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EuPTHUHu0870-82311997000100017

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variedadeEu
Country of publicationPT
colégioHumanities
Great areaHuman Sciences
ISSN0870-8231
ano1997
Issue0001
Article number00017

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Handbook Of Organization Studies Handbook Of Organization Studies (1996) - Stewart R. Clegg, Cynthia Hardy, & Walter R. Nord (Eds.). London: Sage.

Coordenado por uma equipa multinacional, constituída pelos Professores Stewart Clegg (University of Western Sydney, Austrália), Cynthia Hardy (McGill University, Canadá) e Walter Nord (University of South Florida, Estados Unidos da América), este manual de estudos organizacionais pode ser apresentado, sem margem para hesitações, como um dos grandes acontecimentos editoriais de 1996 na área das organizações.

A principal razão para tamanho entusiasmo tem a ver com a ambição do trabalho e com a forma como essa ambição foi concretizada: este "handbook" tem sido apresentado como o sucessor do "Handbook of Organizations" de James March (publicado em 1965), e do "Handbook of Organizational Design", de Paul Nystrom e William Starbuck (editado em 1981). A simples inclusão deste livro numa tal trilogia, proposta por exemplo pelo Professor Howard Aldrich, constitui em si mesma um indicador da relevância deste trabalho para os estudiosos das organizações. Outro indicador, é a garantia fornecida pelos nomes dos autores participantes nesta obra, que incluem investigadores tão prestigiados como Karl Weick, Lex Donaldson, Deborah Dougherty, Karlene Roberts, Peter Frost, Joanne Martin, Ralph Stablein, Gibson Burrell, Mats Alvesson, Marta Calás, Linda Smircich, Jay Barney e Joel Baum, entre muitos outros.

A par destas, encontram-se as contribuições de al-guns autores menos consagrados mas em fase de afirmação, o que confere ao livro um carácter algo dinâmico e irreverente, o qual se traduz inclusive na escolha dos temas a abordar, e que passa por capítulos com títulos "aberrantes" como "O lado estético da vida organizacional". "Desconstrução criativa" ou "O mocho de Minerva". A força dos colaboradores acaba por estar na origem, no entanto, da primeira crítica ao trabalho. Essa crítica é aliás referida pelos organizadores na introdução, mas nem por isso se torna menos relevante: num mundo em fase de globalização, este "Handbook" continua a apostar na recolha, em regime de quase exclusividade, de contribuições de língua inglesa ou bem implantados num certo "status quo" próximo das instituições dominantes. Nesse aspecto, este trabalho acaba por se revelar culturalmente menos diverso do que, por exemplo, a segunda e monumental edição do "Handbook of Industrial and Organizational Psychology", de Dunnette. São por isso invisíveis as contribuições para os estudos organizacionais provenientes de países como a França, a Alemanha, a Holanda, a Suécia, a Noruega, o Japão, a China ou a Coreia do Sul, para apenas referir algumas das áreas geográficas mais "visitadas" no âmbito dos estudos organizacionais. Fica portanto a nota de um anglocentrismo algo inesperado num trabalho que, apesar de tão próximo das correntes emergentes em teoria organizacional (pós-modernismo, teoria crítica, feminismo, estética, emoções, política), se fecha na concha do território dominante.

Apesar deste aspecto, esta obra é um marco no desenvolvimento dos estudos organizacionais. O livro organiza-se em torno das três grandes áreas temáticas que se seguem: (1) grelhas de análise, (2) questões correntes em estudos organizacionais, e (3) reflexões sobre a investigação, teoria e prática.

Em cada uma destas áreas, o leque de temas é de uma grande abrangência.

Analisam-se os paradigmas dominantes (teoria da contingência) e os emergentes (ecologia organizacional); os temas clássicos (liderança) e os recentes (as organizações e a biosfera); as vertentes aplicadas (economia organizacional) e as abstractas (estética e organizações); os processos racionais (tomada de decisão) e os afectivos (organização e emoções); a mudança (inovação) e a permanência (institucionalização). Como talvez estes pares de temas contrastantes deixem entrever, este é um livro capaz de aglutinar as mais diversas vistas sobre a paisagem organizacional. Entre a abordagem retrospectiva e a visão prospectiva do campo, estão aqui desenhadas as grandes linhas de desenvolvimento de um campo de estudo heterogéneo e marcado por visões diversas quando não mesmo contraditórias. Uma das maiores qualidades do livro, é precisamente a forma como fotografa um universo teórico que vive uma fa-se de expansão, mas que um dia virá certamente a retrair-se em torno da ultimamente tão falada ciência normal, reclamada por autores como Lex Donaldson e Jeffrey Pfeffer. Tenhamos entretanto o prazer de estudar, de discutir, de nos espantarmos e irritarmos com as linhas de desenvolvimento dos estudos organizacionais nesta sua fase multiparadigmática e marcada pela diversidade de posições e pelo confronto de ideias.

A diversidade temática inerente ao estudo das organizações, encontra-se de resto reflectida na opção do título: evitando as designações "normais" de teoria das organizações ou comportamento organizacional, os coordenadores optaram pelo rótulo menos limitativo de estudos organizacionais, opção que configura a aceitação da, se não mesmo o comprazimento com, a multiplicidade das linhas de desenvolvimento de um campo que talvez um dia venha a ser melhor designado pela expressão ciência organizacional.

Na sua abrangência, este livro é uma excelente fotografia do estado da arte à beira da mudança de século. Os coordenadores têm aliás identificado a sua atmosfera com o ambiente fin de siècleque vem impregnando o estudo das organizações. Longe das certezas, o "Handbook of Organization Studies" reflectesobre, e espelha, todas as dúvidas. É um livro que aceita a diversidade das perspectivas e as transforma na regra do jogo: entre a defesa de uma ciência normal e os avanços do pós-modernismo, fica todo um mundo de possibilidades teóricas e de vias de investigação, que normalmente não cabe no espaço de um livro. Nem sequer mesmo num livro de 760 páginas. Que os organizadores tenham sido capazes de agrupar os diversos focos de tensão num único campo dinâmico, é razão para lhes aplaudir o esforço. Ora, tratando-se de um livro, a melhor forma de o apludir consiste simplesmente na sua leitura.

Miguel Pina e Cunha


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