Empreiteiros internacionais e mercado do Médio Oriente
As obras públicas são uma actividade que desempenha um papel preponderante no
desenvolvimento económico e social de qualquer região, pelo que a construção de
infra-estruturas, que sejam social e economicamente eficientes, é um pré-
requisito ao crescimento económico e à utilização mais eficiente dos recursos
de cada país. Neste sentido, as organizações políticas, económicas,
governamentais e não-governamentais estão de acordo sobre a relevância do
sector.
As obras públicas assentam essencialmente em duas grandes vertentes: a
construção e a manutenção. Registe-se que a construção, em geral, e as obras
públicas, em particular, são actividades económicas baseadas em grande
diversidade de projectos. Não existe uma padronização de produtos ou de
processos (Rodrigues, 2005), e cada obra é normalmente um caso particular,
embora saibamos que na construção podem existir projectos que permitem alguma
réplica de diversos produtos finais, sendo exemplo a edificação de blocos de
apartamentos ou de casas. Neste contexto, somos conduzidos a que a noção de
irreversibilidade se traduz em que a escolha de um projecto condicione, para um
dado horizonte temporal, outras opções em termos de novas obras e sua natureza
(Rodrigues, 2005).
Consideramos que o mais relevante é retermos que o desenvolvimento desta
actividade contribui para a melhoria do nível de bem-estar das populações,
podendo, neste sentido, falar-se em criação de riqueza, a qual se enquadra em
diversas tipologias.
Objectivo
O estudo da internacionalização das empresas insere-se num campo de
investigação muito rico, dado que as variáveis a analisar são enquadradas em
diversos vectores temáticos, ou se quisermos, são diversas as questões que têm
de ser ponderadas e respondidas quando se prepara e implementa um processo de
abordagem dos mercados externos. No presente trabalho, o objectivo relevante é
tentar concluir se a internacionalização das grandes empresas de obras
públicas, ou se quisermos, dos grandes empreiteiros para o mercado do Médio
Oriente, se enquadra no Modelo de Uppsala e na Teoria das Redes. Para a
concretização do estudo, e de forma a ter uma linha de orientação que evite a
dispersão da análise face à complexidade da investigação, a opção é formular as
seguintes hipóteses:
Hipótese 1
As conclusões do Modelo de Uppsala são aplicáveis na internacionalização das
empresas de obras públicas para o mercado do Médio Oriente.
Hipótese 2
A análise da variável cultural, falando-se em distância psicológica, é
relevante na internacionalização das empresas de obras públicas para o mercado
do Médio Oriente, eventualmente em complemento da hipótese anterior.
Hipótese 3
Tem significado considerar o enquadramento da internacionalização das empresas
de obras públicas para o mercado do Médio Oriente na Teoria das Redes,
sustentado em variáveis específicas do impacto internacional desta actividade.
Modelos de internacionalização
• O Modelo de Uppsala
Um dos modelos mais frequentemente utilizados para estudar o processo de
internacionalização, nomeadamente das pequenas e médias empresas, é o Modelo de
Uppsala, o qual está associado aos trabalhos de investigação desenvolvidos, em
meados dos anos 1960, na Universidade de Uppsala por um grupo de investigadores
liderado pelo Professor Sune Carlson.
Comparando os países nórdicos com a maioria das regiões do mundo, encontramos
uma área de grande homogeneidade (Björkman e Forsgren, 1997). Os países têm
dimensões geográficas similares, a sua História entrecruza-se e a proximidade
linguística é significativa. Todas elas são economias abertas e as empresas
procuraram no exterior oportunidades de negócio, eventualmente, segundo os
mesmos autores, pelas dimensões limitadas da região em que se inseriam. A
importância e relevância do comércio internacional influenciaram igualmente os
académicos e os investigadores nórdicos.
Os estudos retratavam duas percepções fundamentais.
A primeira tem a ver com o facto de se considerar que existe uma profunda
diferença entre as operações no mercado doméstico e as operações nos mercados
externos, as quais devem ser analisadas tendo em atenção as limitações de
conhecimento internas à própria empresa.
A segunda questão fundamental é que o conceito de empresa subjacente ao estudo
dos investigadores nórdicos não é o mesmo que o utilizado nas principais
correntes teóricas sobre economia.
Em meados dos anos 1970, houve estudos que tomaram como ponto de partida o
modelo acima referido, destacando que ele se caracteriza, precisamente, por
considerar que o processo de internacionalização se traduz numa progressão
incremental que leva a sucessivas fases de maior envolvimento no mercado
externo, através de modos de operação internacional com crescente grau de
exigência em termos de recursos, e, em que as distâncias geográficas, entre o
país de origem da empresa e os mercados alvo, vão aumentando (Johanson e
Wiedersheim-Paul, 1975; Johanson e Vahlne, 1977).
O Modelo de Uppsala deve ser considerado em dois planos: o operacional e o
teórico (Petersen e Pedersen, 1997). Dizem-nos, os mesmos autores, que ele
começou por ser estudado no plano operacional para depois se inferir o plano
teórico. Fica explícito que o processo incremental tem essencialmente
subjacente a variável geográfica, considerando-se que as empresas preferem
iniciar o processo de internacionalização por mercados que apresentam
semelhanças com o doméstico, falando-nos em distância psíquica.
O conceito de distância psíquica tem um cariz cultural, e deve ser considerado
com base em decisões de indivíduos e não como uma variável independente que
explica o processo de internacionalização das empresas (Langhoff, 1997). Na
verdade, o autor refere que a distância psíquica não é um factor objectivo, não
podendo ser considerada uma variável independente que influencia todas as
empresas da mesma maneira. Assim sendo, questiona-se se distância psíquica não
deverá ser um conceito que abrange as diferenças ou semelhanças culturais.
O autor chama claramente a atenção para que se perceba que o modelo em análise
assume que todas as empresas, num determinado estádio de internacionalização,
são levadas a ponderar as diferenças culturais, e estas exercem a sua
influência no mesmo sentido, ou seja, o da importância do estudo das referidas
diferenças, quer se trate de pequenas e médias empresas, quer de
multinacionais. Por outro lado, a distância psíquica, neste sentido lato,
abarcando a componente geográfica e a componente cultural, não deve ser
analisada a partir da perspectiva da unidade país, mas sobretudo tendo em
atenção regiões com alguma homogeneidade.
•Teoria das Redes
A internacionalização depende da organização do conjunto das relações na rede,
sendo os padrões desenvolvidos e os comportamentos manifestados o corolário das
relações que se estabelecem entre os vários actores, introduzindo-se um
elemento multilateral na internacionalização (Johanson e Vahlne, 1992). A
internacionalização é influenciada pelo contexto onde a empresa opera (Madsen e
Servais, 1997). Segundo estes autores, o grau de internacionalização da empresa
dependerá, assim, das redes estabelecidas na indústria, bem como da posição que
ela ocupa nessa rede, sendo essa posição fortemente determinada pela vantagem
específica de cada empresa, ou seja, dificilmente uma unidade económica sem
nada para oferecer acederá a este tipo de redes ou desenvolverá o seu processo
de internacionalização.
O desenvolvimento industrial das empresas em novos mercados confronta-se com
uma multiplicidade de factores integrantes do meio envolvente que afectam as
relações de negócio. Neste sentido, é relevante perceber a base da construção
de redes como forma de abordagem do mercado, que, segundo os mesmos autores,
tem a ver com a compreensão de se combinarem recursos heterogéneos com actores
diversos e várias actividades (Nieminen e Törnross, 1997).
Estudo empírico
• Enquadramento geral
De acordo com os relatórios elaborados pela McGraw-Hill Construction,
nomeadamente na sua publicação denominada Engineering News Record, o mercado
internacional de obras públicas continuava fluorescente nos anos 2005 e 2006,
sendo forte o negócio nos países desenvolvidos e em crescimento nos países em
vias de desenvolvimento. Nestes últimos, o investimento interno, nomeadamente o
investimento público, bem como o investimento externo e o apoio de organizações
internacionais, sobretudo do sector financeiro, tem sido fortemente canalizado
para a construção de grandes infra-estruturas, consideradas indispensáveis ao
desenvolvimento económico, como são exemplo as redes rodoviárias e as
estruturas de saneamento básico e produção de energia. Em 2006, os projectos de
obras públicas afectos aos maiores empreiteiros internacionais ascendiam a
224,43 biliões de dólares, o que representava um crescimento de 18,5% em
relação ao ano de 2005, em que o valor homólogo era de 189,41 biliões de
dólares.
• Grandes empreiteiros internacionais: conceito e rankings
A McGraw-Hill Construction elabora anualmente uma listagem das 225 maiores
empresas internacionais de obras públicas, segundo o critério do volume de
negócios fora do mercado doméstico donde cada empreiteiro é oriundo. Neste
sentido, podemos ter como grandes empresas internacionais unidades económicas
que, no conjunto de obras em que participam, apresentam um volume de actividade
inferior ao de outras empresas que têm uma importante carteira de trabalhos no
mercado doméstico.
Adicionalmente, a mesma entidade elabora uma listagem das grandes empresas de
obras públicas, numa perspectiva global, em que se considera o valor total do
volume de negócios. No período 2005/2006, os 225 maiores empreiteiros
internacionais eram oriundos de 37 países, sendo 51 empresas originárias dos
EUA, 49 originárias da China, 22 da Turquia, 15 do Japão, 11 de Itália e 10 da
Coreia do Sul. Em apenas 6 países, encontramos cerca de 70% dos grandes
empreiteiros internacionais.
Na maioria dos países, as grandes empresas internacionais do sector são
simultaneamente as grandes empresas em termos globais, embora com algumas
excepções. No caso dos EUA, as grandes empresas internacionais são cerca de
metade das grandes empresas em termos globais, o que traduz, certamente, um
mercado doméstico forte e com um nível de procura que permite a situação
retratada.
No que concerne à República Popular da China, temos a situação inversa. São as
empresas, numa perspectiva global, que representam cerca de metade das empresas
fortes em termos internacionais. Tudo indica que existe uma preocupação em
ocupar espaço nos mercados externos, podendo inferir-se que internamente a
carteira de trabalhos é alvo de algum planeamento central, que evita uma
concorrência aguerrida.
O terceiro realce vai para a Turquia, em que as empresas presentes no ranking
internacional quase que representam o triplo do número de empresas que estão no
ranking global. No caso vertente, parece-nos mais plausível acreditar que se
trata de um mercado doméstico ainda pouco dinâmico e menos consistente em
termos económicos para permitir uma concorrência interna que viabilize várias
empresas de obras públicas com dimensão minimamente significativa. Por outro
lado, ganhar expressão internacional e aproveitar negócios no mercado externo
que suportem o crescimento de empreiteiros turcos justifica a relação que
referimos entre empresas internacionais e empresas globais. Nos restantes
casos, as empresas internacionais coincidem, com uma ou outra excepção, com as
empresas fortes nos respectivos mercados domésticos.
• Mercado do Médio Oriente
O mercado do Médio Oriente inclui 15 subsegmentos de mercado, a saber:
Afeganistão, Irão, Iraque, Paquistão, Bahrein, Kuwait, Omã, Qatar, Israel,
Jordânia, Líbano, Síria, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Iémen.
O primeiro quadro que apresentamos reflecte o volume de negócios que este
mercado atingiu no ano de 2006, que foi de 41,38 mil milhões de dólares,
indicando-se os grupos de multinacionais, por país de origem, que foram mais
representativos em termos de turnover, bem como o número de empresas
internacionais que ali trabalhavam no período em análise.
Quadro I
Receitas no mercado do Médio Oriente
As empresas dos EUA estão em número razoável neste mercado, ali actuando 19
empresas oriundas deste país, que, em conjunto, têm um volume de negócios
superior ao das 53 multinacionais não identificadas no referido quadro. No
entanto, em termos relativos face ao total de empresas internacionais no Médio
Oriente, as firmas estadunidenses representam cerca de 14,8% desse total.
Podemos ser conduzidos a considerar que esta zona do Globo, quer por razões
económicas, sobretudo ligadas à exploração de petróleo, quer por razões
políticas, face à localização geoestratégica, é certamente atractiva e
importante para uma potência política e económica como são os EUA.
A presença japonesa também tem relevo e, em termos de volume de negócios por
empresa, as multinacionais japonesas têm uma posição mais favorável que as
estadunidenses. O caso que merece maior destaque é o da única multinacional
grega. Em termos unitários, a sua facturação acaba por ser quase 5,5 vezes a
das empresas estadunidenses e 4,8 vezes a das empresas japonesas. Esta situação
deve-se ao facto de o segmento de produto Processos Industriais/Estruturas
Petrolíferas representar 73% do volume de negócios da empresa grega. Destacam-
se ainda as empresas sul-coreanas, francesas e chinesas, estas últimas
sobretudo pelo facto de estarem em força, em termos absolutos, neste segmento
de mercado. As empresas chinesas são cerca de 26% do total de multinacionais no
Médio Oriente, número bem mais significativo, em quantidade, que o dos EUA.
Continuando a sequência da nossa análise, debruçamo-nos agora sobre o número de
empresas, por país de origem, a trabalharem nesta zona do globo, comparando o
mesmo com o total de multinacionais de cada país, bem como o número de
subsegmentos de mercado coberto pelas empresas de uma mesma nacionalidade,
apresentando o peso relativo face ao total de mercados do Médio Oriente (ver
Quadro II). Verificamos que estão a operar nesta zona do globo 128
multinacionais, um número que representa cerca de 57% do total de empresas
internacionais em referência.
Quadro II
Empresas por país e mercado
Registamos que as grandes potências económicas ocidentais, orientais e próximas
da região têm uma presença forte em termos de cobertura do território. Repare-
se que as empresas francesas estão em todos os mercados da região, as chinesas
em 14 dos 15 subsegmentos considerados, as turcas em 13, as estadunidenses em
12, as alemãs, as japonesas e as egípcias em 11, as britânicas e as espanholas
em 10, as italianas e a multinacional grega em 9 e as sul-coreanas em 8. Quer
pelo número de multinacionais por país de origem face ao total das empresas
desses mesmos países, quer pela cobertura do território, é grande o interesse
por este mercado geográfico.
A proximidade geográfica também se revela neste segmento de mercado, dado que
as empresas do Líbano têm uma presença territorial que se pode considerar
importante, acrescendo que, também, surgem as empresas da Arábia Saudita, dos
Emirados Árabes Unidos, do Kuwait e do Paquistão.
• Segmentação por país do mercado do Médio Oriente
Vejamos agora a localização das multinacionais por subsegmento de mercado,
agrupados, sempre que possível, por proximidade geográfica, conforme aos
Quadros III a VI.
Quadro III
Quadro IV
Quadro V
Quadro VI
•Discussão das hipóteses
Hipótese 1
Os elementos recolhidos, embora não esgotem as informações que gostaríamos de
possuir e com as quais quereríamos fazer um trabalho ainda mais completo, não
deixam de permitir que se discutam alguns aspectos relevantes face ao objectivo
do estudo, nomeadamente em termos de avaliação desta primeira hipótese.
As grandes empresas de obras públicas que se viram para os mercados
internacionais, têm de assentar a sua operacionalidade em estruturas internas
sólidas, em termos dos diversos tipos de recursos necessários à sua actividade,
e são um importante veículo de penetração nas economias externas, com
implicações significativas em termos de criação de emprego, dinamização
económica, construção de infra-estruturas, contributo para o desenvolvimento e
influência em relações de soberania, dado que as parcerias público-privadas
podem trazer reflexos de interdependência económica e financeira. Não é
indiferente ter importantes estruturas de um país geridas por empresas ou
consórcios internacionais ou por entidades nacionais.
A importância da solidez financeira e técnica destas empresas implica, em
muitos casos, que se desenvolvam trabalhos em diversos mercados, como forma de
rendibilizar os investimentos, sobretudo em activos fixos, embora se encontre
neste sector de actividade frequente recurso à locação operacional. Não deixa,
no entanto, e dependendo da dimensão da empresa, de se constatar que alguns
empreiteiros são mais concentrados em termos do binómio produto/mercado.
Estamos perante a hipótese de aceitarmos que o Modelo de Uppsala, na sua
formulação clássica, enforma o processo de internacionalização de muitas
empresas de obras públicas. Consideramos a proximidade geográfica não apenas
quando existem fronteiras terrestres entre dois territórios, mas também se eles
se inserirem em regiões bem delimitadas, em que a proximidade das componentes
territoriais é muito significativa.
De uma forma geral, a internacionalização por etapas, teorizada pelo referido
modelo, tem subjacente a falta de informação sobre os mercados externos e a
necessidade de se adquirir, passo a passo, experiência internacional. Neste
sentido, percebemos facilmente que, não sendo os países do Médio Oriente
conhecidos por terem um papel muito activo nos mercados externos de obras
públicas, será expectável que as empresas oriundas dessa zona dêem preferência
a operar na região.
Um dos exemplos relevantes é o da Al-Arrab Contracting Co. Ltd., 195.ª do
rankinginternacional, que aparece como única grande multinacional oriunda da
Arábia Saudita, a qual opera no Médio Oriente, em 5 segmentos geográficos, o
seu próprio país, os Emirados Árabes Unidos, a Jordânia, o Bahrein e o Qatar,
todos eles com fronteiras terrestres com o seu país de origem.
A empresa do Kuwait, Mushrif Trading & Contracting Co. KSCC, 221.ª do
ranking, só opera em três segmentos do Médio Oriente, e a sua compatriota
Kharafi National WLL, 130.ª do ranking, também trabalha em 3 segmentos no Médio
Oriente, embora saibamos que está num total de 5 segmentos a nível
internacional. As duas multinacionais libanesas estão ambas num total de 6
segmentos dos mercados internacionais, e, em ambos os casos, 5 deles são no
Médio Oriente. A empresa paquistanesa só actua em 4 segmentos do Médio Oriente,
sendo 3 deles, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Qatar, países
com fronteiras entre si. A empresa dos Emirados Árabes Unidos, a National
Petroleum Construction, 76.ª do ranking internacional, opera em 2 segmentos
geográficos do Médio Oriente, sabendo-se que em termos internacionais só está
presente em mais um mercado.
Face ao exposto, podemos concluir que as empresas oriundas dos países árabes
desta região, inseridas neste sector de actividade, se enquadram, no seu
processo de internacionalização, no Modelo de Uppsala.
Adicionalmente, também as multinacionais turcas podem ser parte integrante de
um processo de internacionalização para o Médio Oriente que respeita as
premissas da Hipótese 1, dado que a Turquia tem fronteiras com a Síria e o
Iraque e fica encostada a toda a zona geográfica alvo deste estudo.
Das 22 multinacionais turcas que aparecem no ranking internacional, 8
desenvolvem actividade nesta zona do globo, embora cada uma delas actue apenas
em 1 ou 2 segmentos geográficos, excepto o caso da Yapi Merkezy Insaat ve
Sanayi AS, 124.ª do ranking e que está em 5 segmentos, mais concretamente no
Irão, no Iraque, na Síria, na Jordânia e nos Emirados Árabes Unidos. No
entanto, as empresas turcas cobrem 13 dos 15 segmentos de mercado que
consideramos no Médio Oriente, havendo assim uma preocupação em ter uma larga
cobertura do território. As empresas turcas só não surgem no Bahrein e em
Israel.
Concluímos assim que, no que concerne às empresas oriundas de países menos
internacionais em termos de actividade empresarial, a Hipótese 1 se verifica,
ou seja, as conclusões do Modelo de Uppsala são aplicáveis na
internacionalização das empresas de obras públicas para o mercado do Médio
Oriente.
Hipótese 2
No caso do mercado do Médio Oriente, existe uma significativa sobreposição
entre proximidade geográfica e proximidade cultural, pelo que se nos afigura
difícil, face aos dados disponíveis, descortinar em que medida todas as
empresas que referimos no ponto anterior deram mais relevância a uma ou a outra
daquelas variáveis. Podemos certamente concluir que a distância psicológica é
pequena nos casos em apreço, e, em consonância, podemos dizer que para o mesmo
conjunto de empresas internacionais de obras públicas em que se verifica a
Hipótese 1, também se verifica a Hipótese 2.
Nesta segunda hipótese, podemos, no entanto, acrescentar as duas multinacionais
oriundas do Egipto, em que certamente a proximidade cultural já pesa mais que a
proximidade geográfica. Quer a Orascom Construction Industries (OCI), que é a
53.ª do ranking internacional, quer a The Arab Contractors (O.A.O. & Co.),
113.ª do mesmo ranking, estão, respectivamente, em seis e sete mercados do
Médio Oriente, sendo que, no conjunto, cobrem 11 segmentos desta zona do globo.
Para as empresas do mundo árabe, a proximidade cultural deverá ser, certamente,
uma componente forte, subjacente à decisão do processo de internacionalização,
e, neste âmbito, podemos aceitar como válida a Hipótese 2.
De algum modo, já era expectável que, para empresas oriundas de países com
menor projecção internacional das suas unidades económicas, as distâncias
culturais e geográficas influenciassem, quase em paralelo, as decisões de
internacionalização, mas a distância psicológica é claramente um factor de
grande relevo na primeira fase de penetração dos mercados externos.
Hipótese 3
Entramos agora na questão que mais facilmente se aceita, dado que existe um
vasto conjunto de empresas internacionais de obras públicas a actuar no Médio
Oriente, em que claramente não se pode falar nem de proximidade geográfica nem
de proximidade cultural. Certamente que alguns desses casos resultam da
conjunção de dois factores relevantes: a experiência internacional já adquirida
e o interesse económico em realizar determinados trabalhos em mercados que têm
o seu atractivo económico e financeiro.
Podemos, para algumas das multinacionais nos EUA, encontrar relações externas
ao negócio propriamente dito, que explicam ou podem explicar o interesse em ir
para o Médio Oriente. No caso dos EUA, por exemplo, existe um interesse
geoestratégico, associado a motivos político-militares, e, no caso da China,
sabemos que se trata de um país que tem lacunas em termos de matérias-primas,
nomeadamente, petróleo.
Conclusões
Em síntese, o estudo do mercado do Médio Oriente diz-nos que as empresas de
obras públicas com menos experiência internacional ponderam a proximidade
geográfica como variável subjacente ao processo de internacionalização,
situação que se vai alterando com o ganho de experiência. A proximidade
cultural também é uma variável importante no processo de abordagem dos mercados
externos por parte de muitas empresas com menor grau de internacionalização.
Para além disso, existem variáveis económicas e políticas que parecem
influenciar a internacionalização das empresas de obras públicas: a relação
entre países ou entre empresas de diferentes países, por razões estratégicas,
eventualmente influenciadas por variáveis de política internacional, poderão
conduzir à criação de redes específicas.