Se sinto como familiar sinto como positivo! Interferência da familiaridade no
processo avaliativo
A hipótese de que a "facilidade ou o fluência de processamento de
informação", experimentada como um sentimento da familiaridade, é um
sentimento afectivo com valência positiva (veja, por exemplo, Garcia-Marques,
1999; Jacoby & Kelley, 1990; Pittman, 1992; Tichener, 1910) é corroborada
por um conjunto vasto de investigações. A primeira evidência favorável a esta
hipótese é-nos fornecida pelos trabalhos de Zajonc (1968) sobre o efeito de
"mera-exposição" e toda a investigação que daí adveio. Estes
estudos demonstram que a mera apresentação preliminar de um estímulo alvo
(repetição) aumenta a preferência por ele sentida (Harrison, 1977; veja
Bornstein, 1989, para uma revisão; Zajonc, 1968). A função entre o número de
apresentações prévias (repetições) e a avaliação positiva destes é linearmente
positiva. Isto é, quantas mais vezes um estímulo for repetido (mais familiar
for) mais o tendemos a avaliar positivamente (i.e., sentimos um afecto positivo
pelo estímulo).
Desde o primeiros trabalhos de Zajonc (1968) centenas de estudos têm
demonstrado que estímulos familiares activam reacções emocionais positivas,
passando por gostar/preferência (e.g., Zajonc, 1968), avaliar como mais
atractiva (e.g., Moreland & Zajonc, 1982), avaliar como mais semelhante
(Moreland & Beach, 1992; Moreland & Zajonc, 1982), e, inclusivamente,
avaliar como mais famosa (Jacoby, Kelley, Brown, & Jasechko, 1989) ou
valida (e.g., Arkes, Hackett, & Boehm, 1989),
A ideia de que a fluência de processamento experiência como familiaridade é um
sentimento positivo também recebe suporte indirecto dos dados que têm sugerido
que ambos os sentimentos podem ser induzidos de forma similar em laboratório.
Na realidade, se examinarmos os estudos de Stepper e Strack (1993), verificamos
que eles manipulam a experiência subjectiva de recordação pedindo aos
participantes que segurem uma caneta só com os lábios ou só com os dentes de
forma a contraírem quer os músculos faciais corrugatorquer o zygomaticusdurante
uma tarefa de recordação. A contracção do músculo corrugator(que produz o
franzir de sobrancelhas) é vista como associada a esforço de recordação
enquanto a contracção do músculo zygomaticus (que produz um sorriso) induz uma
sensação de fluência na recordação. Os resultados obtidos neste estudo
corroboraram esta associação. Relevante para o argumento aqui apresentado é o
facto de que exactamente o mesmo padrão de actividade de muscular tem sido
utilizado para induzir nos participantes de alguns estudos um sentimento de
negatividade (corrugator) ou de positividade (zygomaticus) (e.g., Adelmann
& Zajonc, 1989; Bodenhausen, Kramer, & Susser, 1994; Laird, 1984;
Strack, Martin, & Stepper, 1988). Daqui se depreende que a contracção
muscular de positividade se associa ao um processamento fluente, verificado
para estímulos familiares, e que a contracção de negatividade se associa a um
processamento dis-fluente, habitualmente verificado para estímulos não
familiares.
Os trabalhos de Garcia-Marques e colaboradores (Garcia-Marques, 1999; Garcia
Marques & Mackie, 2000) tornam este facto explícito definindo familiaridade
como sendo um sentimento positivo. Fazem-no demonstrando que os indivíduos que
foram expostos a estímulos familiares reportam estar mais contentes alegres e
bem dispostos do que os que foram expostos a estímulos não familiares. Um
estudo posterior de Monahan, Murphy, e Zajonc (2000) corrobora esses dados ao
demonstrar que a exposição prévia a um estímulo, não gera um sentimento
totalmente dirigido para o estímulo, mas que tem um impacte geral e difuso na
forma como o indivíduo se sente no momento de exposição ao estímulo.
A hipótese da familiaridade ser um sentimento positivo é igualmente suportada
por estudos que utilizam medidas fisiológicas. Harmon-Jones e Allen (2001)
apresentaram fotografias familiares e não familiares aos participantes dos seus
estudos enquanto registavam a actividade dos músculos faciais e de regiões
cerebrais. Os estímulos familiares, contrariamente aos não familiares,
associaram-se à activação zygomatica.Manipulando a fluência de processamento de
estímulos, Winkielman e Cacioppo (2001) também nos fornecem dados a sugerir que
o processamento facilitado de itens é acompanhado da activação do músculo
facial associado ao sorriso (zygomaticus) não tendo qualquer efeito no
associado a um estado mais negativo (corrugator).
Evidência suplementar à estreita associação entre familiaridade e um sentir
positivo é fornecida pelos trabalhos de Garcia-Marques, Mackie, Claypool, e
Garcia-Marques (2004) que revertem os efeitos da associação. Estes trabalhos
demonstram que tal como a exposição a estímulos familiares (com apresentação
supra ou subliminar) promove avaliações mais positivas, também a activação de
sentimentos positivos promove avaliações de maior familiaridade com os
estímulos. Nos seus estudos, a associação subliminar de uma happy-facecom uma
palavra induziu falsos reconhecimentos da palavra como tendo sido apresentada
numa lista prévia. O facto de a familiaridade ser sentida como positiva,
permite que a activação de um sentimento de positividade seja percebida como a
activação de um sentimento de familiaridade para com essa palavra. A
interpretação errónea de um sentimento positivo como advindo da familiaridade
da situação chega mesmo a ser induzida quando esse sentir não está associado ao
estímulo em si, mas ao indivíduo. Garcia-Marques et al. (2004) fornecem
evidência para esta possibilidade ao demonstrar que a indução de um estado
positivo nos seus participantes induziu a julgamentos de familiaridade. Tal
"engano cognitivo" é apenas verificado se nenhuma pista do contexto
chama atenção para a verdadeira fonte do sentimento induzido nos participantes
(ver Claypool, Hall, Mackie, & Garcia-Marques, 2008).
De forma semelhante os estudos de Phaf e Rotteveel (2005) sugerem a associação
de um estado positivo no participante como induzindo julgamentos de
familiaridade. No seu estudo eles levam os participantes a contrair os músculos
faciais (zygomaticusou corrugator) com um procedimento semelhante ao utilizado
por Stepper e Strack (1993) enquanto faziam uma tarefa de reconhecimento. Os
falsos reconhecimentos, foram, como esperado, em maior número na situação
indutora de sorriso.
As consequências da associação familiaridade poderão ser várias como o
demonstram os três estudos relatados por Claypool, Hugenberg, Housley, e Mackie
(2007). Nestes estudos, os participantes reportaram quão contentes ou zangados
percebiam alvos familiares ou não familiares e os seus resultados sugerem
consistentemente que os alvos familiares são sempre percebidos como mais
felizes e menos zangados dos que os não familiares. Tal facto sugere que os
nossos conhecidos terão sempre maior probabilidade de serem vistos como estando
bem dispostos do que qualquer desconhecido.
Neste artigo adicionamos evidência empírica às implicações da associação de
familiaridade com um afecto positivo. Procuraremos demonstrar que a
familiaridade de um estímulo facilita a activação de atitudes positivas e que
estímulos não familiares facilitam a activação de atitudes negativas. Tal facto
sugere que será mais fácil reportarmos um aspecto positivo de um indivíduo
conhecido do que de um desconhecido onde se verifica maior facilidade em
reportar os aspectos negativos.
Para estudar este fenómeno utilizámos o paradigma de primação afectiva
desenvolvido por Fazio e por seus colaboradores (Fazio, Sanbonmatsu, Powell,
& Kardes, 1986; veja também Bargh, Chaiken, Govender, & Pratto, 1992;
Bargh, Chaiken, Rayomond, & Hymes, 1996; ver também Garcia-Marques, 2005;
Klauer, 1998). Fazio e colaboradores (1986) utilizaram este paradigma como
forma de demonstrar que objectos aos quais se associam atitudes fortes induzem
uma activação automática dessas atitudes. O paradigma permite, assim, inferir a
valência de estímulo apresentado pelas suas consequências no processamento de
um estímulo subsequente.
O pressuposto básico do paradigma de primação afectiva de Fazio (Fazio et al.,
1986) é a de que a utilização de um estímulo primo com a mesma valência do
estímulo alvo facilita a avaliação deste último, enquanto estímulos de valência
contrária inibem as respostas aos estímulos alvo. Utilizando como primos
estímulos aos quais se associam atitudes fortes favoráveis ou desfavoráveis,
Fazio e colaboradores demonstram que estes promovem os efeitos de interferência
(facilitação e inibição) postulados. Tal padrão de resultados corrobora a
hipótese de que a mera presença do objecto atitudinal activa a sua valência.
O raciocínio aqui apresentado é idêntico ao de Fazio. Por pressupormos que a
presença de um estímulo familiar activa afectos positivos, pressupomos que
estes irão facilitar respostas de valência congruente e dificultar respostas de
valência incongruente. Assim, se a familiaridade é um sentimento positivo, a
utilização de estímulos primos familiares produzirão avaliações mais rápidas de
estímulos positivos e avaliações mais lentas de estímulos negativos.
Nos estudos de Fazio pressupõe-se que os estímulos primos activam uma atitude
que seria positiva ou negativa. No nosso estudo, porque pressupomos que
familiaridade sentida tem esta valência positiva, trabalhamos apenas com
estímulos de valência neutra. Além disso, pressupondo que a mera apresentação
do estímulo envolve a activação do sentimento de familiaridade, mesmo quando o
indivíduo não se apercebe do estímulo em si. Assim, os nossos estímulos primos
são subliminares (10msc) e associados a dois níveis de SOA (Stimulis Onset
Asynchrony) baixos (10 e 110 msc). O SOA refere-se ao tempo que medeia o início
da apresentação do estímulo primo e o início da apresentação do estímulo.
Esperamos que os níveis de interferência sejam superiores nas condições de SOA
mais baixas, dada a natureza automática do processo em estudo.
MÉTODO
Participantes
Um total de 40 estudantes do Instituto Superior de Psicologia Aplicada (31
mulheres), participaram na experiência definida por plano factorial 3 (níveis
da familiaridade) x 2 (alvos: positivos vs.negativo) x 3 (conjuntos de
material) x 2 (níveis de SOA), com os dois primeiros factores manipulados
intra-participantes.
Material
Utilizando as normas desenvolvidas por Garcia-Marques (2003), construíram-se 3
conjuntos de palavras com 2-3 sílabas que tinham sido avaliadas como
"neutras" em termos de familiaridade (não diferem do ponto médio da
escala de familiaridade). Um dos conjuntos tinha 30 palavras que tinham
igualmente sido avaliadas como "neutras" em termos de valência (não
diferem do ponto médio da escala de valência). O segundo conjunto, era
constituído por 15 palavras avaliadas como positivas (as suas avaliações
diferem significativamente do ponto médio da escala de valência). O terceiro
conjunto de palavras era constituído por 15 palavras avaliadas como negativas
(diferem no sentido inverso do ponto médio da escala). As 30 palavras neutras
foram divididas em três jogos que permitiram que a manipulação do número de
repetições (0 vs.1 vs.3) fosse contrabalançada.
Procedimento
O estudo foi desenvolvido em 4 sessões de 615 participantes. A distribuição dos
participantes pelas diferentes condições experimentais foi determinada pela
atribuição aleatória de um participante a um dos computadores que deram suporte
ao experimento. Os participantes foram sentados em frente do ecrã do computador
procurando-se garantir que os seus olhos ficassem na mesma linha e a uma
distância de aproximadamente 30 cm do centro do ecrã. O experimento foi
implementado com base no programa E-Prime.
Na fase da exposição, foram instruídos para dar atenção a um conjunto de
palavras que lhes era apresentada no centro do ecrã do computador com o
objectivo de as memorizar. Para tal deveriam ler movendo os lábios como se
estivessem a ler em voz alta, apesar de não deixarem sair nenhum som, cada uma
das palavras. Um total de 20 palavras do conjunto de palavras neutras foi
apresentado, a um ritmo de uma palavra por cada 5 s. Dez destas palavras foram
apresentadas apenas uma vez. As outras dez foram apresentadas 3 vezes de forma
aleatória. O conjunto das palavras que eram repetidas e não repetidas foi
contrabalançado.
A tarefa intercalar (filler). Uma tarefa intercalar foi introduzida para
reduzir a probabilidade de alguma das palavras ser mantida na memória de
trabalho dos participantes. Para esta tarefa os participantes deveriam
identificar o mais rapidamente possível o sentido de uma seta que lhes surgia
no centro do ecrã pressionando uma das 4 teclas referentes às duas direcções
verticais e horizontais. Um total de 25 setas surgiu no centro do ecrã para que
o participante desempenhasse esta tarefa.
Na fase de testetodas as palavras alvo (positivas e negativas) foram
apresentadas com vista a serem avaliadas na sua valência pelo participante.
Este devia fazê-lo pressionando, tão rápido quanto possível, a tecla S ou L que
se associava a cada valência (contrabalanceadas inter-participantes). Os tempos
destas avaliações feitas pelos participantes foram registados constituindo a
medida dependente deste experimento. Um terço das palavras positivas-alvo era
precedido por uma palavra neutra (estímulo primo) que não tinha sido
previamente apresentada (0), que tinha sido apresentada uma vez (1) ou três
vezes (3). O mesmo aconteceu para as palavras alvo-negativas. Esta apresentação
era porém subliminar (pelo que os participantes não se davam conta da sua
presença (10msec). A associação especifica entre uma palavra primo e o seu alvo
foi determinada aleatoriamente pelo computador. Para metade dos participantes
as palavras-alvo foram apresentados imediatamente depois do estímulo primo
subliminar (SOA=0) enquanto para outra metade a apresentação do estímulo alvo
era feita apenas 110msec após a apresentação do estímulo primo (SOA=110ms). Os
participantes desta condição foram advertidos para o facto de após terem
procedido à avaliação de um estímulo deveriam fixar os seus olhos no centro do
ecrã para poderem detectar o mais rapidamente possível a apresentação da
palavra alvo. Neste estudo não se utilizou nenhuma máscara ou sinal a assinalar
o centro do ecrã, com vista a controlar possíveis sentimentos de familiaridade
com esses estímulos (que anulassem os efeitos da familiaridade dos estímulos
primos). Após a avaliação das 30 palavras, os participantes realizara um
suposto "teste de reconhecimento" cujo único objectivo foi o de
justificar a fase de exposição. No final esclareceram-se os participantes sobre
o objectivo global do estudo e agradeceu-se a sua participação.
RESULTADOS
Considerámos para análise as latências das respostas correctas dos
participantes. Assim respostas associadas a uma identificação errada da
valência do estímulo não são incluídas nesta análise.
Para cada participante computou-se a latência média das respostas correctas[1].
Foram identificados 5 valores extremos (outliers) nesta variável que foram
excluídos da análise dos dados: um participante cuja média de tempo de resposta
era inferior a 400ms e quatro participantes cuja média de respostas era
superior a 2000ms.
Tomando como variável dependente o logaritmo da média de latência de respostas
correctas procedeu-se a uma análise da variância 3 (Primos: níveis de
repetição) x 2 (valência: positivas vs. negativas) x 2 (SOA: 0 vs. 110 msec).
Esta análise revelou apenas um efeito principal da valência da palavra-alvo, F
(1,38)=13.76; p=.001, indicando que os participantes demoraram mais tempo a
avaliar uma palavra como negativa (M=965.75ms) do que como positiva e
(M=863.13ms). Apesar de nenhum outro efeito atingir um nível de significância
estatística convencional, a análise do padrão dos dados associados à interacção
de segunda ordem [F(2,76)=1,74; p=.180], sugere a presença dos efeitos
esperados para níveis de SOA=0. Assim procedemos a análises das hipóteses
apenas sobre este nível de SOA, procurando perceber o possível papel moderador
deste nos resultados. O contraste que testa directamente a nossa hipótese no
nível de SOA=0, refere que o nível de familiaridade do estímulo primo (trend
linear-1 0 +1) facilita (torna mais rápidas) as respostas congruentes (a
estímulos positivos +1) e inibe (tornam mais lentas) avaliações incongruentes
(a estímulos negativos -1). Este contraste atinge significância estatística; t
(38)=2.27; p=.029. O residual quadrático deste contraste não atingiu
significância (t<1). O alargamento do SOA, com a introdução de um ecrã em
branco entre o estímulo primo e o estímulo alvo durante 100ms eliminou a
identificação do impacto da repetição nos tempos de avaliação, t(38)<1[2].
FIGURA 1
Tempos de avaliação dos estímulos positivos e negativosassociados a primos com
3 níveis de familiaridade (0, 1, 3), nas duas condições de SOA
DISCUSSÃO
Formulámos a hipótese de que sendo a familiaridade um sentimento positivo ela
pode facilitar as avaliações de estímulos positivos e interferir negativamente
com a avaliação de estímulos negativos. Testámos esta hipótese com um paradigma
de primação afectiva subliminar. Os dados sugerem que a apresentação de primos
subliminais familiares interfere com as avaliações de estímulos
subsequentemente apresentados. O padrão esperado é apenas encontrado com níveis
inferiores de SOA, sugerindo que o nível de repetição prévio de um estímulo
primo facilita as avaliações positivas (reduzindo os tempos de resposta) ao
mesmo tempo de dificulta as negativas (aumentando os tempos de resposta). Estes
dados sugerem que a apresentação de um estímulo previamente conhecido activa um
sentimento de valência positiva, o que é consistente com a hipótese de que a
familiaridade é sentida positivamente. Mais, os dados sugerem que a presença de
estímulos familiares num dado contexto pode facilitar a manifestação de
atitudes positivas interferindo com a activação de atitudes negativas.
Esperava-se que os efeitos em estudo pudessem ser mais visíveis com níveis de
SOA inferiores, no entanto foi surpreendente o facto de os efeitos terem sido
totalmente anulados por um SOA de 110. Regra geral (ver Klauer, 1998) os
efeitos automáticos da valência de um estímulo verificam-se até níveis de SOA
da ordem dos 300msc. Tal facto poderá sugerir que a activação e desvanecimento
dos efeitos de familiaridade sejam de natureza diferente dos da valência
aprendida como associada a um objecto alvo. Apenas estudos posteriores nos
poderão esclarecer sobre esse facto. Por agora, apenas sabemos que os estudos
de primação afectiva têm revelado alguma inconsistência sobre o nível de SOA
que favorece o impacto da dimensão afectiva. Os nossos dados são consistentes
com aqueles que sugerem que o processo automático subjacente à activação do
afecto que promove o efeito aqui em estudo é só detectado com SOAs muito curto
- abaixo de 100ms (veja Klauer, 1998 para uma revisão). Um segundo
aspecto a ter em consideração é o facto de no nosso estudo não termos utilizado
máscaras para garantir a subliminaridade dos estímulos primos. É assim possível
que na condição de SOA=110 a pós-imagem tenha permitido que pelo menos alguns
participantes tenham detectado a presença dos estímulos primos e que isso tenha
interferido com o tempo das suas avaliações.
Não obstante estes pormenores, os dados obtidos sugerem, em consonância com a
revisão de literatura apresentada, que o sentimento de familiaridade, sendo
positivo, é passível de suscitar primação afectiva. O facto de os efeitos só se
verificarem em níveis de SOA muito curtos poderá obstar a que este facto tenha
consequências sociais. No entanto no nosso dia-a-dia muitos estímulos têm
apresentação simultânea, o que mímica esta situação experimental. Assim é bem
possível que seja mais fácil a expressão de uma atitude positiva relativa a um
alvo familiar do que não familiar e o que o inverso se passe relativamente a
alvos não familiares. Exemplificando. A agradabilidade de um aspecto visual de
uma pessoa poderá mais facilmente ser acedida pela nossa mente se ela for
familiar do que não familiar. O carácter positivo de um discurso de uma pessoa
familiar poderá ser mais facilmente percebido e o carácter negativo do discurso
de uma pessoa não familiar ser mais facilmente percebido.