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EuPTHUHu0870-82312006000100001

EuPTHUHu0870-82312006000100001

variedadeEu
Country of publicationPT
colégioHumanities
Great areaHuman Sciences
ISSN0870-8231
ano2006
Issue0001
Article number00001

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Nota de Abertura Nota de Abertura Acompanhando a progressiva referência ao Ensino Superior por parte das autoridades educativas, académicas e da sociedade em geral, assiste-se a um aumento, nos últimos anos, do volume de investigação nesta área. Tomando essa investigação, verificamos que a generalidade de tais estudos se reporta aos estudantes e, mais concretamente, às questões da sua adaptação, aprendizagem e desenvolvimento. Em menor número, encontram-se outros estudos sobre os modelos de gestão das instituições e sobre a evolução deste subsistema do ensino, assim como sobre as práticas pedagógicas e outras características de currículos e professores. De qualquer modo, é claramente dominante a investigação tomando os estudantes como objecto, tal como o próprio tema "Aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes no Ensino Superior" deste número de Análise Psicológicao deixa transparecer.

Com este número temático, essencialmente escrito por autores portugueses, pretendemos descrever uma parte significativa dos projectos de investigação nacional sobre a aprendizagem, o rendimento académico e o desenvolvimento psicológico dos estudantes no Ensino Superior. Como podemos constatar pela origem dos vários autores, esta investigação reparte-se por diferentes instituições, tendo havido a preocupação de os textos seleccionados ilustrarem os ciclos académicos mais significativos na vida destes estudantes: (i) a transição, entrada e adaptação ao Ensino Superior; (ii) o percurso académico em termos de aprendizagem e de desenvolvimento psicossocial; e, por último, (iii) a saída do Ensino Superior e transição dos diplomados para o mercado de trabalho.

A análise destas três fases da experiência académica permite-nos antecipar a confluência de uma panóplia bastante extensa de variáveis ou factores intervenientes. A literatura neste domínio apresenta uma organização de tais variáveis em duas grandes áreas de incidência: as variáveis pessoais do aluno e as variáveis associadas ao contexto académico. Neste quadro, podemos reportar- nos, respectivamente, a uma abordagem mais desenvolvimental e a uma outra mais contextualista, importando considerar a interacção entre os dois conjuntos de variáveis para uma melhor compreensão dos fenómenos estudados.

Os estudos nacionais conduzidos sugerem que a vida académica dos estudantes é marcada por um conjunto de expectativas e vivências positivas, pelo menos para a generalidade dos estudantes. Mesmo assim, a entrada no Ensino Superior tende a ser percepcionada como momento de desafio, risco estress. Vários estudantes experienciam, inclusive, alguma desadaptação inicial, agravada na sua intensidade e persistência quando o aluno não dispõe de um contexto sócio- afectivo de retaguarda positivo e seguro. Por sua vez, passadas as primeiras semanas de adaptação, são as energias do estudante canalizadas para o curso, o ensino dos professores e as aprendizagens curriculares. Numa progressiva marcha para a autonomia, o jovem vai gerindo tempo e actividades, verbas e relacionamentos interpessoais. Para alguns estudantes, esta caminhada para a autonomia e a realização académica é feita de forma mais penosa, por vezes com alguma psicopatologia associada. Na parte final do curso, aproveitando as experiências profissionalizantes de estágio ou a frequência de disciplinas de alguma especialização, antecipa-se nova transição e criam-se expectativas quanto ao emprego. No final da graduação, espera-se que o estudante atinja um nível de maturidade próprio do adulto, ou seja, um sistema desenvolvido de valores, integridade e estabilidade emocional, relações de intimidade, aceitação cognitiva do ambíguo e complexo, construção de projectos de carreira integrando passado, presente e futuro.

Elencando os artigos que compõem este número temático, quisemos abrir com o texto de Vicent Tinto (Syracuse University, USA). Trata-se de um autor de renome internacional na área, fazendo aqui um balanço de três dezenas de anos de investigação. O seu trabalho indica que, mais do que criar e adicionar serviços, a permanência e o sucesso dos estudantes associam-se ao seu envolvimento e vinculação com os colegas, o curso e o Departamento, nomeadamente quando se apela a modelos mais activos e colaborativos de aprendizagem.

Um segundo artigo, de Ana Paula Soares, Leandro Almeida, António Diniz e Adelina Guisande (Universidade do Minho, ISPA e Universidade de Santiago de Compostela), testa um modelo de confluência de variáveis pessoais e contextuais na predição do rendimento e do desenvolvimento psicossocial de estudantes universitários do primeiro ano. Apesar da relevância estatística encontrada nalgumas das relações previstas entre as variáveis, o rendimento académico no final do primeiro ano da Universidade aparece essencialmente associado aobackground escolar com que os estudantes chegam ao Ensino Superior, tanto para os estudantes de ciências e tecnologias, quanto para os de ciências sociais e humanas. De forma similar, o desenvolvimento psicossocial experienciado está fundamentalmente associado ao nível de autonomia à entrada da Universidade.

Ainda ao nível da transição e adaptação académica, um outro artigo de António Diniz e Leandro Almeida (ISPA e Universidade do Minho) analisa a interacção de algumas dimensões da vivência sócio-afectiva dos estudantes no primeiro ano de adaptação ao Ensino Superior. Os resultados obtidos com a Escala de Integração Social no Ensino Superior (EISES) sugerem que as dimensões contempladas (relacionamento com pares, bem-estar pessoal e equilíbrio emocional) sofrem alterações em termos da sua relevância ao longo do primeiro ano, as quais sugerem o recurso a estratégias de intervenção junto dos estudantes diferenciadas consoante o seu tempo de frequência universitária.

No que concerne às estratégias e modelos de intervenção no apoio a estudantes do Ensino Superior, Graça Figueiredo Dias (Universidade Nova de Lisboa) descreve um modelo psicodinâmico do desenvolvimento psicológico que permite compreender as dificuldades experienciadas pelos jovens, o qual sustenta um modelo de terapia breve psicodinâmica. Tomando a sua experiência e investigação acumuladas na área, a autora explana esses modelos, elucidando o tipo de intervenção individual realizada, através da apresentação de um estudo de caso, e discutindo as vantagens e limites desse tipo de intervenção.

Numa lógica mais institucional, o artigo de Anabela Pereira e colaboradores (Universidade de Aveiro e Universidade de Coimbra) descreve uma experiência de intervenção interdisciplinar visando a promoção do bem-estar do aluno e do sucesso académico, aliando apoio psicológico, suporte social e promoção de estilos de vida saudável, no quadro dos serviços de acção social universitária.

São apresentados os resultados referentes à identificação das necessidades e problemas dos estudantes do Ensino Superior, às estratégias de intervenção utilizadas, bem como à sua avaliação.

Também numa lógica institucional, mas de infusão da intervenção nas experiências quotidianas de ensino e de aprendizagem, em alternativa à criação de serviços específicos de apoio à aprendizagem e sucesso dos estudantes, José Tavares e colaboradores (Universidade de Aveiro e Instituto Superior Politécnico de Gaia) descrevem uma experiência de natureza curricular, envolvendo professores e estudantes na promoção do sucesso escolar através de novas formas de ensinar, de aprender e de avaliar. Uma particularidade neste texto prende-se com as novas formas de interacção entre os estudantes e docentes, possíveis através da implementação de uma plataforma dee-learning.

As questões pedagógicas e do ensino estão presentes no artigo de Natércia Morais, Leandro Almeida e Irene Montenegro (Universidade do Minho). O artigo reporta-se às percepções dos estudantes sobre a qualidade do ensino ministrado e sobre as competências pedagógicas que inferem nos seus professores. O instrumento a que recorrem enquadra-se num tipo de escalas com uma longa tradição de utilização em diferentes países, podendo proporcionar às instituições alguma informação -complementar a outras fontes e tipos de informação - sobre o ensino assegurado e a satisfação dos estudantes a este propósito. Neste artigo em concreto, menciona-se que estas percepções dos estudantes sobre a docência são mais favoráveis em relação às disciplinas dos últimos anos dos cursos e em relação às aulas práticas, o que é comentado no texto.

perspectivando a transição do Ensino Superior para o Mundo do Trabalho, Susana Caires (Universidade do Minho) descreve algumas das principais percepções e vivências dos estudantes do último ano do curso de formação inicial de professores, no quadro dos seus estágios curriculares de cariz profissionalizante. Nem sempre a organização destes espaços de formação toma em consideração a dimensão fenomenológica do "Tornar-se professor", reconhecendo-se quão importante é uma mudança nessa atitude pelas implicações significativas que o estágio assume na formação académica e profissional, bem como noutras áreas da identidade destes jovens.

Por último, Fernando Gonçalves e colaboradores (Universidade do Algarve), no quadro de um mundo cada vez mais global e num momento de clara convergência europeia em matéria de Ensino Superior, descrevem alguns indicadores relativos à empregabilidade dos diplomados por forma a melhor compreender os seus percursos de transição para o Mundo do Trabalho. São também tecidas algumas considerações sobre os factores de empregabilidade dos diplomados em Portugal, tendo como pano de fundo Bolonha e Praga, bem como as novas exigências do mercado de trabalho no quadro de um novo paradigma de aprendizagem e de formação.

Para concluir, gostaríamos de destacar que, sendo o enfoque deste número temático a aprendizagem e desenvolvimento dos estudantes no Ensino Superior, tomámos uma opção por artigos de maior incidência psicológica. Trata-se de um enfoque promissor da investigação na área do Ensino Superior, como aliás fica patente na multiplicidade de instituições envolvidas, reflectindo o progressivo interesse das próprias instituições em conhecer os seus estudantes e a qualidade dos contextos académicos que lhes são proporcionados. Do mesmo modo, a autoria da generalidade dos artigos é plural, decorre de grupos ou equipas de investigadores, por vezes de instituições diversas, ainda que vários outros investigadores e equipas de investigação nesta área temática existam em instituições universitárias e politécnicas nacionais. Acreditamos, assim, na prossecução desta linha nacional de investigação, pensando também que progressivamente conseguiremos dados com maior capacidade explicativa e sugestões concretas de intervenção para prevenir o abandono dos estudos e para promover tanto o sucesso académico dos estudantes quanto o seu desenvolvimento psicossocial.

ANTÓNIO M. DINIZ / LEANDRO S. ALMEIDA


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