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EuPTHUAp1645-44642009000400006

EuPTHUAp1645-44642009000400006

variedadeEu
ano2009
fonteScielo

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Empreiteiros internacionais e mercado do Médio Oriente

As obras públicas são uma actividade que desempenha um papel preponderante no desenvolvimento económico e social de qualquer região, pelo que a construção de infra-estruturas, que sejam social e economicamente eficientes, é um pré- requisito ao crescimento económico e à utilização mais eficiente dos recursos de cada país. Neste sentido, as organizações políticas, económicas, governamentais e não-governamentais estão de acordo sobre a relevância do sector.

As obras públicas assentam essencialmente em duas grandes vertentes: a construção e a manutenção. Registe-se que a construção, em geral, e as obras públicas, em particular, são actividades económicas baseadas em grande diversidade de projectos. Não existe uma padronização de produtos ou de processos (Rodrigues, 2005), e cada obra é normalmente um caso particular, embora saibamos que na construção podem existir projectos que permitem alguma réplica de diversos produtos finais, sendo exemplo a edificação de blocos de apartamentos ou de casas. Neste contexto, somos conduzidos a que a noção de irreversibilidade se traduz em que a escolha de um projecto condicione, para um dado horizonte temporal, outras opções em termos de novas obras e sua natureza (Rodrigues, 2005).

Consideramos que o mais relevante é retermos que o desenvolvimento desta actividade contribui para a melhoria do nível de bem-estar das populações, podendo, neste sentido, falar-se em criação de riqueza, a qual se enquadra em diversas tipologias.

Objectivo O estudo da internacionalização das empresas insere-se num campo de investigação muito rico, dado que as variáveis a analisar são enquadradas em diversos vectores temáticos, ou se quisermos, são diversas as questões que têm de ser ponderadas e respondidas quando se prepara e implementa um processo de abordagem dos mercados externos. No presente trabalho, o objectivo relevante é tentar concluir se a internacionalização das grandes empresas de obras públicas, ou se quisermos, dos grandes empreiteiros para o mercado do Médio Oriente, se enquadra no Modelo de Uppsala e na Teoria das Redes. Para a concretização do estudo, e de forma a ter uma linha de orientação que evite a dispersão da análise face à complexidade da investigação, a opção é formular as seguintes hipóteses:

Hipótese 1 As conclusões do Modelo de Uppsala são aplicáveis na internacionalização das empresas de obras públicas para o mercado do Médio Oriente.

Hipótese 2 A análise da variável cultural, falando-se em distância psicológica, é relevante na internacionalização das empresas de obras públicas para o mercado do Médio Oriente, eventualmente em complemento da hipótese anterior.

Hipótese 3 Tem significado considerar o enquadramento da internacionalização das empresas de obras públicas para o mercado do Médio Oriente na Teoria das Redes, sustentado em variáveis específicas do impacto internacional desta actividade.

Modelos de internacionalização O Modelo de Uppsala Um dos modelos mais frequentemente utilizados para estudar o processo de internacionalização, nomeadamente das pequenas e médias empresas, é o Modelo de Uppsala, o qual está associado aos trabalhos de investigação desenvolvidos, em meados dos anos 1960, na Universidade de Uppsala por um grupo de investigadores liderado pelo Professor Sune Carlson.

Comparando os países nórdicos com a maioria das regiões do mundo, encontramos uma área de grande homogeneidade (Björkman e Forsgren, 1997). Os países têm dimensões geográficas similares, a sua História entrecruza-se e a proximidade linguística é significativa. Todas elas são economias abertas e as empresas procuraram no exterior oportunidades de negócio, eventualmente, segundo os mesmos autores, pelas dimensões limitadas da região em que se inseriam. A importância e relevância do comércio internacional influenciaram igualmente os académicos e os investigadores nórdicos.

Os estudos retratavam duas percepções fundamentais.

A primeira tem a ver com o facto de se considerar que existe uma profunda diferença entre as operações no mercado doméstico e as operações nos mercados externos, as quais devem ser analisadas tendo em atenção as limitações de conhecimento internas à própria empresa.

A segunda questão fundamental é que o conceito de empresa subjacente ao estudo dos investigadores nórdicos não é o mesmo que o utilizado nas principais correntes teóricas sobre economia.

Em meados dos anos 1970, houve estudos que tomaram como ponto de partida o modelo acima referido, destacando que ele se caracteriza, precisamente, por considerar que o processo de internacionalização se traduz numa progressão incremental que leva a sucessivas fases de maior envolvimento no mercado externo, através de modos de operação internacional com crescente grau de exigência em termos de recursos, e, em que as distâncias geográficas, entre o país de origem da empresa e os mercados alvo, vão aumentando (Johanson e Wiedersheim-Paul, 1975; Johanson e Vahlne, 1977).

O Modelo de Uppsala deve ser considerado em dois planos: o operacional e o teórico (Petersen e Pedersen, 1997). Dizem-nos, os mesmos autores, que ele começou por ser estudado no plano operacional para depois se inferir o plano teórico. Fica explícito que o processo incremental tem essencialmente subjacente a variável geográfica, considerando-se que as empresas preferem iniciar o processo de internacionalização por mercados que apresentam semelhanças com o doméstico, falando-nos em distância psíquica.

O conceito de distância psíquica tem um cariz cultural, e deve ser considerado com base em decisões de indivíduos e não como uma variável independente que explica o processo de internacionalização das empresas (Langhoff, 1997). Na verdade, o autor refere que a distância psíquica não é um factor objectivo, não podendo ser considerada uma variável independente que influencia todas as empresas da mesma maneira. Assim sendo, questiona-se se distância psíquica não deverá ser um conceito que abrange as diferenças ou semelhanças culturais.

O autor chama claramente a atenção para que se perceba que o modelo em análise assume que todas as empresas, num determinado estádio de internacionalização, são levadas a ponderar as diferenças culturais, e estas exercem a sua influência no mesmo sentido, ou seja, o da importância do estudo das referidas diferenças, quer se trate de pequenas e médias empresas, quer de multinacionais. Por outro lado, a distância psíquica, neste sentido lato, abarcando a componente geográfica e a componente cultural, não deve ser analisada a partir da perspectiva da unidade país, mas sobretudo tendo em atenção regiões com alguma homogeneidade.

Teoria das Redes A internacionalização depende da organização do conjunto das relações na rede, sendo os padrões desenvolvidos e os comportamentos manifestados o corolário das relações que se estabelecem entre os vários actores, introduzindo-se um elemento multilateral na internacionalização (Johanson e Vahlne, 1992). A internacionalização é influenciada pelo contexto onde a empresa opera (Madsen e Servais, 1997). Segundo estes autores, o grau de internacionalização da empresa dependerá, assim, das redes estabelecidas na indústria, bem como da posição que ela ocupa nessa rede, sendo essa posição fortemente determinada pela vantagem específica de cada empresa, ou seja, dificilmente uma unidade económica sem nada para oferecer acederá a este tipo de redes ou desenvolverá o seu processo de internacionalização.

O desenvolvimento industrial das empresas em novos mercados confronta-se com uma multiplicidade de factores integrantes do meio envolvente que afectam as relações de negócio. Neste sentido, é relevante perceber a base da construção de redes como forma de abordagem do mercado, que, segundo os mesmos autores, tem a ver com a compreensão de se combinarem recursos heterogéneos com actores diversos e várias actividades (Nieminen e Törnross, 1997).

Estudo empírico Enquadramento geral De acordo com os relatórios elaborados pela McGraw-Hill Construction, nomeadamente na sua publicação denominada Engineering News Record, o mercado internacional de obras públicas continuava fluorescente nos anos 2005 e 2006, sendo forte o negócio nos países desenvolvidos e em crescimento nos países em vias de desenvolvimento. Nestes últimos, o investimento interno, nomeadamente o investimento público, bem como o investimento externo e o apoio de organizações internacionais, sobretudo do sector financeiro, tem sido fortemente canalizado para a construção de grandes infra-estruturas, consideradas indispensáveis ao desenvolvimento económico, como são exemplo as redes rodoviárias e as estruturas de saneamento básico e produção de energia. Em 2006, os projectos de obras públicas afectos aos maiores empreiteiros internacionais ascendiam a 224,43 biliões de dólares, o que representava um crescimento de 18,5% em relação ao ano de 2005, em que o valor homólogo era de 189,41 biliões de dólares.

Grandes empreiteiros internacionais: conceito e rankings A McGraw-Hill Construction elabora anualmente uma listagem das 225 maiores empresas internacionais de obras públicas, segundo o critério do volume de negócios fora do mercado doméstico donde cada empreiteiro é oriundo. Neste sentido, podemos ter como grandes empresas internacionais unidades económicas que, no conjunto de obras em que participam, apresentam um volume de actividade inferior ao de outras empresas que têm uma importante carteira de trabalhos no mercado doméstico.

Adicionalmente, a mesma entidade elabora uma listagem das grandes empresas de obras públicas, numa perspectiva global, em que se considera o valor total do volume de negócios. No período 2005/2006, os 225 maiores empreiteiros internacionais eram oriundos de 37 países, sendo 51 empresas originárias dos EUA, 49 originárias da China, 22 da Turquia, 15 do Japão, 11 de Itália e 10 da Coreia do Sul. Em apenas 6 países, encontramos cerca de 70% dos grandes empreiteiros internacionais.

Na maioria dos países, as grandes empresas internacionais do sector são simultaneamente as grandes empresas em termos globais, embora com algumas excepções. No caso dos EUA, as grandes empresas internacionais são cerca de metade das grandes empresas em termos globais, o que traduz, certamente, um mercado doméstico forte e com um nível de procura que permite a situação retratada.

No que concerne à República Popular da China, temos a situação inversa. São as empresas, numa perspectiva global, que representam cerca de metade das empresas fortes em termos internacionais. Tudo indica que existe uma preocupação em ocupar espaço nos mercados externos, podendo inferir-se que internamente a carteira de trabalhos é alvo de algum planeamento central, que evita uma concorrência aguerrida.

O terceiro realce vai para a Turquia, em que as empresas presentes no ranking internacional quase que representam o triplo do número de empresas que estão no ranking global. No caso vertente, parece-nos mais plausível acreditar que se trata de um mercado doméstico ainda pouco dinâmico e menos consistente em termos económicos para permitir uma concorrência interna que viabilize várias empresas de obras públicas com dimensão minimamente significativa. Por outro lado, ganhar expressão internacional e aproveitar negócios no mercado externo que suportem o crescimento de empreiteiros turcos justifica a relação que referimos entre empresas internacionais e empresas globais. Nos restantes casos, as empresas internacionais coincidem, com uma ou outra excepção, com as empresas fortes nos respectivos mercados domésticos.

Mercado do Médio Oriente O mercado do Médio Oriente inclui 15 subsegmentos de mercado, a saber: Afeganistão, Irão, Iraque, Paquistão, Bahrein, Kuwait, Omã, Qatar, Israel, Jordânia, Líbano, Síria, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Iémen.

O primeiro quadro que apresentamos reflecte o volume de negócios que este mercado atingiu no ano de 2006, que foi de 41,38 mil milhões de dólares, indicando-se os grupos de multinacionais, por país de origem, que foram mais representativos em termos de turnover, bem como o número de empresas internacionais que ali trabalhavam no período em análise.

Quadro I Receitas no mercado do Médio Oriente

As empresas dos EUA estão em número razoável neste mercado, ali actuando 19 empresas oriundas deste país, que, em conjunto, têm um volume de negócios superior ao das 53 multinacionais não identificadas no referido quadro. No entanto, em termos relativos face ao total de empresas internacionais no Médio Oriente, as firmas estadunidenses representam cerca de 14,8% desse total.

Podemos ser conduzidos a considerar que esta zona do Globo, quer por razões económicas, sobretudo ligadas à exploração de petróleo, quer por razões políticas, face à localização geoestratégica, é certamente atractiva e importante para uma potência política e económica como são os EUA.

A presença japonesa também tem relevo e, em termos de volume de negócios por empresa, as multinacionais japonesas têm uma posição mais favorável que as estadunidenses. O caso que merece maior destaque é o da única multinacional grega. Em termos unitários, a sua facturação acaba por ser quase 5,5 vezes a das empresas estadunidenses e 4,8 vezes a das empresas japonesas. Esta situação deve-se ao facto de o segmento de produto Processos Industriais/Estruturas Petrolíferas representar 73% do volume de negócios da empresa grega. Destacam- se ainda as empresas sul-coreanas, francesas e chinesas, estas últimas sobretudo pelo facto de estarem em força, em termos absolutos, neste segmento de mercado. As empresas chinesas são cerca de 26% do total de multinacionais no Médio Oriente, número bem mais significativo, em quantidade, que o dos EUA.

Continuando a sequência da nossa análise, debruçamo-nos agora sobre o número de empresas, por país de origem, a trabalharem nesta zona do globo, comparando o mesmo com o total de multinacionais de cada país, bem como o número de subsegmentos de mercado coberto pelas empresas de uma mesma nacionalidade, apresentando o peso relativo face ao total de mercados do Médio Oriente (ver Quadro II). Verificamos que estão a operar nesta zona do globo 128 multinacionais, um número que representa cerca de 57% do total de empresas internacionais em referência.

Quadro II Empresas por país e mercado

Registamos que as grandes potências económicas ocidentais, orientais e próximas da região têm uma presença forte em termos de cobertura do território. Repare- se que as empresas francesas estão em todos os mercados da região, as chinesas em 14 dos 15 subsegmentos considerados, as turcas em 13, as estadunidenses em 12, as alemãs, as japonesas e as egípcias em 11, as britânicas e as espanholas em 10, as italianas e a multinacional grega em 9 e as sul-coreanas em 8. Quer pelo número de multinacionais por país de origem face ao total das empresas desses mesmos países, quer pela cobertura do território, é grande o interesse por este mercado geográfico.

A proximidade geográfica também se revela neste segmento de mercado, dado que as empresas do Líbano têm uma presença territorial que se pode considerar importante, acrescendo que, também, surgem as empresas da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos, do Kuwait e do Paquistão.

Segmentação por país do mercado do Médio Oriente Vejamos agora a localização das multinacionais por subsegmento de mercado, agrupados, sempre que possível, por proximidade geográfica, conforme aos Quadros III a VI.

Quadro III

Quadro IV

Quadro V

Quadro VI

Discussão das hipóteses

Hipótese 1 Os elementos recolhidos, embora não esgotem as informações que gostaríamos de possuir e com as quais quereríamos fazer um trabalho ainda mais completo, não deixam de permitir que se discutam alguns aspectos relevantes face ao objectivo do estudo, nomeadamente em termos de avaliação desta primeira hipótese.

As grandes empresas de obras públicas que se viram para os mercados internacionais, têm de assentar a sua operacionalidade em estruturas internas sólidas, em termos dos diversos tipos de recursos necessários à sua actividade, e são um importante veículo de penetração nas economias externas, com implicações significativas em termos de criação de emprego, dinamização económica, construção de infra-estruturas, contributo para o desenvolvimento e influência em relações de soberania, dado que as parcerias público-privadas podem trazer reflexos de interdependência económica e financeira. Não é indiferente ter importantes estruturas de um país geridas por empresas ou consórcios internacionais ou por entidades nacionais.

A importância da solidez financeira e técnica destas empresas implica, em muitos casos, que se desenvolvam trabalhos em diversos mercados, como forma de rendibilizar os investimentos, sobretudo em activos fixos, embora se encontre neste sector de actividade frequente recurso à locação operacional. Não deixa, no entanto, e dependendo da dimensão da empresa, de se constatar que alguns empreiteiros são mais concentrados em termos do binómio produto/mercado.

Estamos perante a hipótese de aceitarmos que o Modelo de Uppsala, na sua formulação clássica, enforma o processo de internacionalização de muitas empresas de obras públicas. Consideramos a proximidade geográfica não apenas quando existem fronteiras terrestres entre dois territórios, mas também se eles se inserirem em regiões bem delimitadas, em que a proximidade das componentes territoriais é muito significativa.

De uma forma geral, a internacionalização por etapas, teorizada pelo referido modelo, tem subjacente a falta de informação sobre os mercados externos e a necessidade de se adquirir, passo a passo, experiência internacional. Neste sentido, percebemos facilmente que, não sendo os países do Médio Oriente conhecidos por terem um papel muito activo nos mercados externos de obras públicas, será expectável que as empresas oriundas dessa zona dêem preferência a operar na região.

Um dos exemplos relevantes é o da Al-Arrab Contracting Co. Ltd., 195.ª do rankinginternacional, que aparece como única grande multinacional oriunda da Arábia Saudita, a qual opera no Médio Oriente, em 5 segmentos geográficos, o seu próprio país, os Emirados Árabes Unidos, a Jordânia, o Bahrein e o Qatar, todos eles com fronteiras terrestres com o seu país de origem.

A empresa do Kuwait, Mushrif Trading & Contracting Co. KSCC, 221.ª do ranking, opera em três segmentos do Médio Oriente, e a sua compatriota Kharafi National WLL, 130.ª do ranking, também trabalha em 3 segmentos no Médio Oriente, embora saibamos que está num total de 5 segmentos a nível internacional. As duas multinacionais libanesas estão ambas num total de 6 segmentos dos mercados internacionais, e, em ambos os casos, 5 deles são no Médio Oriente. A empresa paquistanesa actua em 4 segmentos do Médio Oriente, sendo 3 deles, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e o Qatar, países com fronteiras entre si. A empresa dos Emirados Árabes Unidos, a National Petroleum Construction, 76.ª do ranking internacional, opera em 2 segmentos geográficos do Médio Oriente, sabendo-se que em termos internacionais está presente em mais um mercado.

Face ao exposto, podemos concluir que as empresas oriundas dos países árabes desta região, inseridas neste sector de actividade, se enquadram, no seu processo de internacionalização, no Modelo de Uppsala.

Adicionalmente, também as multinacionais turcas podem ser parte integrante de um processo de internacionalização para o Médio Oriente que respeita as premissas da Hipótese 1, dado que a Turquia tem fronteiras com a Síria e o Iraque e fica encostada a toda a zona geográfica alvo deste estudo.

Das 22 multinacionais turcas que aparecem no ranking internacional, 8 desenvolvem actividade nesta zona do globo, embora cada uma delas actue apenas em 1 ou 2 segmentos geográficos, excepto o caso da Yapi Merkezy Insaat ve Sanayi AS, 124.ª do ranking e que está em 5 segmentos, mais concretamente no Irão, no Iraque, na Síria, na Jordânia e nos Emirados Árabes Unidos. No entanto, as empresas turcas cobrem 13 dos 15 segmentos de mercado que consideramos no Médio Oriente, havendo assim uma preocupação em ter uma larga cobertura do território. As empresas turcas não surgem no Bahrein e em Israel.

Concluímos assim que, no que concerne às empresas oriundas de países menos internacionais em termos de actividade empresarial, a Hipótese 1 se verifica, ou seja, as conclusões do Modelo de Uppsala são aplicáveis na internacionalização das empresas de obras públicas para o mercado do Médio Oriente.

Hipótese 2 No caso do mercado do Médio Oriente, existe uma significativa sobreposição entre proximidade geográfica e proximidade cultural, pelo que se nos afigura difícil, face aos dados disponíveis, descortinar em que medida todas as empresas que referimos no ponto anterior deram mais relevância a uma ou a outra daquelas variáveis. Podemos certamente concluir que a distância psicológica é pequena nos casos em apreço, e, em consonância, podemos dizer que para o mesmo conjunto de empresas internacionais de obras públicas em que se verifica a Hipótese 1, também se verifica a Hipótese 2.

Nesta segunda hipótese, podemos, no entanto, acrescentar as duas multinacionais oriundas do Egipto, em que certamente a proximidade cultural pesa mais que a proximidade geográfica. Quer a Orascom Construction Industries (OCI), que é a 53.ª do ranking internacional, quer a The Arab Contractors (O.A.O. & Co.), 113.ª do mesmo ranking, estão, respectivamente, em seis e sete mercados do Médio Oriente, sendo que, no conjunto, cobrem 11 segmentos desta zona do globo.

Para as empresas do mundo árabe, a proximidade cultural deverá ser, certamente, uma componente forte, subjacente à decisão do processo de internacionalização, e, neste âmbito, podemos aceitar como válida a Hipótese 2.

De algum modo, era expectável que, para empresas oriundas de países com menor projecção internacional das suas unidades económicas, as distâncias culturais e geográficas influenciassem, quase em paralelo, as decisões de internacionalização, mas a distância psicológica é claramente um factor de grande relevo na primeira fase de penetração dos mercados externos.

Hipótese 3 Entramos agora na questão que mais facilmente se aceita, dado que existe um vasto conjunto de empresas internacionais de obras públicas a actuar no Médio Oriente, em que claramente não se pode falar nem de proximidade geográfica nem de proximidade cultural. Certamente que alguns desses casos resultam da conjunção de dois factores relevantes: a experiência internacional adquirida e o interesse económico em realizar determinados trabalhos em mercados que têm o seu atractivo económico e financeiro.

Podemos, para algumas das multinacionais nos EUA, encontrar relações externas ao negócio propriamente dito, que explicam ou podem explicar o interesse em ir para o Médio Oriente. No caso dos EUA, por exemplo, existe um interesse geoestratégico, associado a motivos político-militares, e, no caso da China, sabemos que se trata de um país que tem lacunas em termos de matérias-primas, nomeadamente, petróleo.

Conclusões Em síntese, o estudo do mercado do Médio Oriente diz-nos que as empresas de obras públicas com menos experiência internacional ponderam a proximidade geográfica como variável subjacente ao processo de internacionalização, situação que se vai alterando com o ganho de experiência. A proximidade cultural também é uma variável importante no processo de abordagem dos mercados externos por parte de muitas empresas com menor grau de internacionalização.

Para além disso, existem variáveis económicas e políticas que parecem influenciar a internacionalização das empresas de obras públicas: a relação entre países ou entre empresas de diferentes países, por razões estratégicas, eventualmente influenciadas por variáveis de política internacional, poderão conduzir à criação de redes específicas.


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