Editorial
Editorial
Fecha-se com este número um período de seis anos em que a Revista Portuguesa de
Educação consolidou, de vários modos, o seu estatuto no campo editorial
académico: passou a integrar várias plataformas de acesso aberto ' Redalyc,
Scielo, DOAJ; foi avaliada como Revista Internacional A, no Brasil; foi
recentemente objecto de re-avaliação pela Scielo de Portugal. O resultado desta
última e recente avaliação confirmou, mais uma vez, que os esforços
desenvolvidos neste período tiveram os seus efeitos, alcançando-se,
definitivamente, uma posição que pode servir, num futuro breve, para que a
Revista aspire a outros lugares para a disseminação e ainda maior valorização
internacional dos seus Autores.
São dois os critérios que concorrem para esta posição: a regularidade na edição
e a rigorosa avaliação por pares. A RPE não tem abdicado de nenhum, apesar da
sua potencial incompatibilidade. Valorizamos o cada vez maior número de textos
submetidos porque sabemos que, apesar deste número (que o sair a horas atrai)
ser factor de alguma tensão e contínuo risco de ruptura, é também factor de
diversificação de Avaliadores, com o correspondente reforço da rede
internacional, não só de língua portuguesa, em que a Revista está integrada. É
a dimensão desta rede que decisivamente contribui para o factor de impacto que
a RPE e os seus Autores têm na comunidade académica. Disso são já prova as
estatísticas de consultas disponibilizadas nas plataformas Redalyc e Scielo.
Mas para que este factor de impacto, mesmo ainda não numérico, se mantenha e
seja reforçado, há um conjunto de princípios e acções a serem incentivados
tanto junto da comunidade que reconhece a viabilidade e relevância deste seu
Projecto como junto dos Autores que aqui publicam ou querem publicar; entre
outros, a instituição da RPE como referência bibliográfica incontornável nos
programas curriculares, particularmente de cursos de pós-graduação, e a citação
dos seus textos nos trabalhos que produzimos. Sem estes procedimentos será sem
consequência qualquer intenção de levar a Revista a outros lugares que não
exclusivamente as plataformas de acesso aberto em que já está incluída.
Este número é excepcional, como um leitor habitual da Revista se dará
imediatamente conta. Por um lado por ser, em certo sentido, o número que
assinala o fim de uma série, por outro lado (mas também por causa disso), por
ser pouco usual o número de textos que inclui. Pertencendo quatro desses textos
a um núcleo temático, de há muito planeado, a opção por incluir mais seis
textos justifica-se com a necessidade de esvaziar a carteira de artigos aceites
e, respondendo às legítimas expectativas dos Autores que, pacientemente, têm
aguardado a publicação, não colocar igualmente em risco os textos já aceites e
previstos para os dois números de 2010.
Os textos do núcleo temático desenvolvem o tema das transformações nas formas
de governar a educação e das políticas que lhes dão origem. O texto de Jean
Louis Derouet estuda o papel e lugar das escolas nas leis mais recentes do
sistema educativo Francês, num percurso analítico que leva à conclusão de que
se assiste, hoje, à constituição de novas definições de justiça. Carlos
Estêvão, articulando os processos de globalização com a construção do
cosmopolitismo, de que distingue várias modalidades, desenvolve as
implicações da cosmopoliticidade democrática na educação e na gestão das
organizações educativas, com vista ao reforço da justiça global e como
contributo para o cultivo da humanidade. Situando a discussão nas
possibilidades educativas que se esboçam entre o escolar e o não-escolar,
José Palhares desvela o carácter simultaneamente híbrido e holístico da
escola, daí fazendo gerar um conjunto de inquietações a exigir, como estratégia
de investigação, a análise dos efeitos das relações entre aqueles subcampos,
nomeadamente, o que se pode consubstanciar na expressão de novas formas de
desigualdade educativa e cultural. Fechando o núcleo, Ana Paula Marques
discute os efeitos das estratégias de flexibilização adoptadas pelo mundo
empresarial, dando relevo à aquisição, por parte dos jovens, de uma
(ins)estabilidade identitária e à interiorização de uma cultura de iniciativa
empresarial, empreendedora e criativa, assente num elevado grau de
transferabilidade do valor das suas qualificações académicas, competências e
orientações culturais.
No primeiro dos textos de submissão contínua, Maria João Carvalho aborda o modo
como a racionalidade instrumental é veiculada no âmbito da organização
escolar e os propósitos que pode servir, concluindo pela denúncia da sua
falibilidade, apesar de aspirar a tudo prever e regulamentar. Clarice
Traversini e Caroline Buaes discutem, depois, os discursos pedagógicos
dominantes entre os professores sobre metodologias de ensino. Relacionando com
o discurso político educacional da atualidade, as Autoras equacionam, como
conclusão, a possibilidade de tais discursos centrados no aluno, em nome do
desenvolvimento da cidadania e da autonomia, servirem antes os intentos da
racionalidade política em curso na contemporaneidade. O texto de Ana Santos e
Neuise Deluis analisa, na perspectiva de uma educação popular crítica, um
projecto de economia popular. Do estudo ressaltam as contribuições no âmbito
social, económico, educativo e ambiental do movimento social investigado, com
destaque, entre outros aspectos, para a interacção estabelecida com a escola e
pela inclusão através do reapoderamento do espaço social. No âmbito do Ensino
Superior, o texto de Sandra Valadas, Fernando Gonçalves e Luís Faísca analisa o
processo de adaptação ao contexto português e validação de um instrumento de
identificação de abordagens ao estudo, concepções de aprendizagem e
preferências por estilos de ensino de estudantes universitários. Dadas algumas
limitações encontradas na validação, os Autores prevêem a possibilidade da sua
utilização enquanto instrumento de diagnóstico, sugerindo, entre outras
medidas, a utilização de abordagens mistas mais capazes de captar a
complexidade das formas individuais de aprender e estudar. No nono texto, da
autoria de Lilian Gelatti e Vânia Premaor, estuda-se a função de tutores de
Cursos presenciais e a distância, por meio da auto-avaliação destes agentes de
ensino, assumindo que esta é factor de desenvolvimento profissional e, por
isso, com benefício dos alunos e da instituição. O último texto de Patrícia
Grossi e Andréia Santos apresenta um estudo com 192 alunos de escolas públicas
brasileiras sobre o fenómeno bullying e seus efeitos, particularmente na
relação dos jovens com a escola. Recomendações para a sua identificação
constituem o corolário do estudo.
O número encerra com a lista de avaliadores que com a Revista colaboraram na
emissão de pareceres nos dois últimos anos. Expressão única do trabalho
desenvolvido, quantas vezes, sabemos, colocado à frente das actividades
profissionais obrigatórias, esta lista serve também para o agradecimento
público do Corpo Editorial da Revista Portuguesa de Educação, cujo desempenho
seria bem outro se não contasse com o espírito de missão académica demonstrado
por este grupo.
Em fim de mandato, não podemos deixar ainda de agradecer o trabalho da
secretária Ana Rita Guimarães e do técnico João Gonçalves. A primeira pela
serenidade e competência com que enfrenta todos os impactos, o segundo pela
resposta sempre pronta e eficaz a solicitações, quantas vezes fora de horas.
Aos dois o nosso sentido obrigada.
Maria de Lourdes Dionísio
Centro de Investigação em Educação
Instituto de Educação
Universidade do Minho - Campus de Gualtar
4710 Braga - Portugal
rpe@iep.uminho.pt