Um estudo no setor de vitivinicultura no Brasil e em Portugal
O acirramento da competição entre empresas, nas últimas décadas, já é um
fenômeno muito estudado. Por sua vez, a estratégia de coopetição (cooperação em
competição, do inglês coopetition), na qual as empresas cooperam com outras
empresas na produção, distribuição e comercialização de bens e serviços para se
tornarem em conjunto mais competitivas, emergiu na segunda metade do Séc. XX.
A cooperação requer de cada empresa a disposição para se unir a outras
empresas, para atuar de forma conjunta e/ou complementar, agregando valor em um
dos elos da cadeia produtiva, formando agrupamentos empresariais. Porter (1990,
p. 131) em seus estudos sobre competitividade destacou a importância dos
clusterspor meio do aumento da produtividade das empresas instaladas no
cluster, no direcionamento da inovação e do surgimento de novos negócios
relacionados ao setor.
Segundo Belusi e Arcangeli (1998), Jones (2005) e Ploetner e Ehret (2006), as
empresas, quando atuam isoladamente, frente às pressões competitivas do
mercado, buscam constantemente melhorias de seus mecanismos internos de gestão
como forma de se tornarem mais eficazes e aprimorarem as suas competências
centrais. Em termos de estratégias de cooperação entre empresas, estudos como
os de Amato Neto (2000, 2009), Leon et al. (2000), Casarotto Filho e Pires
(1999), Gill e Butler (2003), Fitzpatrick e Dilullo (2005), Ho (2006), Manring
e Moore (2006), Rese (2006) e Zaccarelli et al.(2008), dentre outros, revelaram
que as empresas, quando agrupadas e subordinadas a um mecanismo de governança
supraempresarial, obtêm para si próprias, e para as outras empresas
participantes do grupo, vantagens competitivas diferenciadas que não seriam
conseguidas numa atuação independente, individual e isolada.
Estudos sobre redes de negócios e clusters empresariais têm sido foco de
pesquisadores da área da Administração no Brasil. Nos últimos anos, Gaspar et
al. (2013) pesquisaram a viabilidade da inserção de pequenos comércios
varejistas de alimentos em redes de negócios lideradas por grandes atacadistas.
Pereira et al. (2013) fizeram uma proposição de métricas para a avaliação da
competitividade em redes de negócio no setor siderúrgico brasileiro. Bortolaso
et al. (2012) buscaram compreender como são desenvolvidas e executadas as
estratégias cooperativas em redes de pequenas e médias empresas. Zen et al.
(2013) fizeram estudo sobre o desenvolvimento de recursos em redes
interorganizacionais e o processo de internacionalização do setor de vinhos.
Giglio e Carvalho (2013) realizaram pesquisa sobre as transformações das redes
de negócios de turismo numa cidade brasileira. Moran et al. (2012) buscaram
identificar congruências entre o posicionamento estratégico adotado pela
subsidiária brasileira de uma corporação multinacional e o tipo de rede de
negócios por ela integrada.
Já Queiroz (2013) efetuou pesquisa sobre a associação das redes de negócios e
as redes de cooperação no Arranjo Produtivo Local (APL) calçadista de Birigui,
estado de São Paulo (Brasil). Martins e Souza Filho (2013) fizeram um estudo
com o objetivo de descrever a gestão da logística em empresas de um APL, com
interesse na análise das estratégias logísticas e de seu alinhamento baseadas
na integração e colaboração no conjunto das empresas atuantes no APL.
Trabalhos sobre a avaliação da produção acadêmica brasileira recente sobre
clusters também foram realizados. A pesquisa de Siqueira et al. (2013)
objetivou identificar os autores brasileiros mais importantes na produção de
artigos recentes sobre clusters de negócios, enquanto pesquisa conduzida por
Tiscoski e Moraes (2013) buscou analisar os conceitos e métricas utilizados
para avaliar a competitividade entre clusters.
Zaccarelli et al. (2008, p. 44) explicam que clusters e redes de negócios são
fenômenos idênticos, mas que se encontram em diferentes estágios de
desenvolvimento e com características específicas. Pesquisa de Dutra (2009)
sobre clusters de produtos derivados do café, da região do Cerrado Mineiro e da
rede de negócios do setor de comércio varejista de supermercados (ambos
localizados no Brasil), confirmou a relevância das entidades de governança
supraempresariais atuantes em clusterse em redes de negócios no processo da
gestão estratégica dual.
Ao confirmar a existência e a função estratégica destas governanças
supraempresariais, Dutra (2009) e Zaccarelli et al. (2008) explicitam a função
estratégica e influência orientadora direcionada para garantir a vitalidade do
agrupamento de empresas como um todo, buscando assim a ampliação da capacidade
competitiva conjunta do grupo e de cada uma das empresas participantes.
Neste contexto, o objetivo deste estudo foi verificar se existiam empresas
instaladas em clusterscom orientação estratégica dual. Entende-se por
orientação estratégica dual aquela proveniente de diretrizes oriundas das
governanças supraempresariais dos clusters e das redes de negócios, que indicam
como uma empresa vinculada a tais fenômenos deve formular sua estratégia
competitiva. Com isto, as empresas podem vir a se beneficiar da disponibilidade
concentrada dos recursos disponíveis nos clusters e do poder distribuído de
penetração de mercado das redes de negócios.
Face ao exposto, este estudo procurou:
· Verificar a existência de empresas instaladas em clusters e que orientem suas
ações por estratégias provenientes de governança supraempresarial de clusters e
de redes de negócios;
· Verificar se essas empresas se beneficiam dos fundamentos de clusters e de
redes de negócios;
· Verificar se as influências desse modelo de orientação estratégica dual geram
efeitos sobre a competitividade.
Fundamentação teórica
Dentre as diversas abordagens e correntes, a diretriz teórica proposta por
Zaccarelli et al. (2008) é a que ancorará este estudo. Neste caso, além da
conceituação de clusters e redes de negócios que operam sob a governança
supraempresarial, optou-se pela adoção de categorizações genéricas para
caracterizar os fatores influenciadores da competitividade descritos no modelo
conceitual teórico proposto por Zaccarelli et al. (2008).
. Entidades e governança supraempresas
Para Provan e Kenis (2008), embora a governança em redes não seja uma exigência
legal de sua existência, sua análise é crítica para o entendimento da eficácia
das redes. Sorensen e Torfing (2009) indicam que os estudos acadêmicos ainda
não conseguiram sedimentar um framework que possibilite a avaliação da
efetividade dos efeitos da governança sobre as redes. Não obstante, algumas
dimensões da governança supraempresas vêm sendo repetidamente utilizadas, tais
como: direção e a intensidade dos fluxos de recursos; tecnologia e economias de
escala, escopo e aprendizado; complexidade do ambiente e especificidades dos
recursos utilizados; nível de risco envolvido; e ainda a capacidade dos atores
de prever a conduta e comportamento de seus parceiros.
As entidades supraempresas são também identificadas na literatura com o nome de
redes de negócios, ou ainda simplesmente redes. A palavra rede, de origem
latina – retis – segundo o dicionário Houaiss, na primeira rubrica, significa
«entrelaçado de fios (de linho, algodão, fibras artificiais ou sintéticas),
cordões, arames, dentre outros, formando uma espécie de tecido de malha aberto,
composto em losangos ou em quadrados de diversos tamanhos».
A partir de uma definição como essa, o conceito de redes foi sendo ampliado e
ganhando novos significados, sendo empregado em situações diferentes por
correntes do pensamento tão díspares como biologia, tecnologia da informação e
administração de empresas, dentre outras ciências.
Para efeito deste estudo, o termo rede de negócios se aplica a um grupo de
empresas que operam de forma conjunta e complementar para ofertar produtos,
serviços e soluções capazes de satisfazer clientes corporativos ou consumidores
finais. A gestão individual destas empresas é orientada pelas ações e
diretrizes que levam em consideração o aumento da capacidade competitiva do
agrupamento e de cada empresa individualmente, ou seja, submetidas à(s)
entidade(s) de governança supraempresarial.
Roth et al. (2012) argumentam que cabe à governança supraempresarial constituir
as normas, regras, autonomias e limites de funcionamento da rede, enquanto a
gestão da rede dirige-se à prática de atos gerencias para viabilizar o que foi
constituído pela governança da rede, ou seja, o papel da governança volta-se à
delimitação da gestão da rede. Assim sendo, conforme a visão de Wegner (2012),
a governança é o elemento de sustentação das redes de empresas, conformando-se
em estruturas transitórias que se modificam de acordo com as características e
necessidades de cada rede de negócios.
Esta pesquisa adotou como conceito de entidade supraempresas, a definição de
Zaccarelli et al. (2008, p. 44), ao discorrerem que:
«Entidade supraempresas se constitui em um sistema instituído pela inter-
relação de um conjunto de negócios relacionados a um determinado produto,
linha, categoria ou mercado, em que o processo de integração e a dinâmica das
relações entre as organizações implicam efeitos sistêmicos de amplificação da
capacidade competitiva do sistema e de seus componentes em relação a empresas
situadas externas a ele.»
Embora a definição de Williamson (1987), para quem «governança é um meio pelo
qual a ordem é restabelecida em uma relação, na qual potenciais ameaças de
conflito desfazem ou contrariam oportunidades de realizar lucros mútuos»
(inJarillo e Ricart, 1987, pp. 82-91), seja mais frequente nas pesquisas sobre
o tema, para esta pesquisa foi utilizada como definição do conceito de
governança supraempresas a desenvolvida por Zaccarelli et al.(2008, p. 52), que
se coloca de forma mais abrangente, quando os autores enfatizam que:
«Governança supraempresarial constitui o exercício de influência orientadora de
caráter estratégico de entidades supraempresariais, voltada para a vitalidade
do agrupamento, compondo competitividade e resultado agregado e afetando a
totalidade das organizações componentes do sistema supraempresarial.»
A governança de entidades supraempresas implica, então, num sistema estável e
estruturado de instituições ou organizações, com ou sem fins lucrativos, que
tem por finalidade produzir bens ou serviços, podendo para isso haver ou não
base contratual formal. Aliás, para Jones et al. (1997), os contratos, se
existirem, são validados pela sociedade e não pelas leis. Segundo Cruz Filho
(2006), a aplicação dos princípios de governança supraempresas aos conjuntos de
empresas permite construir um alinhamento estratégico das organizações nesse
conjunto. Também para Georges (2009), a ideia da competitividade tem relação
com o alinhamento estratégico das empresas do aglomerado.
Na visão de Gunther et al. (2010), a governança surge como elemento
viabilizador dos objetivos do aglomerado e, dessa forma, implica na ampliação
da atenção ao desenvolvimento de métodos de gestão para manter as
idiossincrasias das partes envolvidas, ao mesmo tempo em que contribui para a
eficácia e melhora no desempenho dos APL. Em estudo conduzido por Sacomano Neto
e Paulillo (2011) quanto ao impacto da governança em APL, verificou-se que a
governança interfere positivamente na cooperação e no desenvolvimento das
empresas e do APL, sendo que as possibilidades desse desenvolvimento dependem
em grande parte das formas de governança instituídas no APL. Em seus estudos,
Castro e Gonçalves (2014) atestaram que a governança de uma rede influencia seu
funcionamento, bem como sua capacidade de produzir resultados.
. Abordagem estratégica de fundamentos de clusters
De acordo com Zaccarelli et al.(2008), os clusters são agrupamentos de empresas
instaladas numa mesma base territorial, com empresas predominantemente atuantes
no mesmo elo da cadeia produtiva, que se instalam em localidades próximas umas
das outras, numa área geográfica delimitada.
Numa perspectiva exploratória da abordagem de clusters de negócios, como
aproximação inicial dessa entidade supraempresas, com o objetivo de entender
suas características, é preciso considerar também sua capacidade competitiva,
ou o poder de competir do agrupamento como o principal elemento de referência.
Um exame mais crítico dessa capacidade de competir, levado a cabo por
Zaccarelli et al.(2008), demonstra que existem alguns fundamentos de desempenho
competitivo para clusters, conforme descritos no Quadro_1.
Os benefícios de clusters utilizados pelas empresas de orientação estratégica
dual são aqueles que se originam no fato destas empresas estarem instaladas na
mesma base geográfica das demais empresas do cluster e derivam das vantagens
competitivas de cluster, tais como: competição, complementação e cooperação em
situações de disputa de mercado, lógica de atração de clientes e realização de
negócios característicos desse tipo de entidade supraempresas.
. Abordagem estratégica de fundamentos de redes de negócios
As redes de negócios, na ótica de Zaccarelli et al. (2008), reúnem empresas que
possuem vínculos comerciais e operacionais não necessariamente instaladas na
mesma região. As redes estratégicas de negócios mencionadas, comumente operam
uma marca coletiva criada e explorada pelo agrupamento.
Numa perspectiva exploratória da abordagem de redes de negócios, como
aproximação inicial dessa entidade supraempresas, com o objetivo de entender
suas características, é preciso considerar sua capacidade competitiva, ou o
poder de competir do agrupamento como o principal elemento de referência.
Segundo Zaccarelli et al. (2008), os fundamentos de desempenho competitivo
aplicáveis a redes de negócios são descritos no Quadro_2.
Os benefícios de redes de negócios utilizados pelas empresas de orientação
estratégica dual são aqueles que se originam do fato de que, embora a empresa
esteja instalada na mesma base geográfica das demais empresas do cluster,
derivam das vantagens competitivas de redes, tais como fidelização entre
fornecedores e fornecidos, compartilhamento de investimentos, riscos e lucros,
aumento da competitividade por introdução de novas tecnologias e ainda
homogeneidade na intensidade dos fluxos, características inerentes a esse tipo
de entidade supraempresas.
Esses são os fundamentos que foram objeto de estudo desta pesquisa. A partir da
confirmação dos indícios iniciais, as entidades supraempresas de formato
híbrido reproduzem em si vários dos efeitos produzidos por esses fundamentos,
tanto aqueles prescritos para clusters, quanto aqueles prescritos para redes de
negócios. Tal contexto indica um posicionamento que diferencia as entidades
supraempresas desses dois formatos conhecidos da literatura científica de
clusters e redes de negócios.
Segundo Fittipaldi e Donaire (2007, p. 5), ao se referirem à governança
supraempresas, há de se considerar que:«Nos relacionamentos entre seus atores
supõe-se que haja situações conflitantes, decorrentes de interesses
particulares, uma vez que uma rede pode ser formada por muitos participantes.
Esses conflitos, se não forem resolvidos rapidamente, podem gerar o rompimento
de elos importantes e podem trazer a desestabilização de toda a rede e uma
possível desintegração das empresas nela presentes. Por consequência, podem
decretar a quebra de toda a estrutura e causar possíveis prejuízos às
organizações. Para conter os conflitos e obter vantagem competitiva sobre os
concorrentes, a rede de negócios deverá possuir algum tipo de governança,
influenciando de forma discreta todos os seus atores, de forma a não permitir a
ruptura dos relacionamentos, administrando-os, para que haja condições de
competir com outras redes de negócios.»
Daí a importância de ser estruturada uma governança para o conjunto das
empresas. Vários autores, dentre os quais Jarillo e Ricart (1987), Ring e Van
De Ven (1994), Grandori e Soda (1995) e Ebers e Jarillo (1998), ao se referirem
ao aspecto de governança em entidades supraempresas citam Williamson (1987),
para quem a «governança é um meio pelo qual a ordem é restabelecida em uma
relação, na qual potenciais ameaças de conflito desfazem ou contrariam
oportunidades de realizar lucros mútuos» (Jarillo e Ricart, 1987, p. 82).
Para Callado e Callado (2009), no mundo atual dos negócios a competitividade
não é mais uma ferramenta à disposição das empresas isoladas. Ela só é possível
de ser operada em negócios formatados em aglomerações de empresas (clusters ou
redes de negócios). Nessa concepção, a competitividade passa a ser coordenada
por uma governança supraempresa, de formato coletivo e acima das empresas
componentes do aglomerado.
Aspectos metodológicos e apresentação e análise dos dados
A pesquisa utilizada se classifica como uma pesquisa exploratória, ex-post-
facto e cross-section.Para a elaboração das escalas semânticas a serem
utilizadas no instrumento de pesquisa aplicado, foram entrevistados, no setor
de vinhos da região do Porto (Portugal) e da região do Vale dos Vinhedos
(Brasil):
- Empresários dos clusters e das redes de negócios;
- Presidentes e executivos de empresas fabricantes de vinho e de cooperativas
vinícolas;
- Executivos de órgãos públicos vinculados ao segmento;
- Pesquisadores e professores da Universidade do Porto, do Instituto Federal de
Educação Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul e da Universidade de
Montpellier;
- Diretor de Vinhos da rede varejista brasileira Grupo Pão de Açúcar;
- Outros especialistas da cadeia de valor do vinho.
Zaccarelli et al. (2008), numa abordagem estratégica, identificaram 21
fundamentos que, por complementação de competências e decisões supraempresas,
produzem efeitos que podem gerar maior poder competitivo. A Figura_1 apresenta
o referido modelo.
Tendo em mente essa concepção teórica, foi construída uma equação matemática
aditiva que representou o padrão ideal de redes de negócios e o padrão ideal de
clusters, em função da presença e da importância de seus fundamentos
constitutivos.
Essa equação pode ser assim representada:
y = a1x1 + a2x2 + a3x3 + a4x4 + n
Se «y» for o padrão buscado para rede de negócios, o resultado dessa equação
caracterizará «y» como rede de negócios em função de algumas variáveis que dão
o impacto de rede de negócios. Já se «y» for o padrão buscado para clusters, a
sua caracterização se dará pelo impacto de alguns fundamentos específicos de
clusters.
Essa modelagem estatística permitiu identificar empresas que se beneficiam
tanto dos fundamentos de redes de negócios, quanto dos fundamentos de clusters.
A Figura_2 apresenta a visualização gráfica da modelagem estatística. O modelo
apresenta a localização teórica das empresas que estão instaladas em clusters e
se orientam por estratégias de clusters e de redes de negócios simultaneamente,
bem como o usufruto das empresas instaladas com os efeitos de competitividade
presentes, tanto em redes, quanto em clusters.
Em diversas situações, os grupos identificam e descrevem um grande número de
funções que são desempenhadas por um recurso. Nestas situações, torna-se
necessária a hierarquização das funções e suas características, para criar
prioridades entre estas, visando assim facilitar as análises. A vantagem da
hierarquização baseia-se na identificação dos problemas mais críticos e,
consequentemente, aproveitam-se as melhores oportunidades para a obtenção de
resultados, além de se adotar um procedimento ordenado e sistematizado de
estudo do assunto. Para este fim, foi utilizado o método Mudge.
Este método permite comparar entre si todas as funções que são desempenhadas
por um recurso, estabelecendo-se valores a serem creditados a uma função, todas
as vezes que esta demonstrar ser mais importante ou prioritária em relação a
cada uma das demais. Ao final das comparações, apura-se o total dos pontos
obtidos por cada função, aparecendo como prioritária aquela que obtiver mais
pontos.
O passo seguinte do procedimento foi comparar, par a par, todos os fundamentos
de cada uma das entidades supraempresas analisada, a partir de seu grau de
importância para o conjunto, como demonstrado na Tabela_1.
Feita a comparação, par a par, de todos os fundamentos de competitividade de
redes, pelo seu grau de importância para o conjunto, foi elaborada a Tabela_2,
que estabelece uma sequência hierarquizada dos fundamentos para posterior
análise de seus efeitos.
O mesmo procedimento foi adotado para os fundamentos de competitividade de
clusters,sendo então comparados, par a par, todos os fundamentos de
competitividade de clusters, pelo seu grau de importância para o conjunto, como
mostrado na Tabela_3.
Feita a comparação, par a par, de todos os fundamentos de competitividade de
clusters, pelo seu grau de importância para o conjunto, também foi elaborada a
Tabela_4, estabelecendo uma sequência hierarquizada dos fundamentos para
posterior análise de seus efeitos.
A partir desse constructo, tornou-se possível estabelecer a lógica do
ferramental que identificou as empresas instaladas em clusters e que se
beneficiam tanto de fundamentos de cluster, quanto de fundamentos de redes de
negócios, por serem orientadas por estratégias de clusters e de redes de
negócios, simultaneamente.
As empresas instaladas em clusters, e que se beneficiam tanto de fundamentos de
redes de negócios, como de fundamentos de clusters, assumiram posições na parte
superior do painel da equação matemática, tanto para redes de negócios quanto
para clusters. Tais resultados respondem tanto como redes de negócios quanto
como clusters. Dessa forma, esse posicionamento matemático no painel comprovou
a sua existência.
Como se verifica visualmente no Gráfico, embora toda a pesquisa tenha sido
realizada em dois clusters, entre as empresas que os compõem foram encontrados
fatores de competitividade característicos de redes de negócios, identificados
pelos próprios atores que foram entrevistados.
Assim, os fatores de competitividade estranhos a clusters que foram encontrados
puderam ser identificados como fatores de competitividade característicos de
redes de negócios, uma indicação segura de que a pesquisa encontrou as empresas
localizadas em clustersque se orientam tanto por estratégias de clusters,
quanto por estratégias de redes de negócios.
Conclusões
Em relação ao primeiro objetivo do presente estudo, foi observada a existência
de empresas instaladas em clusters que orientam suas ações por estratégias
provenientes de governança supraempresarial de clusters e de redes de negócios,
e que efetivamente utilizam este tipo de estratégia. Com esta prática de
formular e praticar estratégias desta natureza, tais empresas conseguiram se
tornar mais competitivas.
Quanto ao segundo objetivo do artigo, foi constatado que, por estarem
instaladas em clusters, tais empresas se beneficiavam de todas as vantagens de
localização na mesma base territorial das demais empresas. Dentre os benefícios
e vantagens verificados, destacaram-se: vantagens decorrentes da proximidade
com outras empresas, quando existe uma atração maior de clientes corporativos e
consumidores finais interessados em compras; maior disponibilidade e facilidade
para contratação de mão de obra; facilidade de compras conjuntas; efeito de
complementaridade de negócios proporcionado pela presença de prestadores de
serviços; e ainda, acesso aos programas de financiamento e subsídios
direcionados para estas regiões, dentre outros.
Tais vantagens de localização garantem às empresas benefícios de redução de
custos logísticos de transportes, facilidade de acesso às feiras tecnológicas e
acesso a programas de capacitação gerencial e tecnológica compartilhado com
outras empresas. A cooperação faz com que as empresas consigam ter maior escala
para disputar demandas maiores do mercado, dentre outras vantagens.
Por terem simultaneamente vínculos com redes de negócios que operam em várias
regiões e mesmo no exterior, estas empresas, ao formularem uma estratégia dual
orientada pelas entidades que gerenciam cluster e redes de negócios, conseguem
acesso ao uso de marcas coletivas das redes, inclusive com comercialização no
exterior nos pontos de vendas vinculados às redes de negócios. Estes benefícios
e vantagens foram verificados nos clusters português e brasileiro. Outros
benefícios que a empresa com orientação estratégica dual aufere decorrem das
operações de exportação lideradas pela rede de negócios, criando vantagens para
estas empresas, na medida em que usam empresas de trading, representantes no
exterior, operadores logísticos conjuntos e mecanismos de financiamento
operados por bancos parceiros de cada rede analisada.
Assim, a atuação conjunta de várias empresas cria a possibilidade de sinergias
estratégicas, uma vez que cada uma delas pode agregar valor pela aplicação de
suas competências essenciais viabilizadas pela parceria cooperativa. O efeito
rede de negócios dá-se quando as empresas atuam de forma complementar para
oferecer uma solução completa aos clientes corporativos ou consumidores finais.
O fato de uma empresa adotar uma estratégia dual, inspirada pelas governanças
supraempresariais de agrupamentos distintos, ou seja, clusters e redes de
negócio, acaba por expandir as suas possibilidades de acesso a mercados
distintos daqueles próximos à base territorial onde a empresa do clusterestá
instalada. Já para a rede, a empresa de cluster contribui com uma produção com
menores custos e maior efeito de escala devido à força das demais empresas do
agrupamento.
Finalmente, em relação ao terceiro objetivo do artigo, foi verificado que os
resultados do estudo revelaram que as empresas instaladas em clusters que
praticam estratégias duais orientadas pelas governanças do cluster e da rede de
negócios têm um desempenho competitivo superior àquelas que praticam uma
estratégia unidirecional.
Glossário
Cluster – aglomerado de empresas que surgem espontaneamente em uma determinada
localidade, com relações de negócios entre as empresas participantes. Pode ter
uma governança formal ou informal, que pensa o agrupamento, reconhecida pelas
empresas integrantes.
Redes estratégicas de negócio – conjunto de empresas complementares ou
coadjuvantes localizadas dispersamente em diferentes regiões ou países, mas que
são orientadas por uma governança que define as relações e a estratégia de
competição da rede. Pode ter uma marca própria coletiva e compartilhada.
Orientação estratégia competitiva dual – é a estratégia formulada por uma
empresa que se beneficia dos recursos, facilidades e interações existentes nos
clusters e nas redes estratégicas de negócio.
Método Mudge – método que permite comparar entre si todas as funções que são
desempenhadas por um recurso, estabelecendo-se valores a serem creditados a uma
função, todas as vezes que esta demonstrar ser mais importante ou prioritária
em relação a cada uma das demais. Ao final das comparações, apura-se o total
dos pontos obtidos por cada função, aparecendo como prioritária aquela que mais
pontos obtiver.