EDITORIAL
Teresa Pinto
No presente número daex æquo, o vigésimo segundo, o Dossier temático abriu as
portas ao desafio semântico de Habitar. «Pensar um habitar que não deixa
ninguém sem terra, nem excluído», como escreveram no início da sua proposta
Teresa Joaquim, Ana Isabel Crespo e Isabel Cruz, as coordenadoras do Dossier,
incita a reflectir, questionar e teorizar a essência humana, de seres habitados
e que habitam, a partir de abordagens diversas. O repto não foi só de ordem
pluridisciplinar, mas de posicionamentos espaciais e teóricos distintos. Como
afirmam as coordenadoras, o tema obriga-nos também «a repensar o mundo em que
vivemos e os mundos que, ao longo dos séculos, tiveram a marca de mãos de
mulheres». Este dossier introduz-nos numa viagem por espaços/tempos íntimos,
vivenciados, teóricos, conceptuais, ressignificados, lugares de pertença e não-
pertença, convocando alianças ou articulações com outras áreas disciplinares do
saber. Teresa Joaquim, na Introdução ao Dossier, inicia-nos nesse Habitar,
problematizando sentidos e entretecendo as linhas condutoras dos textos que o
compõem.
A secção de Estudos e Ensaios inclui dois artigos, de temáticas distintas. Rosa
Cobo, em «Individualidad y crisis de la identidad femenina», proporciona-nos
uma perspectiva ancorada na Ciência Política. Postulando que existem estruturas
de domínio masculino que são transculturais, atravessando todas sociedades,
independentemente das suas especificidades, discute o enfraquecimento das
estruturas mais opressivas para as mulheres em algumas regiões do mundo por
efeito do feminismo. A autora termina com uma reflexão política sobre as mais
recentes alterações legislativas e políticas ocorridas em Espanha, sublinhando
que o feminismo só pode prosseguir se reivindicar o seu papel na história,
fundeando a sua legitimidade numa permanente construção e reconstrução da sua
memória histórica. Ana Isabel Blanco García e Daniele Leoz, em «La persistencia
de los estereotipos tradicionales de género en las revistas para mujeres
adolescentes: resistencias al cambio y propuestas de modificación», analisam e
discutem as ideias de igualdade, de liberdade e de empoderamento veiculadas
pelas revistas juvenis femininas, desconstruindo-as à luz das perspectivas
feministas sobre a igualdade entre mulheres e homens. Sublinhando a importância
das mensagens das revistas no contexto de um vasto e diversificado conjunto de
agentes de socialização, apresentam propostas que podem constituir uma base de
trabalho com as revistas dirigidas às e aos jovens.
Na secção de Leituras e Recensões, Albertina Jordão apresenta-nos um estudo
recentemente publicado pela OIT (Organização Internacional do Trabalho), nas
suas três línguas oficiais ' espanhol, francês e inglês ', no qual se
sistematizam, analisam e comparam informações sobre a protecção da maternidade
no mundo, nomeadamente no que respeita ao quadro legal em 167 Estados Membros
da OIT. Trata-se, pois, de um instrumento fundamental sobre um direito
consagrado há quase cem anos nas normas internacionais do trabalho.