León (2003), a inflação repercute-se no sector imobiliário de diferentes
formas. No sector imobiliário rústico é diferente da verificada no sector
urbano, e ambas são distintas da taxa de inflação geral existente no mercado
nacional de bens imóveis.
Assim, o investidor procura as alternativas que lhe oferecem um retorno mais
elevado, mas, no caso dos bens imóveis, deve ter também em conta, além da
inflação, aspectos relacionados com a aversão ao risco, a liquidez e possíveis
mais-valias associadas à aquisição do imóvel.
Moreira (2002) entende que para se aplicar o método do rendimento deve ter-se
informação válida sobre:
· O cálculo exacto dos proveitos e dos gastos gerados pela detenção do imóvel,
o que levará à obtenção da renda real potencial;
· A periodicidade da renda estimada;
· Identificação dos benefícios que gera;
· Decisão sobre a taxa de actualização a utilizar;
· Vida útil do projecto de investimento imobiliário;
· Influência da inflação.
De notar que há modelos que tentam contornar alguns dos aspectos referidos. Por
exemplo, o modelo de Geltner e Mei (1995) é um modelo de previsão de cash flows
que, sendo vectorial auto-regressivo, consegue prever cash flows e retornos em
mercados de propriedades comerciais.
Para Ghysels, Plazzi e Valkanov (2007), a alternativa a calcular o valor da
propriedade imobiliária, como qualquer outro recurso financeiro, é descontar o
valor das rendas esperadas. Estes autores analisaram o facto de o modelo de
desconto de rendas ter particular interesse para estimar o valor comercial das
propriedades, nomeadamente em edifícios de escritórios, apartamentos, lojas e
espaços industriais.
Também Plazzi, Torous e Valkanov (2006) estimaram o valor de uma propriedade
comercial com base no valor actual das rendas futuras. Por outro lado, a
literatura imobiliária pressupõe que o valor da propriedade imobiliária numa
dada área metropolitana é função da demografia, desenvolvimento económico e
determinantes geográficos2 (Ghysels, Plazzi e Valkanov, 2007; Capozza et al.,
2002; Abraham e Hendershott, 1996; Lamont e Jeremy, 1999; Malizia, 1991).
Ghysels, Plazzi e Valkanov (2007) concluem que a cap rateestá relacionada com o
valor futuro das rendas dos bens imóveis. Estes autores testaram esta relação
previsível com uma base de dados de mercado decap ratee de retornos de bens
imóveis de vinte e umas áreas urbanas nos Estados Unidos no período entre 1985-
2002. Efectuaram uma regressão dos retornos futuros de longo prazo baseado na
cap rate e concluíram que, em 17 das 21 regiões, a cap rate obtém melhores
resultados para níveis de confiança de 10%.
Verifica-se que desde que as cap ratessão usadas para fazer avaliações, estas
têm efeito nos preços do mercado, levando à constatação de um ponto de ligação
entre a cap rate e a previsão de retorno de lucros futuros.
Black, Fraser e Hoesli (2006) examinaram a relação entre os valores
fundamentais, os preços de mercado e as bolhas especulativas no mercado
habitacional, enquanto Almeida, Campello e Lin (2006) investigaram o efeito de
alterações no preço da habitação quando há crescimento económico com elevados
níveis de crédito hipotecário. Outros, como Ranney (1981) e Sinai e Souleles
(2005) consideraram a compra de casa como uma decisão individual dentro dos
ciclos financeiros dos indivíduos.
Tabner (2007) utilizou uma extensa literatura financeira e imobiliária para
destacar a heterogeneidade do mercado imobiliário, com taxas de desconto
diferentes, distintos cash flows e, consequentemente, diferentes valores
fundamentais para distintas categorias de moradias que atraem diversos
compradores, mesmo que algumas vezes a propriedade seja idêntica. São
necessárias taxas de crescimento, ou ajustes nas taxas de desconto, para
conciliar os diferentes valores fundamentais com o valor isolado do mercado,
quando ele é calculado à luz de taxas reais históricas de retorno e níveis de
risco.
A possibilidade dos preços de mercado serem influenciados por preconceitos de
comportamento ou investidores internacionais que buscam a riqueza e benefícios
na diversificação de portfólio foram analisados por Tabner (2007). Este autor
concluiu que os valores fundamentais de propriedades idênticas são mais
elevados para os compradores que têm de pagar impostos, do que para os que
estão isentos, sejam eles consumidores ou investidores.
Ainda no entender de Tabner (2007), os diferentes sectores de mercado são
dominados por diferentes categorias de compradores. Por exemplo, os novos
consumidores e compradores preferem negociar os apartamentos de um ou dois
quartos do que grandes casas de família, mercado que é dominado por
proprietários com mais disponibilidade monetária e de tempo, de forma a poderem
usufruir, por períodos de tempo mais longos, a propriedade.
Segundo Grenadier (2003), o valor fundamental emanado pela propriedade
imobiliária comercial é a sua renda, que reflecte o valor de mercado que os
compradores têm vontade de pagar para utilizar aquele espaço. Embora os
contratos de arrendamento possam ter cláusulas variadas, normalmente são usadas
cláusulas mais ou menos estandardizadas. Abundam cláusulas análogas com os
tradicionais contratos financeiros. Assim como existe o termo estruturas de
taxas de juro, também existe o termo estruturas de taxas de arrendamento. As
cláusulas fixas e variáveis são análogas para apartamentos e arrendamentos
indexados.
VARIÁVEIS RELACIONADAS COM O MÉTODO DO RENDIMENTO
Hordijk e Van de Ridder (2005) estudaram o índice holandês (ROZ), que mede o
desempenho do mercado imobiliário, e defendem que tem sido realizada pouca
investigação e que não existe nenhuma teoria ou regulamento geralmente aceite
relativamente à taxa de actualização. O ROZ aconselha a utilizar uma taxa
isenta de risco (obrigações do Estado) adicionada de uma taxa de risco para a
propriedade (risco base do imobiliário), mais o risco do sector onde a
propriedade se insere (risco específico ' escritório, loja, residência). O
risco específico da propriedade, como por exemplo a posição competitiva, dado
pelo desenvolvimento do mercado no ambiente imediato, deve ser incluído no
modelo do Discounted Cash Flow, onde este risco já foi quantificado aquando da
previsão do cash flow. No caso da estimação da capitalização da renda, este
tipo de risco é pertinente, pois na previsão dos cash flows futuros tem de
estar parcialmente incluído no rendimento escolhido.
Outra variável estudada foi o valor residual, ou valor de saída, que consiste
no preço de venda estimado no final do investimento. Este valor encontra-se
separado da soma dos valores presentes dos cash flows que constituem a outra
componente do valor total no modelo do Discounted Cash Flow.O método mais
utilizado para calcular o valor residual é o método de capitalização das
rendas. No entanto, há várias dificuldades para calcular o valor residual.
Sivitanidou e Sivitanides (1996) e Van Gool, Pager e Weisz (2001) entendem que
o rendimento líquido ou bruto deve ser usado como rendimento de saída (com o
devido tratamento para cada um deles). Para estes autores, o rendimento de
saída não tem necessariamente que ser mais elevado que o rendimento bruto ou
líquido: mudanças na taxa de desocupação (vacancy rate), evolução do mercado e
a qualidade e diversidade dos inquilinos podem fazer com que até baixe.
Lundstrom (2003) entende que muitos avaliadores assumem uma relação fixa entre
a taxa de desconto e a de saída, o que é questionável tanto na teoria como na
prática. De Kroon (2002) discute a mesma relação: a taxa de desconto de cash
flows futuros é válida para determinado período, enquanto para a taxa de saída
deve ser usada uma cap rate que só incorpora o fluxo monetário do primeiro ano
(para o comprador). A sua conclusão é que se há uma relação entre a taxa de
desconto do rendimento e a taxa de saída, então está a ser usada de uma forma
errada.
Quanto ao período a considerar para o valor residual, Pagliari (1991), Lusht
(2001) e Boyd (2002) entendem que o avaliador deveria usar o décimo primeiro
ano como o primeiro ano de exploração para o comprador. Van Gool, Jager e Weisz
(2001) advertem para o facto de os anos décimo ou décimo primeiro serem
mitigados, pois há custos de manutenção elevados ou custos extra de mudança de
inquilinos. De acordo com Wiley (1993), Keeris (2000), Lusht (2001) e Van Gool,
Jager e Weisz (2001), os avaliadores deveriam descontar aos compradores os
custos pois, caso contrário, a pessoa inclui custos que deveriam ter um
tratamento fiscal diferente. O uso de condições diferentes apresenta resultados
incompatíveis de acordo com Fiedler (1992). Para Pogliani (1991), Lusht (2001)
e Boyd (2002), os dez anos são vistos como os mais apropriados dado que
aumentando o período para quinze anos, as previsões começam a ser complicadas e
os resultados reflectem cenários artificiais com pouca aderência à realidade.
Se o termo é pequeno, entenda-se três ou sete anos, o impacto do valor residual
é elevado, o que faz com que os cash flows sejam inferiores.
Outro aspecto considerado foi a diferença entre as avaliações internas e
externas. No seu estudo, Hordijk e Van de Ridder (2005) tiveram como propósito
verificar se os avaliadores internos e externos aplicam modelos de avaliação
consistentes e uniformes. Para isso usaram elementos quantitativos e
qualitativos e os regulamentos de avaliação do ROZ foram examinados. A
estatística tem sido aplicada a vários segmentos imobiliários dos índices das
bases de dados, com a finalidade de descobrir as diferenças de suposições nas
variáveis que influenciam o rendimento, taxa de desconto e taxa bruta de
retorno, com vista a verificar se a uniformidade tem melhorado ou piorado ao
longo do tempo. Os autores destacam que poderiam alcançar-se melhorias se os
regulamentos que referem evidências momentâneas do mercado: i) fundamentassem
as taxas de desconto e de retorno; ii) levassem em consideração a taxa de
inflação; e iii) incluíssem maior uniformidade nos tempos de entrada e saídas
de cash flows(anuais, trimestrais, antecipados).
Segundo Hordijk e Van de Ridder (2005), considerando os diferentes tipos de
mercado imobiliário, o mercado residencial é o que apresenta maiores diferenças
nas avaliações efectuadas. Comparando as avaliações internas e externas, elas
não têm muito impacto nos rendimentos líquidos, com excepção dos residenciais.
Porém, essas diferenças têm vindo a diminuir nos últimos anos, o que é bom.
Entre os avaliadores externos, as diferenças no rendimento dos escritórios e
das lojas é pequeno. Porém, a taxa de desconto e a taxa de retorno de saída é
uniforme no segmento de escritórios mas, no segmento residencial, são
frequentes diferenças de 2% ao ano.
MÉTODOS DE AVALIAÇÃO DE PROPRIEDADES ESPECIAIS
As propriedades especiais são propriedades de natureza única, o que implica que
não existam vendas de propriedades análogas anteriores para comparação prévia,
pelo que apresentam um carácter heterogéneo. Em tais condições, o avaliador
necessita de recorrer a um modelo de estimação que analise os aspectos
fundamentais da propriedade para assim determinar o valor através da referência
às qualidades produtoras de riqueza.
French (2004) analisou alguns métodos de avaliação imobiliária, dando especial
ênfase à estimação dos valores de propriedades especiais. Segundo este autor,
enquanto para a maioria das propriedades comuns o valor da propriedade é
baseado na sua renda potencial, vista como um investimento, para as
propriedades especiais o valor é baseado na visão do dono sobre o preço da
propriedade, isto é, na contribuição que os lucros vão trazer para o seu
negócio e também em assuntos subjectivos como estados e sentimentos de
segurança. Por outro lado, para os avaliadores, como não existem bases de
comparação, eles só podem reproduzir o cálculo dos preços através de
estimativa.
French (2004) entende que a distinção entre a avaliação de uma propriedade
especial e de uma normal depende da natureza do modelo utilizado. Com uma
propriedade normal, há dados de transacções recentes suficientes para observar
o nível de preços sem necessitar de interpretar os fundamentos que lhe estão
subjacentes. No entanto, as propriedades especiais são as propriedades onde não
há dados suficientes para estimar por alguma forma de comparação. A suposição
ao avaliar uma propriedade especial é que o uso actual se manterá no futuro.
Nesta base, há várias propriedades que podem ser descritas como especiais
(French, 2004), podendo ser avaliadas da seguinte forma:
· Pelo método do rendimento ' terra agrícola, telecomunicações, bares e
restaurantes, casinos e clubes, cinemas e teatros, hotéis, propriedades de
lazer privadas, casas de saúde privadas, hospitais privados, estações de
combustíveis e bosques;
· Pelo método do custo ' propriedades de lazer públicas, casas de saúde
públicas, hospitais públicos e igrejas;
· Pelo método de avaliação residual ' extracção mineral e propriedades de
desenvolvimento.
Para French (2004), o papel do avaliador é escolher o método que melhor
reflicta o valor da propriedade. Um avaliador tem de trabalhar com técnicas
reconhecidas. No caso de propriedades especiais, os métodos a utilizar deverão
ser aqueles cujos princípios melhor se identificam com o valor da propriedade
para o negócio.
RENDAS E BENEFÍCIOS
No método do rendimento é relevante determinar as rendas e os benefícios. Para
Molina (2003), existem procedimentos clássicos de estimação para identificar as
rendas futuras que um imóvel é capaz de gerar. Um dos procedimentos consiste em
investigar e analisar o contrato de arrendamento. É necessário prever a sua
evolução futura, os aspectos legais, os prazos de renovação, a possibilidade de
atrasos, a evolução do mercado imobiliário da zona, as rendas que se obtêm em
imóveis com características similares, os investimentos similares, os
investimentos recuperáveis e os prazos de recuperação. Têm de ser levadas em
conta a conservação e manutenção, a sua administração, o Imposto Municipal
sobre Imóveis e outras taxas que o afectam, como os períodos de tempo em que
não está arrendado.
Normalmente usam-se séries históricas de arrendamentos similares. Esta
informação apresenta a evolução ao longo do tempo. São analisados os períodos
de tempo que o imóvel esteve sem ser arrendado, os possíveis usos alternativos
do imóvel, os gastos em que incorre o proprietário na realização de obras
necessárias para trocar de inquilino ou, simplesmente, para manter o imóvel, os
benefícios obtidos e quais os pressupostos das rendas abonadas periodicamente.
Sem poder extrapolar-se directamente o futuro imediato, é importante o
conhecimento sobre estas variáveis para estimar parâmetros subjectivos, pois
são dados objectivos que, inicialmente, não têm forma de se repartir no tempo
(a não ser em percentagem).
Se não se conhecem os valores de arrendamentos normais dos bens a avaliar, será
necessário estimar a diferença entre os proveitos e os custos para calcular o
rendimento líquido que resulte da exploração económica a que está ligado o
imóvel.
Segundo Molina (2003), este procedimento é utilizado na avaliação de imóveis
rústicos, sobretudo quando se pode determinar com exactidão, apoiando-se em
estudos de mercado, a taxa de juro aplicada. É mais difícil calcular a renda
líquida na compra de habitação, e nos bens imóveis para utilização própria que
se obteria do mesmo, do que nos bens para arrendamento. Assim deveria seguir-se
a seguinte fórmula:
Onde:
Rta: Renda líquida do bem imóvel;
I: Receitas;
G: Gastos;
B: Benefícios (melhorias) a introduzir na gestão do imóvel.
Nos bens imóveis urbanos e rústicos, no entender de Molina (2003), deve levar-
se em conta o valor de reversão, i.e., o valor de mercado mais favorável a que
o bem tenderia no final da sua vida útil. Da complicada estimação desse valor
fica o seguinte método: o valor de mercado do imóvel será equivalente ao custo
de reversão líquido previsto no final da sua vida útil.
O valor do terreno, incluindo o valor de reversão, será determinado a partir do
seu valor de mercado na data da transacção, que poderá actualizar-se com a mais
ou menos-valia que resulte do razoável entendimento da sua localização e uso e
da evolução esperada do mercado.
De acordo com Nebreda, Padura e Sánchez (2006), o valor actual líquido (VAL)
dos fluxos de caixa do valor de reversão esperado para o tipo de actualização
escolhido, calcula-se de acordo com a fórmula:
Onde:
VAL: Valor actual líquido;
Ij: Valor dos proveitos do imóvel no momento j;
Pk: Os custos previstos no momento k;
tj, tk: período de tempo;
i: taxa de juro exigida;
n: número de períodos de tempo desde a transacção até ao final dos períodos de
estimação das receitas esperadas.
Uma das dificuldades deste método é a estimação dos benefícios normais do
empresário. O benefício normal será entendido como o retorno idêntico à média
do mercado.
Segundo Caballer (1993a), os benefícios podem decompor-se em duas partes:
benefício normal e benefício extraordinário. Este último corresponde ao
benefício que um empresário ou arrendatário obtém em função das suas
capacidades de gestão, de que resultam proveitos superiores aos que se
consideraram normais. Esta peculiaridade, embora complicada de identificar no
âmbito rústico, é visível nos fundos de investimento imobiliário e determinada
nos bens imóveis de natureza urbana.
Perante a problemática que se apresenta na determinação dos benefícios normais,
no entender de Caballer (1993a), surgem duas soluções práticas:
· A possibilidade de obtenção de um benefício extraordinário é influenciada ao
longo do tempo pela interacção entre a oferta e a procura, fazendo coincidir os
benefícios com uma medida generalizada pressionada pelas competências de
gestão;
· Por outro lado, ao tentar a separação contabilística do binómio
rentabilidade-benefício (R+B) é frequente considerar a rentabilidade como ganho
e operar com ela da mesma forma que se faz com a renda, ainda que tendo em
conta as diferenças nos tipos de capitalização aplicáveis à avaliação
analítica.
Assim:
Sendo R a rentabilidade, B o benefício, I as receitas, G os gastos e S o lucro.
A fórmula utilizada para calcular o valor da capitalização de rendas e de
ganhos é:
Sendo:
V: Valor de capitalização;
r: Taxa de capitalização da renda
r': Taxa de capitalização dos ganhos
Operacionalmente existe outra solução, mais simples e útil, que tem vindo a
aplicar-se na avaliação imobiliária que consiste em calcular percentualmente os
benefícios em função das rendas.
Para Caballer (1993b), do ponto de vista económico, quanto maiores forem as
rendas, maior será o volume de negócios e maior deveria ser o benefício normal;
no entanto, justificada a relação, é mais difícil chegar a um valor correcto
para esta percentagem. Tradicionalmente, esta relação foi determinada de uma
forma empírica, mediante o estudo e análise de proveitos de imóveis rústicos e
urbanos, que se generalizam, através de um estudo prévio ao mercado e,
posteriormente, à atribuição de valores individuais. Esta relação apresenta a
vantagem de que os benefícios imobiliários, para cada natureza e uso concreto,
só devem manter-se constantes em situações de aderência perfeita e, a longo
prazo, se se tratar de um caso de gestão empresarial e que lhe seja conhecida
uma eficácia média.
O PERÍODO DA RESIDÊNCIA NO MERCADO DE ARRENDAMENTO: VACANCY RATE E DURAÇÃO
Outro aspecto relevante no âmbito do método do rendimento é a análise do
período da residência no mercado de arrendamento. Nos últimos anos observaram-
se flutuações cíclicas nos mercados de arrendamento habitacional (Deng, Gabriel
e Nothaft, 2002), sendo que, em muitos casos, as flutuações de mercado não são
previsíveis, surgindo assim um elevado nível de risco. Estes factos têm
induzido alguns investigadores a analisar as regras de equilíbrio da vacancy
rate na determinação do mecanismo de ajustamento de preços na habitação de
arrendamento.
Gabriel e Nothaft (2001), por um lado, analisaram a composição das rendas, a
vacancy rate e a duração separadamente, particularmente no que diz respeito à
estimação do equilíbrio da vacancy rate e, por outro lado, estimaram e
analisaram a importância das duas últimas medidas para melhorar a compreensão
do mecanismo de ajustamento do valor das rendas. Os resultados das análises
efectuadas indicam que a duração da residência no arrendamento habitacional é
caracterizada pela significativa variação temporal. Por exemplo, durante
períodos de juros de hipoteca relativamente baixa e/ou aumento dos preços das
habitações, a duração do arrendamento é reduzido. No entender destes autores, o
conhecimento sobre os períodos de ocupação no mercado de arrendamento
habitacional é limitado.
De forma a constatar a variabilidade da vacancy rate, Sternberg (1994) modelou
a probabilidade de existir
vacancy status3
, utilizando na sua análise uma constante restritiva, o que implicou uma
vacancy rateconstante ao longo do tempo.
Para Carvalho (2005), o conhecimento da taxa de desocupação é importante para
poder avaliar este tipo de activos, pois quanto mais elevada a desocupação,
menor será o valor do activo.
No seu trabalho Deng, Gabriel e Nothaft (2002) verificaram uma alta
rotatividade de taxas de ocupação, com um valor médio de três anos de
residência por inquilino. No entanto, o volume de negócios e a duração de
residência dependem das condições de mercado e da política de habitação. Assim,
a imposição de um forte controlo sobre as rendas pode diminuir a duração da
ocupação, bem como as expectativas dos consumidores em relação à oferta e à
procura habitacional também pode fazer mudar a forma da curva de duração. Neste
estudo, Deng et al. (2002) referem que a mediana dos custos da habitação, as
políticas de arrendamento de habitação, a taxa de pobreza, as melhorias
significativas dos rendimentos e níveis de vida dos inquilinos e o aumento de
oferta de stocks de casas para arrendar relacionam-se negativamente com a
duração da residência dos inquilinos. Por outro lado, a existência de elevador
nos edifícios, a taxa de desemprego, o crescimento da população e das partes
centrais das cidades e a diminuição do número de casas para arrendar estão
positivamente relacionados com a duração da residência do inquilino. Os
resultados indicam que a duração da residência na habitação é sensível à
localização e características estruturais. Deng, Gabriel e Nothaft (2002)
concluíram ainda que a duração do arrendamento da habitação tem uma ampla
distribuição, apresentando nos últimos anos uma tendência para diminuir: a
duração média situa-se entre um e dois anos, com alguns inquilinos a ficarem
nas habitações bem mais de uma década.
A RELAÇÃO ENTRE O PREÇO DA HABITAÇÃO E O RENDIMENTO
Também a relação entre o preço da habitação e o rendimento gerado é um aspecto
importante a ter em conta no método do rendimento, particularmente se se trata
de uma relação de equilíbrio ou não.
Gallin (2003) constatou que muitos observadores no mercado imobiliário
defendiam a ideia de que os preços tinham aumentado muito rapidamente,
encontrando-se demasiado elevados em relação aos rendimentos per capita,
comparativamente a períodos anteriores. Gallin (2003) referiu que era natural
que os preços viessem a estagnar ou a cair de acordo com o argumento citado,
até se aproximarem dos níveis de rendimento. Também defendeu que, a longo
prazo, existe uma correlação forte entre o valor da habitação e o valor da
renda e da densidade populacional.
Por seu lado, para Hendershott (1998), a análise de equilíbrio é um instrumento
precioso para a investigação sobre investimentos imobiliários. No seu estudo
demonstrou que esta análise tem sido utilizada para estimar o prémio de risco
para diferentes classes de bens imóveis, para explicar o valor real da
habitação, para explicar como o mercado de arrendamento de longo prazo tem sido
utilizado para determinar a renda de mercado ajustada à avaliação, bem como
para prever futuras rendas, preços e desenvolvimento de valores.
VANTAGENS E INCONVENIENTES DO MODELO DO RENDIMENTO
O modelo do rendimento apresenta vantagens para determinadas entidades
financeiras, devido à facilidade de aplicação da maior parte dos pressupostos
para quem gere fundos imobiliários, onde as rendas produzidas pelos imóveis são
importantes (Molina, 2003). Este modelo é basicamente a simplificação do
princípio de que um bem económico é capaz de produzir uma renda no tempo e que
esta é proporcional ao retorno do capital e ao tipo de bem em causa.
No entanto, para Molina (2003), este método também apresenta desvantagens, pois
apresenta vários elementos de difícil quantificação: valor de reversão4, vida
útil, mais-valia, menos-valia. Outro dos inconvenientes é que quando se trata
de transacções individuais em que não há conhecimento profundo dos proveitos e
despesas, é difícil estimar o benefício normal do empresário, para além de que
o benefício do empresário pode ser normal e extraordinário.
Para León (2003), a inflação apresenta-se também como um elemento de
importância crucial em todos os investimentos financeiros e em qualquer
actividade relacionada com o sector imobiliário. As Normas Internacionales de
Valuación(NIV, 2005) referem que esta realidade deve ser levada em consideração
quando se avalia pelo método do rendimento.
No entender de Wang e Zhou (2000) existem algumas dificuldades práticas de
aplicação deste método, nomeadamente:
· Dificuldade no conhecimento do rendimento futuro da propriedade, da duração
dos mesmos e previsão da conjuntura económica;
· Necessidade de uniformização dos métodos de avaliação para certas finalidades
(efeitos fiscais, estabelecimento de seguros, hipoteca).
O INVESTIDOR FUNDAMENTAL VERSUS SENTIMENTAL
A teoria financeira clássica postula que os preços dos activos negociados nos
mercados reflectem racionalmente a estimação do risco ajustado e as taxas de
desconto e fluxos de rendimentos futuros, onde não há lugar para o investidor
sentimental. Se existir um desajustamento de preços (mispricing), ele é
rapidamente anulado através de acções de arbitragem que concorrem entre si para
conseguir retornos anormais.
A inabilidade, no entender de Clayton, Ling e Naranjo (2009), do modelo padrão
do valor actual para explicar as elevadas subidas e consequentes crashs nos
preços dos activos, tal como a «bolha» das empresas tecnológicas do final dos
anos 1990 e outras anomalias de preços, levou ao desenvolvimento da abordagem
do comportamento financeiro na avaliação de activos. Nestes modelos de
comportamento, o sentimento do investidor pode ter um papel fulcral na
determinação do preço dos activos, independentemente dos fundamentos do
mercado.
Baker e Wurgler (2007) definem o investidor sentimental como tendo uma mistura
de crenças erradas sobre o crescimento de fluxos de caixa futuros, fluxos de
investimento ou risco com base no conjunto de informação actual. A abordagem
comportamental é também aplicada em «limites à arbitragem». Os arbitragistas
têm dificuldades na implementação de operações não triviais (inovadoras) e os
custos de execução impedem-nos de tomar posições para compensar os
esquecimentos de preços. Além disso, com a política anti-risco, os investidores
são incapazes de arbitragem à distância do mispricing porque a
imprevisibilidade do sentimento do investidor os expõe ao «risco de ruído do
negócio» (De Long et al., 1990). Assim, na medida em que o sentimento
influencia a avaliação, tomar uma posição oposta ao sentimento que prevalece no
mercado pode aumentar o risco do negócio, pelo que é importante compreender a
influência relativa dos fundamentos versus os sentimentos na avaliação de
activos.
Os mercados de imóveis comerciais privados são caracterizados por custos de
transacção mais elevados e substancialmente de menor liquidez do que os
mercados públicos bolsistas. Assim, se «fricções» relativamente pequenas no
mercado de acções podem causar prolongados períodos de sobrevalorização, parece
plausível que a posição nos mercados imobiliários privados seja potencialmente
mais susceptível a esses episódios (Clayton, Ling, Naranjo, 2009).
Os sentimentos e os limites da arbitragem são necessários para a existência de
mispricing. Especificamente, num mercado caracterizado pela heterogeneidade dos
investidores, a existência de constrangimentos pode levar as vendas de curto
prazo a gerar desvios de preços dos activos, face aos seus valores
fundamentais. Os investidores optimistas tomam posições longas, enquanto os
pessimistas gostam de tomar posições curtas (Clayton, Ling e Naranjo, 2009). Os
constrangimentos das vendas de curto prazo, no entanto, podem inibir a
capacidade racional dos investidores para eliminar a sobrevalorização, mesmo
durante períodos de tempo prolongados. Por isso, os investidores racionais
podem sentir-se à margem quando acreditam que os preços são demasiado elevados
em relação aos valores fundamentais, deixando o mercado ajustar os preços para,
posteriormente, voltarem a entrar no mercado (Baker e Stein, 2004).
Baker e Wurgler (2007) também procuraram medir de que forma os sentimentos
influenciam os preços e identificaram unidades populacionais que são mais
susceptíveis de serem afectadas pelo sentimento. Consistentes com o seu modelo
de previsão, os seus resultados sugerem que quando os sentimentos são elevados
(baixos) para o investidor, os retornos são relativamente baixos (altos) para
unidades populacionais de natureza mais especulativa ou para alguns tipos de
arbitragem, que tende a ser particularmente arriscada.
Embora considerado importante pelos avaliadores imobiliários, existem
relativamente poucos trabalhos académicos que visam a compreensão do papel dos
investidores fundamentais versus o dos investidores sentimentais, dos fluxos de
capitais em bens imóveis e da dinâmica de preços.
MODELOS E CAPRATE
Para Archer e Ling (1997), existem três mercados que desempenham um papel
importante na determinação dos preços dos imóveis comerciais: o mercado do
arrendamento, o mercado de capitais e o mercado da propriedade imobiliária. As
rendas dos mercados locais são determinadas no mercado do arrendamento. O
prémio de risco dos activos varia de acordo com diferentes riscos de cash flow
e são determinados no mercado de capitais. Finalmente, no mercado da
propriedade, os activos têm características específicas, onde as taxas de
desconto, os valores imobiliários e as cap rates são determinadas.
As taxas de desconto de propriedades específicas são determinadas pela
interacção da taxa isenta de risco, prémio de risco do investidor e pelo perfil
de risco específico da propriedade, para um dado fluxo esperado de receita
operacional líquida (NOI ' Net Operating Income).
Para Clayton, Ling e Naranjo (2009), o preço de equilíbrio da propriedade no
período t, Pet, deve ser igual ao valor actual dos NOI descontados, assumindo
uma taxa de risco ajustada, constante e não alavancada, rt. Isto é:
- T é o período esperado de exploração em anos;
- NSPT é a venda esperada líquida do imóvel no ano T5
- NOI são as receitas líquidas esperadas;
- rt é a taxa de risco ajustada, constante e não alavancada;
- gt é a taxa de crescimento do NOI no momento t (espera-se constante).
Para Geltner et al. (2007), se no momento t o NOI prevê um crescimento à taxa
constante gt, e partindo do princípio que NSP se mantenha como constante
múltipla do NOI, então a equação (9) simplifica a fórmula de avaliação na qual
Pet é unicamente uma função do crescimento esperado do NOI e da propriedade
específica da taxa de desconto do risco ajustado. Isto é:
A cap rate de equilíbrio, no momento t, Ret, é simplesmente o recíproco do
valor múltiplo. A partir da equação (9) resulta que:
É importante referir que o nível de NOI não tem qualquer impacto sobre a cap
rate. Pelo contrário, é a mudança esperada no NOI que afecta o preço que os
investidores estão dispostos a pagar por cada euro no primeiro ano de NOI.
Evidentemente, é improvável que as taxas de crescimento do NOI e futuras taxas
de desconto sejam eternamente constantes. No entanto, a equação (10) é uma
aproximação que motiva a nossa cap rate de especificação empírica e é
consistente com a generalidade dos modelos de valor actual, que permite uma
variação no tempo de crescimento das NOI e o impacto na taxa de desconto na
avaliação da propriedade comercial imobiliária e, consequentemente, da cap
rate. O risco da taxa de desconto ajustada tem dois componentes: a taxa de
rendimento disponível sem risco com um prazo igual ao do período de exploração
esperado da propriedade e o prémio de risco requerido, que é propriedade do
mercado e dependente do tempo.
A taxa de rendimento disponível sem risco é determinada fora do espaço local e
do mercado imobiliário, tendo por base rendimentos de títulos do Tesouro sobre
os valores mobiliários, que são determinados pelos preços da oferta e da
procura dos investidores no mercado dos títulos do Tesouro em todo o mundo.
No que se refere ao prémio de risco exigido nos mercados de capitais, os
imóveis comerciais concorrem com os outros activos por um lugar nas carteiras
dos investidores. Segundo a teoria clássica de gestão de carteiras, os
investidores irão seleccionar uma combinação de investimentos com base nas co-
variâncias e nos retornos dos possíveis activos. Como os investidores fazem
ofertas para o seu mix de portfólio óptimo, a sua licitação determina,
simultaneamente, o necessário prémio de risco para o universo dos
investimentos, de acordo com o seu perfil de risco (variância e co-variância).
Deste modo, a fixação dos preços do risco depende das preferências de risco,
articulados no contexto mais amplo do capital, bem como o risco específico do
perfil de investimento, que é determinado pelas condições actuais e futuras no
mercado espacial na qual se situa o imóvel.
Clayton, Ling e Naranjo (2009) sugerem que o sentimento desempenha um papel
importante na determinação da cap rate da propriedade comercial, uma vez que
tem impacto no sentimento de percepção quanto ao crescimento esperado das
rendas e prémio de risco. Para além das questões de endogeneidade, outra
preocupação potencial é que os testes de abordagem pressupõem implicitamente
que os impactos dos sentimentos nos preços acontecem em todos os momentos. Isto
é, o sentimento é uma variável essencial na equação de determinação dos preços.
No entanto, o sentimento só pode desempenhar o papel de puxar os preços para
cima nos mercados em «ebulição».
Também Baker e Stein (2004) e Yu e Yuan (2007) encontraram irracionalidade nos
mercados onde prevalece uma maior intensidade nas subidas. As vendas de curto
prazo inibem a habilidade dos investidores racionais em eliminarem a
sobrevalorização, o que pode implicar que os investidores irracionais estão
activos no mercado apenas quando são demasiado optimistas. Daí, os mercados de
valores dos activos reflectirem o sentimento irracional desses comerciantes.
Este paradigma comportamental permite a existência de ambos os investidores: os
irracionais e os que se limitam à arbitragem. Nestes modelos, o sentimento do
investidor, os fluxos de capitais e o volume de negócios podem ser uma das
regras para a determinação dos preços dos activos, independentemente do mercado
fundamental.
Os mercados imobiliários comerciais privados, segundo Clayton, Ling e Naranjo
(2009) diferem substancialmente dos mercados accionistas públicos. Em primeiro
lugar, os activos imobiliários são heterogéneos. Por isso, ao contrário das
acções cotadas de uma empresa para a qual arranjamos substitutos próximos, quer
directa quer indirectamente, a localização única ou outros atributos de bens
imóveis comerciais restringem severamente um investidor num conjunto de
substitutos aceitáveis. Por outro lado, estas trocas comerciais de bens
heterogéneos e ilíquidos, são altamente segmentados e com informação
insuficiente nos mercados locais. Como resultado, os custos de pesquisa
associados aomatching de compradores e vendedores são significativos. A
incapacidade de vender a curto prazo imóveis privados restringe a capacidade de
comerciantes sofisticados entrarem no mercado e eliminarem o mispricing,
especialmente se considerarem que a propriedade está sobrevalorizada. Os
limites à arbitragem podem, por isso, conduzir a grandes desvios de preço em
relação ao valor fundamental, quando estamos na presença de investidores
sentimentais.
Estas características dos mercados imobiliários privados parecem torná-los
altamente sensíveis ao sentimento induzido de mispricing e, na verdade, existe
uma convicção generalizada entre muitas imobiliárias participantes no mercado
imobiliário de que os mercados estão sujeitos a fads (ou seja, oscilam em
função dos sentimentos). Muitos agentes do mercado imobiliário, de acordo com
Clayton, Ling e Naranjo (2009), dedicam um esforço considerável na compreensão
do sentimento de mercado (ou seja, aquilo que os outros investidores poderão
fazer) em vez de se concentrarem exclusivamente nas considerações sobre os cash
flows e sobre as taxas de desconto. Na verdade, as reduções significativas das
taxas de capitalização que ocorreram na maioria dos mercados de imóveis
comerciais de 2002 a 2007 foram, em grande parte, se não totalmente, atribuídos
ao sentimento de aumento de fluxos de capitais durante esse período.
Para Clayton, Ling e Naranjo (2009), apesar da importância potencial da análise
fundamental e sentimental na dinâmica de preços no mercado imobiliário, não
existe investigação que analise a relação directa, os fundamentos e os
sentimentos dos investidores nos preços dos imóveis comerciais. Os autores
construíram um modelo de equilíbrio da cap rate especificada em função do
espaço imobiliário e da análise fundamental do mercado de capitais, que foi
estimada usando técnicas de correcção de erros capturando, assim, a dinâmica,
tanto a curto como a longo prazo.
Os resultados de Clayton, Ling e Naranjo (2009) mostraram que a análise
fundamental é a chave para se chegar a cap rates. No entanto, o sentimento
também desempenha um papel na formação de preços no período estudado de 1996 a
2007.
CONSIDERAÇÕES FINAIS E CONCLUSÃO
Este trabalho apresentou uma revisão da literatura sobre a utilização do método
do rendimento na avaliação imobiliária. Assim, em jeito de súmula, o método do
rendimento apresenta as seguintes características:
· Pelo valor de uma propriedade imobiliária é possível calcularmos uma renda
(Molina, 2003; Rebelo, 2002 e Schulz, 2003);
· A inflação apresenta-se como um elemento de importância crucial para os
investimentos financeiros, bem como para as actividades relacionadas com o
imobiliário (Molina, 2003). A inflação no sector imobiliário rústico é
diferente da que pode ser apresentada no sector urbano e ambas são distintas da
taxa de inflação geral que possa existir no mercado nacional de bens imóveis
(León, 2003);
· Nos bens imóveis urbanos e rústicos deve levar-se em conta o valor de
reversão (Molina, 2003);
· O valor de uma habitação é proporcional à renda económica que gera (Molina,
2003);
· Para a avaliação imobiliária é necessário avaliar o contrato de arrendamento
(Molina, 2003) e verificar a composição das rendas, a vacancy rate e a duração
do arrendamento (Deng, Gabriel e Nothaft, 2002);
· A análise de equilíbrio é um instrumento precioso para a investigação sobre
investimentos imobiliários (Hendershott, 1998), pois permite analisar a relação
entre os valores fundamentais, preços de mercado e bolhas especulativas no
mercado habitacional (Black, Fraser e Hoesli, 2006);
· A cap rate está relacionada com o valor futuro das rendas dos bens imóveis
(Ghysels, Plazzi e Valkanov, 2007).
O método do rendimento, utilizado essencialmente para avaliar propriedades
especiais, apresenta as seguintes vantagens:
· Permite verificar a compatibilidade entre os preços de mercado e os valores
fundamentais (Hendershott, 1998 e Gallin, 2003);
· É mais credível para a maioria das entidades financeiras (Molina, 2003);
· A utilização de uma cap rate na previsão dos retornos é económica e
estatisticamente significativa (Ghysels, Plazzi e Valkanov, 2007);
· Para a maioria das propriedades comuns, o valor da propriedade está baseado
na sua renda potencial, vista como um investimento (French, 2004);
· Permite verificar o valor fundamental e compará-lo com o do mercado
(Grenadier, 2003 e Tabner, 2007);
· Permite verificar a existência do mispricing(De Long et al., 1990).
A utilização do método do rendimento apresenta os seguintes inconvenientes:
· O valor de reversão, a vida útil e a mais-valia ou menos-valia são de difícil
quantificação (Molina, 2003);
· Dificuldade no conhecimento do rendimento futuro da propriedade, da duração
dos mesmos e da conjuntura económica ( Wang e Zhou, 2000);
· Necessidade de uniformização dos métodos de avaliação para certas finalidades
(efeitos fiscais, estabelecimento de seguros, hipoteca) ( Wang e Zhou, 2000);
· Dificuldade na decisão da taxa de desconto (Geltner et al., 2007 e Clayton,
Ling e Naranjo, 2009).
A avaliação imobiliária é uma actividade multidisciplinar, onde há necessidade
de amplos conhecimentos sobre os factores que podem influenciar o preço.
O processo de formação do preço de mercado permanece sujeito a comportamentos
frequentemente irracionais, de tal forma que o preço de mercado pode, no curto
prazo, apresentar grandes oscilações, embora, a longo prazo, tenda a flutuar em
torno do valor fundamental, o verdadeiro «preço» que importa aos investidores.
Na perspectiva do investidor, o mercado imobiliário tem interesse quando existe
um retorno semelhante ao mercado accionista, atendendo aos princípios de
rentabilidade e risco enunciados por Markowitz (1952). Assim, a perspectiva dos
rendimentos futuros da propriedade imobiliária está na base da utilização do
método do rendimento como um importante instrumento de avaliação imobiliária,
com grande adesão no mercado imobiliário.
O método do rendimento apresenta interesse para as entidades financeiras
ligadas ao imobiliário. Este método tem por base que uma propriedade é capaz de
produzir uma renda e que o seu valor é dado pelo quociente entre o rendimento
líquido periódico e a respectiva taxa de actualização, sendo aplicável à maior
parte dos pressupostos de quem gere fundos imobiliários.
Com a recente utilização da cap rate, há estudos (Ghysels, Plazzi e Valkanov,
2007 e Tabner, 2007) que apontam para um superior desempenho deste método
comparado com o modelo dos preços hedónicos. Os pontos críticos do método do
rendimento estão na dificuldade de cálculo da cap ratee da vacancy rate. No que
se refere à cap rate, existem vários trabalhos (Ghysels, Plazzi e Valkanov,
2007; Black, Fraser e Hoesli, 2006 e Tabner, 2007) onde são apresentados
modelos de cálculo da cap rate. Vários foram os testes feitos na literatura
recente para averiguar a sua robustez. Entende-se que o estudo da cap rate
ainda deva ser mais aprofundado, embora seja uma taxa de desconto mais
interessante no cálculo do valor do imóvel do que a simples taxa de juro. Já
quanto aos períodos de estimação das rendas há quase uma unanimidade entre
autores (Pogliani, 1991; Lusht, 2001 e Boyd, 2002) que entende que devem ser
utilizados os dez anos, pois utilizando quinze anos as previsões são difíceis
de fazer e três ou sete anos faz com que o valor residual seja elevado. A cap
rate permite analisar o equilíbrio entre o preço da habitação e o rendimento, e
verificar a compatibilidade entre os preços de mercado e os valores
fundamentais. Este modelo da cap rate permite examinar o mercado e verificar se
existe mispricing, isto é, permite uma análise mais genuína e equilibrada dos
preços da habitação de acordo com os valores fundamentais, apresentando o valor
do comportamento racional.
Pelas conclusões apresentadas, entende-se que o modelo do rendimento é
incontornável na avaliação imobiliária, sendo essencial ao investidor
fundamental e preocupado com a existência de mispricing.