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EuPTHUAp2182-84582014000200003

EuPTHUAp2182-84582014000200003

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioHumanities
Great areaApplied Social Sciences
ISSN2182-8458
ano2014
Issue0002
Article number00003

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Apoio da comunidade residente ao desenvolvimento turístico sustentável: um modelo de equações estruturais aplicado a uma cidade histórica do Norte de Portugal

1. Introdução As questões que se levantam acerca da importância do desenvolvimento sustentável têm sido abordadas por múltiplas áreas científicas. Em 1987 define- se pela primeira vez o conceito de desenvolvimento sustentável através do relatório Brundtland e, desta forma, abre-se, também, a discussão em torno do sector turístico. Neste sentido, vários autores começam a abordar esta temática (Priestley, Edwards & Coccossis, 1996) muito devido aos graves problemas resultantes da massificação do turismo.

No que diz respeito ao património, muitos são os exemplos de sobrecarga sobre os recursos (van den Berg, van der Borg & van der Meer, 1995), podendo os seus impactes serem, ou não, imediatos, dependendo, do nível de desenvolvimento e do tipo de turismo (McDowall & Choi, 2010), da fase de ciclo de vida que se encontram o destino (Butler, 1980), entre outros factores. Como resposta a este problema têm sido seguidos, em alguns destinos, princípios de sustentabilidade, isto é, formas de desenvolvimento que mantenham a integridade social e económica das populações, bem como a perenidade do património natural, construído e cultural, sendo esta postura ainda mais justificável tendo em conta o carácter multissectorial do turismo (Cooper, Fletcher, Gilbert & Wanhill, 2005).

O desenvolvimento turístico sustentável (DTS) exige uma abordagem multidisciplinar, dada a transversalidade do sector, e pressupõe projectos e estratégias de desenvolvimento que englobem as suas diferentes dimensões económicas, socias, culturais que devem ter sempre presentes o envolvimento dos residentes (Kuvan & Akan, 2005; Mazón, 2012; Pulido Fernández & Sánchez Rivero, 2009).

Tal como refere Moniz (2006), nas últimas décadas vários estudos foram realizados acerca do envolvimento e participação da comunidade local no desenvolvimento do turismo, bem como acerca das reacções e atitudes das comunidades face ao desenvolvimento desta indústria (Ap & Crompton, 1993; Kitnuntaviwat & Tang, 2008; Kuvan & Akan, 2005; Perdue, Long & Allen, 1990; Um & Crompton, 1987).

Para que exista uma estratégia bem delineada para o DTS, é imprescindível que se realizem estudos acerca dos impactes económicos, sociais e ambientais (Kuvan & Akan, 2005). A visão dos residentes, relativamente ao desenvolvimento turístico e seus impactes, principalmente os que estão ligados com os benefícios económicos, é positiva (Ko & Stewart, 2002; McDowall & Choi, 2010); mas, por outro lado, existem, cada vez mais, estudos que revelam a presença de impactes negativos, sobre as comunidades receptoras, em várias dimensões: culturais (Nunkoo & Ramkissoon, 2011; Sharma & Dyer, 2009), sociais (Nunkoo & Ramkissoon, 2011) ou ambientais (Sharma & Dyer, 2009).

De um modo geral, existe cada vez mais interesse da literatura acerca do apoio dos residentes ao DTS (Ko & Stewart, 2002) e seus antecedentes. No caso português, principalmente, na última década, foram realizados alguns estudos (Eusébio & Carneiro, 2010; Carneiro & Eusébio, 2011; Monjardino, 2009; Soares, Emmendoerfer & Monteiro, 2013; Vareiro, Remoaldo & Ribeiro, 2013), que abordam a temática relativa aos impactes provocados pelo desenvolvimento turístico. Contudo, tanto quanto sabemos, são muito escassos os estudos que retratam o apoio dos residentes relativamente ao desenvolvimento sustentável em cidades históricas.

Neste artigo, é proposto um modelo conceptual que pretende averiguar antecedentes ao apoio da comunidade residente ao DTS de uma cidade histórica do Norte de Portugal (cidade de Lamego). O principal objectivo é analisar as relações entre os seguintes constructos: a ligação à comunidade, o envolvimento na comunidade, a gestão do poder público, os custos e benefícios percebidos e o apoio ao DTS.

2. Revisão da literatura e hipoteses de pesquisa 2.1 DTS e o apoio da comunidade local A United Nations World Tourism Organization (UNWTO) define o turismo sustentável como O turismo que considera os actuais e futuros impactes económicos, sociais e ambientais, atendendo às necessidades dos visitantes, da indústria, do meio ambiente e das comunidades de acolhimento (World Tourism organization [WTO], 2005, p.12). Segundo esta organização, o desenvolvimento deste tipo de turismo requer a participação informada de todas as partes interessadas, bem como uma forte liderança política que garanta uma ampla participação e construção de consenso. Trata-se de um processo contínuo que requer uma monitorização constante dos impactes, para que possam ser introduzidas medidas preventivas e/ou medidas correctivas (WTO, 2005).

Tem existido uma evolução positiva do conceito de DTS, uma vez que inicialmente a problemática da sustentabilidade estava centrada, somente, em aspectos ambientais tendo, posteriormente passado a integrar questões económicas, sociais, culturais e factores ligados ao poder e equidade social (Moniz, 2006; WTO, 2005).

O turismo deve respeitar os direitos e desejos dos povos locais e prover a oportunidade para que amplos sectores da comunidade contribuam nas decisões, no planeamento e na administração do turismo. É consensual que a participação dos residentes no planeamento do destino é indispensável para que exista um desenvolvimento sustentável do mesmo (Chen & Chen, 2010a; Dyer, Gursoy, Sharma & Carter, 2007). Neste sentido, é vital que os diversos intervenientes do processo governos locais, políticos, gestores do património e empresas (que, na maioria das vezes, lideram os diversos processos de desenvolvimento) compreendam a importância desse envolvimento, uma vez que o sucesso de um plano de desenvolvimento sustentável depende do apoio activo da população local (Gursoy & Rutherford, 2004; Soares et al., 2013).

No que diz respeito ao DTS, cultural e patrimonial, Garrod e Fyall (2000) chamam a atenção para a escassez de estudos existentes, afirmando que é surpreendente a pouca atenção académica que tem sido dada à exploração da relação entre o turismo patrimonial e a sustentabilidade, porque os dois conceitos, evidentemente, partilham um tema comum.

2.2 Ligação à comunidade, impactes do turismo e apoio ao DTS A ligação à comunidade pode ser encarada como a integração e participação de um indivíduo na vida de uma comunidade (McCool & Martin, 1994). Segundo os autores, este conceito reflecte uma ligação afectiva ou emocional estabelecida entre um indivíduo e uma comunidade específica. Trata-se de um conceito complexo, integrado e multifacetado que incorpora a relação entre as pessoas e a sua comunidade, abrangendo várias componentes, cujos elementos centrais estão ligados a: emoção, afecto, significado, sentimento de união e valor relativamente à comunidade (Nicholas, Thapa & Ko, 2009, p.395).

A ligação por parte dos habitantes à sua comunidade pode conduzir ao apoio ao DTS. Alguns estudos são exemplo desta relação directa e positiva (Gursoy & Rutherford, 2004; Lee, 2013 Nicholas et al., 2009), no entanto, existem outros estudos que não encontraram uma relação significativa entre a ligação à comunidade e o apoio ao desenvolvimento turístico (Choi & Murray, 2010; Gursoy, Jurowski & Uysal, 2002; McCool & Martin, 1994).

Tal como refere Lee (2013) a utilização dos impactes do turismo como variável mediadora entre a ligação à comunidade e o apoio ao DTS tem sido feita por vários autores. Os resultados referidos pelo autor são mistos, alguns autores reclamam relacionamentos positivos e outros não, levando-o a concluir que a ideia de que a ligação à comunidade afecta os benefícios e custos percebidos permanece um assunto intensamente debatido (Lee, 2013, p.3). Tendo em conta este enquadramento, estes relacionamentos poderão ser investigados e confirmados no presente estudo. Assim, são apresentadas as seguintes hipóteses: H1a: Existe uma relação positiva e directa entre a ligação à comunidade e os benefícios percebidos do turismo.

H1b: Existe uma relação negativa e directa entre a ligação à comunidade e os custos percebidos do turismo.

H1c: Existe uma relação positiva e directa entre a ligação à comunidade e o apoio (dos residentes) ao DTS.

2.3 Envolvimento na comunidade, impactes do turismo e apoio ao DTS Sendo considerado um factor crítico para o desenvolvimento de um turismo baseado na comunidade, o envolvimento na comunidade reflecte, segundo Lee (2013), até que ponto os residentes estão envolvidos na partilha de questões sobre a sua vida com as suas comunidades.

Grande parte dos estudos realizados apontam para a importância do planeamento participado, com o envolvimento de todos os stakeholders (Ap & Crompton, 1993; Gursoy et al., 2002; Gursoy & Kendall, 2006; Gursoy & Rutherford, 2004; Kaltenborn, Andersen, Nellemann, Bjerke & Thrane, 2008; Lee, 2013; Nicholas et al., 2009) e comprovam a enorme importância que tem o envolvimento da comunidade local no planeamento e estratégias definidas, sendo consensual que o envolvimento dos residentes é fundamental para que exista um desenvolvimento sustentável (Lee, 2013).

Ainda segundo Lee (2013), é escasso o número de estudos que examinam as associações directas entre o envolvimento na comunidade e o apoio ao DTS, argumentando ainda a existência de diversos autores a utilizarem os benefícios e custos percebidos do turismo como variáveis mediadoras entre entes dois constructos. O autor reclama a utilidade no exame deste relacionamento linear.

Nesta linha de pensamento, são apresentadas as seguintes hipóteses: H2a: Existe uma relação positiva e directa entre o envolvimento na comunidade e os benefícios percebidos do turismo.

H2b: Existe uma relação negativa e directa entre o envolvimento na comunidade e os custos percebidos do turismo.

H2c: Existe uma relação positiva e directa entre o envolvimento na comunidade e o apoio (dos residentes) ao DTS.

2.4 Gestão do poder público (GPP) na actividade turística, impactes do turismo e o apoio ao DTS A GPP desempenha um papel primordial na construção de um modelo sustentável para o destino (Gorica, Kripa & Zenelaj, 2012; Mazón, 2012; Soares et al., 2013). Deste modo, muitos dos problemas relacionados com a capacidade de carga, um das grandes questões da sustentabilidade nos destinos, passam obrigatoriamente pelas políticas públicas definidas para o sector. Muitos dos planos estruturantes de protecção e preservação de destinos históricos têm que ter uma liderança que, na maior parte, cabe ao poder público encabeçar. Neste sentido, é natural que a comunidade local considere que a existência de um planeamento turístico público concertado tem um papel preponderante na diminuição dos impactes negativos. Assante, Wen e Lottig (2012) testaram e confirmaram empiricamente a relação positiva entre a gestão pública do turismo e a percepção acerca dos impactes ambientais do turismo, tendo concluído que os residentes tendem a ser mais receptivos aos impactes do turismo se sentirem que o poder público o gere de forma efectiva.

Por outro lado, poderá esperar-se a existência de uma relação entre a GPP e o apoio dos residentes ao DTS. Assante et al. (2012) argumentam que a gestão governamental e a cooperação das partes interessadas são necessárias para atingir um consenso sobre como gerir desenvolvimentos turísticos futuros. Os autores concluem que se os residentes percebem, por parte dos agentes públicos, uma gestão efectiva relativamente ao controlo do turismo, tendem a terem sentimentos positivos acerca do DTS. Tendo em conta o referido, estabelecemos as seguintes hipóteses: H3a: Existe uma relação positiva e directa entre a GPP na actividade turística e os benefícios percebidos do turismo.

H3b: Existe uma relação negativa e directa entre a GPP na actividade turística e os custos percebidos do turismo.

H3c: Existe uma relação positiva e directa entre a GPP na actividade turística e o apoio (dos residentes) ao DTS.

2.5 Impactes do turismo e o apoio ao DTS Ao longo das duas últimas décadas vários autores realizaram estudos referentes à relação que se pode estabelecer entre a percepção, por parte dos residentes, dos impactes do turismo e o seu apoio para o desenvolvimento do turismo (Gursoy et al., 2002; Gursoy & Rutherford, 2004; Ko & Stewart, 2002; Nicholas et al., 2009; Sharma & Dyer, 2009). Os referidos estudos, com base no modelo de troca social, sugerem que os residentes com um impacto positivo percebido (benefícios, por exemplo) são mais susceptíveis de apoiar o desenvolvimento do turismo. Assim, o presente estudo tenta concentrar-se na premissa de que o apoio dos moradores ao desenvolvimento do turismo pode ser afectado pela percepção dos impactes (económicos, sociais, culturais e ambientais) do turismo, tanto negativos como positivos. Ou seja, com base no modelo de troca social, existirão sempre grupos de residentes que apoiam o desenvolvimento do turismo quando percebem que a troca é benéfica para o bem- estar da comunidade, enquanto que outros terão posições opostas quando sentem que a troca lhes será prejudicial (Cañizares, Tabales & García, 2014).

Neste contexto, estabelecemos as seguintes hipóteses: H4a: Existe uma relação positiva e directa entre os benefícios percebidos do turismo e o apoio (dos residentes) ao DTS.

H4b: Existe uma relação negativa e directa entre os custos percebidos do turismo e o apoio (dos residentes) ao DTS.

A Figura_1 mostra o quadro teórico deste estudo e as hipóteses propostas.

3. Metodologia Este estudo baseia-se numa abordagem quantitativa, sob a forma de um questionário aplicado a uma amostra de residentes da cidade de Lamego. Devido a limitações de custos e tempo, a amostra para o estudo foi escolhida com base na técnica de amostragem por conveniência. Foram aplicados 320 questionários, em Outubro de 2012, nas duas freguesias urbanas desta cidade. Depois de eliminados os questionários incompletos, foram obtidos 300 questionários válidos.

O questionário aplicado aborda os seguintes aspectos: ligação à comunidade, envolvimento na comunidade; benefícios e custos percebidos, GPP na actividade turística e apoio ao desenvolvimento turístico sustentável. Foram colocadas algumas variáveis que permitem definir um perfil sociodemográfico dos respondentes (género, idade, naturalidade, nacionalidade, habilitações, profissão e rendimento mensal).

As escalas utilizadas para medir os conceitos foram retiradas da literatura relevante com adaptações para o contexto em causa. Os itens foram medidos a partir de uma escala de Likert de 7 pontos, na qual 1 significa discordo totalmente e 7 concordo totalmente. A conceptualização e operacionalização das variáveis pode ser observada na Tabela_1.

Para estudar o modelo teórico e avaliar as relações entre as variáveis recorremos ao conjunto de técnicas de análise, denominadas de modelação de equações estruturais (SEM Structural Equation Modelling), tendo por base o software estatístico AMOS 21.0. No caso do modelo proposto, a escolha por este método justifica-se dado que o SEM corresponde a um conjunto de técnicas estatísticas que permitem o teste de modelos teóricos que definem relações causais, hipotéticas entre variáveis (Marôco, 2010).

4. Análise e discussão dos resultados 4.1 Perfil da amostra e resultados do modelo de medida As principais características dos residentes que compõem a amostra são: a maioria dos respondentes (51,9%) são do sexo feminino; a média de idade é de 38 anos; 35,6% têm o ensino secundário completo, e 26,0% possuem o ensino obrigatório; a maioria dos respondentes (68,6%) residem em Lamego mais de 20 anos e, por fim, no que diz respeito ao rendimento mensal, 67,6% têm um rendimento inferior a 1500 euros.

No sentido de preparar os dados para a análise, procedemos a um escrutínio da normalidade univariada, recorrendo a medidas de achatamento (kurtosis) e de assimetria (skewness) e identificação de eventuais valores aberrantes (outliers), tendo sido eliminados os valores causadores de perturbação. De uma forma geral, para todos os constructos, os valores absolutos da assimetria e do achatamento encontram-se dentro dos limites propostos por Kline (2005) (maior valor absoluto de assimetria é 1,068 e de achatamento é 1,512, os quais dizem respeito à variável latente custos percebidos do turismo). Assumimos, de acordo com Marôco (2010), que se um conjunto de variáveis apresentar distribuição normal univariada então a distribuição condicionada das variáveis é normal multivariada.

Após a verificação preliminar dos dados, foi efectuada uma análise dos constructos (e seus indicadores) e uma averiguação sobre a unidimensionalidade, fiabilidade e validez convergente e discriminante das escalas de medida a partir da análise factorial confirmatória.

Para o processo de estimação foi usado o método da máxima verosimilhança. Para a utilização da técnica SEM, e do método de estimação em causa, um dos factores relevantes diz respeito à dimensão da amostra. Neste estudo, pensamos ter assegurado o seu uso adequado tendo em conta a dimensão da amostra ter ultrapassado os mínimos referenciados por vários autores (Hair, Black, Babin & Anderson, 2010), os quais variam entre 100 e 150. Além disso, o modelo de medida é do tipo reflectivo, havendo, também, pelo menos três indicadores por constructo (Marôco, 2010).

Como parte do processo de avaliação das escalas, procuramos apurar o desempenho das escalas originais. Numa análise inicial verificamos que os modelos apresentaram índices de qualidade de ajustamento afastados dos valores de referência. Foi realizada uma análise dos índices de modificação, retirando do modelo de medida os itens que apresentavam indícios de serem causados por mais de uma variável latente ou que apresentavam erros correlacionados. Foram assim eliminados dois itens da variável Ligação à comunidade; um da escala de Envolvimento na comunidade; dois da variável latente Apoio ao DTS e quatro da variável Benefícios percebidos. Por outro lado, a escala Custos percebidos, para além de apresentar itens bastante problemáticos, no que respeita a relações cruzadas e a erros correlacionados, apresenta falta de validez preditiva, ou seja, falta de correlações significativas com as restantes variáveis do modelo, sendo, deste modo, indicada a decisão de eliminar este constructo da análise e de modificar o modelo original.

Poderemos apresentar várias explicações teóricas para a exclusão deste constructo do modelo inicialmente proposto. A percepção dos impactes do turismo pode variar, de modo significativo, atendendo ao tipo de destino e ao seu nível de desenvolvimento (Kim, Uysal & Sirgy, 2013; McDowall & Choi, 2010).

Os modelos e estudos baseados no desenvolvimento dos destinos (Butler, 1980; Kim et al., 2013; Perdue et al., 1990) fornecem uma visão acerca da evolução do destino e dos impactes sentidos pela comunidade. Estes estudos realçam que, nas fases iniciais do desenvolvimento turístico, as percepções dos residentes concentram-se, maioritariamente, nos impactes positivos do turismo. O mesmo resultado foi obtido num estudo realizado na cidade de Huelva, por Vargas- Sànchez, Porras-Bueno e Plaza-Mejía (2011), no qual, tal como na presente investigação, após a depuração do modelo, também foi eliminada a dimensão custos percebidos do turismo. De igual forma, os autores argumentaram que este resultado está relacionado com o ciclo de vida do destino em causa. No que se refere a Portugal, estudos realizados acerca das percepções e atitudes, em destinos que se encontram em face de exploração ou desenvolvimento, demonstram que os residentes ignoram ou não valorizam os impactes negativos do turismo (Eusébio & Carneiro, 2010; Monjardino, 2009; Vareiro et al., 2013). Segundo um estudo realizado por Smith e Krannich (1998) a desvalorização dos impactes negativos do turismo é ainda mais notória em comunidades rurais, como é caso de Lamego, principalmente quando estas veem no turismo a saída para o crescimento económico, designando a atitude destas comunidades como tourism-hungry.

A validez convergente, fiabilidade compósita (FC) e variância média extraída (VME) foram calculadas para o modelo de medida (Tabelas_2 e 3). No que se refere à fiabilidade dos constructos, os valores de fiabilidade compósita variam de 0,874 a 0,946 (Tabela_3), valores que ultrapassam o ponto de corte de 0,70, que é o nível aceitável sugerido por diversos autores (Hair et al., 2010; Kline, 2005). Relativamente à fiabilidade individual dos itens, todos os coeficientes padronizados apresentam valores superiores a 0,5 (Tabela_2), indicando uma boa consistência interna. A Tabela_3 mostra que a VME varia entre 0,584 e 0,749, respeitando o limite estabelecido pela literatura como evidência de validez convergente (Hair et al., 2010).

A verificação da validez discriminante foi efectuada considerando os coeficientes de correlação entre os constructos, que apresentaram valores significativamente diferentes de 0, e os valores da raiz quadrada da variância média extraída apresentarem valores superiores às correlações entre os constructos (Hair et al., 2010).Todos os constructos latentes cumpriram esta condição (Tabela_3).

Tendo por base a análise efetuada, concluiu-se que a maioria dos constructos apresentam propriedades psicométricas adequadas. Depois de avaliar a validez e fiabilidade do modelo de medida, o próximo passo consistiu na avaliação do modelo estrutural.

4.2 Resultados do modelo estrutural Para testar as hipóteses propostas, estimou-se o modelo estrutural. Os resultados mostraram um qui-quadrado significativo ?2(gl = 419, N =297) = 802,016, p = 0. Contudo, tendo em conta a sensibilidade da estatística do qui- quadrado à dimensão da amostra, optou-se por avaliar a adequação do modelo através dos índices de qualidade de ajustamento. De acordo com Marôco (2010, p.

51) os valores obtidos ?2/gl=1,914; CFI=0,951; GFI=0,847; RMSEA=0,056; p (RMSEA<0,05)<0,058 revelam uma boa qualidade de ajustamento. Conforme ilustrado na Tabela_4, o modelo estrutural estimado revelou um bom ajustamento dos dados empíricos a quatro das sete hipóteses formuladas.

No que respeita aos resultados obtidos na avaliação do modelo estrutural, podem ser retiradas várias constatações. Primeiro, verificamos que a ligação à comunidade exerce um efeito positivo e directo sobre os benefícios percebidos do turismo. Este resultado está em consonância com as descobertas de Gursoy et al. (2002), Chen e Chen (2010a), Lee (2013). Assim, os estudos sugerem que residentes fortemente ligados às suas comunidades, com maior probabilidade percebem impactes positivos do turismo. No entanto, contrariamente às nossas expectativas, a H1c não foi sustentada. Assim, não relacionamento positivo e significativo entre a ligação à comunidade e o apoio ao DTS. A associação entre estes dois conceitos é feita via benefícios percebidos do turismo. Este efeito indirecto foi, também, verificado no estudo de Chen e Chen (2010a), no entanto, os autores comprovaram empiricamente o impacto directo ligação-apoio.

Segundo, os resultados mostram que o envolvimento na comunidade apresenta uma associação positiva e directa com o apoio ao DTS. Contrariamente aos resultados de Nicholas et al. (2009), este relacionamento mostrou-se significativo para a amostra em estudo, ou seja, os resultados parecem indicar que a participação, pela comunidade residente, nos processos de planeamento/gestão e tomadas de decisão relativamente ao desenvolvimento turístico influencia o nível de apoio ao DTS. As conclusões da investigação realizada por Lee (2013) apontam, também, nesse sentido, mostrando uma associação positiva, mas indirecta, entre estes dois constructos. Neste contexto, o autor argumenta a possibilidade de se utilizar o envolvimento na comunidade para avaliar, de forma efectiva, o apoio ao DTS, ou seja, indo de encontro ao que intuitivamente parece lógico, conclui- se que os residentes mais envolvidos nas suas comunidades manifestam, com maior probabilidade, apoio ao DTS. Contudo, os resultados do presente estudo contrariam a investigação do autor referido no que respeita à ligação entre o envolvimento e a percepção dos benefícios do turismo, isto é, a H2a não foi suportada pelos dados.

Em terceiro lugar, a GPP apresentou um efeito positivo directo nos benefícios percebidos. Tal como foi enunciado na revisão da literatura, Assante et al.

(2012) comprovaram a ligação entre estes dois conceitos, concluindo que haverá uma atitude mais positiva face aos impactes do turismo se os residentes sentirem que existe uma gestão eficiente por parte do poder público. Por outro lado, a rejeição da hipótese que relacionava directamente a GPP e o apoio ao DTS contraria os resultados obtidos por Assante et al. (2012). No nosso caso, os resultados indicam que a ligação entre estes dois conceitos se faz através da variável mediadora benefícios percebidos do turismo.

Finalmente, em quarto lugar, os resultados indicam a existência de uma relação positiva e directa entre os benefícios percebidos e o apoio ao DTS. De igual forma, o estudo de Lee (2013) comprovou empiricamente esta associação concluindo que, ao aumentar os benefícios percebidos, com maior probabilidade os residentes mostrarão o seu apoio a iniciativas de DTS. Ko e Stewart (2002) relacionaram os impactes positivos do turismo com as atitudes para desenvolvimentos turísticos adicionais, demonstrando uma associação directa e positiva entre ambos.

Como foi referido, ao modelo proposto inicialmente foi necessário introduzir algumas reespecificações (resultantes dos valores dos índices de modificação), sendo a principal a eliminação da variável latente custos percebidos do turismo. Para além das justificações apontadas, é de referir que diversos autores descobriram a inexistência de relacionamentos significativos entre a ligação à comunidade e os custos percebidos (Chen & Chen, 2010a; Lee, 2013) e, entre o envolvimento na comunidade e os custos percebidos (Lee, 2013). Num outro estudo, Chen e Chen (2010b) concluem que os residentes, ao determinarem as suas atitudes relativamente ao desenvolvimento do turismo, colocam maior importância nos benefícios do que nos custos do turismo. No caso português, Monjardino (2009) constatou a forte valorização dada aos impactes positivos e o desprezo aos negativos por parte dos residentes nos Açores.

Na Figura_2, apresentamos a representação gráfica do modelo final, com os coeficientes padronizados e os valores de R2 para as variáveis benefícios percebidos e apoio ao DTS. Podemos verificar que o envolvimento na comunidade apresenta o maior poder preditivo do apoio ao DTS. As restantes variáveis exógenas (ligação à comunidade e GPP) contribuem de forma muito modesta e apenas indirectamente, através dos efeitos positivos sobre os benefícios percebidos.

5. Conclusões Este estudo procurou investigar o apoio dos residentes ao DTS através da proposta de um modelo que considerou como antecedentes a ligação à comunidade, o envolvimento na comunidade, a GPP e os impactes percebidos do turismo (benefícios e custos). Um dos objectivos fundamentais desta investigação foi contribuir para a compreensão acerca das percepções dos residentes, e sua ligação, envolvimento e apoio, relativamente ao DTS. Ao explorar antecedentes do apoio dos residentes ao DTS, esta investigação estende o estudo realizado por Lee (2013), uma vez que incluiu também a visão dos residentes acerca da gestão feita pelo poder público. A nível internacional, diversos estudos têm sido realizados sobre as atitudes dos residentes face ao turismo e seus impactes (Vareiro et al., 2013), contudo, a nível nacional, tanto quando sabemos, não existe nenhum estudo que aborde estes conceitos no âmbito da sustentabilidade do património em pequenas cidades históricas.

Procuramos contribuir para a literatura que enfatiza a importância da análise das percepções dos residentes, como um dos principais grupos de stakeholders a considerar em iniciativas de planeamento turístico (Cañizares et al., 2014).

Nesse sentido, e com base na teoria dos stakeholders, os resultados obtidos reforçam o papel crucial das comunidades locais nos processos de tomada de decisão e planeamento para a sustentabilidade do desenvolvimento turístico. Por outro lado, este estudo tem subjacente uma abordagem baseada na teoria da troca social na medida em que se procurou, através do modelo proposto, os factores que influenciam o apoio dos residentes ao DTS, logo, fornecer pistas para compreender como as atitudes deste grupo são formadas e mais bem geridas.

Considerando as implicações para os gestores, decisores políticos e poder público, algumas recomendações práticas podem ser apontadas. Para estes e outros stakeholders, compreender as variáveis preditoras do apoio prestado pelos residentes ao desenvolvimento turístico é crucial, essencialmente porque o sucesso e a sustentabilidade de qualquer projecto de desenvolvimento vai depender de um activo apoio das populações locais (Gursoy & Rutherford, 2004; Cañizares et al., 2014). Por um lado, revela-se importante que as decisões de estratégias e políticas de turismo tenham em consideração a criação de programas que incentivem a ligação e o envolvimento da comunidade local. Por outro lado, é útil também que a gestão do poder público na actividade turística seja feita de forma efectiva, porque, conforme se concluiu neste estudo, tanto num caso como no outro, a percepção das comunidades locais acerca destes factores irá afectar o apoio por eles dado ao DTS.

Este estudo apresenta algumas limitações que deverão ser colmatadas por futuros estudos. Uma delas tem que ver com o tipo de amostra (de conveniência) e com o facto de se referir apenas à análise de uma cidade. Outras limitações estão associadas à forma de obtenção dos dados, nomeadamente a escolha por um estudo de corte transversal, bem como a utilização de informantes-chave únicos (os residentes). Devemos referir que a eliminação de alguns indicadores no processo de depuração do modelo de medida poderá imputar alguma fragilidade às escalas originais. Este estudo pode ser expandido com a introdução de novas variáveis ligadas ao desenvolvimento sustentável do património. Tendo presente a tendência de crescimento deste destino, é muito provável que a comunidade venha, no futuro, a sentir os impactes negativos inerentes ao desenvolvimento turístico. Neste sentido, consideramos crucial a realização de pesquisas longitudinais, uma vez que as percepções e atitudes dos residentes, que neste momento são extremamente positivas face ao desenvolvimento do turismo, muito provavelmente poderão vir a alterar se mediante a evolução do ciclo de vida do destino.


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