Apresentação
Apresentação
Vítor Moura
Entre os dias 28 e 29 de Outubro de 2011, no Auditório do Instituto de Letras e
Ciências Humanas da Universidade do Minho, teve lugar o IX Simpósio Luso-
Galaico de Filosofia. Com uma frequência bienal, este simpósio foi criado com o
objectivo de se constituir como um fórum para o encontro e debate de ideias
entre as comunidades filosóficas ligadas às universidades do Minho e de
Santiago de Compostela. Esta edição contou com o patrocínio do Departamento de
Filosofia e do Centro de Estudos Humanísticos da Universidade do Minho.
Desde o início, os organizadores desta nona edição pretenderam associar a
realização do Simpósio às cerimónias de homenagem ao Professor Acílio
Estanqueiro Rocha, por ocasião da sua aposentação. O Prof. Acílio Rocha foi co-
fundador do Simpósio Luso-Galaico e um dos seus mais constantes e enérgicos
dinamizadores. Sob o signo desta homenagem, o tema escolhido para esta edição
foi A Filosofia na Academia, em tributo à excelência do percurso académico e
científico de Acílio Rocha.
Conferência Inaugural esteve a cargo do Professor Nel Rodríguez Rial.
Expressamente dedicado à figura de Acílio Estanqueiro Rocha, a conferência de
Nel Rodríguez Rial propôs-se repensar o velho ofício da filosofia num
exercício que não se limitasse a ser um simples levantamento sociológico das
mudanças em curso na Universidade contemporânea, motivadas pela revolução
trazida pela disseminação das novas tecnologias aplicadas enquanto ferramentas
pedagógicas ou causadas pela adaptação e implementação do modelo de Bolonha. Em
vez de uma lamentação sobre o modo como os diversos interesses políticos e
económicos estarão a coarctar progressivamente a autonomia da investigação e
gestão universitárias, o autor ensaiou uma reflexão mais modesta sobre a
natureza particular do ofício do pensar filosófico e sobre as exigências
pedagógicas que a sua simples existência coloca à Universidade.
A comunicação de Maria Aránzazu Serantes apresentou alguns traços essenciais do
pensamento de María Zambrano, destacando sobretudo a vertente que melhor
reflecte o modo como a filósofa espanhola soube reunir e condensar a influência
de vários mestres. Através da obra desta discípula heterodoxa de Ortega y
Gasset, é possível avaliar que temas circulavam por entre os meios intelectuais
espanhóis seus coevos. Em particular, a autora opta por singularizar o conceito
de razão poética, oferecendo uma arqueologia dos pressupostos, autores e eixos
temáticos que terão constituído os alicerces deste conceito axial na filosofia
de Zambrano.
A apresentação de Manuel Curado procurou as raízes da noção de inconsciente na
história intelectual portuguesa do século XIX, nomeadamente a partir da obra de
autores como o Abade de Faria, Cândido de Figueiredo, Bettencourt Raposo,
Miguel Bombarda ou José de Lacerda. O teor de todas estas contribuições,
necessariamente diversas e mesmo paradoxais, foi compartimentado em três
categorias mais salientes: o inconsciente enquanto foco criativo, o carácter
manipulável do inconsciente e o inconsciente enquanto perfeição do psiquismo.
O texto de Rebeca Roca Fraga e Martín González Fernández dedicou-se a uma
análise de alguns dos mais importantes textos de Noam Chomsky sobre democracia
e educação, a partir de uma antologia recente organizada por Carlos-Peregrín
Otero. As contribuições de Chomsky sobre o tema geral da educação são avaliadas
a três níveis: a discriminação das suas bases epistemológicas, o enquadramento
na filosofia política e a reflexão crítica que é proposta pelo autor.
Que lugar para a loso a política feminista na universidade contemporânea?
Maria Xosé Agra Romero procurou enunciar respostas para esta questão,
revisitando o impacto que os estudos feministas e de género tiveram sobre a
filosofia, e a filosofia política em particular, ao longo das últimas décadas.
Para além da avaliação da importância crescente deste sector da filosofia
política contemporânea, a autora dá conta da sua influência sobre a organização
da comunidade política actual, algo que ultrapassa em muito o seu estatuto como
simples ramo científico.
João Ribeiro Mendes desenhou um retrato da ontologia histórica do filósofo
canadiano Ian Hacking, insistindo na especificidade da sua proposta perante a
teoria homónima de Michel Foucault. A partir desta base mais descritiva, foi
avaliado o modo como o modelo de Hacking poderá sustentar uma nova compreensão
de temas filosóficos clássicos, designadamente a questão da natureza da
racionalidade científica.
A apresentação de Pedro Martins visou uma avaliação da pertinência e
fundamentos da noção de filosofias nacionais, em geral, e da ideia de uma
filosofia portuguesa, em particular. Adoptando uma perspectiva anti-
essencialista e historicamente orientada, o autor defende o carácter universal
do pensamento filosófico e a partir dessa base propõe uma avaliação crítica da
ideia de filosofias nacionais, assumindo como paradigmático o caso português.
Acílio Estanqueiro Rocha proferiu a conferência de encerramento, retomando, em
certo sentido, o tema da conferência inaugural: o que pode ser a filosofia para
além da academia? Entre a lógica e a ética, ou a epistemologia e a estética, a
filosofia é uma prática discursiva profundamente comprometida com o mundo da
vida. Enquanto actividade académica, e seguindo o conselho de Kant, a filosofia
deve ser mais um instrumento para pensar dinamicamente a realidade ' sendo para
tal indispensável um profundo conhecimento da sua história ' do que uma
desenquadrada enumeração de doutrinas.
Braga, Dezembro de 2012
Campus de Gualtar
4710-057 Braga
Portugal
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