Editorial
Editorial
Os leitores de Sociologia, Problemas e Práticas encontram reunidas neste número
importantes contribuições provenientes de investigadores de diferentes países e
domínios científicos.
O futuro das ciências sociais é aqui discutido por Gilberto Velho, Brasilio
Sallum e Gláucio Soares, figuras de referência do campo científico brasileiro.
Os autores convocam algumas das tendências mais marcantes na produção de
conhecimento do social, na sua diversidade disciplinar, evidenciando o
contributo de vários modelos teórico-conceptuais e diferentes abordagens
metodológicas para a transformação e redefinição destas disciplinas. Neste
conjunto de artigos Gilberto Velho problematiza ainda a situação institucional
das ciências sociais e alguns aspectos da sua actual cultura de avaliação
quantitativista, Brasilio Sallum, no que à sociologia diz respeito, propõe
superar a fragmentação mas não evitar a controvérsia e Gláucio Soares
denuncia o que designa por colonialismo teórico, preconizando a necessidade
de uma maior adequação das teorias às realidades empíricas em estudo.
O artigo de Alzira Alves Abreu, destacada pesquisadora da História
Contemporânea do Brasil, aborda a relação dos media com a política, um tema de
permanente actualidade. Analisando a transição do regime militar brasileiro
para o regime democrático, na década de 1970, a autora chama a atenção para a
importância de melhor conhecer e contextualizar as estratégias mobilizadas
pelos jornalistas, objecto de estudo que, em seu entender, os cientistas
sociais têm negligenciado.
Fernando Luís Machado e Maria Abranches escrevem sobre a integração social de
imigrantes, a partir da pesquisa que desenvolveram sobre trajectórias
socioprofissionais de cabo-verdianos e hindus. Entre outros resultados a que
chegam, destacam o carácter socialmente heterogéneo destas populações e as suas
trajectórias individuais típicas, bem como os caminhos limitados de integração
social a que têm acesso.
Com o texto de Cristina Lobo, sobre famílias recompostas, fazemos, segundo a
autora, uma revisitação a quase um século de estudos norte-americanos sobre a
problemática do recasamento e das famílias recompostas. Evidenciando a
diversidade de configurações morfológicas e culturais inerentes a estas
realidades familiares, o artigo enuncia algumas linhas de investigação a
desenvolver futuramente.
A encerrar este volume temos, ainda, o contributo de Loïc Wacquant um dos
principais especialistas contemporâneos na obra de Pierre Bourdieu que
desenvolve uma reflexão sobre as propostas teóricas deste autor para a análise
sociológica do campo artístico.
João Freire, na secção registo, apresenta-nos a choice box enquanto
dispositivo de apoio ao processo de inquirição sociológica.
Maria das Dores Guerreiro