A psicologia pediátrica tem ao longo dos últimos dez anos ganho um estatuto de
grande relevância dentro do campo coberto pela designação genérica de
Psicologia da Saúde.
Embora a tradição da prática psicológica sempre tenha de algum modo
privilegiado a criança, a existência de quadros teóricos diversos e o enfoque
clássico da clínica psicológica na psicopatologia, acabou por implicar muitas
"psicologias da criança".
Entre nós em particular, assistiu-se durante algumas décadas a uma completa
separação entre técnicos e serviços da chamada "Saúde Mental" e
técnicas e serviços que se ocupavam da saúde física, ou melhor das doenças
expressas neste registo.
Nem os permanentes alertas a partir dos anos quarenta da Organização Mundial de
Saúde sobre a necessidade de conceptualizar a saúde de forma mais holística,
nem a falência anunciada e visível do modelo bio-médico nem mesmo a
especificidade da infância que, paradigmaticamente, destaca em si mesma a
necessidade de leituras bio-psico-sociais, apressou a implementação alargada da
Psicologia Pediátrica nos Serviços de Saúde.
A urgência e a necessidade destes serviços não é nem uma construção dos
psicólogos enquanto grupo profissional, nem a aplicação de um modelo de
investigação saído do laboratório ou de mais uns tantos contributos teóricos.
Antes se revela na proximidade e ligação a outros saberes que dentro do campo
da saúde, tomam como objecto de conhecimento e intervenção a criança. A criança
e o seu meio: a família, a mãe. A criança e a sua circunstância: ter sido
desejada, tolerada ou indesejada, ter nascido prematuramente, apresentar sinais
ou sintomas ao longo do seu desenvolvimento que exprimam mal-estar,
perturbação, comprometimento desenvolvimental ou doença crónica ou aguda. A
criança e o seu devir: na relação que estabelece e que lhe é permitida
estabelecer com os outros que a cercam e a significam.
Foi possível reunir neste número deAnálise Psicológicaum conjunto de textos
sobre temas actuais da psicologia pediátrica. António Pires resume a história
da psicologia pediátrica nos Estados Unidos, para de seguida definir a
Psicologia Pediátrica actual, o seu campo de actuação e formas de intervenção
incluindo algumas considerações sobre a formação. Luísa Barros, a partir de uma
análise da literatura sobre a hospitalização pediátrica, propõe um conjunto de
estratégias com vista a prevenir e remediar as sequelas psicológicas e
psicopatológicas desta experiência stressante, enfatizando o papel do psicólogo
pediátrico. Victor Viana e J. Paulo Almeida definem psicologia pediátrica,
focam os aspectos característicos da intervenção psicológica no âmbito da saúde
da criança, incluindo também algumas notas sobre o enquadramento legal dos
psicólogos na Saúde. Maria daGraça Vinagre e Maria Luísa Lima abordam os
acidentes domésticos na criança e o comportamento preventivo dos pais numa
perspectiva cognitivista. Júlia Serpa Pimentel compara a vivência maternal, a
interacção mãe-criança e o desenvolvimento do bebé quando estes são prematuros
e quando têm síndroma de Down. Salomé Viera Santos analisa a influência
familiar no ajustamento da criança com doença crónica. Jan Wallander e Lise
Becker abordam o ajustamento comportamental da criança com deficiência física.
José Luís Pais Ribeiro, Rute Meneses e Isabel Meneses descrevem um estudo que
visa construir um questionário sobre a Qualidade de Vida destinado a crianças
que sofrem de diabetes. Annette La Greca e Kristen Thompson descrevem a maneira
pela qual os pais e amigos podem apoiar o adolescente diabético. Françoise
Weil-Halpern debruça-se sobre a situação das crianças não infectadas pelo VIH,
únicas sobreviventes na sua família; como se faz ou não o trabalho de luto,
quais as lembranças que guardam estas crianças dos seus pais, etc. Maria José
Gonçalves e Eduarda Rodrigues descrevem as perturbações alimentares precoces
(anorexia precoce) propondo a existência de duas formas clínicas com diferentes
bases psicopatológicas e apresentam um modelo de avaliação clínica destas
situações. Cristina Marques debruça-se sobre a abordagem terapêutica de
crianças na primeira infância com diagnóstico de autismo. A dor na criança é
abordada por Emílio Salgueiro. Como a criança comunica a dor e como a elabora
em termos de angústia, depressão e culpabilidade. Eduardo Sá faz um pequeno
ensaio sobre a história e os direitos da criança e da família. Isabel Trindade
e José Carvalho Teixeira tecem algumas considerações sobre a Psicologia da
Saúde Infantil. São incluídos dois textos de Maria Antónia Carreiras, um sobre
adolescentes após um transplante renal e outro sobre o papel do psicólogo numa
Unidade Pediátrica de Hemodiálise. Helena Seabra faz uma apresentação sucinta
da Diabetes na criança. Maria João Mendes apresenta um caso de histeria numa
criança de dez anos seguida num serviço hospitalar. Maria Teresa Fonseca
abordao papel do Psicólogo Pediátrico.
António Pires Isabel Pereira Leal