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EuPTHUAp1645-44642012000300006

EuPTHUAp1645-44642012000300006

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioHumanities
Great areaApplied Social Sciences
ISSN1645-4464
ano2012
Issue0003
Article number00006

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Insucesso em redes de cooperação: Estudo multicasos

Redes de cooperação são apontadas como uma configuração que pode contribuir para a sustentabilidade de pequenas e médias empresas. A sustentabilidade pretendida neste tipo de arranjo está geralmente associada à competitividade.

Historicamente, a competitividade foi sendo gerada quase que exclusivamente pelo esforço individual das organizações. Nesse contexto, a cooperação e a competição foram visualizadas ao longo de décadas como uma dualidade quase que indissolúvel no campo da competitividade e da estratégia empresarial. O modelo híbrido de cooperar para competir começou a ganhar força com os estudos de Brandenburger e Stuart (1996) e Brandenburger e Nalebuff (1996) que popularizam o termo coopetição (Rodrigues et al.,2007). Porter (1998), o idealizador das estratégias de competição por empresas individuais, passou a considerar também a estratégia de cooperação como uma alternativa de competir e de desenvolver uma vantagem competitiva.

O debate sobre redes de cooperação ampliou-se. Estas se tornaram cada vez mais difundidas, chamando a atenção de órgãos governamentais de vários países, o que proporcionou também uma visão empreendedora e social a esta abordagem. De fato, empresas que sempre empreenderam sozinhas precisam aprender a trabalhar de forma cooperativa, desenvolvendo atributos necessários à cooperação. A falta desses atributos pode ser responsável pela desistência das empresas de cooperarem umas com as outras.

O Programa Redes de Cooperação da Universidade de Caxias do Sul (UCS) surgiu a partir da iniciativa conjunta do governo do estado do Rio Grande do Sul, interessado em estimular as empresas de pequeno porte, e da UCS, que se encontra totalmente inserida e comprometida com a comunidade de Caxias do Sul e com os municípios das cercanias, onde 80% das empresas têm menos de 10 funcionários. Por isso, tornou-se importante identificar os motivos que levaram empresas integrantes dessas redes de cooperação a abandoná-las. Esta identificação poderá auxiliar na construção de novas redes, tomando-se medidas mais assertivas e, principalmente, no apoio às existentes. A questão da pesquisa, portanto, é: quais são os motivos que levaram empresas integrantes de redes de cooperação a abandoná-las? O sucesso em redes de cooperação O arcabouço teórico sobre estratégias de cooperação e de coopetição fundamenta a abordagem de redes de cooperação. Brandenburger e Stuart (1996) definem os coopetidores [junção de cooperantes com competidores, a partir da tradução do conceito original em inglês de coopetitors e coopetition] como competidores que formam uma estrutura de múltiplos relacionamentos e de interdependência das firmas rumo a uma rede de valor. Neste contexto, a coopetição revela-se como uma estratégia de interdependência que permite às firmas simultaneamente competirem e gerenciarem objetivos para criar valor e vantagem competitiva (Dagnino e Padula, 2002).

O primeiro passo para o sucesso de redes de cooperação é a pré-disposição das empresas em cooperar umas com as outras. Cooperação tem se revelado como uma estratégia importante para conferir sustentabilidade principalmente às empresas de pequeno porte, que enfrentam dificuldades inerentes à competitividade.

Estudos têm apontado que empresas configuradas em rede conseguem aumentar sua competitividade na produção, no desenvolvimento e lançamento de novos produtos, no acesso às novas tecnologias e matérias-primas e em conhecimento de fornecedores (Balestrin; Vargas e Fayard, 2005; Barcellos et al., 2008; Olave e Amato Neto, 2001; Peretti et al., 2010; Verschoore e Balestrin, 2008).

Estudos têm apontado que empresas configuradas em rede conseguem aumentar sua competitividade na produção, no desenvolvimento e lançamento de novos produtos, no acesso às novas tecnologias e matérias-primas e em conhecimento de fornecedores.

A pergunta que tem permeado alguns dos estudos de redes de cooperação é: «quais são os elementos que precisam estar presentes nesses tipos de organizações híbridas, uma vez que as empresas integrantes, em sua maioria, pertencem ao mesmo segmento de mercado, e, individualmente, disputam os mesmos clientes?». A presença destes elementos tende a contribuir para o sucesso de redes de cooperação e não são explicados exclusivamente pelas teorias de Custos de Transação e de Dependência de Recursos (Wegner et al., 2006). Segundo Zawislak e Furlanetto (2000), tais elementos estão associados à confiança, reputação e lealdade nas transações, os mesmos da cooperação entre indivíduos.

Para Wegneret al. (2006), a existência de objetivos comuns entre os participantes, regras e sanções claras, participação nas decisões, comunicação entre os membros e apoio técnico à rede são outros elementos que tendem a contribuir para o sucesso de configuração em redes de cooperação. Envolvimento e comprometimento são duas dimensões que, na visão de Hardy et al.(2003), são fundamentais para a colaboração que é intrínseca à cooperação.

Aprendizado, cooperação, desenvolvimento de lideranças, quebra de paradigmas, confiança, estratégias utilizadas para a tomada de decisões, comprometimento, percepção de valor são atributos citados por gestores de empresas associadas a uma Rede de Cooperação, como necessários para a manutenção e ascensão da mesma.

Bem como a busca, principalmente por empresas de micro a médio porte, de maior competitividade, como propulsora da inserção da empresa em uma Rede (Barcellos et al., 2008; Peretti et al., 2010).

Todeva e Knok (2005) apontaram que nos estudos sobre organizações híbridas ainda mais perguntas do que respostas. São estas lacunas teóricas e empíricas que veem dando ímpeto às pesquisas sobre redes de cooperação.

O insucesso em redes de cooperação O modelo (Figura 1) de Park e Ungson (2001) tem sido utilizado como referência nos estudos de insucesso em redes de cooperação (Wegner e Padula, 2008; Pereira et al.,2010). Segundo o modelo, problemas relacionados com a confiança, reputação e comprometimento entre os membros da rede abalam os objetivos desejados dessa configuração interorganizacional que são de equidade, eficiência e adaptação em uma rede de cooperação, levando à falha na aliança e consequentemente ao seu insucesso.

Figura_1 Um Modelo Integrativo de Fracasso de Alianças

A Figura_1 é elucidativa, pois indica que a falha da aliança emerge da predominância do paradigma da competição entre os membros. O efeito resultante é que as empresas continuam se enxergando como rivais, dando chance para o oportunismo, devido aos integrantes não disporem de todas as informações no mesmo momento. Como decorrência, algumas empresas, com oportunismo, podem obter retornos maiores do que as outras. Mesmo que este efeito não se concretize, a percepção dessa assimetria entre os membros é suficiente para dar início ao colapso na cooperação. O oportunismo convive com um paradoxo, pois ele é a causa principal para as falhas de mercado, bem como para a existência das organizações (Williamson, 1985).

A presença de culturas diferentes na mesma rede é inquestionável, cada membro traz consigo a sua maneira de fazer negócios e de lidar com a cooperação, confiança, lealdade e comprometimento. Tais diferenças podem ser geradoras de conflitos internos que comprometem a criação de sinergias, necessárias à operação em rede. Corso e Fossa (2008) sugerem que o ideal seria a criação de uma única cultura na rede contra a qual alguns grupos se posicionam, gerando conflito com as demais empresas, cuja solução recai sobre «excluir-se da rede» ou «acatar a decisão da rede, deixando-se influenciar pela cultura única».

A não obtenção de benefícios econômicos também é um dos motivos que levam as empresas a saírem de suas redes. O volume dos benefícios obtidos pela aliança não é suficiente para superar os custos de gerenciamento da rede, em parte porque os recursos agregados pelos membros não são suficientes para viabilizá- la (Wegner e Padula, 2008).

A falta de metas comuns e de objetivos entre os integrantes compromete o motivo de existência da própria rede cujos motivos, no estudo de Zineldin e Dodourova (2005), foram exclusivamente financeiros no início, mas passaram a ser de conteúdo estratégico e gerencial a longo prazo.

Metodologia A pesquisa é de natureza qualitativa baseada em estudo multicasos de seis redes de cooperação que foram extintas a partir do ano de 2004 dentro do Programa de Redes de Cooperação da Universidade de Caxias do Sul. O estudo de caso segundo Yin (2001) é adequado para investigar um fenômeno contemporâneo, neste caso, a estratégia de cooperação no escopo de redes de cooperação, dentro de um contexto da vida real.

Com base nesse critério, as seis redes identificadas correspondem a toda população de redes inativas no período de 2004 a 2010. As redes objeto deste estudo se enquadram nos seguintes setores da atividade econômica: calçados de couro, móveis, vinho e derivados da uva, organizações não-governamentais, comércio e serviços em segurança e tecnologia, e vidraçarias. Foram entrevistadas duas empresas em cada rede, totalizando 12 empresas. As empresas entrevistadas pertencem, portanto, aos setores da indústria, comércio, serviços e organizações não-governamentais sem fins lucrativos. Foram selecionados para as entrevistas dois respondentes de cada rede.

Dentre os entrevistados selecionados, um teria de ter ocupado, obrigatoriamente, a presidência da rede e o outro respondente poderia ser indicado pelo presidente ou escolhido aleatoriamente na relação de integrantes da rede. As entrevistas foram individuais, gravadas, em profundidade, mediante guia de entrevista semiestruturado. Foram abordadas 13 questões: expectativas ao entrar na rede, aspetos de liderança, aprendizagem, mudança, ganhos, perdas, valor, clima, confiança, satisfação, insatisfação e se participaria novamente de uma rede de cooperação. As entrevistas foram realizadas entre julho e novembro de 2010, com duração de 30 a 60 minutos cada uma. Após sua gravação, as entrevistas foram transcritas e analisadas por meio da análise de conteúdo, classificando-se as variáveis manifestas pelos respondentes em categorias de análise, conforme Bardin (2009).

Estudo multicasos de insucesso O Quadro I apresenta os aspetos, citados pelos respondentes, que contribuíram para a sua saída das respetivas redes. Alguns aspetos são comuns às diferentes redes e são corroborados pela literatura. Outros aspetos são particulares, que, ao se combinarem com os aspetos comuns, impulsionaram estas empresas a se desligarem de suas redes. Algumas falas demonstram essa coexistência de motivos particulares e de motivos provenientes da própria interação em rede.

Quadro_I Motivos para abandono da rede segundo os respondentes

Um dos entrevistados da Rede de Indústria de Móveis apontou: «... foi saindo um de cada vez...», «... havia reclamações quanto ao tempo gasto com deslocamentos para fazer as reuniões...», «... alguns membros participavam somente para saber como as demais empresas trabalhavam e não compartilhavam nada...», «...

estávamos em três empresas quando finalmente, resolvemos fechar a rede...».

Outro entrevistado, o da Rede de Fabricantes de Vinho e Derivados da Uva revelou: «... a família reclamava da minha ausência nos negócios, no tratamento do parreiral, na venda da uva para os clientes...», «... eu era o integrante mais jovem da rede, os outros tinham mais idade e mais experiência do que eu nos negócios com a uva...», «... o que eu falava era alvo de desconfiança...», «... eles achavam que as minhas idéias eram muito modernas...», «... aliado à falta de confiança dos membros, resolvi abandonar a rede...».

A Figura 2 esquematiza e sintetiza os resultados das entrevistas apresentadas no Quadro_I. Esses aspetos podem ser considerados como as possíveis variáveis impulsionadoras da decisão de abandonar a rede e que devem ser testados em uma nova fase desta pesquisa, a etapa quantitativa que se encontra em andamento.

Figura_2 Motivos para o abandono da rede pelas empresas pesquisadas

A partir da análise dos resultados (Quadro_1 e Figura_2) infere-se que os aspetos posicionados no lado esquerdo da Figura_2 podem ser considerados como aspetos culturais característicos do comportamento individual de cada empresa, anteriormente à rede, e que se não forem neutralizados podem contribuir para o insucesso da rede. Os aspetos posicionados no lado direito da Figura_2 seriam considerados como os aspetos estruturais, que, em suas ausências, tal como apresentado no Quadro II, a chance de insucesso torna-se provável. Os dois aspetos posicionados ao centro (superior e inferior) da Figura_2 poderiam ser considerados como aspetos negativos, decorrentes do estabelecimento de uma cultura única na rede, e que ao estarem presentes expõem a rede ao risco de insucesso.

Quadro_II Associação dos resultados empíricos com a teoria de redes

Estas análises dos dados empíricos da pesquisa, combinadas com o referencial teórico sobre sucessos e insucessos em alianças estratégicas, e especificamente em redes de cooperação, tornaram possível a construção do Quadro_II.

Baseado nos resultados desta pesquisa é possível dizer que a decisão em abandonar a rede começa com a cultura de cada membro, proveniente do modo como faz negócios em sua empresa. A existência de discrepâncias dos aspetos estruturais que dão sustentação à rede faz com que os problemas inerentes ao estabelecimento de uma cultura única sejam ressaltados. Dependendo da percepção de cada membro e da capacidade de vencer os conflitos internos, a empresa manifestará a tendência de permanecer ou de sair da rede.

Pode-se inferir que as mesmas características que são necessárias para o sucesso de uma rede de cooperação são as que levam ao insucesso da rede no momento em que deixam de estar presentes. A pergunta que ainda não foi respondida por esta pesquisa, e que será o alvo do próximo estudo, é: que peso cada variável apresentada na Figura_2 exerce sobre a decisão do integrante em abandonar a rede? Conclusão A Visão Baseada em Recursos (RBV) se revelou importante para explicar e dar fundamento aos diferentes tipos de alianças estratégicas entre firmas (DAS; TENG, 2000). Os resultados desta pesquisa apontam, tal como pronunciado por outros autores, que a configuração em rede de cooperação, uma forma particular no contexto de alianças estratégicas, pode ser mais bem compreendida indo além das abordagens tradicionais da RBV e da Economia dos Custos de Transação.

Se cada integrante da rede não possuir disposição interna - aquela que começa no indivíduo ' para abrir mão do seu individualismo e de seus objetivos particulares a favor de algumas decisões-chave que proporcionarão ganhos coletivos importantes, a rede estará permanentemente vulnerável e exposta ao insucesso.

As empresas pesquisadas, ex-integrantes de redes de cooperação, são caracteristicamente de pequeno porte, assim como o são as demais empresas que abandonaram as redes de cooperação que integravam. São representativas da população de empresas da região de Caxias do Sul, onde 80% são de pequeno porte, independentemente do setor em que atuam. A maioria destas empresas é uma extensão do círculo familiar e, caracteristicamente, está muito centrada na figura do proprietário e de sua família. Faz todo o sentido afirmar que nestas empresas as decisões são tomadas dentro do círculo familiar. Ao integrar a rede, o representante da empresa passa a fazer parte de outro círculo que congrega várias empresas com o mesmo perfil. Se cada integrante da rede não possuir disposição interna ' aquela que começa no indivíduo ' para abrir mão do seu individualismo e de seus objetivos particulares a favor de algumas decisões-chave que proporcionarão ganhos coletivos importantes, a rede estará permanentemente vulnerável e exposta ao insucesso.


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