Contribuições dos Estudos de Género às Investigações que Enfocam a
Masculinidade
1. Género ' conceptualizando e discutindo
A utilização do termo género desenvolve-se nas análises feministas a partir de
meados da década de 1970 (Scott, 1990; Almeida, 1998) onde é definido como uma
construção social de atributos diferentes a homens e mulheres efectivada
durante toda a vida, o que acaba por determinar as relações entre os sexos em
vários aspectos.
O uso deste termo visa, assim, sublinhar o carácter social das distinções
fundadas sobre o sexo e a rejeição do uso da palavra sexo que,
etimologicamente, se refere à condição orgânica que distingue o macho da fêmea,
enquanto que a palavra género se refere ao código de conduta que rege a
organização social das relações entre homens e mulheres. Ou seja, o género é o
modo como as culturas interpretam e organizam a diferença sexual entre homens e
mulheres (Yannoulas, 2001).
Jane Almeida argumenta que «sendo o sexo determinado antes do nascimento por
processos biológicos naturais, o género é um produto cultural adquirido e
transmitido nas estruturas sociais» (1998: 43). Assim, os estudos de género
consideram a diferença entre os sexos como uma construção social. Diferença
que não pode servir como desculpa para desigualdades, mas como motivo para
analisar as peculiaridades dos dois sexos, o que implica um não-acatamento das
diferenças assentes simplesmente no aspecto biológico e uma rejeição dos
enfoques naturalistas.
Cabe destacar que Judith Butler (2003) considera arbitrária a distinção sexo/
género, pois como a natureza é uma construção, o próprio sexo não é natural,
mas discursivo e cultural como o género. Por isso, propõe a noção de género
como «efeito», no lugar de um sujeito centrado, ou seja, o género é um
«efeito», um sentido em si do sujeito. Guacira Louro (2000) lembra-nos, ainda,
que a sexualidade e o género podem estar ligados à natureza, mas não podem ser
a ela reduzidos, pois a própria natureza é uma construção histórica e social: o
«natural » acontece pela linguagem, pelas representações e modifica-se
historicamente.
Concordamos com tal argumento, ou seja, que tanto o sexo como o género são
construídos, mas para não existir confusão entre estes conceitos nas
investigações é preciso existir uma diferenciação entre eles. Nesta
diferenciação, como Joan Scott observa no seu artigo «Gênero: uma categoria
útil de análise histórica», o género passou a ser visto como um modo de
distinguir a «prática sexual dos papéis sexuais consignados a homens e mulheres
e enfatiza um sistema de relações que pode incluir o sexo, mas ele não é
directamente determinado por ele. Ele age mais sobre os domínios que implicam
as relações entre os sexos» (Scott, 1990: 7-8).
O género é uma categoria social imposta sobre um corpo sexuado, uma construção
social de ideias sobre papéis adequados a homens e mulheres. Não devemos, pois,
interligar, pura e simplesmente, o género e a biologia (Scott, 1990). Robert
Connell (1997) concorda com esse pensamento e diz que o género é uma prática
social que se refere aos corpos, mas não se reduz a eles, pois o género existe
na medida em que a biologia não determina o social.
Utilizamos a definição de género de Joan Scott que se divide em duas partes:
1. «O género é um elemento constitutivo de relações sociais fundadas
sobre as diferenças percebidas entre os sexos».
2. «O género é um primeiro modo de dar significado às relações de
poder» (Scott, 1990: 14-16).
É na segunda proposição que é apresentada a teorização de género de Joan Scott
que possibilita compreender a reciprocidade entre género/sociedade e as
maneiras particulares e situadas dentro de contextos específicos, «pelas quais
a política constrói o género, e o género constrói a política» (Scott, 1990: 16-
17). No entanto, a política é somente um dos domínios nos quais o género pode
ser utilizado para a análise histórica. Por exemplo, as hierarquias
fundamentam-se nas percepções generalizadas da relação «natural» entre
masculino e feminino, as definições normativas de género reproduzem-se na
cultura dos trabalhadores e das trabalhadoras, entre outras.
Para proteger o poder e as hierarquias a referência às características
masculinas e femininas deve parecer certa, fixa e natural. «Desta maneira, a
oposição binária e o processo social tornam-se ambos partes do sentido do poder
ele mesmo; pôr em questão ou mudar um aspecto ameaça o sistema inteiro» (Scott,
1990: 18). Como as significações de género e de poder se constroem
reciprocamente, só é possível que as coisas mudem de acordo com os processos
políticos1.
Jane Almeida (1998) acentua que os significados, as normatizações valorativas,
as práticas, os símbolos e as configurações de poder entre os sexos variam de
acordo com as culturas, a religião, a economia, as classes sociais, as raças e
os momentos históricos. Estes significados, práticas e configurações de poder
formam redes de significações que se edificam e se relacionam integradamente.
Assim, actuando em todos os âmbitos da vida quotidiana e nas relações de poder
da sociedade, tais relações acabam por revelar os conflitos e as contradições
existentes entre os sexos e as suas práticas.
Para estudar o modelo de estrutura de género, Robert Connell (1997) propõe a
análise de três dimensões: entender as relações de poder (a subordinação das
mulheres e a dominação dos homens que persiste apesar das resistências), as
relações de produção (a divisão sexual do trabalho e as suas consequências
económicas), e também a cathexis (o vínculo emocional, a heterossexualidade).
Por isso, devemos ir além do próprio género para entendê-lo, pois este é
somente um dos componentes da estrutura social.
Em resumo, para estudar o arcabouço das relações de género precisamos enfatizar
os seus vários aspectos, os quais passam pelas interacções entre homens e
mulheres, mas que vão muito além, sendo uma estrutura ampla que abrange a
política, a família, a sexualidade, as instituições, as normas, a identidade e
que tem uma dimensão local e internacional. A sua estrutura é muito mais
complexa do que as divulgadas dicotomias homem/mulher.
1.1. Estudo de género não é sinónimo de estudo da mulher
Quando falamos sobre estudos de género, a primeira ideia que vem à mente é,
ainda, mulher, feminilidade ou feminismo. Inicialmente, as investigações de
género estiveram relacionadas com os estudos feministas sobre as mulheres ' que
representaram uma transformação dos paradigmas dentro das ciências e a obtenção
do reconhecimento e legitimidade institucional de uma nova categoria
científica, novas metodologias e campos de pesquisa que visam reexaminar
premissas e critérios da análise.
Recordemos que o termo género é comum aos dois sexos e deve ser entendido como
uma construção social, histórica e cultural, elaborada sobre as diferenças
sexuais. Conforme afirma Jane Almeida (1998: 40): «o conceito de género não se
refere especificamente a um ou outro sexo, mas sobre as relações que são
socialmente construídas entre eles». Joan Scott também ressalta esta
compreensão dizendo que o termo género também é «utilizado para sugerir que a
informação sobre o assunto «mulheres» é necessariamente informação sobre os
homens, que um implica o estudo do outro» (1990: 7).
Assim, considerar os estudos de género como sinónimo de estudo das mulheres é
utilizar um sentido mais restrito e simplista, pois sua conceptualização mais
geral enfoca a construção social das relações entre homens e mulheres (Scott,
1990).
Silvia Yannoulas et al salientam que é necessário «evitar a tentação
ginecocêntrica dos feminismos» (2000: 446), pois o foco deve estar na
elaboração de teorias que mostrem com a maior clareza possível as actividades
das mulheres enquanto actividades sociais, assim como as relações sociais de
género, como elemento importante para a compreensão da história humana.
Por isso, os estudos de género são importantes, por exemplo, para a análise dos
homens em actividades sociais socialmente consideradas como femininas. Deste
modo, o seu trabalho ou tarefa entra em conflitualidade com as expectativas e
pode mostrar excepções aos padrões de género ou tentativas de reafirmação.
Enfim, os estudos de género entendidos de uma forma ampla ajudam a compreender
os conflitos, resistências, reafirmações, satisfações e sucesso destes homens
(e vice-versa).
1.2. Características dos estudos de género
Para Silvia Yannoulas et al. os estudos de género podem ser entendidos como:
«um corpus de saberes científicos, que têm por objectivo proporcionar
categorias e metodologias para análise das representações e condições de
existência de homens e mulheres em sociedades passadas e futuras» (2000: 426).
Portanto, as principais características comuns que resultam da adopção do
enfoque de género são:
Comparatividade ' é preciso destacar as diferenças, as semelhanças
e as relações entre as formas de representação e as condições de
existência de homens e de mulheres em vários aspectos (trabalho,
educação, família...) e com vários tipos de análise (como comparação
social, cultural e temporal).
Transversalidade ' os Estudos de Género exigem uma abordagem
multidisciplinar, pois referem-se a problemas transversais que
atravessam o conjunto de fenómenos estudados pelas diferentes
disciplinas, o seu sentido é multilateral e polimórfico.
Politicidade ' é preciso analisar as relações de poder e
hierárquicas.
Historicidade ' não é possível estudar qualquer problemática de
género sem observar sua variação na diacronia e na sincronia, pois o
género é um fenómeno temporalmente mutável.
Espacialidade ' as relações de género variam no espaço e as
diferenças de género comuns num lugar podem não ser comuns noutros.
É necessário perceber a forma de construção das desigualdades entre os sexos
que se efectivam em todas as instâncias da vida social pública e privada (no
trabalho, no casamento, na descendência, na sexualidade, nos media e até nas
ciências), assim como nos mecanismos de produção e de reprodução da
discriminação
2
.
As distinções, exclusões ou restrições baseadas no sexo que tenham por
objectivo prejudicar o exercício pela mulher dos direitos humanos e liberdades
fundamentais nos campos político, económico, social, cultural e civil ou em
qualquer outro campo são definidas pela ONU (citado por Yannoulas, 2001) como
discriminação contra as mulheres. Contudo, como as mulheres não são o único
alvo deste tipo de discriminação, sublinhamos a necessidade de reformular esta
definição para discriminação de género, pois os homens também sofrem
discriminações pautadas pelo género, sobretudo quando fogem das «expectativas
masculinas».
De acordo com Jane Almeida (1998), a conduta sexista consiste geralmente em
atribuir às diferenças anatómicas e fisiológicas de homens e mulheres
correspondentes diversificações ou aptidões para o exercício de determinadas
funções sociais e no mundo do trabalho, num pré-julgamento do que é adequado
para cada sexo. O processo de imputar a homens e mulheres determinismos sexuais
biologicamente herdados implica a existência de uma ditadura de género para os
dois sexos que leva à hierarquia do masculino sobre o feminino, numa escala
axiológica na qual as mulheres ficam a perder, dado que as actividades
masculinas são consideradas mais importantes que as femininas. Essa dupla
(des)valorização conduz a diferentes implicações no mundo do trabalho, no
espaço público/privado e nas instâncias do poder.
Estas implicações não afectam só as mulheres, mas também os homens. Enfim, os
estudos de género visam superar as desigualdades e discriminações, mas Jane
Almeida (1998) destaca que isso não é fácil, pois não basta que o considerado
«inferior» obtenha os direitos e ocupe as mesmas posições do «superior». As
desigualdades só serão superadas se forem abolidas as divisões sociais de
género, assim como as de classe e raça, numa sociedade assente sobre bases
igualitárias; o que torna necessária a apropriação de uma consciência crítica e
política.
A necessidade de igualdade é uma visão reconhecidamente correcta e revela-se
como a única alternativa possível para a superação dos desequilíbrios sociais.
Contudo, existe um utopismo nessa premissa (apesar das conquistas obtidas),
pois as relações entre os sexos, as classes sociais e as raças entrelaçam-se na
vida diária. A superação simplesmente no plano político ou económico não leva a
mudanças substantivas na situação das mulheres se não houver também mudanças na
microestrutura que perpassa quotidianamente as relações sociais e as
representações ideológicas acerca das diferenças (Almeida, 1998).
Deste modo, buscamos a superação das desigualdades de género, mas sabemos que a
igualdade é uma utopia que, apesar de difícil, precisa ser procurada com a
consciência de que a sua possibilidade está no questionamento de todas as
acções sexistas e de que «não se dá por decreto», não se efectua de cima para
baixo, nem de baixo para cima, mas numa via dupla.
1.3. A mudança de hábitos das investigações de género
Parafraseando Joan Scott, destacamos a mudança de alguns dos hábitos académicos
que os estudos de género implicam. Em primeiro lugar, rejeitar o carácter fixo
e permanente da oposição binária na história conferindo uma atenção especial
«às distinções entre nosso vocabulário de análise e o material que queremos
analisar» (1990: 13), buscando diversos meios de análise (auto)crítica das
categorias utilizadas, sem esquecer o contexto onde a oposição binária opera,
«derrubando e deslocando sua construção hierárquica, em lugar de aceitá-la como
real, como evidente por si ou como sendo da natureza das coisas» (ibidem).
Além da rejeição das oposições binárias a revisão constante do vocabulário
utilizado, pois conforme destacam Graça Abranches e Eduarda Carvalho (2000) a
própria linguagem que utilizamos já nos insere nas práticas sociais sexistas. O
sistema de representação linguística dos sexos não é universal. Em muitas
línguas (gramaticalmente ou semanticamente) o masculino é utilizado como
positivo (com função genérica, norma/ /ponto de referência/medida do humano) e
o feminino como negativo (como excepção à norma, incluída ou subsumida frente
ao masculino), mas existem línguas que não são tão marcadas por esse sexismo e
a forma como ele existe diferencia de língua para língua. Recorde-se que há uma
desvalorização de palavras associadas às mulheres pela pejoração e aquisição de
conotações sexuais negativas.
Por isso, é necessário reflectir sobre o carácter discriminatório da linguagem,
ter consciência de que os usos linguísticos estabelecem relações de poder
desiguais e injustas entre mulheres e homens, rejeitar termos sexistas e,
consequentemente, tentar substituí-los por outros. É imperativo instigar o
desaparecimento da quimera da neutralidade das palavras, esfumar a ilusão de
que há uma «linguagem comum» partilhada e usada nos mesmos termos por todos e
por todas.
Cabe ressaltar que concordamos com Abranches e Carvalho (2000) que estas
preocupações expostas não se restringem à área das línguas, nem localizamos
somente na linguagem todas as práticas de discriminação e injustiça social,
pois estas materializam-se das mais diversas maneiras. A realidade de opressão
não muda apenas com uma mudança da linguagem, no entanto, não podemos ignorar
que se utilizam recursos linguísticos e metalinguísticas para oprimir pessoas
ou grupos ou que a linguagem, a opressão e a desvantagem estão intimamente
relacionadas.
Ainda propondo mudanças nos hábitos académicos, Joan Scott adverte que «devemos
nos perguntar mais seguidamente como as coisas se passaram para descobrir por
que elas se passaram» (1990: 14), examinando os métodos de análise e hipóteses
para explicar como pensamos que a mudança tem lugar, pois os processos são
concebidos de forma interligada (não fazendo sentido pesquisar origens únicas).
Os estudos com enfoque de género questionam e desafiam os contributos teóricos
clássicos, pois reconhecem a importância da vida quotidiana e dos sentimentos
humanos, buscando abordagens para desvendar o quotidiano e recuperar categorias
de análise que também privilegiem a dimensão subjectiva. «Afinal, essa é uma
dimensão essencial a todos os seres humanos e negá-la é negar a própria
humanidade de cada um» (Almeida, 1998: 44).
Helena Araújo (2000) lembra-nos que, sem agência, a sociologia desumaniza-se. A
subjectividade permite-nos falar não só da emoção e do afecto, mas também do
sentido particular que os indivíduos constroem a partir da sua experiência e
que varia do conteúdo para o contexto, sem deixar de relacionar a singularidade
do individual com a universalidade do sistema; a análise da subjectividade
precisa ser clarificada, pois é central para perceber, por exemplo, a
construção da profissão docente como trabalho feminino; e destaca os métodos
biográficos como modo importante de captar as subjectividades.
Joan Scott explica que tanto o «sujeito» como a «organização social» são
igualmente importantes para compreender a construção do género e a incidência
de mudanças, pois a subjectividade forma-se em contextos sociais e históricos.
Para Scott isso significa que é preciso substituir a noção de um poder social
unificado pela de um poder mais próximo do conceito foucaultiano, o qual deixa
mais espaço para construir uma identidade, uma vida, uma sociedade com certos
limites e com uma linguagem, que «põe limites e contém a possibilidade de
negação, de resistência, de reinterpretação, de jogo de invenção metafórica e
de imaginação» (1990: 14).
A agência humana é controlada pelos poderes presentes nas relações sociais
desiguais que limitam a possibilidade de resistência, mas isso não significa
que este limite não possa ser ultrapassado. Por isso é imprescindível fazer uma
história crítica das subjectividades, procurando desconstruir o carácter
essencialista e parcial dos estudos tradicionais (que acolhem a superioridade
do homem branco ocidental) e desnaturalizar as diferenças construídas
historicamente a respeito do masculino e do feminino.
Os estudos de género associados à integração de aspectos objectivos e
subjectivos (principalmente no conhecimento histórico), foram importantes e
pioneiros na redescoberta de novas fontes. Algumas motivações para tal
redescoberta foram a falta de conservação das histórias e documentos de autoria
feminina, a sua escassez, causada por vezes pelo analfabetismo, pela destruição
de documentos e pela falta da instrução feminina.
Deste modo, a dificuldade de se escrever sobre mulheres levou a uma redefinição
do campo da historiografia que implicou criticar os tradicionais contributos
teóricos, metodológicos e de periodização (neste caso rompendo com a
linearidade da história). Jane Almeida (1998) destaca que as investigações de
género se direccionam para as abordagens qualitativas, com ênfase no acto de
lembrar e nas fontes orais, entrevistas abertas, técnicas etnográficas,
observação participativa, literatura e escritos variados.
Neste contexto, as fontes antes relegadas para o esquecimento passam a ser
consideradas e emergem nas análises ressaltando vários aspectos da vida privada
e da sua relação com o espaço público. Assim, permitiram a vários estudos de
género dar voz às mulheres silenciadas, que tinham muito a dizer sobre o seu
passado e sobre as condições de género em que se inseriam, desvendando uma
história de resistência e submissão, aceitação e negação dos papéis sexuais,
pioneirismo e modernidade (Almeida, 1998).
Os estudos de género também questionam a neutralidade sexual, assumida na
produção académica quando as investigações não contemplam o género como
categoria de análise, pois consideram que o sujeito não é universal ou
assexuado e que não há categoria de análise que dê conta de toda a complexidade
da vida (Almeida, 1998).
Portanto, o estudo da história das mulheres foi pioneiro em desafiar a
pretensão da história de fazer um relato completo/perfeito e de colocar a
presença intrínseca do objecto da história como o homem universal, sendo
necessário questionar o «masculino generalizador» que se repercute na ocultação
da participação da mulher na história (Vasconcelos, 2005).
Silvia Yannoulas et al. (2000) também destacam que tanto as pesquisas de género
como a presença das mulheres nos meios académicos contribuíram para a percepção
das mulheres como sujeito e objecto de pesquisa e para a transformação da
ciência androcêntrica (supostamente neutra e universal que privilegia o ponto
de vista dos homens como eixo articulador do saber, sem considerar ou
desvalorizando o ponto de vista das mulheres); tal androcentrismo, de acordo
com Miguel Almeida (1995), impediu que se ouvisse a voz das mulheres, mas
também que se ouvisse a diversidade das vozes masculinas.
Para Silvia Yannoulaset al. (2000), a objectividade dinâmica
3
permite: a não dicotomização dos conhecimentos, a união dos saberes, a
transformação dos sistemas de saber e das formas de ver. Admite-se, então, a
interpretação e a compreensão parcial, pois não há sujeito universal nem
categorias de análise que dêem conta de toda a complexidade da vida. O objecto
de pesquisa precisa ser «objecto» e «actor» ao mesmo tempo, pois é passível de
transformação constante, unindo a ética e a política como «pilares fundamentais
para a objectividade da ciência» (Keller, citado por Yannoulas, et al., 2000:
446).
Defendemos, então, essa objectividade dinâmica que interliga o sujeito e as
condições sociais que agem sobre eles; que relaciona as fontes qualitativas
(potencializadoras da emergência da subjectividade) com a análise dos dados
quantitativos mais gerais; que pressupõe a não dicotomia dos conhecimentos, a
não naturalização da masculinidade e feminilidade, desconsiderando as análises
universais, pois na verdade elas são contextuais, ou seja, espaciotemporais.
2. Género construído
A definição social do ser homem e do ser mulher e dos seus modos próprios de
ser em várias sociedades não se tem limitado a estabelecer uma diferenciação
binária entre estas categorias sociais. Para Lígia Amâncio (1998) são
estabelecidas diferenciações assimétricas entre elas, ou seja, ao homem são
conferidas competências que funcionam como referente universal, enquanto que a
mulher é referida como categoria específica (conforme acontece na linguagem).
Lígia Amâncio considera que a discriminação tem a sua origem nesta «forma de
pensamento social que diferencia valorativamente os modelos de pessoa masculina
e feminina e as funções sociais dos dois sexos na sociedade» (1998: 15, 28-29).
Por isso, importa analisar não as diferenças entre homens e mulheres, mas o
«pensamento social» sobre a diferenciação do masculino e do feminino, ou seja,
a epistemologia do senso comum sobre os sexos, a ideologia e as relações
intergrupos.
Para a autora os estereótipos sexuais não têm a mesma funcionalidade para
homens e mulheres: o estereótipo feminino normatiza os comportamentos,
caracteriza as mulheres e serve para os homens identificarem as mulheres,
enquanto que para as mulheres a universalização de tais estereótipos ou a
valorização positiva dos mesmos seria mais pertinente para não perderem a sua
especificidade; já o estereotipo masculino além de orientar os comportamentos,
distingue os indivíduos mais pela sua autonomia do que pela sua categoria de
pertença. Desta forma, os estereótipos ajudam na dominação masculina e são
prejudiciais às mulheres, pois a norma é masculina e a excepção é feminina. As
mulheres paraserem «dominantes» acabam por ter que assumir características que
são consideradas «masculinas», assim a sua feminilidade fica comprometida e
isto tem consequências nas suas vidas (Amâncio, 1998).
Os padrões de comportamento de homens e mulheres «constituem a parte mais
visível de um fenómeno que o senso comum designa por diferenças entre os sexos,
mas por detrás desta evidência observável esconde-se a determinação de uma
ideologia que é partilhada por ambos os sexos» (Amâncio, 1998: 177). Uma
ideologia de estereótipos que, para a autora, tem implicado consequências mais
fortes para as mulheres, pois para elas é mais fácil obter sucesso numa
actividade feminina e o seu sucesso numa tarefa masculina suscita impressões
mais negativas do que o seu fracasso.
O que a autora verifica é que o senso comum procura simplesmente confirmar a
hipótese da estratificação social e justificar aquilo que é incongruente com
ela. O «diferente» tem maior visibilidade: um único comportamento serve para
explicar e comprovar uma hipótese previamente existente do estereótipo. Essa é
a base menos visível da discriminação das mulheres. E destaca que não é o homem
enquanto «sexo dominante» que impõe o seu pensamento sobre a mulher, os dois
sexos partilham/reproduzem determinados valores, as discriminações de género
não são atribuídas nem só às mulheres nem só aos homens (Amâncio, 1998).
Enfim, ambos os sexos assumem modelos de comportamento que lhes são socialmente
impostos como se fossem naturais, partilhando pressupostos e contribuindo para
acentuar a diferença entre homens e mulheres. A masculinidade e a feminilidade
são construídas na interacção entre os sexos, não pelos seus pares nem por um
só sexo. Se ambos partilham os estereótipos e contribuem para a desigualdade,
tanto reprimindo, quanto construindo modos de ser, é possível questionar as
regras que tentam fixar o masculino e o feminino a partir desta construçãodo
ser e questionar as relações de poder que os formulam.
2.1. A masculinidade não cai do céu, ela nasce do chão
Elisabeth Badinter lembra-nos que geneticamente «é o homem que gera o homem»
(1996: 99) (pois o sexo masculino ' cromossomo Y ' é transmitido pelo pai) e
para ela o homem tem papel importante na construção da identidade masculina, um
processo que é adquirido com o preço de grandes dificuldades, pois a
masculinidade tem sido definida pelo «não ser»: não ser feminino, não ser
homossexual, não ser dócil, não ser efeminado na aparência física ou nas
maneiras
Cabe destacar que para a maioria das pessoas ser homem é basicamente: não ser
mulher e ter um corpo que apresenta órgãos genitais masculinos. Miguel Almeida
explica que a complexidade encontra-se precisamente na ingenuidade de remeter
para caracteres físicos do corpo uma questão de identidade pessoal e social,
pois «ser homem» nunca se reduz aos caracteres sexuais, mas «a um conjunto de
atributos morais de comportamento, socialmente sancionadas e constantemente
reavaliados, negociados, relembrados. Em suma, em constante processo de
construção» (1995: 127-128).
É necessário fazer uma análise de como são formadas as masculinidades para
compreender as atitudes dos homens, as resistências ou confirmações que eles
representam. Sobre estas questões Robert Connell continua a ser um autor de
referência.
No seu livro «Masculinities» (2005) Connell teoriza a masculinidade interligada
com a conceptualização de género considerando os contributos dos estudos
feministas. O género é algo tão presente que parece natural, mas envolve, na
realidade, um enorme esforço social (inclusive em normatizações) para orientar
o comportamento das pessoas em determinado sentido.
Para Robert Connell (1995) há uma narrativa convencional sobre o modo como as
masculinidades são construídas, como qualquer cultura tem uma definição da
conduta e dos sentimentos apropriados para os homens e pressiona os rapazes de
várias maneiras a agir/sentir dessa forma (e a se distanciar do comportamento
feminino). A maior parte dos rapazes interioriza essa norma social e adopta
maneiras e interesses masculinos, à custa, frequentemente, da repressão dos
seus sentimentos. Mas mesmo existindo um registo cultural de género, o conceito
de masculinidade é recente.
Algumas definições passaram a marcar a masculinidade. Robert Connell (1997)
cita as definições: «essencialistas» (definem um núcleo do masculino universal,
geralmente arbitrário), «positivistas» (querem definir o que os homens
realmente são', usam estatísticas, mas acabam por se basear nas tipificações),
«normativas» (definem o que os homens deveriam ser) e «semióticas» (contrastam
a masculinidade e a feminilidade, a masculinidade é a autoridade simbólica, a
feminilidade é definida pela carência). Mas para o autor estas correntes de
investigação não conseguem produzir uma «ciência» sobre a masculinidade, pois a
masculinidade não é um objecto coerente para produzir uma ciência
generalizadora, não é um objecto fechado, mas um aspecto de uma estrutura
maior.
Assim, o autor diz que as masculinidades surgem em sistemas de relações de
género, por isso é preciso centrar as investigações sobre a masculinidade nos
processos e relações pelo qual os homens e as mulheres levam vidas imbuídas de
género. Connell resume a masculinidade como, concomitantemente, a posição nas
relações de género, as práticas pelas quais homens e mulheres se comprometem
com esta posição de género e os efeitos destas práticas na experiencia
corporal, na personalidade e na cultura (Connell, 1997).
Não existe uma masculinidade fixa, pois qualquer forma de masculinidade é
internamente complexa e contraditória, depende do posicionamento nas relações
de género, das consequentes práticas de acordo com estas posições e os efeitos
dessas práticas. Portanto, a masculinidade é uma configuração de práticas em
torno da posição dos homens na estrutura das relações de género, mas Robert
Connell (1997) afirma que estas estruturas podem seguir diferentes trajectórias
históricas. Por conseguinte, a masculinidade associa-se constantemente a
contradições internas e a rupturas históricas.
Ao assumir que há várias masculinidades, o autor cria o conceito da
masculinidade hegemónica que representa a forma de masculinidade que em cada
tempo-espaço tem destaque em relação a outras. Na nossa sociedade ocidental, a
masculinidade hegemónica apresenta-se como a configuração da prática genérica
que encarna a resposta ao problema da legitimidade do patriarcado e garante (ou
tenta garantir) a posição dominante dos homens e a subordinação das mulheres
(Connell, 1997).
Algumas críticas efectuadas ao seu conceito de masculinidade hegemónica (Cf.
Alves, 2005) consideram que o conceito seria desnecessário quando já existe um
conceito de patriarcado que dá conta das masculinidades dominantes e que o
conceito de hegemonia acrescentaria muito pouco, sendo necessária uma
perspectiva que dê conta das variadas dinâmicas existentes ou que
«destradicionalize» as masculinidades.
Contudo, Robert Connell (1990) analisa a teoria do patriarcado e verifica que
esse conceito está longe de ser um sistema lógico bem estruturado, pois
apresenta-se como uma rede de argumentos a respeito de relações entre várias
coisas (como a subordinação das mulheres, as práticas culturais que a
sustentam, a divisão sexual do trabalho, as estratégias dos movimentos de
resistências, entre outras).
A unidade no patriarcado não é uma unidade lógica, de definição, é
historicamente produzida e faz parte de uma luta para impor vários tipos de
ordem e de unidade nas relações sociais. A dinâmica do patriarcado deve ser
entendida como uma dinâmica composta, na qual interagem a resistência ao poder,
as contradições na formação da pessoa, as transformações da produção, entre
outras relações (Connell, 1990).
Como o autor afirma, o termo masculinidade hegemónica não é fixo e visa ir além
da reprodução cultural, enfatizando o dinamismo da luta social pela liderança
na mudança social, pois a masculinidade que ocupa a posição hegemónica em dado
contexto é uma posição sempre disputável. Enfim, a «guerra dos sexos» é o
resultado de grandes desigualdades, desta forma, o estudo da masculinidade
precisa associar assuntos de justiça social (Connell, 1997).
O conceito de masculinidade hegemónica não pressupõe que os portadores mais
visíveis desta masculinidade sejam as pessoas que detêm o poder e, apesar de
ser correntemente aceite na sociedade, a maioria dos homens não cumpre/pratica
na realidade os modelos normativos (respeitam as mulheres, não usam violência,
etc.), ainda que a maioria dos homens deseje hegemonia, pois beneficia das
consequências do sistema patriarcal (obtém vantagens em termos materiais, de
honra, prestígio, direito a mandar, direito às melhores posições sociais). Ou
seja, a maioria dos homens tem uma cumplicidade com o projecto hegemónico, isto
é, uma masculinidade cúmplice (Connell, 1997).
Em síntese, o género está imbricado em relações de poder. Os homens, enquanto
grupo dominante, estão interessados na conservação do poder e as mulheres estão
interessadas na mudança. Não sendo a única forma de masculinidade, a
masculinidade hegemónica recorre à autoridade e à violência, que também
sustenta a autoridade, mostrando a imperfeição desse modelo. Uma hierarquia
completamente legítima teria menos necessidade de intimidar (Connell, 1997).
Enfim, «a masculinidade não cai dos céus; ela é construída por práticas
masculinizantes, que estão sujeitas a provocar resistência [...] que são sempre
incertas quanto a seu resultado. É por isso, afinal, que se tem que pôr tanto
esforço nelas» (Connell, 1990: 90. Sublinhados nossos).
Miguel Almeida demonstra que o efeito principal deste sistema é o controlo
social, que se exerce sobre os homens quanto mais eles se afastaram do modelo
hegemónico, o que implica um autocontrolo ou vigilância «que se aplica a todos
os domínios da experiência humana em interacção: o modo de falar, o que se diz,
o modo de usar o corpo, a roupa, as atitudes a tomar perante situações de
tensão, conflito, emotividade» (1995: 242).
Ou seja, a resistência não está presente somente na feminilidade. Dentro da
dominação da masculinidade há relações de dominação e subordinação, até mesmo
entre grupos de homens, como o dos homens heterossexuais sobre o dos
homossexuais (pela estigmatização, exclusão política e cultural, abuso
cultural, violência, discriminação económica e boicotes pessoais), mas esta
parece ser a masculinidade subordinada mais evidente e mais «associada à
feminilidade».
A forma como a masculinidade hegemónica na sociedade actual tenta manter o seu
domínio relaciona-se com o heterocentrismo
4
, o qual coloca a heterossexualidade como o normal, impondo a dualidade homem/
mulher e a dominância do homem sobre a mulher. Neste sentido, como explica
Elisabeth Badinter (1996) a homofobia acaba por servir a classificação social,
a regulação e o controle da identidade masculina e, além disso, também está
ligada a outros medos, como o da igualdade dos sexos.
Como explica Welzer-Lang (2001: 465-468), o heterocentrismo opõe homo/hetero,
homem/mulher e faz com que estes pares só adquiram sentido quando tomados
juntos. O surgimento da scientia sexualis (Foucault, 1988) contribuiu para
impor nos homens um quadro heterossexual apresentado como uma forma natural de
sexualidade
5
.
Miguel Almeida (1995) refere que uma das características centrais da
masculinidade hegemónica, para além da «inferioridade» das mulheres, é a
homofobia. Como «a masculinidade é frágil», a forma de agressão mais comum
sobre a homossexualidade faz-se na linguagem, agredindo o homem ao associá-lo
com o feminino, recurso que é utilizado em todas as relações competitivas e
conflituosas entre homens (no trabalho, nos negócios, no jogo, entre outras).
No entanto, o autor constata que no quotidiano as coisas não são tão rígidas,
pois um homem pode até ter certos comportamentos, emoções ou actividades
«femininas» e vice-versa. Não pode é possuí-las ou exercê-las exclusivamente, o
que o excluiria da masculinidade.
Além disso, outra forma de masculinidade subordinada pode estar associada à
raça (que Connell denomina de masculinidade marginalizada), pois a
masculinidade está inserida em contextos sociais mais amplos, em que a classe e
a raça também estão presentes. Neste sentido, as masculinidades negras jogam
papéis simbólicos para a construção branca do género. Mas nestas dinâmicas
podem existir excepções, até porque as dinâmicas se modificam.
Por isso Robert Connell (1997) esclarece que não há um carácter fixo na sua
definição, somente configurações de práticas geradas de situações particulares,
numa estrutura cambiante de relações. Toda a teoria da masculinidade deve dar
conta deste processo de transformação. Não adianta reconhecer apenas que há
múltiplas masculinidades, temos que examinar as relações entre elas, inclusive
as de classe e raça, e também temos que reconhecer que o género é, ao mesmo
tempo, um produto e um produtor da história. Isto não significa que as relações
de género sejam débeis e triviais, mas que, inseridas na acção social, se
formam e transformam no tempo. Enfim, a masculinidade hegemónica é uma
estratégia correntemente aceita na sociedade actual. Quando as condições de
resistência do patriarcado mudarem, as bases para o domínio de uma
masculinidade particular estarão corroídas (Connell, 1997).
Por conseguinte, as masculinidades são fluídas como as relações de género, a
resistência pode ser exercida por novos grupos de homens e/ou de mulheres. A
hegemonia patriarcal não é eterna, é historicamente mutável, mas temos que
estar atentos/as, pois, como vimos nas análises de Joan Scott, as modificações
podem não significar igualdade. Lígia Amâncio indica que:
«Romper com a masculinidade cúmplice, contestando a masculinidade,
como parte integrante de uma estrutura global de poder, e as
diferenças entre sexos e sexualidades que lhe dão sentido, é uma
condição indispensável para uma sociedade mais justa, onde homens e
mulheres possam viver, em liberdade, a sua diversidade» (Amâncio,
2004: 27).
Robert Connel (1997) destaca ainda que, conforme muitos autores exaltam,
estamos diante de uma actual tendência de crise de paradigmas, dos padrões de
género, entre outros, mas não diante de uma crise de masculinidade, pois crise
pressupõe um sistema coerente e a masculinidade não é um sistema nesse sentido,
é uma configuração de prática dentro de um sistema de relações de género. Falar
de crise de masculinidade abrange uma tentativa de restaurar uma masculinidade
dominante (Connell, 1997). Amâncio (2004) descreve alguns estudos que assumem
esta perspectiva de restaurar uma masculinidade dominante. Só podemos falar de
crise relativamente ao sistema de género como um todo, onde tanto as «relações
de poder» mostrem tendências de crises
6
, como as «relações de produção»7 e as «relações de cathexis»8.
As transformações ocorridas nas relações de género afectam todos/as na
sociedade, pois todas/os estão envolvidas/os na sua construção. Apesar de
estarmos envolvidos/as nos modelos que herdamos, podemos realizar opções que
levem a novas relações de género, mas não podemos esquecer os contextos a que
estamos ligados/as. Num outro artigo, Robert Connell (1995) afirma que a
posição dominante dos homens na ordem do género tem um custo material e que não
podemos subestimar a dimensão desse custo, pois não é fácil para os homens (nem
para as mulheres) romper seus papéis sexuais rígidos.
Guacira Louro lembra que os homens e meninos são vigiados constantemente e
passam por um processo de masculinização (não pode chorar, não se pode
aproximar fisicamente de outros homens, não pode trocar confidencias, não pode
ter afecto), assim «pouco importa sob quais bases foi fundada esta
representação; o que importa é que ela teve e ainda tem efeitos na produção de
sujeitos masculinos e femininos» (2000: 53).
Neste sentido, Robert Connell explica que «as construções sociais complexas,
tais como a masculinidade hegemónica, estão literalmente corporificadas no
processo de formação pessoal [...]. As pessoas realmente sentem de forma
diferente» (1990: 91).
Enfim, a masculinidade não cai dos céus. Queremos complementar esta frase
metafórica de Robert Connell (1990) dizendo que a masculinidade nasce do chão,
que significa o contexto social, biológico, cultural e histórico onde os homens
se inserem, contexto no qual algumas instituições têm sido fundamentais na
formação do género, nomeadamente a família, a escola e o trabalho.