Gestão de pessoas e o modelo de gestão de serviços globalmente integrada: um
estudo exploratório em uma multinacional de TI
INTRODUÇÃO
A evolução dos processos e da abordagem conceitual da Administração de Recursos
Humanos (ARH) tem sido bastante observada e registrada pela literatura nacional
e estrangeira. Dentre os autores que analisam esta evolução destacam-se,
respectivamente, Fischer (1998) e Ulrich (2000). A análise dessa evolução vem
sendo sistematizada de forma fragmentada, fato que resulta numa produção de
conhecimento também desarticulada e pulverizada, uma vez que ela não consegue
abarcar em sua plenitude a complexidade que o assunto envolve. Desse modo,
outra consideração é destacada, qual seja, nem sempre a evidência em relação à
presença de melhores práticas da gestão de pessoas é um indicador de evolução
desta gestão ' fato que incita análises mais acuradas nos processos de gestão
que estão a demandar mudanças na forma de gerenciar as pessoas no ambiente de
trabalho. Logo, o assunto merece análise mais contextualizada. O presente
artigo enfoca a gestão de pessoas num contexto organizacional de atuação global
para compreender o processo evolutivo desta gestão diante de um novo modelo de
gestão organizacional envolvendo processos de trabalho intermediados por
diferentes agentes estabelecidos em diferentes países de diferentes
continentes.
As organizações que operam em base internacional existem desde o Séc. XIX.
Entre o surgimento da empresa internacional e os dias atuais, diferentes
mudanças vêm sendo processadas nos modelos de gestão organizacional. Tais
mudanças são motivadas tanto por iniciativa das empresas em busca de melhorias,
quanto pelas variáveis globais de oportunidades, demanda e riscos (Palmisano,
2006).
Os avanços em tecnologia da informação e comunicação (TIC) geraram sistemas e
ferramentas integradas de colaboração que possibilitam trabalho a distância, de
alta produtividade e aliado a uma abertura de mercado e definições de regras de
negócios, jamais vistos. Tais avanços possibilitaram a criação de um novo
ambiente competitivo; foi assim que países como a Índia e o mercado de serviços
em TI se fundiram. Algumas empresas indianas como a Infosys e Wipro, começaram
a concorrer com gigantes de serviços globais, como a IBM e a Electronic Data
Systems Corporation (EDS), por exemplo, e a ganhar vários contratos, devido ao
baixo custo do trabalho do profissional indiano quando comparado com seus pares
estadunidenses e europeus. Foi neste cenário e pensando no enfrentamento desta
nova realidade que a referida empresa, a partir do início do Séc. XXI, e com
maior ênfase a partir do ano 2002, passou a adotar e implantar em larga escala
um conjunto de novas diretrizes e processos de trabalho na configuração de um
novo modelo de gestão internacional. Este modelo recebeu o nome de Gestão de
Serviços Globalmente Integrada ' o GSGI (Scumparim, 2007), e apresentado como
uma evolução aos atuais modelos de gestão internacional presentes na literatura
da Administração.
No contexto das demandas por novos processos de gestão, alavancadas pelas novas
formas de organização do trabalho global, à luz do GSGI, a empresa deparou-se
com algumas questões que dizem respeito a sua gestão de pessoas, qual seja:
como estruturar as atividades dessa gestão para essa nova realidade? Como
administrar de modo eficiente equipes locacionalmente distantes? Como
estruturar uma gestão de pessoas capaz de atender as peculiaridades de cada
equipa, em seu país, na sua cultura e com suas especificidades legais?
O presente artigo discute o modelo de gestão de pessoas adotado por essa
multinacional de tecnologia, no contexto da GSGI, com a intenção de explicitar
o contexto de sua implantação, os processos envolvidos e os desafios de sua
consolidação. A metodologia adotada neste trabalho é de uma abordagem
qualitativa e exploratória, dada a escassez de estudos relacionados ao tema. A
coleta de dados preliminares foi realizada por meio de entrevistas em
profundidade, com seis gerentes da gestão de pessoas da planta Brasil, unidade
de Hortolândia/SP, além da análise documental e observação participante
desenvolvida durante de cinco meses. As entrevistas, de natureza semi-
estruturada, foram realizadas de forma aberta, a partir de um roteiro pré-
elaborado, contendo questões sobre os pressupostos e objetivos desse modelo; os
aspectos da organização que ele busca atender; os eventos motivadores de sua
implantação; os principais desafios impostos aos gestores e as contribuições da
gestão de pessoas para a GSGI.
No primeiro momento, o artigo apresenta uma discussão sobre o conceito da GSGI
e dos serviços globalmente integrados. No segundo, apresenta a evolução da
gestão de pessoas em contextos organizacionais que reconhecem as pessoas como
suas reais fontes de vantagens competitivas, com destaque para a relevância
desse ativo para a formação e tangibilidade do capital humano. O terceiro
momento apresenta e discute os dados coletados pela pesquisa.
CONSIDERAÇÕES SOBRE OS MODELOS DE GESTÃO INTERNACIONAL DE SERVIÇOS
A produção de conhecimento no campo das organizações, sobretudo nas que se
propõem a discutir formas e modelos de gestão, tem evidenciado com maior
interesse o setor da manufatura ou indústria de fabricação de bens,
comparativamente, ao setor de serviços (SSME, 2008; Paulson, 2006). A escassez
de conhecimento sistematizado é mais evidente no campo das empresas que operam
na economia global, fato que oportuniza a produção de estudos exploratórios
sobre a temática. Assim, a organização objeto deste estudo é primordialmente
uma empresa de Tecnologia da Informação (TI), na qual a GSGI é concebida como
um modelo de administração e gestão de negócios. A infraestrutura de TI é
utilizada para estruturar e operacionalizar o trabalho a distância, não tendo
na tecnologia em si, o destino final do serviço prestado. Esse modelo de gestão
aplica-se a outros serviços, tais como contabilidade e finanças, análise e
diagnósticos de exames laboratoriais, animação e entretenimento, suporte aos
negócios no processamento de folhas a pagar, na análise contratual, na
logística, entre outros (Scumparim, 2007).
Para apresentar a GSGI, como uma evolução do modelo de gestão internacional de
serviços, serão explorados quatro arranjos distintos de redes internas, ou
modelos de gestão de empresas internacionais: (1) Exportação de Serviços; (2)
Multinacionais; (3) Transnacionais, e (4) Gestão de Serviços Globalmente
Integrada (conforme Scumparim e Sacomano, 2008).
A exportação de serviços
A corporação nos seus primórdios foi uma criação do Estado. Governos compunham
e sancionavam corporações para realizar obrigações específicas do Estado e de
seus governantes. Essa realidade mudou no decorrer do Séc. XIX, quando o Reino
Unido, Estados Unidos e outros países começaram a introduzir programas de
garantias sociais aos trabalhadores de empresas. Estava inaugurada, assim, uma
forma de relação de trabalho diferenciada dos padrões da época. Isso conferiu
às corporações um status de independência atribuindo-lhes maior autonomia de
decisão (Palmisano, 2006).
Araújo et al.(2000) comentam que até o final do Séc. XIX as empresas eram
gerenciadas de forma paternal e familiar, o que levava os empregados a se
utilizarem dos recursos delas em benefício próprio. Max Weber, por volta de
1890, presumiu que as organizações deveriam ser gerenciadas em bases impessoais
e racionais, dando início assim, ao Modelo Burocrático na Administração (Stoner
e Freeman, 1999). Em meados do Séc. XIX surgiu o que se pode chamar de
corporação internacional. Uma empresa organizada em matriz mais as rede de
distribuição, normalmente contando com forças do Estado para proteção dessas
redes. Essa estrutura básica de produção nacional e distribuição internacional
se aplicava a quase todos os ramos de negócios, como importação de matérias-
primas, transformação e exportação de produtos acabados (importação de óleos e
exportação de manteiga ou tecido e roupas, por exemplo). A quantidade de
serviços que podiam ser exportados era restrita, pois dependia de um
desenvolvimento básico no país de origem desta corporação e o envio de
profissionais ao destino final, para a sua implantação.
As organizações multinacionais
Após a Primeira Guerra Mundial e o colapso das economias dos Estados Unidos e
da Europa, as corporações internacionais sofreram embargos e bloqueios na
comercialização de seus produtos. O protecionismo que se seguiu, de 1920 a
1930, levou à criação de barreiras para as entradas de produtos e serviços
importados, como elevação das tarifas, controle monetário e outros. Para
reduzir as incertezas e aproveitar melhor o comércio exterior com subsidiárias
que pudessem atuar no país destino, surgiram as Corporações Multinacionais
(Chandler, 1977). Esse modelo de gestão, fortemente baseado na relação da
subsidiária com a matriz, era aplicado às suas unidades. O serviço era prestado
localmente e dependente dos processos e procedimentos oriundos da matriz. Havia
pouca, ou nenhuma, flexibilidade na gestão de cada subsidiária.
As transnacionais
Uma deficiência do modelo clássico de multinacional se devia ao fato de que as
transferências de conhecimento só aconteciam em um sentido (da matriz para a
subsidiária), fato que limitava as possibilidades de crescimento e ganhos de
eficiência. Como apontado por Karl Moore e Julian Birkinshaw (1998, p. 82),
para as empresas de serviços, os valores da cadeia produtiva ocorrem,
tipicamente, ao replicar toda a cadeia de valores e conhecimentos em país onde
opera uma unidade, em vez de centralizar certas partes em países com mão-de-
obra de menor custo. A vantagem competitiva se dá não pelo compartilhamento de
atividades, mas pela transferência de bens intangíveis, ou conhecimento tácito
(Lastres, 2005) de país para país.
Por volta da década de 1980, a expansão da concorrência e o aumento da pressão
para elevar a eficiência das corporações, evidenciaram o esgotamento da
transferência de modelo de gestão, pois as regras definidas e ditadas pela
matriz não se aplicavam competitivamente à realidade do país onde determinada
subsidiária estava instalada. Essa realidade instalou uma crescente
interdependência das unidades locais para com a matriz. Esse novo modelo de
gestão é denominado de Transnacional (Birkinshaw et al., 1998; Mazo et al.,
2004). A empresa transnacional é construída sobre a noção de que a
multinacional opera em múltiplos ambientes, cada um com características
próprias, distintas e complexas. Esta perspectiva assume que os gerentes da
subsidiária entendem mais sobre o mercado local do que a matriz, e estão em
melhores condições para decidir qual papel a subsidiária deve desempenhar.
GESTÃO DE SERVIÇOS GLOBALMENTE INTEGRADA
Roger (Rongxin) Chen e Mark V. Cannice (2006) apontam que a competitividade das
empresas que operam internacionalmente se dá com base em duas características
específicas: (1) atuar de modo independente da matriz para customizar uma
solução, fornecedores e procedimentos para o mercado local, o que possibilita
reduções de custos e tornem o serviço mais competitivo contra concorrentes
locais; (2) contar com recursos da corporação para tecnologias avançadas e
serviços de elite, como diferencial frente aos competidores da mesma região. É
com base na exploração inovadora destas duas características conjugadas, que
opera o quarto modelo de gestão internacional de serviços: a Gestão de Serviços
Globalmente Integrada. Os autores citados destacam os três aspectos que
corroboram para a criação da GSGI:
* os avanços em TIC geraram sistemas e ferramentas integradas de colaboração ao
possibilitar o trabalho a distância de alta produtividade;
* a abertura de mercado e definições de regras de negócios como nunca vistos,
criaram um novo ambiente competitivo;
* a forte concorrência com as empresas indianas de TI, devido ao baixo custo
dos profissionais desse país, comparado com os operários estadunidenses e
europeus.
A GSGI é um modelo de gestão internacional de serviços que aproveita o custo
baixo da mão de obra e o capital intelectual, onde houver a melhor oferta. Esse
modelo se difere da multinacional clássica e das transnacionais em vários
aspectos, mas principalmente por formar centros de prestação de serviços em
locais estratégicos, e aproveitar o potencial desses centros para entregar o
serviço aos clientes da corporação em qualquer lugar do planeta. O trabalho
também pode ser trocado de centro em centro a curto prazo (algo entre dias ou
poucas semanas, dependendo das necessidades), para aproveitar as melhores
condições, como a oferta de profissionais com habilidades específicas, ou
variações cambiais. A GSGI também se constitui em excelente proteção contra
fatores externos e incertezas, uma vez que o centro prestador de serviço a um
cliente específico pode ser mudado com bastante agilidade para o de outro país.
A Tabela 1 apresenta as características dos modelos de gestão internacional e
as diferenças da GSGI.
TABELA_1-Diferenças entre os modelos internacionais de gestão de serviços
PROCESSO HISTÓRICO DA GESTÃO DE PESSOAS NAS ORGANIZAÇÕES
Um dos aspectos de sustentação do modelo GSGI é a atuação das pessoas
potencialmente qualificadas para atuar nessa nova forma de organização do
trabalho. Ainda que a literatura sobre a gestão de pessoas não tenha se
debruçado sobre essa abordagem, isto é, não se tem conhecimento de uma proposta
desta gestão voltada para o modelo GSGI, pode-se identificar tendências que
mostram uma perspectiva de atuação na linha da formação e do gerenciamento do
capital humano integralizando-o ao capital intelectual da empresa. Nesse
sentido assume-se, na condição de um ensaio teórico, que o modelo de GSGI
requer um tipo de gestão essencialmente voltada a abordagem do capital humano e
que se aproxime do modelo competitivo de gestão de pessoas.
Nesta seção, apresenta-se uma síntese da evolução desta gestão ao buscar
descrever a sua trajetória histórica em diferentes momentos e contextos de
trabalho. Essa trajetória possibilita melhor compreensão sobre o modelo
competitivo da gestão de pessoas vinculando-o ao contexto da GSGI.
Esse modelo, conforme apontado por Fischer (1998) é o resultado de uma evolução
das diferentes formas de relacionamento entre empresas e pessoas. O autor
comenta que essa evolução ocorreu por meio de quatro movimentos históricos
reconhecidos nessa relação: (1) Administração de Recursos Humanos (ARH) como
Departamento de Pessoal; (2) ARH como Gestão de Comportamento; (3) ARH como
Gestão Estratégica, e (4) ARH como Vantagem Competitiva. As principais
características de cada movimento são apresentadas a seguir:
Administração de recursos humanos como departamento de pessoal
A Administração de Recursos Humanos ( Human Resource Management ) é resultado
do desenvolvimento empresarial e da evolução da teoria organizacional dos
Estados Unidos. Essa produção tipicamente americana foi aproveitada de
diferentes formas por outros países a partir de suas bases peculiares (Fischer,
1998, p. 99). O departamento de pessoal surge quando os empregados se tornaram
um fator de produção, cujos custos deveriam ser administrados tão racionalmente
quanto o custeio de outros fatores de trabalho. A raiz da posterior
Administração de Recursos Humanos estaria na necessidade de a grande corporação
gerenciar os funcionários como custos, o elemento diferenciador de
competitividade da época.
O contexto histórico de então, determinou o surgimento do Departamento de
Pessoal, órgão destinado à administração dos recursos humanos da grande
corporação, destacando-se: (1) o crescimento e a especialização da empresa; (2)
a livre empresa e o individualismo tornaram-se valores sedimentados na cultura
americana, o que permitia às empresas escolher livremente com quem e como
trabalhar; (3) a força de trabalho do país ganhara maior mobilidade e era
grande o contingente de migrantes que deveriam ser adaptados ao trabalho; (4)
os sindicatos não haviam se disseminado dentro do novo tipo de corporação que
surgia como um modelo empresarial (Fischer, 1998, p. 100).
A preparação para novas mudanças ganhou força a partir dos estudos de outros
pesquisadores que evidenciaram novo pressuposto sobre o trabalhador, desta vez
de caráter essencialmente social em substituição à visão econômica da então
Escola de Administração Científica . A Administração de Recursos Humanos como
gestão estratégica foi introduzida na década de 1980 em resposta à necessidade
de vincular a gestão de pessoas às estratégias da organização. Fischer (1999,
p. 106) resgata a idéia de Staehle (1990), segundo a qual a visão dos
pesquisadores da Universidade de Michigan sobre o assunto era de que a gestão
de recursos humanos deveria buscar ajustar-se da melhor maneira possível com as
políticas empresariais e os fatores ambientais. Para isso, planos estratégicos
dos vários processos de gestão de recursos humanos seriam derivados das
estratégias corporativas da empresa.
Fischer (1998) reconhece o avanço proporcionado pelos pesquisadores de Michigan
ao demonstrar a importância do caráter estratégico do modelo de gestão de
pessoas, mas ressalta os limites dessa concepção. Para ele, tal perspectiva
assume o pressuposto da adaptação e implementação, ou seja, o papel de recursos
humanos se resumiria a adaptar-se à estratégia do negócio e a implementar sua
diretriz específica. Ao assumir este papel adaptativo peca por não considerar a
possibilidade de a ARH intervir na estratégia corporativa para introduzir
decisões tomadas uma visão estratégica das pessoas e sua contribuição para a
empresa.
Administração de recursos humanos como gestão de comportamento humano
A utilização da Psicologia como uma ciência capaz de apoiar a compreensão e a
intervenção na vida organizacional provocou um redirecionamento no foco de ação
da ARH. Além de investir na tarefa, nos custos e nos resultados produtivos,
essa gestão passa a atuar sobre o comportamento das pessoas. Isto decorre da
influência de duas escolas da Psicologia em diferentes épocas. Segundo Fischer
(1998, p. 101), nas décadas de 1930 e 1940 predominou a linha behaviorista do
Institute of Human Relationsda Yale University,cuja principal contribuição foi
a criação dos instrumentos e métodos de avaliação e desenvolvimento de pessoas
que, nas empresas, formariam o arsenal da Psicologia e da psicometria aplicadas
aos procedimentos de gestão de Recursos Humanos.
A partir dos anos 1940 inicia-se um período em que a psicologia humanista passa
a interferir na Teoria Organizacional. Assim, o termo «Human Resource
Management» é o foco prioritário no comportamento humano (Fischer, 1998). Nas
décadas de 1960 e 1970, a Escola de Relações Humanas, influenciada pela
Psicologia Humanista, predominou enquanto matriz de conhecimento em gestão de
pessoas. Uma de suas principais contribuições foi descobrir que a relação entre
a empresa e as pessoas é intermediada pelos gerentes de linha. Reconhecer a sua
importância e levar o gerente de linha a exercer adequadamente o seu papel
passa a ser a principal preocupação da gestão de Recursos Humanos. O novo foco
de atuação se concentraria no treinamento gerencial, nas relações
interpessoais, nos processos de avaliação de desempenho e de estímulo ao
desenvolvimento de perfis gerenciais coerentes com o processo de gestão de
pessoas desejado pela empresa ( Fischer , 1998, p. 102).
Em 1975, Raymond E. Miles introduziu os conceitos de gestão com comando direto
do gerente; satisfação das expectativas dos funcionários, a consideração pela
autodeterminação e o auto-gerenciamento. Ainda nessa época, o uso do termo
«capital humano», como relatado por Likert, Schltz e Schuster (apudFischer,
1998, p.103) simbolizava que, apesar dos avanços, os novos processos e
procedimentos ainda visavam extrair a maior produtividade possível do «recurso»
humano, mas agora com um enfoque comportamental.
Administração de recursos humanos como gestão estratégica
A administração de Recursos Humanos como gestão estratégica foi apresentada
inicialmente na década de 1980, em resposta à necessidade de vincular a gestão
de pessoas às estratégias organizacionais. Fischer (1998, p. 106) defende a
idéia de Staehle (1990), segundo a qual a visão dos pesquisadores da
Universidade de Michigan sobre o assunto, era de que a gestão de recursos
humanos deveria buscar ajustar-se da melhor forma possível às políticas
empresariais e aos fatores ambientais. Para isso, planos estratégicos dos
vários processos de gestão de recursos humanos seriam derivados das estratégias
corporativas da empresa.
Ainda que tal avanço se mostre de forma positiva, na medida em que a função de
recursos humanos assume caráter estratégico, é reconhecido também os limites
dessa concepção. Tal perspectiva assume o pressuposto da adaptação e
implementação, ou seja, o papel de recursos humanos se resumiria a adaptar-se à
estratégia de negócio e a implementar sua diretriz específica. Para Fischer
(1998) esta perspectiva peca por não considerar a possibilidade de a ARH
intervir na estratégia corporativa , ao proporcionar às decisões tomadas uma
visão estratégica das pessoas e sua contribuição para a empresa.
Administração de recursos humanos como vantagem competitiva
Nesta categoria o conceito de Gestão de Recursos Humanos se amplia e assume uma
perspectiva focada no âmbito estratégico da empresa, ao posicionar as pessoas
para a concretização da vantagem competitiva. Hendry e Pettigrew (1994),
citados por Fischer (1998, p. 108), enfatizam a competitividade, com a
afirmativa de que é preciso ir além, para «que as pessoas sejam vistas pela
organização como um recurso estratégico», para se atingir a «vantagem
competitiva».
Assim, entre o final dos anos de 1980 e 1990, a gestão de Recursos Humanos
deixa de ser estratégica, ou seja, as pessoas passam a ser estratégicas somente
nas situações em que o ser humano «é visto e tratado como uma fonte de vantagem
competitiva» (Fischer, 1998, p. 108). A gerência de recursos humanos afeta a
vantagem competitiva em qualquer empresa, em algumas, ela é a chave para a
vantagem competitiva (Porter, 1989, p. 39).
Fischer (2002, p. 25) enfatiza a competição presente nas obras de autores como
Porter (1989) e Humer e Prahalad (1995), ao direcionarem de forma decisiva toda
a teoria organizacional, com a criação das bases do surgimento de um modelo de
gestão de pessoas baseado em competências. No estudo deste modelo, considera-
se: gestão de pessoas e vantagem competitiva; gestão de pessoas e reengenharia;
e gestão de pessoas e competências.
A noção de pessoas vinculadas à obtenção de ganhos compet itivos é reconhecida
por Bohlander et al. (2003) ao destacarem que, principalmente nos setores
baseados no ativo do conhecimento, como os de software e serviços de
informação, onde o sucesso depende cada vez mais das competências das pessoas.
De fato, um número crescente de especialistas alega atualmente que a chave para
o sucesso de uma empresa está no estabelecimento de um conjunto de competências
essenciais ' conhecimentos integra dos no interior de uma empresa, que a
distinguem de suas concorrentes e agregam valor aos clientes.
Nesse contexto, a atuação da ARH é essencialmente única na medida em que deve
incorporar as peculiaridades de cada contexto organizacional, em busca da
criação de um modelo adequado a esta realidade e a ambientes específicos. A
busca se configura em transmitir a estratégia da empresa para as pessoas,
envolvendo-as com o negócio, ao buscar o alinhamento do seu comportamento e a
tomada de decisão.
ESTUDO DE CASO
O estudo de caso caracteriza-se como exploratório que, segundo Cervo e Bervian
(2002, p. 6) tem por objetivo obter uma nova percepção sobre o fenômeno e
descobrir novas idéias. Para Andrade (2003, p. 124) a pesquisa exploratória tem
como finalidade proporcionar maiores informações sobre determinado assunto ou
descobrir um novo tipo de enfoque para o trabalho. Neste sentido, busca-se
conhecer melhor o comportamento da gestão de pessoas de uma organização que
opera no modelo GSGI.
A empresa foco do estudo foi fundada em 15 de Junho de 1911, em Nova Iorque,
Estados Unidos, como resultado da consolidação de duas empresas, sendo uma
delas de tecnologia da informação. Ela opera cinco áreas de negócios: serviços
de TI; serviços de apoio aos negócios; desenvolvimento de software; pesquisa,
desenvolvimento e manufatura de hardware, como mainframes e soluções de
storage, e um segmento de financiamento. Sua atuação é desenvolvida em seis
setores: serviços financeiros, serviços públicos, indústrias, redes de
distribuição, comunicações e pequenos e médios negócios (Reuters, 2007). A
empresa conta hoje com 350 mil funcionários, agrupados em regiões definidas
como Américas, Ásia-Pacífico e EMEA (Europe, Middle East & Africa).
No Brasil, a empresa tem cerca de 10 mil colaboradores (entre funcionários e
terceiros), tendo como principais sites: Tutóia (São Paulo), Hortolândia (São
Paulo) e Rio de Janeiro/RJ, além de outros novos locais. O site de Hortolândia,
com cerca de seis mil profissionais, fornece a maior parte de serviços da
subsidiária brasileira. O site suporta tanto clientes nacionais quanto
internacionais. Hortolândia é um key player para a empresa em escala global,
pois está localizada em uma região com abundante mão de obra em TI e com boas
universidades em cidades próximas, como Campinas, Americana e Piracicaba. O
Brasil também está bem posicionado globalmente, por contar com profissionais
proficientes em inglês, e principalmente com conhecimentos em mainframe
(computadores de grande porte), uma tecnologia pouco comum em outros países
como a Índia, a China e a Rússia.
Gestão de pessoas da empresa em estudo
O modelo de gestão de pessoas da empresa tem sido publicamente referenciado
como bem sucedido e amplamente discutido pela literatura (Tichy, 1981; Fombrun
et al., 1984; Dyer e Holder, 1987; Hiltrop, 1995; Huselid et al., 1997;
Stewart, 1997; Guest, 1999; Lepak e Snell, 1999; Fischer, 1999), entre outros
autores. Contudo, as mudanças mais recentes ocorridas nessa empresa ainda não
estão sistematicamente relatadas na literatura de gestão de pessoas. Essas
mudanças ocorreram em nível de inovação de produtos, de serviços, de processos
e de gestão. A cadeia de mudanças mais expressiva teve à frente o atual CEO
assumindo em 2002 como Chairman. Este CEO pôs em prática o seu plano de ação
para orientar e posicionar a empresa na direção do que ele chamou de «empresa
globalmente integrada». Logo, quaisquer idéias «pré-formadas» sobre o modelo de
gestão de pessoas dessa empresa devem ser revisadas a partir de 2002. Nesta
gestão pode-se identificar elementos dos vários movimentos históricos da ARH,
conforme os apresentados na revisão bibliográfica deste artigo, com
predominância a uma tendência em direção ao modelo competitivo de pessoas. Na
próxima seção serão apresentados os processos dessa gestão.
Estrutura e processos da gestão de pessoas
A gestão de pessoas da empresa sofreu várias mutações ao longo dos anos, ao
deixar um modelo burocrático-legal, que servia apenas ao cumprimento das
determinações legais. Em seguida, passou por um modelo tecnicista, com foco na
implementação de demandas políticas e ferramentas de gestão. Anteriormente a
2002, ela havia avançado na direção do modelo estratégico, ao alinhar suas
ações à estratégia da corporação.
Na empresa, atualmente, a gestão de pessoas está confiada a poucos
profissionais diretos e focados massivamente no plano estratégico. Esses
profissionais atuam numa dinâmica voltada para a busca de oportunidades de
parceria e no desenvolvimento entre a estratégia de RH e os acontecimentos do
momento. Eles agem como parceiros, tutores, clientes e fornecedores das áreas.
As atividades básicas ou «manuais» de RH foram pulverizadas e são de
responsabilidade dos gestores, como a coleta de feedback, ou por departamentos
terceirizados, como no processamento de demissões e de outros processos
pertinentes à rotina trabalhista. Como a empresa está presente em vários países
do mundo, ela conta com um departamento global que define, em nível
estratégico, a direção dos projetos da gestão de pessoas, bem como as
características básicas dos processos para todas as subsidiárias. Cada site
atua com relativa independência. Além de seguir os processos básicos, cada uma
deles conta com orçamento próprio para as adaptações e aplicações, conforme as
necessidades próprias e as necessidades e oportunidades do momento.
Perfeitamente integrados em cada subsidiária, os profissionais atuam de forma
estratégica. Os principais processos da gestão de pessoas adotados pela
organização são:
* Políticas de suprimento de pessoas:são elaboradas a partir da realidade
local, a partir de considerações sobre variáveis sócio-culturais que se
configuram no processo de captação de pessoas no mercado de trabalho. Em
nível global a empresa fornece treinamento para os profissionais que lidam
com processos seletivos e disponibiliza as diretrizes legais vigentes, além
da descrição do potencial de desenvolvimento. As habilidades profissionais
necessárias são definidas pelo gestor de primeira linha ou pelo gerente do
projeto da atividade fim. As fontes de seleção e processos de integração são
desenvolvidos de acordo com a realidade e necessidades locais.
* Políticas de aplicação de pessoas:quanto aos requisitos básicos da força de
trabalho e atribuições constantes do universo de cargos da organização, a
gestão de pessoas define em nível básico o que é esperado do ocupante de cada
cargo. A definição específica das atividades a serem desenvolvidas no dia a
dia é emitida pelas gerências das áreas. Ocupantes de determinado cargo podem
desempenhar atividades bastante diferentes, mas não incoerentes com a base
definida pela gestão de pessoas. Sobre os critérios de planejamento, alocação
e movimentação interna e o plano de carreira, a gestão de pessoas posiciona-
se como um consultor e sensor.Isto porque os modelos de carreira e as
trajetórias de crescimento mostram-se bem definidas e, cabe às pessoas
manifestar interesse e proatividade neste sentido. A gestão de pessoas e os
gerentes de linha atuam como divulgadores de opções e oportunidades, compete
ao colaborador o trabalho de buscar informações e iniciar o processo. Mesmo
assim, os gerentes de linha desempenham papel mais atuante, ao consultar os
profissionais daquela gestão, quando necessário. Isto não impede que essa
gestão, enquanto sensor, identifique os potenciais humanos, com base nas
avaliações de desempenho e de potencial e, recomendá-las. Na avaliação de
desempenho, a gestão de pessoas fornece as ferramentas e processos de suporte
à avaliação, além dos budgets e políticas de premiação. Este processo é
realizado anualmente com objetivos de negócios definidos para cada
organização e sub-dept. Ao final do ano, os gerentes de linha se reúnem com
os profissionais de gestão de pessoas para validar os resultados da avaliação
e classificar cada desempenho quanto à superação, atingimento ou falha na
execução dos objetivos esperados.
* Políticas de manutenção de pessoas:a avaliação de resultados leva à
premiações, de valores variáveis, dependendo das legislações e resultados de
cada região e profissional, além da premiação de iniciativa dos mais diversos
conjuntos organizacionais. Quanto à motivação, a empresa dispõe, em escala
global, avaliações anuais de satisfação no trabalho, atuando com determinação
na resolução de problemas identificados. Há estudos que interligam os
resultados das unidades (renda) com os pontos de satisfação obtidos pela
empresa; logo, é uma estratégia-chave da corporação manter níveis elevados de
motivação dos colaboradores. A gestão de pessoas trabalha com todos os níveis
gerenciais e unidades, com políticas globais e variantes regionais que
explicitam o papel a ser desempenhado por cada pessoa na organização, em
relação ao clima organizacional.
* Políticas de desenvolvimento de pessoas: há uma sólida política de
treinamento e desenvolvimento na empresa, contando com uma expressiva agenda
de treinamentos internos, em sua maioria, disponíveis gratuitamente em
formato eletrônico pela intranet. Também existe a preocupação especial com os
gestores e líderes, de forma que possam sempre receber conhecimento
atualizado quanto às diretrizes estratégicas da corporação. A gestão de
pessoas conta com suporte para planos individuais de carreira, com diretrizes
para que os gestores façam o acompanhamento e auxiliem os funcionários a
traçar estes planos. Em 2003, e pela primeira vez nos seus quase 100 anos de
operação, a empresa convocou os colaboradores de todos os países para
reexaminar sua base de valores. O evento resultou na descrição de uma nova
plataforma de valores que, doravante, passou a ser adotada por todos. É
importante mencionar que esta perspectiva de valores foi criada com base em
sugestões e votos dos próprios funcionários, e é o modelo que a gestão de
pessoas mantém à disposição para nortear o comportamento dos empregados.
* Políticas de controle de pessoas:a gestão de pessoas mantém diversos bancos
de dados, alimentados pelos gestores e próprios funcionários, para gerir
proficiências, desempenho, dados cadastrais, certificações e detalhes em
geral, para as análises quantitativa e qualitativa da força de trabalho da
organização. Ademais, realiza auditorias permanentes sobre a aplicação e
adequação das políticas e processos relacionados às pessoas. Pelo menos no
setor de serviços, objeto deste estudo, a gestão de pessoas tem como
principal expectativa o valor agregado que os indivíduos podem fornecer. Há
uma grande disposição da organização para gerir pessoas como vantagem
competitiva, com foco no desenvolvimento deste seu maior ativo. Logo, pode-se
considerar que apesar de a gestão de pessoas ser direcionada pela estratégia
da organização, o seu principal objetivo e foco estão na direção de criar um
contrato psicológico de trabalho que deixe claro aos gestores que a vantagem
competitiva está nas pessoas, e para as pessoas que estejam conscientes da
sua importância para com o negócio, buscando desenvolver-se e alinhar as suas
atitudes do dia a dia com os valores e objetivos da organização.
Gestores globais e seus papéis
Para garantir a integração das operações à GSGI, a empresa deve contar com
gestores atuando em funções específicas. Em seu ensaio «O que é um gerente
global», Bartlett e Ghoshal (2003) mapearam alguns papéis desempenhados por
gestores globais que se alinham muito bem à realidade da organização em estudo.
A seguir, algumas considerações sobre essas modalidades, destacando-se os
papéis exercidos pelos gestores devidamente alinhados às prospectivas da gestão
de pessoas:
* O gerente de negócios (Estrategista + Arquiteto + Coordenador):os gerentes de
negócios, ou gerentes de divisão de serviços, têm a responsabilidade de
aumentar a eficiência e competitividade da companhia em escala global. Ao
trabalharem com os recursos das subsidiárias e cientes dos riscos, estes
gestores se alinham com a primeira dimensão da organização operacional da
GSGI. Na empresa este papel é desempenhado por executivos seniores.
* O gerente do país (Sensor + Construtor + Contribuidor): existe uma gerência
responsável pela subsidiária nacional, tal como a atual presidência. O papel
desse gestor é desenvolver permanentemente sensibilidade às oportunidades
locais e requerimentos de governo, bem como contribuir para as operações
globais (Makino et al., 2004). Eles também são os principais responsáveis
pelo desenvolvimento das competências e do capital intelectual local.
* O gerente funcional (Scanner + Integrador + Campeão): os gerentes funcionais
garantem que as linhas de serviço estejam integradas entre as geografias (ou
centros de prestação de serviço). A principal responsabilidade é a busca e o
estabelecimento de padrões. Sejam as melhores práticas geradas por uma
subsidiária; sejam de mercado (como ITIL, por exemplo), esse gestor se
encarrega da implementação e acompanhamento de operações. Este é um papel-
chave para garantir a economia de escala que pode ser atingida globalmente
via integração de processos, base de conhecimentos e medidores de qualidade e
produtividade (Anand et al.,2002). Além das linhas de serviço, os gerentes
funcionais podem estar focados em várias outras divisões possíveis: podem se
constituir no ponto de contato de um determinado cliente; gerente de conta;
gerente financeiro de um determinado cliente ou grupo de clientes;
representante de carreiras, entre vários outros exemplos. Assim, temos um
gerente, ou uma estrutura de gestores, responsáveis por desenvolver aquela
função entre as geografias com excelência e, deste modo, agregar eficiência
operacional para toda a corporação.
Todos estes papéis existem na empresa, sobre diversas nomenclaturas, como por
exemplo, DPE (Delivery Project Executive), o gestor que cuida da entrega do
serviço e faz o link entre o cliente e as equipas de suporte dispersos entre as
geografias.
Força de trabalho remota
Quando Castells (2000) explorou a questão «Mão-de-obra global?» a realidade
dizia que o trabalho remoto era uma parte muito pequena, e que havia mais
pesquisadores observando o home office do que trabalhadores efetivamente
atuando desse modo. Castells também defendeu que a mão de obra global era,
basicamente, composta de trabalhadores especializados (gestores, engenheiros,
cientistas), com atuação global, o que exigia deles deslocamentos para atuar
nas subsidiárias ou país de origem das corporações. O aproveitamento da força
de trabalho local e de baixo custo era feito massivamente, com a abertura de
uma subsidiária no país onde essa mão-de-obra estivesse disponível, para
produzir os produtos, vender localmente, ou fornecer parte da produção (ou de
um produto específico) ao mercado global dessa multinacional.
Entre a publicação de Castells e o contexto atual, muita mudança ocorreu e
outra realidade é presenciada. De acordo com Belson (2007), atualmente, 40% da
força de trabalho global da empresa não está sediada numa planta física de um
escritório, pois trabalham em sua própria residência, nas dependências do
cliente ou na estrada. A tecnologia da informação, comunicação e colaboração
foram difundidas, amadureceu e passou a ser utilizada com maior facilidade
pelas pessoas (físicas e jurídicas).
Como o fluxo de mão de obra na GSGI é dinâmico, a habilidade de gerir equipas
remotas é imprescindível para a continuidade das operações. O local de trabalho
remoto é utilizado em seu sentido mais amplo, conforme o parágrafo anterior,
podendo significar trabalho desenvolvido em uma subsidiária e gerenciado a
partir de outra localidade ou sob a coordenação de funcionários trabalhando em
casa (Ellison, 2004; Jones et al., 2005). Como a gestão remota é essencial para
o sucesso das operações no modelo de GSGI, é vital para a empresa que os
gestores estejam capacitados a esse tipo de administração que, em grande
escala, é algo novo para os gerentes de vários países. Este é um assunto amplo
e com potencial de pesquisa.
Sempre houve contato entre pessoas de países diferentes e em várias empresas
mas, com a adoção da GSGI, as diversas equipes espalhadas ao redor do globo
passaram a trabalhar juntas nas operações diárias, como se elas estivessem do
outro lado da mesa. Sem poder contar com algumas pessoas com melhor
proficiência de idioma para fazer as pontes, todos os funcionários da linha de
frente se vêem frente a essa nova realidade, que não se limita apenas ao
conhecimento de idiomas, mas também o entendimento das diferentes culturas,
linguagens e sentidos na negociação. Nesse caso, o atendimento, a gerência de
expectativas e outras atividades fazem-se necessárias para a boa fluidez das
atividades.
Benefícios resultantes da adoção do modelo estratégico de gestão de pessoas em
GSGI
Atualmente, 50% dos colaboradores da empresa atua no setor de serviços, e mais
de 60% da receita bruta provém dela; logo, é uma empresa de serviços que tem
colhido os benefícios da GSGI, com reflexos em sua rentabilidade em comparação
com as concorrentes e com a valorização de suas ações (bolsas de Nova Iorque
para empresa e concorrente 1 e NASDAQ, para concorrentes 2 e 3), conforme
ilustra a Tabela 2 abaixo:
TABELA 2
Comparação de indicadores financeiros
Além do valor das ações a empresa tem outro importante diferencial em relação
aos concorrentes : a amplitude de seus negócios de Sistemas e Financiamento a
Software e Serviços. Ela conta com todas as áreas de suporte ao negócio na
própria corporação, podendo prestar serviço mais agilidade do que as suas
concorrentes (que têm de contar com parceiros para cobrir as áreas nas quais
não atuam). Este modelo de gestão iniciado pela empresa começou a ser adotado
por suas concorrentes e têm potencial para se expandir para outras corporações
de serviços.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este trabalho teve como objetivo apresentar, sob a forma de estudo preliminar,
os resultados parciais da implantação da GSGI em uma empresa multinacional de
TI, focada nos aspectos de sua gestão de pessoas. Incorporou-se ao texto uma
revisão bibliográfica sobre os modos de operações internacionais e sua evolução
culminando com o surgimento da GSGI, bem como da evolução dos modelos
históricos de gestão de pessoas.
Foram exploradas as características da gestão de pessoas na empresa, com a
identificação de seu alinhamento no sentido de adotar um modelo competitivo de
gestão de pessoas, no recorte do setor de serviços. Na empresa, a GSGI
apresentou alta performance de aproveitamento de recursos, de uma organização
distinta, ao conseguir agregar valor ao serviço, com proveito das vantagens
locais de onde estão instalados os seus centros de prestação de serviços, com a
geração de rentabilidade e solidez.
Apesar de os ganhos de vantagem competitiva, adquiridos com a implantação da
GSGI não tenham sido processados com precisão, pode-se confirmar a evolução do
valor de sua ação, na ordem de 85% desde 2002. A ascensão maior ocorreu a
partir de meados de 2006, ao saltar de 73,57 dólares para os atuais 116,78
dólares. Tais indicadores são apontados pelos gestores da empresa como
atributos da percepção do mercado, o qual, mais recentemente, começou a notar
os efeitos positivos e sustentáveis da GSGI.
Conforme discutido nas seções anteriores, a GSGI, por meio da exploração de
suas redes internas e da adoção de diversos elementos e ferramentas configurou-
se como uma evolução das transnacionais, tornando-se um modelo de gestão
adequado para a nova realidade de tecnologia e comércio internacional, com o
aproveitamento dos melhores recursos de suas subsidiárias em cada país.
Por se tratar de um modelo de gestão recém-constituído e ainda não explorado
pela literatura organizacional, o mesmo carece de sistematização. A
continuidade do presente estudo poderá trazer conhecimentos mais elaborados
sobre cada um dos processos da gestão de pessoas na compreensão de sua
organicidade e operacionalização.
A expectativa é de avanço das pesquisas no sentido de se avaliar as reais
possibilidades de implementação da GSGI por outras organizações. Desse modo, o
presente estudo configura-se como uma abordagem seminal sobre o tema, com base
em dados preliminares. Dada esta natureza a sua continuidade prevê a coleta de
dados adicionais junto a gestores internacionais, alocados em unidades da
empresa sediadas em outras regiões do globo.