Editorial
Editorial
O nº 63 da revista Sociologia, Problemas e Práticas integra um conjunto de
artigos de autores de diversas nacionalidades, abrangendo um largo espectro de
temas no âmbito das ciências sociais.
O primeiro artigo, de Will Atkinson, defende a continuada importância do
conceito de classe social na análise das sociedades contemporâneas. Criticando
as abordagens do individualismo e da escolha reflexiva defendidas por autores
conhecidos do pensamento sociológico das últimas décadas, operacionaliza o
quadro teórico de Bourdieu e mostra, através de pesquisa empírica própria, que
as condições sociais de existência e o habitus produzem trajectos e
comportamentos, o que é testado pelo autor em quatro domínios: educação,
trabalho, estilos de vida e discursos de classe.
Segue-se o texto de Luís Capucha, que discute o conceito de inclusão educativa
e reflecte sobre o modo como tal inclusão decorre de políticas públicas
promotoras de justiça e qualidade social. A sua abordagem é centrada nos
processos educativos das pessoas com deficiências e incapacidades e nos modelos
de intervenção na área da reabilitação.
César Madureira e David Ferraz examinam as relações entre política e
administração pública, focando-se nos processos de selecção do pessoal
dirigente. Os autores analisam os modelos híbridos de configuração político-
administrativa, cada vez mais defendidos, constatam que tais modelos ainda não
estão plenamente conseguidos em Portugal e apontam pistas para a sua
concretização.
Paulo de Carvalho escreve sobre gangues de rua de jovens em Luanda. No seu
artigo procura dar a conhecer a organização e as formas de actuação destes
gangues juvenis, bem como as motivações que os movem. Concluindo serem
constituídos predominantemente — mas não apenas — por elementos em situação de
pobreza, identifica diferentes razões subjacentes à adesão a tais grupos, cujo
modo de vida assenta no proveito resultante do pequeno furto, e para os quais
preconiza condições de acesso à educação e ao emprego, como alternativa à
repressão e ao aprisionamento.
O texto de Fernando Ampudia desenvolve uma reflexão em torno do conceito de
descivilização, inspirado na teoria do processo civilizacional de Norbet Elias.
Ampudia discute os processos de civilização e descivilização enquanto resultado
da contraposição dinâmica e mutável entre “forças socialmente integradoras e
desintegradoras”, analisando as possibilidades de descivilização a curto e a
longo prazo.
Ricardo Campos avança uma reflexão sobre culturas juvenis em que propõe uma via
renovada para analisar mais aprofundadamente a construção da juventude
protagonizada pela imagem e a cultura visual contemporânea, elementos
fundamentais na produção de sentido, numa sociedade onde a transmissão de
informação assenta grandemente na visualidade e nas suas ramificações
tecnológicas à escala global.
Luísa Tiago de Oliveira propõe-se, por sua vez, desvendar os contornos da
história oral, em Portugal, quem a pratica, de que modo e que relações
estabelece com as várias ciências sociais e humanas, a partir da análise de
trabalhos académicos, em particular dissertações de mestrado e teses de
doutoramento, que permitem evidenciar as potencialidades e os problemas deste
método de investigação.
Este número termina com a recensão de David Cairns ao livro Beyond the Myths
About the Natural and Social Sciences: A Sociological View, de Katarina Prpic.
Maria das Dores Guerreiro