EDITORIAL
Os leitores de Sociologia, Problemas e Práticasencontram neste segundo número
de 2004 um leque vasto de textos que se centram em várias problemáticas da
actualidade: novas tecnologias da informação e seu impacto, imigração e
empresarialidade, educação, desigualdades educativas e ciências que as estudam,
ambiente e desenvolvimento. A par destes temas, encontram-se ainda artigos que,
enquanto contributos da sociologia económica e da história, analisam o
latifundismo alentejano e as diferenciações profissionais em contexto urbano.
Procuramos, mais uma vez, alargar o âmbito do público a quem a revista se
dirige, aqui incluindo vários artigos redigidos em inglês e de autores de
outras nacionalidades. É o caso, de Rainer Pitschas, que tece uma reflexão
sobre as mudanças sociais decorrentes das novas tecnologias informáticas,
nomeadamente a nível das relações entre cidadãos e estado. Porque os cidadãos
reivindicam ser parte integrante do processo de tomada de decisões políticas,
assiste-se à mudança das funções do estado. O autor desenvolve uma análise do
que ele designa por democracia electrónica centrando-se nos problemas e
implicações sociais e políticas deste regime de e-government. É também sobre as
implicações da informática, agora no quadro das organizações dotadas de
sistemas de intranet, que escreve Sandra Pereira. Esta autora defende que as
novas tecnologias informáticas, ao mesmo tempo que beneficiam a organização,
aumentando a sua eficiência, potenciam os jogos políticos e o poder dos
actores.
O artigo de Catarina Oliveira analisa as estratégias empresariais desenvolvidas
por imigrantes de diferentes etnias, em distintos contextos da sociedade
portuguesa. No seu estudo a autora constata a existência de algumas similitudes
com os empresários de nacionalidade portuguesa, nomeadamente no que respeita à
mobilização das redes familiares, e trabalha conceitos como os de
oportunidades étnicas, oportunidades estruturais e recursos pessoais,
entre outros, para compreender as propensões diferenciadas para trabalharem por
conta própria, que identifica nessas várias etnias.
Jean-Louis Derouet apresenta uma abordagem da sociologia das desigualdades de
educação, a partir do caso francês. Nela Derouet discute o modo como a
sociologia poderá reposicionar a sua perspectiva analítica, num quadro social
em que, segundo ele, os resultados desta ciência foram apropriados e utilizados
enquanto instrumentos de gestão, diminuindo o debate político. Pedro
Abrantes, por seu lado, desenvolve uma análise exploratória das relações entre
os campos disciplinares da sociologia e das ciências da educação. Identificando
grande proximidade entre os processos de emergência dos dois campos na
sociedade portuguesa, o autor aponta igualmente especificidades e tensões,
interrogando-se acerca dos possíveis desenvolvimentos disciplinares que no
futuro se irão configurar neste domínio.
Em investigações sobre fenómenos que implicam um recuar no tempo e o recurso a
fontes documentais, podemos encontrar, ainda, outros dois temas de interesse.
Um deles, da autoria de Rui Santos, diz respeito ao estudo do processo de
constituição da economia de latifúndio do Sul de Portugal, processo esse, na
sua perspectiva, relacionado com uma pluralidade de mecanismos interligados,
que deram lugar à estrutura social agrária prevalecente até há algumas décadas
no Alentejo, e determinante na configuração da economia e da sociedade
portuguesa contemporânea. No outro texto, Frédéric Vidal procura, numa
abordagem que para ele significa uma outra maneira de escrever a história,
com inspiração em tradições metodológicas da sociologia e da antropologia, e
com base em declarações de profissões, identificar a composição sócio-
profissional e as relações sociais da população de um bairro lisboeta do
princípio do século XX.
Por fim, importa referir a recensão a um livro importante na área do ambiente e
do desenvolvimento local sustentado, Coastal Tourism, Environment and
Sustainable Local Development, de autores vários.
Maria das Dores Guerreiro