Problematizar para intervir: rádio online e educação para os media como
estratégia de inclusão de jovens
Introdução
A educação para os media tem vindo a entrar paulatinamente na agenda da
educação, mas também nas da cidadania e da inclusão, sobretudo no que toca às
gerações mais novas. Há uma consagração institucional, por via de instituições
internacionais como o Conselho da Europa e a UNESCO, que não tem reflexo
imediato e consistente ao nível prático nos países. Ainda assim, progressos
significativos têm sido assinalados em Portugal.
Embora a sua eficácia para a inclusão e a participação cívicas seja real, a
sustentabilidade dos projetos e programas nem sempre é assegurada, ou seja,
subsistem os efeitos, sobretudo, enquanto há uma entidade dinamizadora ou
promotora. Parte dessa dependência face a um balão de oxigénio que garanta a
eficácia dos programas de educação para os mediatem que ver com a sua falta de
flexibilidade e ductilidade relativamente ao terreno em que são implementados.
Neste artigo, discutimos a pertinência do projeto RadioActive Europe, tal como
foi concebido e está a ser implementado em Portugal, no quadro de uma educação
para os mediapreocupada com questões de empoderamento social. Assumimos em
particular o processo de problematização como forma de fazer diagnósticos e
levantar questões, ao invés de impor fórmulas criadas central e universalmente
a temas complexos como o empoderamento de jovens, alguns em contexto de semi-
exclusão. Argumentaremos pela validade e relevância desta etapa de
problematização para um projeto com intenção de intervir e modificar uma
realidade, empoderando os seus atores mais vulneráveis. Para tal propósito,
começamos por enquadrar o tema da educação para os media, empoderamento e
inclusão em Portugal, para em seguida olhar para as potencialidades específicas
do meio radiofónico em contexto digital. Apresentamos em seguida os
pressupostos teóricos do RadioActive para a problematização como passo
fundamental na execução de projetos de inclusão eficazes e sustentáveis,
analisando depois a implementação e discussão dos resultados em Portugal.
Educação para os media, empoderamento e inclusão: conceitos e exemplos
A área da educação para os media em Portugal esteve nas últimas décadas marcada
por uma certa fragmentação (Ponte e Jorge, 2010), mas nos anos mais recentes
tem sido objeto de crescente interesse por parte de agentes do setor académico,
governamental e da sociedade civil, o que lhe tem imprimido uma maior
consistência e concertação (Pinto et al., 2011). Se o conceito de educação para
os mediaestá relativamente estabilizado como consistindo na capacidade dos
indivíduos para procurar, avaliar, usar e criar informação de acordo com os
seus interesses pessoais, sociais ou educacionais (Khan, 2008), também
compreende diferentes enfoques, desde os mediacomo um todo aos digitais,
cinema, imagem, informação, publicidade ou consumo. Por conseguinte, é uma
designação que engloba visões globais ou mais especializadas dentro do campo
dos media e da comunicação.
As conceções de educação para os media podem oscilar entre uma forma de
pedagogia que utiliza os meios de comunicação, por um lado, e uma forma de
empoderar os indivíduos face ao consumo e uso dos media, por outro (Khan, 2008:
16-17). Contudo, a segunda perspetiva tem vindo a revelar-se uma visão mais
abrangente, relacionada com um objetivo ulterior que é o de contribuir para uma
cidadania ativa, crítica e participativa. Por conseguinte, a educação para os
media não opera apenas num contexto escolar, muito embora, em termos de
contexto institucional, tenha vindo a ser pensada primordialmente num contexto
educativo.
A associação entre educação para os mediae a esfera da cidadania é, portanto,
um vinco forte, impresso também sob impulso das entidades internacionais, como
o Conselho da Europa e a UNESCO, com as sucessivas Recomendações e Declarações.
Esta agência das Nações Unidas para a educação, ciência e cultura designa
atualmente esta área como Media and Information Literacy (MIL), e atribui-lhe
um papel importante para alimentar o acesso equitativo à informação e
conhecimento e promover sistemas de media e informação livres, independentes e
pluralistas1. A visão da UNESCO coloca uma grande ênfase no papel dos
professores, no sentido de um processo inclusivo e universal.
Em Portugal, os contextos de aplicação de programas de educação para os media
têm sido privilegiadamente os educativos, mesmo quando os promotores dessas
iniciativas se situam na esfera da sociedade civil. Tome-se como exemplo o
Media Smart, promovido pela Associação Portuguesa de Anunciantes, que distribui
os seus materiais de educação para a publicidade e a comunicação comercial
pelas escolas.
Os jornais escolares têm longa tradição nas instituições ao nível básico, tendo
também estes beneficiado da introdução das novas tecnologias, que desonerou as
escolas das despesas com impressão e materiais. Neste âmbito, destacam-se dois
projetos. O Público na Escola foi criado em 1989, por altura do lançamento do
próprio jornal, e, além de ser pioneiro, tem contribuído em boa parte para o
fortalecimento e crescimento de projetos de jornalismo escolar, embora nos
últimos anos de forma menos intensa. O projeto Educação para os Média no
Distrito de Castelo Branco, coordenado por Helena Menezes e Vítor Tomé (do
Instituto Politécnico de Castelo Branco), entre 2007 e 2011, dinamizou jornais
escolares nesse distrito e construiu materiais, como CD-Rom, que permitem uma
fácil difusão e aproveitamento das tecnologias digitais.
Deve ainda ser referida a Rede de Bibliotecas Escolares (RBE), tuteladas pelo
Ministério de Educação e Ciência, que tem sido um importante agente de
dinamização da educação para os medianum contexto escolar. A RBE implementa uma
ação relativamente transversal, com enfoque particular nas questões da
literacia da informação e uma crescente preocupação em oferecer uma literacia
digital.
Uma das práticas mais enraizadas que ocorre no contexto da escola, mas que não
tem uma dimensão educativa num sentido formal, é a das rádios-escola. De facto,
apesar da efetiva redução da escuta radiofónica pelos jovens em contexto
convencional (Alan et al., 2007; Meneses, 2008, 2011), há muito tempo que a
rádio tem demonstrado ser um meio com forte potencial em ambiente escolar,
sobretudo devido ao interface técnico amigável que oferece. Neste contexto,
este meio vai ao encontro dos interesses dos jovens pelas questões do lazer, do
entretenimento e da cultura. Por outro lado, é um meio pouco oneroso, o que lhe
acrescenta flexibilidade para a implementação em contextos com poucos recursos.
Entretanto, com o desenvolvimento dos mediadigitais, caminhou-se no sentido de
uma convergência não só ao nível da produção, mas também da difusão.
Atualmente, ao fim de vários anos de experiências, as escolas têm agora um
interface disponibilizado pelo Ministério da Educação para reunir boas
práticas2.
Contudo, os programas de produção de medianem sempre são exequíveis nesses
enquadramentos institucionais, quer pela pressão dos programas letivos, quer
pela falta de material e equipamentos necessários a essa produção. Mais ainda,
e a um nível mais profundo, para jovens cujo percurso fica marcado pelo
insucesso ou abandono escolar e para quem a escola é sinal e por vezes causa de
afastamento, há necessidade de uma adaptação dos currículos para que se cumpram
os seus objetivos de inclusão. Ou seja, embora tenham no horizonte a educação
para a cidadania, os programas de educação para os media nem sempre garantem a
inclusão, que é condição essencial para potenciar a participação. De todo o
modo, os mediatêm sido, em algumas destas situações, olhados como uma forma de
construir capacidades e de estabelecer confiança junto dos jovens com vista a
esse desenvolvimento.
Neste âmbito, devem destacar-se também projetos ao nível associativo e de
intervenção social, sobretudo no domínio da inclusão digital. Embora estes
esforços fiquem por vezes centrados na questão da segurança, alguns projetos,
nomeadamente do projeto Escolhas, alicerçam-se sobre programas de educação para
os mediaatravés de programas de intervenção, nomeadamente usando a rádio (XL)
ou a televisão (Claquete). Também aqui a digitalizaçãorepresentou um ganho
material, facilitando a acessibilidade tecnológica à produção dos media.
Da mesma forma que não se pode alhear dos contextos, a educação para os
medianão deve ignorar as tendências da apropriação dos media por parte das
audiências a que se destina. Estudos como o do projeto Inclusão e Participação
digital: Comparação de trajectórias de uso de meios digitais por diferentes
grupos sociais em Portugal e nos Estados Unidos (2009-11) e o EU Kids Online
revelam que os jovens se envolvem sobretudo em atividades de receção de
conteúdos e de contacto com outros, mais do que em atividades criativas e
produtivas como a criação de blogues, produção de fotografia ou texto, ou mesmo
participação em mundos virtuais (Livingstone et al. 2011; Jorgeet al., 2011;
Ponte et al., 2012). Porém, como veremos adiante, são as novas plataformas que
constituem os veículos privilegiados de mediação comunicativa e informativa.
Em suma, a educação para os media confronta-se com o desafio de projetar
programas que sejam inclusivos e respondam ao objetivo último de concorrer para
uma capacitação tendente a um exercício rico da cidadania em condições de forte
mediatização, sem incorrer numa generalização dos seus princípios que ignore os
contextos reais em que é implementada. Além disso, a educação para os media
deve responder a um princípio de inclusão ela própria, tanto em termos dos
participantes, dos meios de comunicação, das metodologias, como também dos
discursos mediáticos que trabalham.
Projetos de Investigação-Ação Participativa
Considera-se, pois, que não existem fórmulas únicas e infalíveis para
implementar projetos de educação para os media, e que os seus objetivos últimos
de empoderamento e participação não são traduzíveis em resultados diretos e
imediatos. Tendo este cenário em conta, a conceptualização do RadioActive
resultou, igualmente, de alguma da mais recente abordagem aos chamados
AmbientesdeAprendizagem Personalizada (AAP)3. Este conceito implica a promoção
da aprendizagem individual com ferramentas de acesso livre, numa perspetiva de
aprendizagem alternativa.
A expressão AAP, que ganhou destaque em 2004, centrava-se inicialmente
sobretudo na tecnologia implícita, influenciada por uma extensão de software
educacional e pelas plataformas de aprendizagem. Os AAP eram desenvolvidos,
sobretudo, por equipas de engenharia informática e por educadores ligados à
tecnologia. Porém, rapidamente a atenção perante a perceção do indivíduo e a
forma como estas ferramentas o podem empoderar se começaram a tornar
determinantes. Surgiu a necessidade de tornar os ambientes mais sedutores para
os utilizadores. Assumiu-se o papel fundamental dos utilizadores na apropriação
das tecnologias e o facto de a aprendizagem ser um processo individual, mas
também socioconstrutivista de interação e partilha com o meio em que se insere
o sujeito (Saz et al., 2011). Esta dimensão cultural é particularmente
relevante. A aprendizagem, neste sentido, cresce sempre de dentro para fora,
partindo dos interesses do sujeito e não da estrutura pré-concebida e imposta
(Ravenscroft et al., 2011). Os AAP passaram a ser entendidos sobretudo em
função das necessidades sociais e o softwarea ser compreendido não como
repositório mas como uma aptidão, podendo ser alterado e reconfigurado de
acordo com as necessidades. Este modelo ecológico centra-se nas possibilidades
de agência, práticas culturais e estruturas (Ravenscroft et al., 2011). A
compreensão deste modelo é particularmente importante quando a tecnologia se
destina a trabalhar e a envolver comunidades de pessoas excluídas ou em risco
de exclusão do ensino tradicional e até do emprego.
Os modelos podem, assim, ser aplicados aos diferentes contextos das pessoas e
comunidades. Os AAP não constituem apenas modelos de aplicação ou aplicações
tecnológicas. Pelo contrário, são novas formas de utilização da tecnologia para
a aprendizagem; por isso, o argumento para os usar não é tecnológico mas
particularmente pedagógico e até ético, como promoção da aprendizagem de forma
holística, fomentando a responsabilidade pessoal na aprendizagem (Attwell,
2007: 7).
Em linha com a abordagem da AAP está a adoção de uma Investigação-Ação
Participativa (IAP), que envolve os pesquisadores e os participantes num
trabalho conjunto de implementação e avaliação. Desta forma, a IAP desafia a
hierarquia comum existente na investigação, que, de forma vertical, coloca o
pesquisador em lugar cimeiro em relação aos sujeitos de estudo. Um dos
objetivos da IAP é, precisamente, empoderar através da pesquisa (Kindon et al.,
2007a: 1). A IAP tem servido diversos programas educativos (Cammarota e Fine,
2008: 5) e tem sido definida como um processo colaborativo de pesquisa,
educação e ação, cujo objetivo último é promover uma transformação social
orientada. Esta é uma forma de promover a presença dos que habitualmente têm
sido excluídos como sujeitos e agentes de pesquisa, fomentando uma
representação contra-hegemónica da produção de saber e de conhecimento e das
capacidades, entre outras dimensões.
O termo investigação-ação foi avançado em 1946 pelo psicólogo alemão Kurt
Lewin, que tentou corresponder a necessidades sociais e de pesquisa, tendo em
conta os seus espaços e realidades. Posteriormente, já na década de 60, o
brasileiro Paulo Freire desenvolveu processos de pesquisa baseados na
comunidade, que se inseriam em grupos de indivíduos marginalizados da
sociedade. Foi, então, nos anos 70 que a IAP se começou a desenvolver,
sobretudo em África, na Índia e na América Latina, tendo estado desde o início
muito centrada nas raízes e necessidades locais das comunidades (Kindon et al.,
2007b: 10). Pensando no processo de pesquisa, pode-se distinguir Investigação-
Ação, que não envolve necessariamente uma intenção de envolvimento dos
participantes no processo de pesquisa, e Investigação-Ação Participativa, que
pressupõe, de alguma forma, a intenção de quebrar regras implícitas
socialmente, dando voz aos mais oprimidos e quebrando o monopólio de quem detém
o conhecimento através da ação colaborativa e participativa (Kindon et al.,
2007b: 11). Uma das diferenças em relação à pesquisa tradicional é,
precisamente, a atuação coletiva e não solitária do investigador. Os
pesquisadores fazem parte de um processo participatório em que estão envolvidos
numa estrutura (Cammarota e Fine, 2008: 5). Para além disso, o conhecimento IAP
não é passivo, os resultados constituem combustível para uma possível alteração
social (Cammarota e Fine, 2008: 6).
A implementação de Projetos IAP, particularmente em comunidades situadas em
zonas ' frequentemente urbanas ' desfavorecidas e em risco de exclusão
educativa, é muito relevante pela sua preocupação com o desinvestimento social
na educação de crianças e de jovens e pelas implicações sociais que advêm de
noções mais restritas de conhecimento. Como pedagogia, a IAP confronta estas
realidades, criando condições para um investimento mais sustentado, coletivo e
informal, expandindo a noção de aprendizagem, de conhecimento e de objetivos
educacionais. Desde logo, os participantes estão a aprender e também a ensinar,
isto sem negar a educação formal (Cannella, 2008: 190). A expansão pedagógica
alarga-se à agência civil e ao ativismo cívico, níveis de intervenção que nem
sempre são abordados na educação formal. A IAP não significa, assim, apenas
pedagogia, na medida em que é um método de pesquisa que implica entrar num
contexto social, político e cultural e que se confronta com a pesquisa
tradicional, por tentar oferecer um contraponto aos participantes, ao dar-lhes
voz e enriquecimento pessoal. Como metodologia de pesquisa, a IAP permite que
os jovens criem contra-narrativas em relação aos conceitos dominantes do seu
falhanço educacional (Cannella, 2008: 205).
Porém, é também preciso referir que a IAP, como modelo pedagógico, tem as suas
debilidades. Nem todos os envolvidos vão aprender na mesma medida, no mesmo
contexto e no mesmo tempo. Por vezes, é difícil quantificar as aprendizagens,
até porque há um investimento no tempo que é longo e persistente (Cannella,
2008: 207). Este envolvimento pressupõe processos éticos de pesquisa que ' com
as adaptações necessárias à IAP - implicam respeitar as pessoas envolvidas,
maximizar os benefícios para os envolvidos, não causar danos e tratar todos por
igual (Manzo e Brightbill, 2007: 34).
O pedagogo brasileiro Paulo Freire é um dos autores cimeiros no âmbito das
metodologias participativas, pois aponta precisamente para esta necessidade de
conhecer as realidades em que se investiga, fazendo da investigação um espaço
sinergético. Assim, refere-se ao desenvolvimento de círculos de aprendizagem.
O círculo de cultura' deve encontrar caminhos, que cada um que cada realidade
local indicará, através dos quais se alongue em centro de ação política. [ ]
Somente assim, na unidade da prática e da teoria, da ação e da reflexão, é que
podemos superar o carácter alienador da quotidianeidade (Freire, 1977: 13).
Freire destaca a importância da dialética do saber e da ação. O movimento
dialético toma, portanto, como ponto de partida a ação, clarifica e amplia a
ação pela reflexão, remete sempre a uma nova ação enriquecida pela análise
precedente (Freire, 1977: 30). A prática é, pois, o ponto de partida e é
absolutamente necessária para a compreensão, embora não seja suficiente, como
também esclarece. Precisa de instrumentos teóricos de leitura da realidade
(Freire, 1977: 26).
Mediaparticipativos: da rádio à web 2.0
O pensamento de Paulo Freire é altamente influente na implementação de projetos
centrados na comunicação participativa e no empoderamento social, como é
visível em muitas rádios comunitárias que se foram desenvolvendo, sobretudo no
Brasil. Efetivamente, a rádio é um meio historicamente ligado ao
desenvolvimento educativo - como referimos anteriormente em relação às rádios
escolares em Portugal ' que tem adquirido extraordinárias possibilidades
participativas no âmbito do seu desenvolvimento mais recente, particularmente,
da natural aliança que tem estabelecido com a internet. A implementação atual
de projetos de comunicação participativa na rádio online é o resultado da
confluência de duas linhas tendencialmente convergentes, que a digitalização
finalmente cruzou. Por um lado, a democratização do acesso à produção de
conteúdos, às suas ferramentas de produção e às próprias plataformas de
divulgação; por outro, a longa tradição da rádio enquanto meio de empoderamento
dos cidadãos, que tomou ' em diferentes épocas e contextos ' formas distintas,
desde as rádios educativas, às comunitárias e ao próprio serviço público de
radiodifusão.
Com efeito, é difícil não rever aqui a concretização das reflexões que Brecht
produziu nos anos 30 sobre o funcionamento da rádio e sobre a relação que o
meio deveria estabelecer com os ouvintes. Ele foi o primeiro a formular a
possibilidade de a rádio deixar de ser um meio de distribuição e passar a ser
um aparelho de comunicação. E essa tornou-se numa das referências mais vezes
recuperadas, para a teorização da rádio e da internet:
"O rádio seria o mais fabuloso meio de comunicação imaginável na vida pública
(...) se conseguisse não apenas se fazer escutar pelo ouvinte, mas também pôr-
se em comunicação com ele. A radiodifusão deveria, consequentemente, afastar-se
dos que a abastecem e constituir os radiouvintes como abastecedores" (Brecht,
1932: 42).
Embora possam encontrar-se nas ideias de Brecht "raízes do que hoje se
reivindica como colocar a mídia sob o controlo público" (Zuculoto, 2005: 51), o
seu pensamento tem claras ramificações em ideais de serviço público ou
empoderamento e participação social.
Este contexto é, também, herdeiro da visionária metáfora que McLuhan
popularizou, décadas mais tarde. A fotocopiadora simbolizou a transformação de
todo o autor em editor (Levinson, 1999). E a internet, sobretudo depois do
desenvolvimento do conceito de prosumer (Toffler, 1980), característico da
Web 2.0, concretizou essa possibilidade a partir de qualquer ponto do mundo.
Igualmente relevante é a herança genética que resulta da longa tradição das
rádios educativas. Efetivamente, a rádio é o meio educacional mais resiliente.
Embora em regiões como a China ou a Índia haja algum esmorecimento das rádios
educativas em favor das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC), em
locais onde não puderam ser implementadas essas soluções, a rádio permanece
como ferramenta privilegiada de criação de valor social e cultural (Perkins,
2011).
A rádio tem uma história ligada à educação e à difusão cultural, da qual se
destaca a sua tradição na América Latina4. As chamadas rádios educativas têm
origem em projetos de natureza católica e sindical oriundos, respetivamente, da
Bolívia e da Colômbia, no final dos anos 40 (Barale, 1999)5. Mais tarde, nos
anos 80, há um recentramento na ideia de popular, com conteúdos que
interessam à população, recorrendo a uma linguagem e a códigos que lhe são mais
próximos e promovendo a sua participação em todo o processo (Barale, 1999). Na
sua essência, as rádios populares surgiram para dar voz à luta por direitos de
cidadania, promover a participação e o acesso aos meios e às técnicas de
comunicação (Peruzzo, 2011). As rádios comunitárias desenvolveram-se,
precisamente, a partir deste pressuposto concreto: são feitas pela comunidade
para a comunidade, com propósitos de autodesenvolvimento. São emissoras que não
se constituem como educativas apenas pelos seus conteúdos, mas sobretudo pela
promoção do acesso à produção e aos media, pelo incentivo à participação cívica
e pela divulgação de processos sustentáveis de desenvolvimento (Peruzzo, 2006;
2011); enfim, pela criação de capital social (Anderson, 2012).
A implementação de projetos participativos baseados no potencial da rádio e das
redes sociais passa, pois, pela atualização desta herança à luz das mudanças
comunicacionais e de consumo. Isso é particularmente relevante se forem tidos
em conta os hábitos de consumo mediático das gerações que nasceram depois do
digital (Vahlberg, 2010; Taborda, 2010).
Efetivamente, poderia ser difícil envolver os jovens em projetos participativos
se não existisse afinidade entre o seu quotidiano e o meio usado. A análise da
exposição mediática dos jovens mostra que há agora uma geração de utilizadores
multitasking, que executam diversas tarefas simultaneamente, habituados a
consumir conteúdos em várias plataformas e, claramente, ligados às redes
sociais (Vahlberg, 2010). E essa mesma geração ouve cada vez menos a rádio
tradicional (Alan et al., 2007). É o grupo que Meneses (2008) chama de "geração
iPod". Por isso, importa compreender a relevância da escolha da internet para a
implementação de projetos comunitários. Essa, aliás, tem sido uma tendência
recente: a migração de projetos participativos para a internet, como forma de
responder às renovadas possibilidades de criação de conteúdos pelos cidadãos e
potenciando até ligações identitárias, no caso de projetos ligados à diáspora
(Lewis, 2008).
Embora por vezes se questione a adequação do desenvolvimento de rádios
comunitárias online, uma vez que não há relevância em alargar o âmbito restrito
da sua intervenção, há claras vantagens em migrar estas rádios para a internet,
ligando-as às redes sociais. Podem ser superados problemas legais, potencia-se
o desenvolvimento de competências informáticas com vista à empregabilidade e
integram-se os participantes nos novos processos de sociabilidade (Peruzzo,
2011), questões centrais para o projeto RadioActive. O cruzamento destes
vetores, à luz da agenda que a Comissão Europeia estabeleceu até 2020,
nomeadamente, dos seus princípios de promoção da empregabilidade,
sustentabilidade, da educação ao longo da vida e da inclusão social6 encontra,
pois, um terreno propício de desenvolvimento na rádio online.
A forma como a construção europeia tem avançado assenta na promoção da coesão
social e do diálogo intercultural, bem como numa ecologia mediática que promova
a democracia, a diversidade, a tolerância e a própria educação para os media7.
Nesse sentido, o Conselho da Europa tem sublinhado a importância dos chamados
mediacomunitários, também chamados de terceiro setor, como uma alternativa aos
meios públicos e aos comerciais8. As próprias Nações Unidas incentivam um
equilíbrio na distribuição de frequências entre os três setores9. Porém, em
muitos sítios não há enquadramento adequado às especificidades dos media
comunitários. Por isso, em contextos como o português, a internet acaba por ser
o meio mais propício ao desenvolvimento de mediade raízes e de cariz
comunitários.
Em Portugal, só recentemente a Lei da Rádio passou a contemplar serviços de
programas através da internet. Porém, ao contrário do que acontece com a
difusão hertziana, a legislação atual não exige qualquer habilitação prévia
para o exercício da atividade radiofónica online10. Apenas é necessário um
registo na Entidade Reguladora para a Comunicação Social e o cumprimento de
algumas disposições gerais, muito em especial em matéria de direitos de autor,
junto da Sociedade Portuguesa de Autores, e direitos conexos.
Note-se, porém, que não é apenas o enquadramento legislativo que torna a web no
terreno natural para o desenvolvimento de novos projetos de rádio de natureza
participativa. O potencial educativo da rádio é grande, como já foi referido. E
no contexto online, há um valor acrescentado: há uma aproximação dos processos
de aprendizagem permitidos pelas potencialidades da Web 2.0 às formas de
aprendizagem que os jovens vivenciam fora do contexto escolar.
Atualmente, pode considerar-se que está vencida uma certa resistência inicial '
a que não podemos deixar de associar a tendência generalizada de abaixamento da
qualidade dos media (Bourdieu, 1996) ' que, de certa forma, afastava alguns
pedagogos dos media audiovisuais. A internet surgiu, então, com extraordinárias
possibilidades enquanto plataforma de utilização de áudio e de vídeo, muito
embora a tendência para a comercialização que domina a estrutura da rede e a
própria vivência online tenha começado mais recentemente a dar origem a
projetos baseados em software de livre acesso como forma de aprendizagem
apoiada em princípios alternativos, como já referimos.
No caso específico da rádio, a internet veio permitir uma interessante
democratização na produção de conteúdos. Concretamente, o podcast assumiu-se
como objeto exemplar de uma das várias tendências que caraterizam a nova idade
da rádio: a possibilidade de escuta não-linear. Estas duas dimensões
(facilidade de produção e controlo sobre a escuta) tornaram o podcast um apoio
alternativo ao método de ensino presencial e a distância11. Por permitir o
downloaddo ficheiro12, disponibilizam-se diversos conteúdos didáticos audíveis
a qualquer hora, em qualquer lugar e quantas vezes se quiser. Além disso, a
própria construção de um podcast implica uma atenção redobrada e reforço dos
cuidados nos conteúdos a inserir, o que acaba por permitir uma melhor
assimilação.
O podcast é uma das faces da nova r@dio (Cordeiro, 2011). Na verdade, se a
rádio analógica no seu modelo de difusão hertziana era facilmente definível
pelo seu processo de distribuição, a nova rádio é caracterizada por essa
multiplicidade de faces, ao avançar para a diversificação dos meios de
distribuição e receção. O meio espalhou-se por diversas plataformas, como o
satélite, o cabo e a internet, chegando depois aos ouvintes através do
computador, dos auto-rádios, de receptores multi-standard, de tabletsou
telefones móveis e, até, do televisor. Porém, e ao contrário do que sucedeu com
a televisão, nada leva a crer que a rádio analógica seja definitivamente
desligada, mesmo no hemisfério norte. A rádio analógica é ainda o medium mais
universal.
No caso específico da ligação à internet, o setor da rádio começou por oscilar
entre a perspetiva da ameaça e da oportunidade, num processo semelhante ao que
os jornais de papel haviam começado a viver um pouco antes: a internet pode
ser encarada tanto como concorrência quanto como desafio, no sentido da
variedade que o mundo online oferece [ ] e pelo desafio da adaptação ao novo
meio, na pesquisa, produção e difusão de conteúdos (Cordeiro, 2004: 443). Se
inicialmente a rádio recorria à internet meramente como uma ferramenta de
trabalho, não demorou muito até que as estações passassem a disponibilizar
conteúdos, normalmente em simulcast, nos próprios websites. Posteriormente, as
emissoras iniciaram a produção de conteúdos especificamente para as suas
páginas, como vídeos ou infografias. Entretanto, nasceram as webradios (Prata,
2009), que são estações com existência exclusiva online, e que trouxeram uma
maior facilidade e flexibilidade na introdução de novos géneros e no aumento da
interação, por se tratar de um meio suportado pela internet (Prata, 2009). De
uma forma geral, as rádios na internet13 destacam-se pelas novidades que
introduzem, nomeadamente serviços de busca, previsão meteorológica, salas de
chat, fóruns de discussão e integração com redes sociais arquivo de podcasts,
biografia de artistas, receitas culinárias, letras, fotografias, infografias e
vídeos, entre outras possibilidades (Prata, 2009:294). São especificidades que
conduziram ao questionamento do conceito de rádio baseado no simples suporte
auditivo linear que acarretava anteriormente. Ao mesmo tempo, estas rádios
alargaram não só o leque de conteúdos e formatos, mas também o público-alvo.
Permitem aos ouvintes, agora também designados utilizadores, comunicar mais
facilmente entre si e com a própria emissora. A mudança de paradigma sustenta-
se na substituição do broadcastpela ideia de ligação, uma ligação
multidirecional e multifuncional com vários destinatários, plataformas e
conteúdos. O antigo destinatário final da emissão de rádio é agora,
frequentemente, um elo de ligação, recebendo, retransmitindo e até criando
conteúdos da rádio.
Em Portugal, a história da webradio remonta à segunda metade dos anos 90,
altura em que surgiram os primeiros projetos de rádio exclusivamente na
internet. O Netradio e a ESEC Rádio14 foram alguns dos pioneiros. A facilidade
de implementação e o potencial educativo de que dispõem tornou estes projetos
particularmente interessantes em contextos educativos, nomeadamente, em
universidades.
O diálogo como ferramenta: RadioActive em Portugal
É, por conseguinte, nesta perspectiva de investigação orientada para o
empoderamento dos participantes a partir do seu contexto específico, por um
lado, e nas potencialidades da rádio online - por outro, que o projeto
RadioActive se baseia. O RadioActive Europe consubstancia-se através de uma
plataforma na internet para uma rádio pan-europeia, incorporando as
potencialidades da Web 2.0. O projeto15 é aplicado na Alemanha, em Malta, no
Reino Unido, na Roménia e em Portugal16. Pretende-se contribuir para o
empoderamento de jovens em situação ou risco de exclusão ao nível da educação e
da empregabilidade. Para isso, é proposta uma metodologia que é aplicada pelo
consórcio europeu, estruturada em pressupostos de investigação-ação
participativa já identificados. Esses pressupostos concentram-se em formas de
empoderamento que efetivamente constituam elementos de crescimento curricular
dos jovens envolvidos e que possam ser usados na procura de emprego. Em
paralelo, o projeto constitui-se como objeto de reflexão e análise,
nomeadamente, no que diz respeito a processos de ligação ao digital e de
ligação à comunidade envolvente.
Para além de contribuir para que os jovens participantes reforcem as suas
competências digitais, úteis na inserção no mercado de trabalho (não só com a
produção de programas de rádio para a plataforma de rádio, mas também com
atividade a desenvolver noutras plataformas digitais de apoio e gestão de
projeto), o RadioActive tem também como objetivos contribuir para que se tratem
assuntos de inclusão e de cidadania ativa e, por fim, melhorar os níveis
educacionais, muito em especial nos casos de exclusão escolar. Estes objetivos
estão alinhados com a Recomendação do Parlamento Europeu e do Conselho de 18 de
Dezembro de 2006, sobre as competências essenciais para a aprendizagem ao longo
da vida.
O RadioActive centra-se, fundamentalmente, num modelo pedagógico que favorece a
inclusão através da rádio na internet e dos mediasociais. A escolha destas
plataformas para a implementação do projeto não teve só a ver com a aproximação
ao consumo mediático e aos processos de socialização dos jovens. Como já foi
referido, os baixos custos de difusão e a não obrigatoriedade de licença para
difusão na internet, ao contrário da rádio em FM, foram fatores igualmente
relevantes, contribuindo para a sua agilidade logística e material. Mas, para
além disso, o projeto beneficia das ligações de redes sociais já existentes nos
parceiros, e a metodologia que está a ser seguida permite que a tecnologia
usada seja replicável e que a estação de rádio seja flexível também
geograficamente (Ravenscroft et al., 2011). Esta ideia de replicação posterior
é basilar na conceção do projeto, que, ao invés de idealizar uma rádio
convencional, concebe a estação como uma caixa, como um kit tecnológico e
pedagógico, capaz de superar a imobilidade e rigidez de um modelo convencional.
A plataforma inicial foi pensada para a participação ativa em comunidade
(Ravenscroft, et al., 2011) e essa constitui, de resto, uma das inovações do
projeto: a promoção e o desenvolvimento de aproximações pessoais e sociais, com
vista à aprendizagem informal através destes meios. Neste sentido, os
mediasociais são utilizados como elementos principais numa perspetiva
construtivista e centrada no diálogo, como verdadeiras novas paisagens para o
diálogo, como propõe Andrew Ravenscroft (2011: 139). Esta conceção é devedora
da de Paulo Freire, que já na década de 60 centrava as suas sugestões de
investigação-ação participativa em estados dialogais.
A transitividade crítica, por outro lado, a que chegaríamos com uma educação
dialogal e ativa, voltada para a responsabilidade social e política, se
caracteriza pela profundidade na interpretação dos problemas. [ ] Pela prática
do diálogo e não da polêmica. Pela receptividade ao novo, não apenas porque
novo e pela não-recusa ao velho, só porque velho, mas pela aceitação de ambos,
enquanto válidos. (Freire, 1967: 60)
As ferramentas de aprendizagem devem, pois, assegurar bases para que os
sujeitos sejam capazes de pensar, racionalizar e analisar. Como aponta Andrew
Ravenscroft (2011), que tipo de diálogo é necessário e que formas e géneros
estão implicados na realização de atividades que suportam essa rede de
aprendizagem?
Pensar em rede normalmente significa pensar através de diálogo colaborativo
[ ]. Por vezes é possível encontrar um sentido através do discurso contínuo de
reconstrução e negociação de sentidos. A língua e o diálogo são estruturas-
chave do comportamento e aprendizagem social. (Ravenscroft, 2011: 142).
No caso português, a implementação é feita no Porto e em Coimbra, em centros
apoiados pelo Programa Escolhas, Programa que teve origem a 9 de janeiro de
2001, através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 4/2001, que criou o
Programa de Prevenção da Criminalidade e Inserção dos Jovens dos Bairros mais
Vulneráveis dos distritos de Lisboa, Setúbal e Porto. Nesta fase, o Escolhas já
está na sua quinta geração, tendo o Programa sido alargado a todo o território
nacional e renovado, mais recentemente, através da Resolução de Conselho de
Ministros n.º 68/2012 para o triénio 2013-2015. Entre os principais objetivos
do Escolhas estão a promoção da igualdade de oportunidades e o reforço da
coesão social, através da promoção da inclusão social de crianças e jovens em
contextos socioeconómicos mais vulneráveis.
A implementação desenvolve-se, concretamente, no Porto, nos projetos Metas (que
tem já experiências anteriores de uso de rádio escolar) e Catapulta (um projeto
recente com pouca experiência em educação para os media mas com background ao
nível de trabalho social, estando ligados ao SOS Racismo); e em Coimbra, no
Trampolim (que é um projeto com experiência de desenvolvimento de uma web tve
de uma newsletter online). A escolha destes locais teve, assim, em conta o
histórico dos projetos e o seu interesse nas temáticas da educação para os
media, fator relevante para o envolvimento de técnicos e jovens.
No terreno, o RadioActive empenhou-se na identificação de necessidades e de
capacidades encontradas nos centros envolvidos (quer dos técnicos, quer dos
jovens). Numa primeira fase, foram identificados participantes que não têm
qualquer experiência de rádio online, mas também alguns (nomeadamente, no
projeto Metas) que podem funcionar como catapultas de conhecimento devido às
experiências anteriores em contexto escolar.
Importa reafirmar que, para que a implementação do projeto decorra de acordo
com os princípios já enunciados, é essencial que o RadioActive conheça os
locais onde está a atuar, para encontrar sinergias com eles e beneficiar das
estruturas, atividades e vontades já existentes. Este princípio de não-
imposição reflete-se igualmente na abertura aos participantes. Apesar de o
projeto se centrar numa faixa etária 15-24 anos, é certo que o RadioActive não
trabalha com jovens fora dos seus contextos, tendo, por isso, a capacidade e o
interesse em captar outras idades (mais baixas e até adultos) que se
interliguem mais diretamente com a população juvenil. É sobre essa etapa de
problematização que nos debruçamos em seguida.
Observar para propor mudanças: a etapa da problematização
A estratégia adotada pelo RadioActive inspira-se, assim, na proposta de Paulo
Freire: ensinar não é transferir conhecimento, é criar as possibilidades para
a sua produção (Freire, 2010: 22). Aliás, e ainda na linha do pensamento de
Freire, é nas comunidades que devem ser encontrados os temas que têm que ver
com as suas vivências, para serem discutidos (Freire, 2010: 30).
De acordo com os objetivos do projeto, a experiência da rádio online permitirá
o desenvolvimento da língua, sobretudo aliada aos media sociais, das
competências técnicas e digitais, do trabalho em grupo, potenciará a
aprendizagem informal, as competências cívicas e culturais e um certo espírito
de empreendedorismo (como já verificado, por exemplo, no Metas, com o
voluntariado dos jovens com experiência anterior, a oferecerem-se para liderar
a experiência).
Para que o RadioActive se desenvolva sobre estes princípios, uma das primeiras
fases do trabalho consistiu na problematização do que significa concetualizar a
mudança. Por outras palavras, é necessário analisar e conhecer bem o grupo que
irá construir o projeto. A ideia do RadioActive é focar a proposta nos
interesses e motivações pessoais, nas paixões e necessidades, nos conhecimentos
digitais já existentes e nas práticas performativas em contexto online e
offline, bem como adaptar o projeto à comunidade e ao contexto em que se
insere. Assim, é importante que os proponentes do projeto no terreno não sejam
encarados apenas como experts, mas que os jovens sejam envolvidos nessa
experiência, para que a formação tenha um sentido de cascata, com enfoque
inicial nos que vão trabalhar diretamente com os jovens, nomeadamente os
monitores das instituições que acolhem o RadioActive em Portugal. Esta
metodologia acredita lançar, assim, as bases para a auto-sustentabilidade do
RadioActive junto dos projetos que o acolhem, ou seja, garantir que a conceção
e desenvolvimento do projeto de inclusão e educação para os media corresponde
ao espírito, missão e comunidade em que se insere.
A implementação no terreno inclui um plano de workshops dinamizados pela equipa
do RadioActive, em colaboração com os monitores dos centros de acolhimento,
entre a primavera de 2013 e o final do ano de 2014. Na fase inicial dos
workshops, foi discutido o modelo editorial do projeto a desenvolver. Aliás, o
modelo editorial é alvo de retomas cirúrgicas ao longo do projeto, sempre que é
necessário relembrar alguma questão relativa, por exemplo, a condutas,
objetivos, contextos e formas de participação ou questões legais.
Os workshops posteriores são igualmente fundamentais. Centram-se, sobretudo, em
princípios e práticas da produção radiofónica, abrangendo desde a prática dos
programas de edição ao aperfeiçoamento de técnicas vocais. A partir daí,
pretende-se que a formação assuma um sistema de cascata, segundo o qual os
jovens envolvidos terão a capacidade para reproduzir a formação junto de outros
que vão entrando de novo no contexto da RadioActive.
A intervenção em cada um dos centros segue um guião orientador adaptado à
especificidade do meio, o que decorre, em grande parte, da etapa de
problematização. Essa fase inicial do projeto assentou em grupos de foco,
entrevistas individuais semiestruturadas, conversas informais, além de se ter
recorrido à observação direta e à observação participante para formular
questões. Além disso, os próprios workshopsiniciais de formação com técnicos
serviram para alimentar a fase de problematização do contexto e estabelecimento
de objetivos, bem como das metodologias mais indicadas.
Estas técnicas de recolha foram orientadas pelos objetivos de identificar e
caracterizar os contextos específicos dos centros e das comunidades em que o
RadioActive se iria implementar, identificar perfis de atores e utilizadores,
bem como as competências cívicas, expressivas e mediáticas, e as metodologias
mais indicadas para os envolver.
Em seguida, apresentamos e discutimos os resultados da etapa de problematização
na implementação do projeto de educação para os media RadioActive em Portugal.
Projeto RadioActive em contexto
Os três centros em que foi implementado o RadioActive em Portugal, para além do
facto comum de ativarem projetos de inclusão social destinados a crianças e
jovens em zonas carenciadas, tinham especificidades muito próprias. Diferiam
nas suas populações-alvo, nas formas de trabalhar com a população e a
comunidade e na localização nas cidades em que se inserem. Estas diferenças
implicavam diferentes expectativas relativamente à implementação do
RadioActive, à forma como os intermediários se ligariam ao projeto, e aos
resultados esperados. Em comum, estes projetos tinham o facto de, em algumas
situações, se confrontarem com obstáculos ao nível do acesso e uso da internet
pela comunidade, mesmo entre os jovens e jovens adultos. Na verdade, o acesso à
internet pelos jovens, por vezes, é um pouco limitado ao centro Escolhas que
frequentam ' o que pode mesmo ser uma motivação para frequentar o centro.
O projeto Metas situa-se numa freguesia com enormes contrastes sociais e
económicos, visíveis na coabitação entre um hotel e um condomínio de luxo junto
a casas de habitação social. Assim, embora o sentido de comunidade seja
relevante, os moradores da zona estão abertos a sair do espaço onde habitam.
Esse olhar para o exterior também existe no centro comunitário, com cerca de
uma década, e que tem uma ação feita na e pela comunidade, mas com marcada
projeção externa. Atualmente, o projeto Metas trabalha com uma comunidade de 40
jovens com idades muito diferenciadas (desde cerca de 12 anos até jovens
adultos) por semana.
O RadioActive surge, assim, para o Metas como uma plataforma que possibilita a
divulgação das suas atividades, pelo que os programas na rádio onlinedeverão
centrar-se em reportagens e notícias sobre as atividades do próprio centro.
Essa corresponde à sua principal motivação para participar no RadioActive,
expressa nas reuniões e grupos de foco informais e da qual resultou a ideia de
vir a organizar os programas radiofónicos em função de temas e de grupos-alvo
(por exemplo, jovens e arte ou jovens e comunidade).
Neste projeto do Porto, um primeiro grupo de trabalho é composto pelos técnicos
sociais que atuam diretamente com os jovens em diferentes atividades e são
responsáveis por coordenar as atividades, desempenhando papéis de liderança.
Um segundo grupo é constituído por jovens com cerca de 20 anos, como o
dinamizador comunitário ou o responsável pela inclusão digital no centro, mas
também outros jovens que atuam como líderes das diferentes atividades no centro
e as promovem junto da comunidade (dança, música, teatro e pintura). Neste
segundo grupo, são identificáveis competências digitais e técnicas, combinadas
com capacidades de iniciativa e de empreendedorismo, bem como competências
sociais e linguísticas. Estas capacidades manifestam-se no facto de
demonstrarem interesse na rádio online, mas também nas suas potencialidades
multimédia, nomeadamente na possibilidade de complementar a emissão sonora com
fotografia e vídeo. A sua motivação para a produção de media também se revelou
ao contribuírem com ideias para o site do projeto RadioActive Portugal17. Este
grupo assume-se, assim, como dinamizador da implementação da rádio online no
centro, tentando captar outros jovens e crianças do Metas, e disponibilizando-
se para apoiar também o outro centro da mesma cidade, o Catapulta, onde o
projeto começou mais tarde. As suas competências ao nível da língua inglesa são
importantes para a ligação às comunidades participantes no RadioActive fora de
Portugal.
Este perfil cívico, técnico e social favorável ao desempenho de um papel de
dinamização do projeto não deixa, porém, de ter lacunas. Alguns dos jovens
apresentam mais dificuldades em falar em público, sobretudo por falta de
autoconfiança, o que foi identificado na fase de problematização como um ponto
a melhorar. Além disso, o facto de haver predominantemente rapazes no centro '
à semelhança de outros do Programa Escolhas ' e de este grupo de pioneiros ser
apenas constituído por rapazes pode inibir raparigas de participar, algo que
eles próprios reconhecem.
Um último grupo não demonstra, à partida, competências digitais ou de
comunicação excecionais para desenvolver o projeto da rádio online. As suas
atividades online são mais confinadas ao contacto e ao divertimento, por
exemplo com o uso da conta da rede social Facebook ou, em poucos casos, a ouvir
rádio no iTunes. São orientados para as actividades da comunidade, mas sem um
papel evidente de iniciativa, vendo-se sobretudo como participantes, pelo menos
numa fase inicial.
Assim, esta fase de problematização permitiu concluir que, no caso do Metas, é
necessário e decisivo envolver e reforçar a confiança do grupo de líderes,
fundamentais para garantir a ligação ao resto do grupo. Este grupo de líderes
está genuinamente interessado em manter a ligação com as crianças e jovens e
criar um ambiente propício ao desenvolvimento de maiores competências e mais
confiança. Portanto, será necessário reforçar as suas competências digitais,
culturais e cívicas, mas também as competências fundamentais sobre aprender a
aprender e a transferir o conhecimento para outros, de forma a garantir o
sistema de cascata que está na base da conceção do RadioActive.
Ainda na cidade do Porto, o Catapulta é um projeto mais recente. Aqui, os
intermediários são técnicos sociais, nomeadamente o coordenador, um técnico com
formação em jornalismo e o técnico responsável pela inclusão digital. Ligado a
uma organização não-governamental devotada ao combate ao racismo e inserido
numa comunidade na baixa portuense (em áreas geográficas, como a Sé e a baixa
portuense), o Catapulta existe apenas desde o início de 2013 e está a aumentar
lentamente o número de utilizadores, que rondava na fase de problematização os
20, com idades sensivelmente compreendidas entre os 10 e os 16 anos. Neste
centro, o RadioActive é visto como uma forma de uniformizar as atividades e
permitir aos jovens uma reflexão em torno de assuntos e temas, como a
comunidade ou a discriminação.
Neste centro, os jovens estão primordialmente no centro do Porto, o que permite
que tenham grande acesso ao trânsito de pessoas, incluindo muitos turistas, por
exemplo. Antes da chegada do RadioActive, o Catapulta organizara uma atividade
nas ruas circundantes em que os jovens tinham de fazer entrevistas vox popa
transeuntes que não conhecessem. Apesar de a atividade se ter revelado um
exercício difícil para estes jovens, eles demonstraram interesse, entusiasmo e
capacidades para a desempenhar. Nos workshops do RadioActive ouviram-se os
resultados desse exercício, o que permitiu detetar melhoramentos a fazer: ao
nível da voz, dos aparelhos de captação de som, da pré-produção (perguntas da
entrevista) e da edição e pós-produção de som.
No Catapulta, são os técnicos sociais que assumem um papel decisivo para a
implementação da rádio online, já que têm significativa experiência em
organizações não-governamentais e trabalho social. Como o espaço é reduzido,
trabalham todos juntos na mesma sala, com crianças e jovens, mas esta aparente
limitação acaba por reforçar o espírito de partilha e de comunidade.
Há uma grande recetividade em relação ao RadioActive, como atividade, uma vez
que as valências do projeto podem permitir trabalhar diferentes questões já
identificadas junto da comunidade, nomeadamente os níveis de compreensão
cívica, de competências linguísticas, comunicativas e digitais, bem como de
autoconfiança. Há, pois, um forte interesse na parte formativa do projeto,
através de workshops com jornalistas especializados, músicos ou especialistas
em dicção, no sentido de reforçar essas competências básicas.
As crianças e jovens escusam-se muitas vezes a experimentar algo novo ' o que
aconteceu com o software de edição de som no início dos workshops, mas que
depois se foi alterando positivamente. Este receio coloca-os numa posição de
falta de competências técnicas. Portanto, para ter sucesso no envolvimento dos
jovens de perfil pouco participativo, nomeadamente os mais novos, o RadioActive
está a trabalhar primeiramente no reforço das capacidades de comunicação e das
competências digitais, mas ao mesmo tempo, de autoconfiança e compreensão
cívica.
Deve, porém, referir-se que a rádio constituiu uma novidade capaz de suscitar
interesse, nomeadamente por questões legais e técnicas, ou na definição de
temas para os programas. E esse interesse tem sido capitalizado para a
dinamização do projeto no terreno. Do mesmo modo, este grupo demonstra
interesse imediato por captar a audiência local para os programas radiofónicos,
como a família, amigos e a comunidade, o que responde a uma cultura de rua e de
vizinhança mais forte.
No Catapulta, os técnicos sociais são fundamentais para captar os utilizadores
finais, que ainda são relativamente poucos, dado o facto de o projeto ser muito
recente. Por isso, as atividades da rádio são vistas como uma forma de integrar
os jovens no projeto, dando-lhes possibilidade de adquirir competências de
expressão, digitais, autoconfiança e de pensamento crítico e ação cívica. Por
isso, os técnicos levantaram hipóteses, por um lado, de trabalhar temas como
discriminação, comunidade, as mulheres na comunidade, ou a família.
Por último, o projeto Trampolim, em Coimbra, situa-se numa comunidade
periférica com cerca de 2000 pessoas, entre dois bairros sociais que concentram
a vasta maioria da comunidade de etnia cigana que reside na cidade. O centro
trabalha com uma população de cerca de 200 utilizadores, metade dos quais com
idades entre os 12 e os 20 anos. A fase de problematização foi realizada
inicialmente em ligação com um dos monitores, um facilitador comunitário e um
dos jovens, tendo posteriormente sido alargada à coordenação do centro e a
outros utilizadores.
O projeto RadioActive surge, por um lado, como uma oportunidade de aprofundar a
experiência já desenvolvida com atividades multimédia, sobretudo com crianças,
contribuindo para os objetivos de inclusão digital do centro. Esses projetos,
que se baseavam fortemente no papel do monitor como editor, consistiam numa
newsletter online e numa webtv. Por outro lado, o RadioActive afigurou-se como
uma forma de combater estereótipos e preconceitos que rodeiam aquelas áreas de
habitação social, abrindo espaços de diálogo pessoal e cultural com a cidade.
Neste projeto comunitário de Coimbra, foram identificados também três grupos
com perfis distintos constituídos pelos monitores e técnicos sociais, pelos
facilitadores comunitários, e pelos restantes jovens. O primeiro grupo, que
coordena a atividade do centro, considera que o projeto constitui uma abordagem
inovadora com enorme potencial para o desenvolvimento de competências cívicas e
digitais dos seus utilizadores. Os dinamizadores comunitários são jovens
adultos, ex-utilizadores do centro e que continuam a colaborar com ele,
ativando uma ponte com a comunidade em geral, em especial com os participantes
mais novos nos workshops. Destaca-se a importância da presença de um mediador
comunitário, sobretudo para chegar à população de etnia cigana, mas também
pelos seus conhecimentos de inglês e de meios digitais no contexto audiovisual.
Aliás, em todo o centro, só o monitor de inclusão digital e o mediador
comunitário tinham experiência em projetos multimédia.
Na perceção deste mediador, as comunidades encararão positivamente um meio que
promova a discussão dos seus problemas. Por fim, os jovens utilizadores finais,
grupo que oscilou bastante ao longo da fase de workshops, e que inicialmente
foi composto sobretudo por jovens em redor dos 12 anos, com participantes acima
dos 15 apenas esporadicamente. Este é um grupo fulcral para a sustentabilidade
do projeto, cujo envolvimento na fase de formação foi resultado de várias
adaptações. Estes jovens, sobretudo os de idades próximas dos 12 anos,
demonstram poucos conhecimentos de Inglês e fracas competências digitais,
limitando-as aos jogos e redes sociais. Além disso, demonstraram não ter grande
conhecimento sobre o meio radiofónico, para além de estações de rádio mais
populares. Sobretudo os mais novos mostraram dificuldades de aprendizagem, com
falta de concentração, desinteresse e alheamento cultural e social. Por isso, o
RadioActive não lhes surgiu como uma possibilidade de melhorar qualquer
competência pessoal; o projeto significou ' e a sua validade para eles dependeu
sempre disso ' apenas uma possibilidade de divertimento. Os mais velhos,
sobretudo os com mais de 15 anos, demonstram maior interesse pelas
potencialidades de abrir horizontes que o projeto representa.
No Trampolim, o RadioActive é, por conseguinte, encarado como uma forma de
melhorar a autoconfiança dos jovens e também como um modo de alargar os seus
horizontes culturais e sociais, para além das suas zonas de conforto e do
reduto que constroem para si próprios. Objetivos ambiciosos, se compreendermos
que os jovens utilizadores mostram resistência a atividades que implicam
concentração, análise, reflexão ou planeamento. Por conseguinte, tornou-se
claro nos workshops iniciais que a abordagem teria que ser predominantemente
prática para envolver os utilizadores e minorar a instabilidade das formações.
Isso levou a uma alteração da estrutura dos workshops que se revelou mais
eficaz para os objetivos do projeto. Por isso, a pré-produção da primeira
emissão foi antecipada, em ligação com a atividade "Escolhas Portas Abertas",
que pretende abrir o centro a outras comunidades e mostrar a sua missão,
histórias de sucesso e estabelecer pontes de diálogo com a cidade.
Deve ainda referir-se que os mais novos consideram a rádio como um meio
natural, feito de improviso oral e associado naturalmente a programas cómicos.
Para eles, os conteúdos falados são apelativos, apenas porque consideram não
ser necessária qualquer pré-produção. Os mais velhos, ao invés, compreendem que
uma entrevista não é uma conversa e têm maior consciência sobre a produção de
rádio. De acordo com a maior consciência cultural e cívica que revelaram, os
jovens mais velhos valorizam a cobertura de atividades culturais e sociais da
sua zona, dimensão que deverá ser incorporada nas emissões. Uma das jovens
participantes demonstrou interesse pelas possibilidades multimédia da rádio
online, já que está a estudar fotografia, o que chama a atenção para a
adaptabilidade do projeto.
A partir destes resultados, emergiram também temas mais concretos para
programas de rádio a propor e discutir com os jovens participantes dos
diferentes centros. Os temas da discriminação, da comunidade, do desporto, ou
da música afiguraram-se como pontos de partida para explorar em programas de
rádio que levem, pela sua prática, os jovens a desenvolver capacidades críticas
e práticas de produção de media, ao mesmo tempo que desenvolvem também
autoconfiança nessas mesmas capacidades e na sua relação com a comunidade e o
mundo.
Conclusões
Neste artigo argumentámos em favor do valor científico e pedagógico da etapa da
problematização num projeto de Investigação-Ação Participativa como é o
RadioActive. Numa altura em que todos os centros já fizeram emissões de rádio,
as características encontradas na fase de problematização refletiram-se nos
modos de produção dessas mesmas emissões, pelo que, de futuro, contamos
explorar estes dados, à medida que os programas forem surgindo. O processo é,
assim, continuamente reflexivo.
O enquadramento internacional e comparativo do projeto permite testar as
potencialidades de uma metodologia que se baseia na produção de conteúdos para
uma rádio digital para potenciar a inclusão e participação de jovens em
contexto de exclusão ou semi-exclusão, num processo de aprendizagem informal.
Esta matriz metodológica, enraizada na ideia e no processo de diálogo, garante
as condições de flexibilidade e adaptabilidade aos contextos que lhe permitem
projetar-se para resultados sustentados.
Assim, potenciar o acesso, uso, avaliação e criação dos conteúdos de rádio e
multimédia entre os jovens participantes parte necessariamente de uma visão
contextualizada dos participantes e das comunidades em que se inserem. Para
alcançar objetivos últimos de inclusão, empoderamento e reforço de cidadania
entre os destinatários, o RadioActive trabalha ao nível das competências
linguísticas, expressivas e sociais durante o processo de educação para os
media. Nesse processo, a etapa da problematização é vital, ao permitir
compreender não só os antecedentes que potenciam o impacto da implementação do
projeto, mas também identificar necessidades, perfis de utilizadores, adaptar
as suas expectativas, os moldes em que se desenha, bem como estabelecer
diferentes metodologias para a participação dos vários grupos. A atenção ao
processo em si de educação para os media potencia o reforço de competências e
aponta para a possibilidade de replicação do projeto em autonomia.
Desta forma, o RadioActive assume-se como um projeto experimental de educação
para os media, fora de contexto escolar, que procura capacitar os jovens
participantes para a interação com os media, tendente a reforço de capacidades
valorizadas a nível de empregabilidade, e através dos media, para uma inclusão
mais efetiva de membros da sociedade e uma maior participação cívica e pública,
desde logo nas comunidades mais imediatas de inserção.